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Ainda Tavolaro (2008, p. 125): conta das experiências socialistas, em que alguns dos mais importantes direitos sociais foram implementados ainda que em detrimento de direitos civis e políticos, e a despeito de terem desencadeado novas formas de hierarquia e de desigualdade. ...uma rígida periodização teria impedido Marshall de perceber que, dependendo da localidade e de seu correspondente padrão de participação, a implementação e a institucionalização de direitos civis, políticos e sociais acabaram tendo seqüências bastante singulares. Em alguns casos, por exemplo, ao invés da implementação ter seguido a linearidade sugerida, os três diferentes tipos de direito se institucionalizaram de maneira imbricada na esteira de lutas em torno da legislação trabalhista. Como bem acentua Tavolaro (2008, p. 129), não se trata de abandonar o modelo da Marshall e, sim, de ampliar a sua episteme por meio da qual a sociologia clássica interpreta a sociabilidade moderna. Como se verifica no quando a seguir (Tavolaro, 2008, p.129), a gama de variações da ordem de implementação de cidadania não é uniforme sequer nas sociedades ditas centrais: DIREITOS SOCIAIS DIREITOS POLÍTICOS DIREITOS CIVIS + - + - + - Inglaterra Pré-Thatcher Leste Europeu socialista França pós-II GM Brasil – Era Vargas Estados Unidos Era Roosevelt Alemanha pós- II GM Estados Unidos Era Reagan Inglaterra Era Thatcher Rússia pós- 1989 Brasil nos anos 1990 Estados Unidos séc XX Brasil pós- 1988 França pós-II GM Alemanha pós- II GM Inglaterra séc XX Rússia pós- 1989 URSS Estados Unidos século XX Brasil – Era Vargas Brasil 1964- 1985 Leste europeu socialista Alemanha Nazista Espanha Franquista Alemanha Pós-II GM Brasil pós- 1985 Inglaterra século XX França pós- II GM URSS Leste Europeu socialista Brasil – Era Vargas Brasil 1964- 1985 50
Como é próprio das esquematizações, a síntese que lhes é inerente pode induzir polarizações reducionistas que nem sempre traduzem a extensão e profundidade dos fenômenos. Assim, no quadro acima, é correta a atribuição do sinal “-” aos direitos sociais na Rússia pós-1989, expressando que, de fato, os influxos da globalização neoliberal ali se fizeram presentes atrofiando os direitos sociais; entretanto, a atribuição do sinal “+” aos direitos políticos para aquela mesma Rússia (pós-1989) deve ser vista com ressalvas, pois o regime que lá se implantou carrega muitos ranços do regime anterior, com algumas permanências como a perseguição política, num ambiente de democracia meramente formal — o que não significa dizer que o regime atual seja idêntico ao anterior. Um aspecto relevante acerca da crítica ao modelo de Marshall é à adoção de uma linearidade rígida na implementação dos direitos. Quando se pensa, por exemplo, na cronologia de implementação de direitos, os sociais colocados no termo final dessa trajetória, a remissão à época do chamado milagre brasileiro, na década de 70 do século passado, em que se propagava a ideia de “primeiro fazer crescer o bolo para depois dividi-lo” que, apesar de tardiamente, foi derrotada, ao ser colocada vis-à-vis com a máxima de Herbert José de Souza, o Betinho, “quem tem fome tem pressa”. A segunda perspectiva de multiplicação de direitos corresponde à extensão de direitos a outros sujeitos distintos do homem considerados isoladamente no sentido de se estender essa proteção a outros sujeitos além do homem. Assim, os direitos da entidade familiar, das minorias étnicas e religiosas. Esta dimensão de multiplicação de direitos adquire especial relevo no prestígio da dignidade da pessoa humana, notadamente das minorias diante do despotismo das maiorias. Nesse ponto, é sempre útil lembrar Bovard (1994): “A democracia deve ser muito mais do que dois lobos e uma ovelha votando sobre o que farão para o jantar”. Essa perspectiva é particularmente edificante quando se pensa em lutas célebres de minorias como a dos negros pelos direitos civis nos Estados Unidos, dos gays e lésbicas na Revolta de Stonewall 22 e, sempre, as que envolvem as relações de gênero. 22 O nome da revolta deriva do bar homônimo situado em Nova Iorque que, em 1969, foi palco de um enfrentamento entre gays e lésbicas com a polícia que sempre ali aparecia para extorquir os freqüentadores. A luta estendeu-se por vários dias, cada dia aglomerando mais revoltosos, sendo divulgada por todos os Estados Unidos, o que desencadeou protestos por todo o país e também por outros países do mundo. Esse episódio é a gênese do movimento social denominado “Orgulho Gay“, derivado do dia em que homossexuais saíram do gueto e foram para as ruas reivindicar direitos. 51
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