17.04.2013 Views

universidade federal fluminense escola de serviço social programa ...

universidade federal fluminense escola de serviço social programa ...

universidade federal fluminense escola de serviço social programa ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

eram cidadãos eram, antes <strong>de</strong> mais nada, os que não<br />

trabalhavam ou que possuíam mais do que sua força <strong>de</strong><br />

trabalho.<br />

Todavia, esse giro conceitual não po<strong>de</strong>ria ser obra do acaso, ou <strong>de</strong> uma lei física —<br />

afinal, a barreira entre público e privado, entendida como limite entre mundos estanques, não<br />

cairia “por gravida<strong>de</strong>”. Certamente, o modo como se iniciou o século XIX, após o ocaso dos<br />

regimes absolutistas e a promoção <strong>de</strong> valores liberais, aliado à <strong>de</strong>gradação da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida nos centros urbanos, teve um efeito multiplicador na onda contEstadora perante a nova<br />

or<strong>de</strong>m industrial.<br />

Conquanto a questão <strong>social</strong> tenha mostrado maior visibilida<strong>de</strong> na segunda meta<strong>de</strong> do<br />

século XIX, é possível <strong>de</strong>tectar, pelo menos a partir do século XVII, alguns rudimentos <strong>de</strong><br />

uma preocupação estatal com a assistência <strong>social</strong>. É o caso, por exemplo, da Poor Law,<br />

promulgada na Inglaterra em 1601, que instituía uma taxa assistencial para os pobres,<br />

outorgando-lhes subsídios em dinheiro. Entretanto, a repercussão prática <strong>de</strong>ssa lei foi a<br />

expulsão dos pobres para que, uma vez que não mais existissem naquele território, não mais<br />

incidissem as tais taxas.<br />

Porém, as condições <strong>de</strong> trabalho a que foram submetidos os trabalhadores na Revolução<br />

Industrial impõem o fim <strong>de</strong> uma visão orgânica da socieda<strong>de</strong> e do Estado, nos termos da<br />

tradição hegeliana. As condições materiais <strong>de</strong> vida dos trabalhadores <strong>de</strong>terminam o fim da<br />

concepção liberal segundo a qual a unida<strong>de</strong> entre economia e política seria assegurada pelo<br />

<strong>de</strong>senvolvimento autônomo da socieda<strong>de</strong>, restringindo o Estado à mera intervenção política<br />

<strong>de</strong> polícia. Até então, vigorava o pensamento liberal <strong>de</strong> que o Estado <strong>de</strong>veria se restringir a<br />

garantir, por exemplo, a or<strong>de</strong>m pública. Um exemplo marcante <strong>de</strong>ssa concepção po<strong>de</strong> ser<br />

visto em Adam Smith, em “A Riqueza das Nações”, um marco na doutrina liberal, citado<br />

Huberman (1984, p. 197) :<br />

A proprieda<strong>de</strong> que todo homem tem <strong>de</strong> seu próprio trabalho,<br />

constituindo a base original <strong>de</strong> todas as outras proprieda<strong>de</strong>s, é a<br />

mais sagrada e inviolável. O patrimônio do pobre está na força<br />

e <strong>de</strong>streza <strong>de</strong> suas mãos; e impedi-lo <strong>de</strong> empregar essa força e<br />

<strong>de</strong>streza da forma que lhe parece justa sem prejudicar seu<br />

vizinho, é uma violação evi<strong>de</strong>nte do mais sagrado direito. O<br />

julgamento <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser empregado <strong>de</strong>ve ficar a<br />

cargo dos empregadores, cujo interesse está a isso ligado.<br />

Assim, em nome <strong>de</strong>ssa liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> contratar, a história registra abusos generalizados,<br />

culminando com a exploração do trabalho infantil apontada por Huberman (1984, p. 191):<br />

15

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!