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100 Joaquim Nabuco com os recursos apenas dos votos abolicionistas. Mas mesmo entre estes a educação não estava feita. A intuição nova que leva hoje os republicanos a sustentarem o abolicionismo não havia ainda aparecido, e os republicanos iam votar por um candidato próprio. A isso era preciso acrescentar a minha atitude. Na minha circular declarei que não pediria votos por favor. Citei essa frase de Macaulay: “Espero ainda ver o dia em que o inglês considere uma afronta tão grande ser cortejado e adulado na sua qualidade de eleitor como considera o ser na sua qualidade de jurado”. Nessa ocasião, o Sr. F. Otaviano, movido por um nobre impulso qual o de salvar a eleição do filho de um seu antigo companheiro de oposição do perigo em que estava por se ter colocado no terreno da emancipação, entrou em campo a meu favor com uma circular da qual destaco este trecho para meditação de alguns liberais que vêem inconveniente na eleição de uma minoria francamente abolicionista: “Combate-se a sua candidatura alegando-se o ardor com que se dedica à solução de um grande problema social e às idéias que a sua consciência lhe impõe. Mas esse ardor é prova da energia de seu caráter e da sinceridade com que procede. Arredar tais caracteres do teatro natural das lutas, razão e da ciência política, não é promover o bem público, nem desejar que triunfem essa razão e essa ciência. É, pelo contrário, converter a Câmara dos Deputados em claustro de resignação, silêncio e frieza. É levantar de encontro à Câmara dos Deputados outros centros mais poderosos de ação sobre a sociedade, porque terão o prestígio e a garantia da liberdade de controvérsia no exame e discussão dos assuntos vitais para o Brasil”. (Muito bem! Muito bem!) Tendo colocado francamente a minha candidatura no terreno da abolição, terminei assim a minha circular: “Não tenho ambição política: sei que não houve um só homem dos que serviram lealmente ao país, desde os Andradas, para quem deixasse a vida política de ser uma série contínua de amarguras e tristezas. Compreendo, porém, que tenho atualmente no Parlamento, onde o nome que represento apareceu sempre desde as Assembléias do primeiro reinado, um papel que desempenhar na causa com a qual me acho identificado, e só por isso cumpro um dever de honra sujeitando-me aos vossos sufrágios. Se os merecer, senhor eleitor, terei nisso uma grande satisfação pelo benefício que vossa escolha traria para uma população inteira de enjeitados sociais, que
Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 101 deviam ter de direito uma voz no Parlamento, como os acusados têm um defensor ex officio perante a Justiça. Se, porém, não for eleito, deixarei sem pesar a vida política porque, se durante o domínio liberal não achei meio de continuar nela, foi tão-somente para não confundir a pátria com a escravidão e por ter procurado a todo custo separar uma da outra.” A minha frase – deixarei a vida política – foi mal interpretada; eu quis dizer somente – deixarei a carreira política. Perdida a eleição, cumprido o dever de dar batalha, eu tinha que pensar em viver. Eu havia passado um ano inteiro sem poder ocupar-me de mim mesmo, absorvido, de dezembro a maio, pela viagem de que vos falei, e de maio a dezembro nos trabalhos da minha candidatura. Esse ano representava pois para mim um grande sacrifício, como este de 1884 também representa, porque desde abril deixei de vencer qualquer dos meus ordenados, tendo vindo ao Brasil para auxiliar num momento que me pareceu oportuno, e não podia sê-lo mais, o movimento abolicionista, e tendo ficado para tratar da minha eleição. Mas, dizia eu, era chegado o momento de pensar em mim, de aceitar uma ocupação qualquer, de dar uma direção a minha vida. Foi então que se me ofereceu o lugar de correspondente do Jornal do Commercio em Londres. No mesmo dia em que fui derrotado, recebi um telegrama da Europa que me dizia: “Venha”. No dia 15 de dezembro de 1881 parti para meu posto e a 9 de janeiro do ano seguinte mandei a primeira dessas correspondências de Londres que continuei a escrever durante dois anos. Aqui, senhores, permiti que me ocupe dessa magna questão da minha ausência em país estrangeiro, ou do que se tem chamado e se deve chamar o meu exílio. A este respeito só devo explicações aos meus amigos, ao meu partido, e o modo pelo qual ele me acolheu prova que essas explicações lhe parecem desnecessárias, tão justificado me acho eu pelos próprios acontecimentos. A certas acusações que me foram feitas, um dos abolicionistas a quem o movimento mais deve e que pela sua inteligência e eloqüência esteve sempre à frente dele, o Sr. José do Patrocínio, respondia desta forma: “A retirada do Dr. Joaquim Nabuco para a Europa é, no meu modo de entender, uma das provas da sua grande inteligência e tino políti-
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com os recursos apenas dos votos abolicionistas. Mas mesmo entre estes a<br />
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iam votar por um candidato próprio. A isso era preciso acrescentar a minha<br />
atitude. Na minha circular declarei que não pediria votos por favor. Citei<br />
essa frase de Macaulay: “Espero ainda ver o dia em que o inglês considere<br />
uma afronta tão grande ser cortejado e adulado na sua qualidade de eleitor<br />
como considera o ser na sua qualidade de jurado”.<br />
Nessa ocasião, o Sr. F. Otaviano, movido por um nobre impulso<br />
qual o de salvar a eleição do filho de um seu antigo companheiro de oposição<br />
do perigo em que estava por se ter colocado no terreno da emancipação,<br />
entrou em campo a meu favor com uma circular da qual destaco este trecho<br />
para meditação de alguns liberais que vêem inconveniente na eleição de<br />
uma minoria francamente abolicionista: “Combate-se a sua candidatura<br />
alegando-se o ardor com que se dedica à solução de um grande problema<br />
social e às idéias que a sua consciência lhe impõe. Mas esse ardor é prova da<br />
energia de seu caráter e da sinceridade com que procede. Arredar tais caracteres<br />
do teatro natural das lutas, razão e da ciência política, não é promover<br />
o bem público, nem desejar que triunfem essa razão e essa ciência. É, pelo<br />
contrário, converter a Câmara dos Deputados em claustro de resignação,<br />
silêncio e frieza. É levantar de encontro à Câmara dos Deputados outros<br />
centros mais poderosos de ação sobre a sociedade, porque terão o prestígio<br />
e a garantia da liberdade de controvérsia no exame e discussão dos assuntos<br />
vitais para o Brasil”. (Muito bem! Muito bem!)<br />
Tendo colocado francamente a minha candidatura no terreno da<br />
abolição, terminei assim a minha circular:<br />
“Não tenho ambição política: sei que não houve um só homem<br />
dos que serviram lealmente ao país, desde os Andradas, para quem deixasse<br />
a vida política de ser uma série contínua de amarguras e tristezas. Compreendo,<br />
porém, que tenho atualmente no Parlamento, onde o nome que<br />
represento apareceu sempre desde as Assembléias do primeiro reinado, um<br />
papel que desempenhar na causa com a qual me acho identificado, e só por<br />
isso cumpro um dever de honra sujeitando-me aos vossos sufrágios. Se os<br />
merecer, senhor eleitor, terei nisso uma grande satisfação pelo benefício que<br />
vossa escolha traria para uma população inteira de enjeitados sociais, que