eleições - Livros Grátis
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88 Joaquim Nabuco<br />
Cândido, que eu tinha grande curiosidade de ouvir, notei que todos os<br />
olhares se voltavam para mim e compreendi que era eu o objeto da moção<br />
do ilustre deputado. Senhores, não posso esquecer essa honra que se me<br />
fez em Lisboa, honra excepcional em toda a história das cortes. Nunca tive<br />
maior emoção em minha vida do que quando penetrei naquela assembléia<br />
ilustre que se levantou toda para receber-me e fui sentar-me entre os seus<br />
membros.<br />
O Partido Regenerador emulou com o Progressista em tomar a<br />
manifestação unânime. O Sr. Júlio Vilhena, outro vulto da tribuna portuguesa,<br />
fundamentou então “para honrar-me a hospedagem”, disse ele, uma<br />
proposta convidando o governo a acabar com o castigo das varadas nas praças<br />
de pré e indivíduos a elas equiparados. Esse acontecimento inesperado<br />
deu à minha viagem o caráter que ela depois teve. O telégrafo comunicou<br />
para Madri e Londres o que se havia passado na Câmara portuguesa, e os<br />
abolicionistas dessas duas capitais viram nessa recepção um motivo para<br />
honrarem-me em minha passagem.<br />
Também, senhores, não havia razão para eu esconder-me, nem<br />
fugir, nem calar-me. Eu não era um criminoso sob a ameaça de extradição;<br />
não tinha feito mal algum à minha pátria, não estava envolvido em uma<br />
empresa que fosse vergonhoso confessar... pelo contrário. Estava lutando<br />
pela liberdade e pelo direito, estava promovendo uma grande medida humanitária,<br />
e era prestar um serviço assinalado ao nosso país mostrar ao<br />
mundo que se havia nele a escravidão, o que todos sabiam, havia também<br />
um partido abolicionista, o que quase todos ignoravam. (Aplausos.)<br />
Ter a escravidão e não ter um partido abolicionista é que seria<br />
uma vergonha. Senhores, acreditai-me. O Brasil tinha há cinco anos no<br />
mundo a reputação de país retrógrado e fechado, sem elementos de agitação<br />
e de movimento, gozando de um feliz despotismo, como se supõe<br />
ser o nosso governo, e tendo por sua principal instituição a escravidão dos<br />
africanos. Essa reputação nós abolicionistas a temos modificado e estamos<br />
modificando do modo mais favorável. Há poucos dias líamos tanto no Times<br />
como no Journal des Débats artigos editoriais sobre o nosso país como<br />
por certo não seriam escritos se não tivesse havido o movimento abolicionista.<br />
Não faz mal que nos ataquem, a nós abolicionistas, uma vez que se<br />
reconheça que a nação está fazendo grandes esforços para se libertar do jugo