eleições - Livros Grátis
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86 Joaquim Nabuco<br />
tinham para captar defensores senão a própria miséria.” Testemunhos como<br />
esse eu podia produzi-los sem número. Sim, senhores, essa consolação me<br />
restava. Eu tinha visto capitulações de consciência de todas as espécies; tinha<br />
estudado nos outros a triste psicologia moral da política; visto ao meu<br />
lado a medida estreita dos móveis pessoais e sentia-me diverso de tudo isso,<br />
em posse do outro ideal, ou se quiserem de outra ambição.<br />
Uma vez disse na Câmara a um dos ministros:<br />
“Não quero medir as nossas duas carreiras... A do nobre ministro<br />
principiou, como a minha, no Parlamento. S. Ex a chegou depressa a uma<br />
das posições mais responsáveis, a uma das posições mais difíceis e elevadas<br />
que este país possa dar. Eu não tenho desejo de lá chegar, não tenho também<br />
esperanças de ser reeleito; mas quis simplesmente na minha passagem<br />
efêmera por esta Câmara pôr-me ao lado da liberdade, da justiça, do progresso,<br />
da humanidade, que são para mim os maiores interesses do país, de<br />
maneira que qualquer homem verdadeiramente liberal e de sentimentos<br />
generosos me pudesse sempre dar um aperto de mão.”<br />
Esse programa que me impus, eu o cumpri à risca e espontaneamente.<br />
Era isto não ter outra coisa em vista senão a glória? “Teria eu pensado”,<br />
escrevi eu em 1881, “em sacrificar as minhas mais legítimas aspirações<br />
à honra de ter um dia a minha ação pessoal ligada ao triunfo inevitável de<br />
uma causa que uma vez vencedora há de ter os aplausos até dos próprios<br />
vencidos? Reconheço que a ambição de assumir no presente uma atitude<br />
que seja aprovada pelo futuro é uma das mais elevadas inspirações que o homem<br />
político possa ter; até certo ponto ela caracteriza mesmo o estadista.<br />
Não foi porém essa a causa determinante do meu procedimento. O serviço<br />
da idéia abolicionista é hoje para quem lhe queira ser leal todo de sacrifício,<br />
sem compensação alguma, não só de carreira, mas também de nome; é a<br />
renúncia do presente e do futuro.”<br />
Mas havia uma glória que me seduziu sempre... Sabeis qual é?<br />
“Eu não quero levar da minha passagem pelo Parlamento”, disse uma vez<br />
na Câmara o atual presidente desta província, “o grande pesar de não ter ao<br />
menos manifestado a minha adesão à causa aqui tão brilhantemente defendida<br />
pelos nobres deputados pela Bahia, e por Pernambuco, sobretudo pelo<br />
último, ao qual a maior glória que eu desejo é a de que, no futuro, ao abrir<br />
a história parlamentar deste país, possa alguém lendo o seu nome sentir al-