eleições - Livros Grátis
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Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 85<br />
votante da Constituição. A Câmara sentia-se condenada e não se reunia<br />
quase. O presidente criava os maiores embaraços ao uso da palavra para<br />
fins abolicionistas. Depois de um ou dois conflitos dessa natureza, pensei<br />
em renunciar a um mandato que se não me permitia exercer com liberdade;<br />
mas o fim da sessão estava próximo e o meu procedimento podia ser mal interpretado.<br />
Foi então que resolvi ir passar quatro meses na Europa para descansar<br />
do muito trabalho que tive desde que entrei para a Câmara. Durante<br />
a minha ausência a Câmara reuniu-se muito poucas vezes e somente para<br />
aprovar emendas do Senado. No dia 15 de dezembro parti para a Europa<br />
com destino a Bordéus. Aqui peço licença para deter-vos um instante.<br />
Eu sabia que a Câmara ia ser dissolvida e, portanto, que minha<br />
carreira parlamentar tinha findado. Olhando para o tempo que servi no<br />
Parlamento sentia-me satisfeito comigo mesmo. Em 1879, quando tomei<br />
assento, eu era apenas conhecido pelo meu nome e pelos meus escritos;<br />
ninguém sabia se eu reunia ou não as qualidades precisas para a vida parlamentar;<br />
eu tinha contra mim nesta província prevenções injustas e fora<br />
dela lutava com o peso da grande tradição que era chamado a continuar<br />
no Parlamento. Um ano depois, senhores, eu podia ter orgulho disto: os<br />
homens mais eminentes deste país entendiam sem distinção de partido que<br />
eu tinha merecido ser reeleito, as prevenções converteram-se em adesão, o<br />
meu nome deixou de despertar a idéia de um indivíduo para despertar a de<br />
uma grande causa, os meus inimigos chamavam-se legião, mas eram todos<br />
inimigos do propagandista, não do homem, e em compensação vi formarse<br />
em torno de mim um núcleo de amigos que, pela inteligência, pelo caráter,<br />
pela falta de inveja e sobra de desinteresse, representam uma das mais<br />
belas comunhões que uma idéia social já conseguiu produzir em nosso país:<br />
eu tinha durante dois anos feito ouvir a voz da consciência humana no<br />
Parlamento brasileiro, e tinha sido ali o primeiro advogado da raça negra,<br />
o primeiro que ousou pedir justiça para ela, dizer que ela tinha queixas e<br />
direitos, e lembrar aos brasileiros que esta pátria que nos jactamos de ter<br />
edificado é obra dos que estão fora dela, abaixo dela. (Longos aplausos.)<br />
Também nenhuma satisfação foi maior para mim do que ver-me<br />
publicamente honrado na imprensa por me ter posto do lado dos que me<br />
não podiam recompensar. “A sua palavra”, disse O Globo quando parti,<br />
“fez-se sempre ouvir em defesa do fraco, do oprimido, do infeliz, que não