eleições - Livros Grátis
eleições - Livros Grátis
eleições - Livros Grátis
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 83<br />
Além do mais eu tinha que bater-me com homens de talento que<br />
não sentiam ainda a força da corrente que os arrastava para nós. Um deles<br />
o Sr. Taunay escreveu-me uma carta que teve o caráter de manifesto dos<br />
conservadores moderados e à qual respondi imediatamente. Eu vos lerei<br />
um trecho da minha resposta em que pela primeira vez servi-me, falando<br />
do Paraíba do Sul, da imagem bíblica – rio da escravidão – que tanto tem<br />
figurado na polêmica das fazendas.<br />
Em vez porém, disse eu ao Sr. Taunay que impugnara o prazo<br />
de dez anos, de colocar-se imaginariamente em uma fazenda das margens<br />
do Paraíba, que se tornou o verdadeiro rio da escravidão, tendo diante dos<br />
olhos, como objeto do seu interesse, da sua ansiedade e do seu estremecimento,<br />
a família do rico fazendeiro, esperando a data do 1 o de janeiro<br />
de 1890 com terror e espanto, e, nas senzalas mefíticas, sem religião, sem<br />
família, sem consolação, como objeto de seu estudo quase extra-humano,<br />
centenas de escravos acumulados, africanos ou filhos e netos de africanos,<br />
contando em silêncio e em segredo os dias que faltam, e esperando aquela<br />
mesma data com o alvoroço, com as lágrimas, com a loucura da esperança<br />
– quando esta não é só do indivíduo, mas da raça; coloque-se por um<br />
instante na posição que eu ocupo, e há de ver como a pátria parece maior,<br />
livre e sem castas; como a compaixão se alarga, quando se confunde com<br />
a Justiça; como a humanidade deixa de ser uma palavra, quando nela se<br />
incluem os escravos. (Longos aplausos.)<br />
Em 1880 nós os abolicionistas tivemos a dor de ver sucumbir o<br />
Visconde do Rio Branco. Tem-se dito que fui e sou um detrator da memória<br />
do glorioso autor da lei de 28 de setembro. É falso. Eu já o disse, a amizade<br />
íntima que me prende ao ilustre e benemérito filho daquele grande homem<br />
me impediria de expressar sobre ele qualquer pensamento que pudesse diminuir-lhe<br />
o renome. Julgando com severidade a lei de 28 de setembro de<br />
1871 não a julgo na época em que foi feita, como lei de 1871, mas como<br />
lei de hoje, de dez ou quatorze anos depois. A Espanha promulgou também<br />
em 1870 uma lei do ventre livre, e dez anos depois, em 1880, completaram-na<br />
por outra que converteu desde logo a escravidão em um patronato<br />
por oito anos, e nós ainda estamos na lei do ventre livre. Não faz parte da<br />
nossa missão elogiarmos hoje a lei de 28 de setembro: essa é a missão dos<br />
nossos adversários. Mas com relação ao Visconde do Rio Branco eu diria