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82 Joaquim Nabuco<br />

do. Então, senhores, ser abolicionista era mais difícil do que hoje. Hoje<br />

diz-se tudo que se quer da escravidão, naquele tempo ela ainda gozava<br />

de certo prestígio social e dispunha de imenso poder de perseguição. A<br />

linguagem do Manifesto pareceu a alguns ousada e perigosa. Ides ver por<br />

algumas frases:<br />

“Há trezentos anos celebrou-se o primeiro contrato para introdução<br />

de africanos no Brasil e há trezentos anos que estamos existindo em<br />

virtude desse contrato.”<br />

“O fato de ter sido o partido, que é em toda parte o representante<br />

natural da grande propriedade privilegiada, do monopólio da terra<br />

e do feudalismo agrícola, o autor do grande ato legislativo que paralisou<br />

a escravidão, mostra por si só que, no momento em que o país puder de<br />

todo aboli-la, ela não achará até mesmo entre seus melhores aliados senão<br />

desertores.”<br />

A situação liberal torna-se depositária da escravidão, e promete<br />

entregar o depósito, intacto, com as mesmas lágrimas e os mesmos sofrimentos<br />

que fazem a sua riqueza.<br />

Não se enganem os nossos inimigos: nós representamos o Direito<br />

moderno. A cada vitória nossa o mundo estremecerá de alegria; a cada<br />

vitória deles, o país sofrerá uma nova humilhação. O Brasil seria o último<br />

dos países do mundo se, tendo a escravidão, não tivesse também um partido<br />

abolicionista; seria a prova de que a consciência moral não havia ainda<br />

despontado nele.<br />

O que fazemos hoje é no interesse do seu progresso, do seu crédito,<br />

da sua unidade moral e nacional.<br />

Levantando um grito de guerra contra a escravidão; apelando<br />

para o trabalho livre; condenando a fábrica levantada a tanto custo sobre<br />

a supressão da dignidade, do estímulo, da liberdade nas classes operárias;<br />

proclamando que nenhum homem pode ser propriedade de outro, e que<br />

nenhuma nação pode elevar-se impunemente sobre as lágrimas e os sofrimentos<br />

da raça que a sustentou com o melhor do seu sangue e das suas<br />

forças, mostramos somente sermos dignos de pertencer ao país livre que<br />

quiséramos ver fundado. Há muitos anos que foi colocada a primeira pedra<br />

do grande edifício, mas chegamos ainda a tempo de lançar os nossos obscuros<br />

nomes nos alicerces de uma nova pátria. (Aplausos.)

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