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74 Joaquim Nabuco<br />

diversas formas da geometria ou da arquitetura figuram nos jardins, onde a<br />

vegetação era, por assim dizer, a matéria plástica duma arte decorativa.”<br />

Pois bem, parece que no nosso país querem fazer com as idéias<br />

como se fazia com as árvores, querem aparar-lhes as expansões, cortar-lhes<br />

os galhos que se desenvolvam fora da linha e reduzir tudo à imponente e<br />

fria simetria de Versalhes, à harmonia palaciana dos jardins de Luís XIV.<br />

Mas devo dizer que, assim como prefiro a essa espécie de ajardinamento<br />

– que não realiza para mim a verdadeira beleza no desenvolvimento<br />

da vegetação –, as nossas florestas em que árvores de todos os tamanhos<br />

entrelaçam-se e amparam-se na expansão geral da natureza, assim também<br />

prefiro que se deixe aos partidos a exuberância de sua seiva, que se experimente<br />

sem receio a liberdade humana e que se não desfigure a vegetação,<br />

irregular mas espontânea da nossa democracia.<br />

Ainda uma e muitas vezes acentuei essa convicção de que o povo<br />

não deve ser matéria plástica nas mãos do governo.<br />

“O Partido Liberal”, disse eu um dia, “já que o nobre deputado<br />

por São Paulo falou nas pedras do edifício que estamos levantando, das<br />

quais S. Ex a disse que não queria abalar uma só, não deve ter por ideal a<br />

ambição ascética de um conde de Chambord, de um desses políticos que<br />

entendem que se pode criar um povo conforme um desenho, e vazar o desenvolvimento<br />

humano em certas formas, tornando o governo uma espécie<br />

de arte religiosa, impedindo a evolução natural da humanidade e fazendo<br />

de todos os homens as pedras de um edifício uniforme.<br />

“Senhores, essa espécie de arquitetura política, essa edificação da<br />

qual o coração, o pensamento, os impulsos do homem são os materiais de<br />

que o estadista se serve para levantar na história o monumento da sua própria<br />

grandeza; essa obstinação em fazer dos homens não o que eles querem<br />

ser, mas o que nos convém que eles sejam, tudo isso pertence ao passado,<br />

são restos do direito divino, são estratificações de um tempo em que a política<br />

e a religião tinham as mesmas vistas. As nossas idéias são outras; vós<br />

tendes confiança no censo, nas restrições, nas capacidades, nas classes superiores,<br />

em vós mesmos, em suma; nós só temos esperança no povo entregue<br />

à liberdade e a si mesmo.”<br />

Mais de uma vez mostrei à Câmara que era desonroso para o Partido<br />

Liberal viver sem idéias e, pior ainda, à custa das suas próprias idéias.

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