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72 Joaquim Nabuco batalha do Tecino: ‘Eis aquele a quem a fortuna prepara para salvar a honra da pátria’!” (Longos aplausos.) Vós compreendeis, senhores, com a admiração e o culto que tenho pela memória de meu pai quanto às palavras de animação que confundiam os nossos dois nomes e faziam cair sobre mim um reflexo da glória dele, deviam encher de saudade e de orgulho o coração do filho. As manifestações dessa natureza foram tão repetidas durante toda a Sessão de 1879 que me julguei obrigado para o fim a agradecê-las conjuntamente. Foi para mim uma ocasião solene aquela em que me desempenhei desse dever: “O general norte-americano Roberto Lee”, disse eu então, “esse mesmo em cuja alma travou-se um dia o combate de duas pátrias: uma a Virgínia com todas as associações de família, com todas as recordações do passado, com o amor que se tem ao lugar onde se nasceu; a outra a União, os Estados Unidos da América, falando-lhe à inteligência com a promessa da vitória, mostrando-lhe a bandeira estrelada a que ele havia prestado o seu juramento de soldado; o general Lee, dizia eu, refere que uma vez passeando com o filho à beira do mar viu que a criança tratava de pisar sobre os passos que ele ia deixando impressos na areia. Desde esse dia ele jurou a si mesmo que não daria um passo na vida em que seu filho o não pudesse acompanhar. Por mais movediças que sejam as areias da política há nelas para mim pisadas indeléveis, e, se não tenho outras qualidades, tenho no meu espírito a isenção e no meu caráter o desinteresse precisos para não afastar-me do caminho que me está traçado.” (Muito bem!) Se lerdes a coleção dos discursos que proferi no Parlamento vereis que eu procurava elevar todas as questões que se discutiam à altura dos princípios cardeais do direito da justiça e da solidariedade humana. Pertenço, meus senhores, a uma classe de homens políticos, dos quais o mais notável que jamais existiu neste ou em qualquer outro século é o homem imortal que hoje governa a Inglaterra com uma ditadura moral para a qual só tereis um paralelo no governo de Péricles, pertenço a uma classe de homens políticos para os quais a humanidade não é uma expressão sem alcance prático, mas o ideal mais elevado que o estadista possa ter no pensamento para iluminar como a luz meridiana a imagem da pátria.
Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 73 Para compreenderdes o modo pelo qual eu transportava qualquer questão ao terreno dos princípios, dar-vos-ei alguns exemplos tirados dos maiores debates da legislatura de que fiz parte. Começo, senhores, pela questão da Constituinte que o governo de então propunha-se convocar com poderes limitados e com um mandato imperativo, isto é, uma Constituinte, como foi chamada por José Bonifácio, constituída, ou melhor, escravizada à legislatura anterior, reprodução do pensamento dela, que assim promulgava uma lei constitucional póstuma. Pronunciei sobre a reforma constitucional dois discursos e vou mostrar-vos em que espírito. Vede antes de tudo o meu modo de compreender a Constituição que faz com que mesmo a República possa um dia entrar nela pelos votos dos eleitores. “A Constituição não é o que se figura a alguns dos nobres deputados, a fortaleza do seio da qual o governo pode sem prejuízo e sem incômodo resistir ao país que o bloqueia. Ela não é a imagem dessas catedrais góticas edificadas a muito custo e que representam no meio da nossa civilização adiantada, no meio da atividade febril do nosso tempo, épocas de passividade e de inação. A nossa Constituição é pelo contrário de formação natural, é uma dessas formações como a do solo onde camadas sucessivas se depositam, onde a vida penetra por toda a parte, sujeita ao eterno movimento, e onde os erros que passam ficam sepultados sob as verdades que nascem. A Constituição não é uma barreira levantada em nosso caminho, não são Tábuas da Lei recebidas de um legislador divino e nas quais não se possa tocar por estarem protegidas pelos raios e trovões. Não, senhores... ela é um grande mecanismo liberal, um maquinismo dotado de todos os órgãos de locomoção e de progresso, um organismo vivo que caminha e se adapta às funções diversas que em cada época tem necessariamente que produzir.”(Muito bem!) “Todos vós”, disse eu em outro discurso procurando destruir a tutela governamental, “tendes uma idéia do que eram esses jardins simétricos que o gênio de Le-Nôtre desenhava nos terrenos que lhe eram concedidos. As árvores em vez do seu natural desenvolvimento, em vez dos galhos estenderem-se em todas as direções, das folhas voltarem-se naturalmente para o sol, e dessa espontaneidade da vida vegetal, tão admirável na sua confusão, eram sujeitas a certos cortes regulares e estudados, serviam de ornato, de decoração à paisagem. Pirâmides, colunas, cilindros, arcos, as
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com poderes limitados e com um mandato imperativo, isto é, uma Constituinte,<br />
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à legislatura anterior, reprodução do pensamento dela, que assim<br />
promulgava uma lei constitucional póstuma. Pronunciei sobre a reforma<br />
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Vede antes de tudo o meu modo de compreender a Constituição<br />
que faz com que mesmo a República possa um dia entrar nela pelos votos<br />
dos eleitores. “A Constituição não é o que se figura a alguns dos nobres<br />
deputados, a fortaleza do seio da qual o governo pode sem prejuízo e sem<br />
incômodo resistir ao país que o bloqueia. Ela não é a imagem dessas catedrais<br />
góticas edificadas a muito custo e que representam no meio da nossa<br />
civilização adiantada, no meio da atividade febril do nosso tempo, épocas<br />
de passividade e de inação. A nossa Constituição é pelo contrário de formação<br />
natural, é uma dessas formações como a do solo onde camadas sucessivas<br />
se depositam, onde a vida penetra por toda a parte, sujeita ao eterno<br />
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que nascem. A Constituição não é uma barreira levantada em nosso caminho,<br />
não são Tábuas da Lei recebidas de um legislador divino e nas quais<br />
não se possa tocar por estarem protegidas pelos raios e trovões. Não, senhores...<br />
ela é um grande mecanismo liberal, um maquinismo dotado de todos<br />
os órgãos de locomoção e de progresso, um organismo vivo que caminha e<br />
se adapta às funções diversas que em cada época tem necessariamente que<br />
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“Todos vós”, disse eu em outro discurso procurando destruir a<br />
tutela governamental, “tendes uma idéia do que eram esses jardins simétricos<br />
que o gênio de Le-Nôtre desenhava nos terrenos que lhe eram concedidos.<br />
As árvores em vez do seu natural desenvolvimento, em vez dos galhos<br />
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para o sol, e dessa espontaneidade da vida vegetal, tão admirável na sua<br />
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