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68 Joaquim Nabuco interesses da província, mas a sua missão na Câmara é representar a nação toda. Cada um deles é membro de um partido, e todavia tendes o direito de exigir que ele coloque a província acima do seu partido; cada um deles é representante de Pernambuco, e tendes o direito de exigir que ele não sirva somente à província, que sirva também à pátria sem separar uma da outra. Estabelecidos estes princípios vou procurar mostrar-vos que só me isolei dos homens do Partido Liberal para ficar fiel às idéias desse mesmo partido, e que sempre procedi de acordo com esta convicção: que o melhor meio, e o mais certo, de promover a prosperidade e o florescimento de Pernambuco era criar o império da igualdade social em todo o país e solicitar medidas que fossem para todos os brasileiros os artigos de uma Segunda Constituição, mas desta vez um verdadeiro pacto de aliança entre a Lei Orgânica e o povo que ela se prupusesse converter em democracia justa, livre e esclarecida. (Aplausos.) Não me cabe neste momento justificar a minha eleição de 1878 que foi toda devida à influência pessoal e ao prestígio do chefe do Partido Liberal, naquela época o Barão de Vila Bela. Ele havia tomado um compromisso com meu pai, a quem os seus serviços ao Partido Liberal davam esperança de encontrar no Parlamento um filho em quem ele via um prolongamento intelectual e moral de si mesmo. Em 1878 eu tinha quase 30 anos, e não carecia pois de dizer como o herói romano ao disputar uma dignidade acima dos seus anos: “O povo me escolha e terei idade!” Não sou dos que acreditam no direito divino da velhice. Mas dizia-se que eu tomava na lista o lugar de quantos veteranos ilustres havia então nesta província. Eu só podia ocupar um lugar, mas esse era o de todos. Ninguém fazia esta simples reflexão: que na deputação havia sete homens tão novos como eu. Mas, apesar da oposição levantada especialmente contra mim, consegui sempre entrar para a Câmara ainda que no último lugar da lista pernambucana. Eu entrava para o Parlamento com plena liberdade de ação, desde que não tomara nenhum compromisso, nem meu pai por mim, mas uma gravíssima doença que me levou até muito perto da morte fez com que eu não pudesse comparecer às sessões no tempo em que o Barão de Vila Bela fazia parte do ministério. Na primeira sessão a que assisti o meu ilustre e saudoso amigo dava à Câmara as explicações da sua retirada do gabinete. Ele e Silveira Martins tinham deixado o gabinete por causa da elegibilidade dos acatólicos.

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 69 Por mais que eu viva, senhores, nunca hei de esquecer a impressão que produziu em meu espírito essa primeira sessão do Parlamento em que tomei parte como deputado. Eu voltava dos Estados Unidos e da Inglaterra, com cujos partidos liberais me havia identificado; o fato de dois ministros liberais serem obrigados a deixar o gabinete de que eram membros por causa de um princípio tão fundamental como este – o direito do povo de se fazer representar por qualquer homem da sua confiança sem indagar da religião dele – pareceu-me mais próprio do governo de um Francia ou de García Moreno do que do governo do Brasil. Desde esse dia vi e senti que na Câmara não podia estar senão do lado dos meus princípios, senão do lado da minha consciência, quaisquer que fossem as circunstâncias, a pressão da disciplina, o interesse momentâneo do partido. (Muito bem!) Compreendi então que para a vida política havia em mim uma inferioridade invencível, desde que vivemos em um país onde a opinião, se aplaude, todavia não sustenta a coerência. Para fazer carreira entre nós não é preciso, como tantos dizem, ter baixeza de caráter, falta de escrúpulos, amor da adulação, ou servilismo à Coroa. Muitos dos homens que nos têm governado são tão nobres de caráter, tão puros de vida, tão inacessíveis à lisonja e tão incapazes de humilharse diante da Coroa como qualquer grande estadista estrangeiro. Tome-se o Sr. Saraiva por exemplo. Mas para fazer carreira entre nós é preciso tratar os princípios e o direito como entidades metafísicas, desterrá-los, da política, e não consentir que adquiram autoridade alguma sobre nós; é preciso ter a esse respeito o vácuo mais perfeito no cérebro e no coração, e ser prático antes de tudo, isto é, não tolerar que idéias modifiquem fatos e muito menos prejudiquem interesses. (Assentimento.) Desde a primeira vez que assisti a uma sessão como deputado compreendi que a vida política entre nós exigia um desprendimento dos princípios, ainda os mais vitais, como eu não tinha forças para impor à minha organização moral. Acreditai-me, senhores, é um momento que se não esquece mais esse em que o homem sente praticamente que há dentro de si uma força que o impele para certas causas nobres, e adquire a certeza de que por maiores que sejam as tentações, quando mesmo a ambição se deixe inebriar por elas, sempre que ele ouvir uma certa voz há de acudir ao chamado... Pois bem, tal certeza eu adquiri-a desde a primeira vez que

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 69<br />

Por mais que eu viva, senhores, nunca hei de esquecer a impressão<br />

que produziu em meu espírito essa primeira sessão do Parlamento em<br />

que tomei parte como deputado. Eu voltava dos Estados Unidos e da Inglaterra,<br />

com cujos partidos liberais me havia identificado; o fato de dois ministros<br />

liberais serem obrigados a deixar o gabinete de que eram membros<br />

por causa de um princípio tão fundamental como este – o direito do povo<br />

de se fazer representar por qualquer homem da sua confiança sem indagar<br />

da religião dele – pareceu-me mais próprio do governo de um Francia ou<br />

de García Moreno do que do governo do Brasil. Desde esse dia vi e senti<br />

que na Câmara não podia estar senão do lado dos meus princípios, senão<br />

do lado da minha consciência, quaisquer que fossem as circunstâncias, a<br />

pressão da disciplina, o interesse momentâneo do partido. (Muito bem!)<br />

Compreendi então que para a vida política havia em mim uma inferioridade<br />

invencível, desde que vivemos em um país onde a opinião, se aplaude,<br />

todavia não sustenta a coerência.<br />

Para fazer carreira entre nós não é preciso, como tantos dizem,<br />

ter baixeza de caráter, falta de escrúpulos, amor da adulação, ou servilismo à<br />

Coroa. Muitos dos homens que nos têm governado são tão nobres de caráter,<br />

tão puros de vida, tão inacessíveis à lisonja e tão incapazes de humilharse<br />

diante da Coroa como qualquer grande estadista estrangeiro. Tome-se o<br />

Sr. Saraiva por exemplo. Mas para fazer carreira entre nós é preciso tratar os<br />

princípios e o direito como entidades metafísicas, desterrá-los, da política,<br />

e não consentir que adquiram autoridade alguma sobre nós; é preciso ter<br />

a esse respeito o vácuo mais perfeito no cérebro e no coração, e ser prático<br />

antes de tudo, isto é, não tolerar que idéias modifiquem fatos e muito menos<br />

prejudiquem interesses. (Assentimento.)<br />

Desde a primeira vez que assisti a uma sessão como deputado<br />

compreendi que a vida política entre nós exigia um desprendimento dos<br />

princípios, ainda os mais vitais, como eu não tinha forças para impor à<br />

minha organização moral. Acreditai-me, senhores, é um momento que se<br />

não esquece mais esse em que o homem sente praticamente que há dentro<br />

de si uma força que o impele para certas causas nobres, e adquire a certeza<br />

de que por maiores que sejam as tentações, quando mesmo a ambição se<br />

deixe inebriar por elas, sempre que ele ouvir uma certa voz há de acudir<br />

ao chamado... Pois bem, tal certeza eu adquiri-a desde a primeira vez que

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