eleições - Livros Grátis
eleições - Livros Grátis
eleições - Livros Grátis
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
58 Joaquim Nabuco<br />
vida e sobre o lar doméstico da pobreza. A Constituição diz: “Ninguém<br />
será isento de contribuir para as despesas do Estado em proporção dos seus<br />
haveres”. Pois bem, senhores, ninguém neste país contribui para as despesas<br />
do Estado em proporção dos seus haveres. O pobre carregado de filhos<br />
paga mais impostos ao Estado do que o rico sem família. É tempo de cessar<br />
esse duplo escândalo de um país nas mãos de alguns proprietários que nem<br />
cultivam suas terras nem consentem que outros as cultivem, que esterilizam<br />
e inutilizam a extensão e a fertilidade do nosso território; e de uma<br />
população inteira reduzida à falta de independência que vemos. Se eu não<br />
estivesse convencido de que uma lei agrária, prudente e sábia, podia criar<br />
um futuro aos brasileiros privados de trabalho, teria que aconselhar-lhes<br />
que emigrassem, porque a existência que levam não é digna de homens que<br />
se sentem válidos e querem dar a seus filhos uma educação que os torne<br />
independentes e lhes prepare uma condição melhor do que a da presente<br />
geração. (Adesão.)<br />
Senhores, a propriedade não tem somente direitos, tem também deveres,<br />
e o estado da pobreza entre nós, a indiferença com que todos olham<br />
para a condição do povo, não faz honra à propriedade, como não faz honra<br />
aos poderes do Estado. Eu, pois, se for eleito, não separarei mais as duas<br />
questões – a da emancipação dos escravos e a da democratização do solo.<br />
(Longos aplausos.) Uma é o complemento da outra. Acabar com a escravidão<br />
não nos basta; é preciso destruir a obra da escravidão. Compreende-se que<br />
em países velhos, de população excessiva, a miséria acompanhe a civilização<br />
como a sua sombra, mas em países novos, onde a terra não está senão nominalmente<br />
ocupada, não é justo que um sistema de leis concebidas pelo<br />
monopólio da escravidão produza a miséria no seio da abundância, a paralisação<br />
das forças diante de um mundo novo que só reclama trabalho.<br />
Sei que falando assim serei acusado de ser um nivelador. Mas não<br />
tenho medo de qualificativos. Sim, eu quisera nivelar a sociedade mais para<br />
cima, fazendo-a chegar ao nível do art. 179 da Constituição que nos declara<br />
todos iguais diante da lei. (Aplausos.) Vós não calculais quanto perde o<br />
nosso país por haver um abismo entre senhores e escravos, por não existir<br />
o nivelamento social.<br />
Sei que nos chamam anarquistas, demolidores, petroleiros, não<br />
sei que mais, como chamam aos homens do trabalho o do salário. Os que