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36 Joaquim Nabuco Senhores, não preciso dizer nada em favor do Sr. José Mariano. Eu disse, noutro dia, desta tribuna que ele era o mais popular dos pernambucanos vivos, quando ele fez-me a honra de sustentar a minha candidatura em palavras repletas de adesão liberal e solidariedade abolicionista. Hoje mesmo vós vistes que ele fez um discurso que reverto mais em favor de minha candidatura do que em favor da sua. Esses que exploram contra mim o exclusivismo e o preconceito provinciais podem continuar, que nesse terreno o Sr. José Mariano abriu a sepultura do candidato conservador do 1 o distrito, e não falta outra coisa senão escrever-lhe o epitáfio. (Muito bem!) Senhores, do que é que acusam o Dr. José Mariano? Acusam-no de ser um instrumento potente e eficaz do pensamento, da vontade deste eleitorado; acusam-no de não ser uma dessas máquinas pneumáticas que fazem o vácuo nas assembléias onde funcionam, mas, pelo contrário, de ser uma palavra poderosa, uma vontade resoluta, um organismo cheio de ascendente. E que mais queriam que ele fizesse? Queriam que depois de ter conquistado o governo ele submetesse à sua vontade uma Câmara e um Senado na metade conservadores! Isso ninguém pôde fazê-lo até hoje em nosso país, nem o governo, quanto mais um simples cidadão! Mas ele ali está no meio de vós, sem se ter outra coisa que lhe lançar em rosto senão e por ignóbil baixeza esse palacete que o comércio lhe ofereceu em reconhecimento de um grande serviço prestado, favor que uma vez efetuado ninguém tinha o direito de exprobrar-lho e que passou como um caso julgado da opinião contemporânea. (Aplausos.) Sim, é indecoroso lançar-se em rosto ao Sr. José Mariano o presente que espontaneamente lhe fizeram! Era como se o comércio inglês censurasse a Cobden por ter aceito os diversos subsídios pecuniários que os seus partidários lhe ofereceram na grande campanha pela liberdade do comércio! Não preciso acrescentar nada mais, porque o Sr. José Mariano vive no meio de vós, envolvido desde que deixou a Academia, desde que vestiu a toga viril de cidadão, na luta política em que outros só se envolvem depois de feita a sua fortuna! (Aplausos.) Sim, senhores, é preciso dizer tanto menos em favor dele quanto, para ele, o ganhar e o merecer a vossa estima e consideração não é – como

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 37 é infelizmente ainda para mim – uma conquista a fazer, mas uma conquista a guardar, e que ele, como acaba de o mostrar, jamais deixará fugir de suas mãos. (Vozes: V. Ex a é também uma conquista feita.) Obrigado. Não devo descer desta tribuna, à qual somente vós me chamastes e na qual sois os únicos responsáveis pela minha demora sem cumprir dois deveres, um deles como presidente honorário desta Comissão. O primeiro vem a ser o anunciar-vos que terei a honra de fazer neste teatro sucessivamente nos domingos do mês de novembro três conferências mais, e o segundo explicar, de passagem também, algumas censuras feitas no meu último discurso. Esta é uma tribuna aberta a todos. O povo acha-se aqui representado na minha pessoa, como na do Sr. José Mariano, e não temos mais direito de falar do que qualquer outro cidadão que queria a ela subir, de moto próprio ou chamado pelas aclamações deste auditório. Não faço referência à calúnia, porque estou habituado a desprezar as calúnias vibradas contra mim. Quando Perseu cortou a cabeça de Medusa e voou com ela pelos ares, as gotas de sangue que caíam sobre o solo ardente da Líbia convertiam-se em serpentes. Senhores, nós cortamos a cabeça da Medusa da escravidão (aplausos), e é natural que o sangue que ela verte se transforma ao tocar o solo aquecido por tantas lágrimas em víboras estéreis. (Novos aplausos.) Uma destas calúnias esmaguei há dias, quando afirmei que tinha as mãos limpas de qualquer transação sobre entes humanos, e que, em tempo algum de minha vida, nunca exerci um minuto ou segundo do poder jurídico sobre um escravo! Mas refiro-me a uma intriga, a uma especulação que corre nos jornais – de que eu disse que o Partido Conservador era o partido do chicote. Creio que grande parte dos que estão presentes neste recinto assistiram à minha conferência passada, e portanto posso-vos tomar por testemunhas de que não estou recuando neste momento. Não devo explicação alguma ao Partido Conservador organizado; mas há na massa do Partido Conservador, desses que de pertencerem a um partido só têm tido até hoje os inconvenientes e os desgostos, há no seio desse partido líderes eminentes – como Gusmão Lobo, o maior espírito da moderna geração pernambu-

36 Joaquim Nabuco<br />

Senhores, não preciso dizer nada em favor do Sr. José Mariano.<br />

Eu disse, noutro dia, desta tribuna que ele era o mais popular dos pernambucanos<br />

vivos, quando ele fez-me a honra de sustentar a minha candidatura<br />

em palavras repletas de adesão liberal e solidariedade abolicionista. Hoje<br />

mesmo vós vistes que ele fez um discurso que reverto mais em favor de<br />

minha candidatura do que em favor da sua.<br />

Esses que exploram contra mim o exclusivismo e o preconceito<br />

provinciais podem continuar, que nesse terreno o Sr. José Mariano abriu a<br />

sepultura do candidato conservador do 1 o distrito, e não falta outra coisa<br />

senão escrever-lhe o epitáfio. (Muito bem!)<br />

Senhores, do que é que acusam o Dr. José Mariano? Acusam-no de<br />

ser um instrumento potente e eficaz do pensamento, da vontade deste eleitorado;<br />

acusam-no de não ser uma dessas máquinas pneumáticas que fazem o<br />

vácuo nas assembléias onde funcionam, mas, pelo contrário, de ser uma palavra<br />

poderosa, uma vontade resoluta, um organismo cheio de ascendente.<br />

E que mais queriam que ele fizesse?<br />

Queriam que depois de ter conquistado o governo ele submetesse<br />

à sua vontade uma Câmara e um Senado na metade conservadores!<br />

Isso ninguém pôde fazê-lo até hoje em nosso país, nem o governo,<br />

quanto mais um simples cidadão!<br />

Mas ele ali está no meio de vós, sem se ter outra coisa que lhe<br />

lançar em rosto senão e por ignóbil baixeza esse palacete que o comércio lhe<br />

ofereceu em reconhecimento de um grande serviço prestado, favor que uma<br />

vez efetuado ninguém tinha o direito de exprobrar-lho e que passou como<br />

um caso julgado da opinião contemporânea. (Aplausos.) Sim, é indecoroso<br />

lançar-se em rosto ao Sr. José Mariano o presente que espontaneamente lhe<br />

fizeram! Era como se o comércio inglês censurasse a Cobden por ter aceito<br />

os diversos subsídios pecuniários que os seus partidários lhe ofereceram na<br />

grande campanha pela liberdade do comércio!<br />

Não preciso acrescentar nada mais, porque o Sr. José Mariano<br />

vive no meio de vós, envolvido desde que deixou a Academia, desde que<br />

vestiu a toga viril de cidadão, na luta política em que outros só se envolvem<br />

depois de feita a sua fortuna! (Aplausos.)<br />

Sim, senhores, é preciso dizer tanto menos em favor dele quanto,<br />

para ele, o ganhar e o merecer a vossa estima e consideração não é – como

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