eleições - Livros Grátis
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32 Joaquim Nabuco<br />
posita sobre o solo árido do Egito o lodo de que saem as grandes colheitas,<br />
por forma que se disse que o Egito é um presente do Nilo, assim também a<br />
corrente abolicionista leva suspensos em suas águas os depósitos de trabalho<br />
livre e de dignidade humana, o solo físico e moral do Brasil futuro do qual<br />
se há de um dia dizer que ele na sua prosperidade e na sua grandeza foi um<br />
presente do abolicionismo. (Entusiásticos aplausos.)<br />
Ah! Pernambuco tem um grande passado, mas parece que os<br />
seus filhos não querem que ele tenha um grande futuro! Ele exerceu a<br />
hegemonia nacional; acendeu no século XVII dois grandes faróis que alumiaram<br />
os mares deste continente – a liberdade de consciência e a liberdade<br />
de comércio, e, desajudado, só por si, entre as convulsões da monarquia<br />
portuguesa e os esforços supremos da Holanda, ele nos campos de<br />
Guararapes hasteou há mais de 200 anos essa bandeira da nacionalidade<br />
brasileira, em cujo centro desenhou mais tarde com o sangue dos seus<br />
mártires os grandes símbolos americanos da Independência e da República.<br />
(Salva de palmas.)<br />
Mas hoje aqueles grandes faróis apagaram-se; o movimento já<br />
não se irradia deste centro de tanta atividade generosa; o sangue não parte<br />
mais deste coração viril do Brasil colonial; a cidade de Maurício de Nassau<br />
perdeu a iniciativa das resoluções heróicas, e no meio de tal abatimento o<br />
Leão do Norte desaparece entre os rios da Veneza americana como o grande<br />
Leão de São Marcos, o símbolo da poderosa República do Adriático, entre<br />
os canais das suas lagunas. (Novos aplausos.)<br />
Pois bem, pernambucanos, ressuscitemos o nosso patriotismo e,<br />
para levantar esta província à altura do seu passado, comecemos por inscrevê-la<br />
entre as províncias livres, na porção luminosa e não na porção escura<br />
do país. Lembrai-vos que foi em Pernambuco que pela primeira vez<br />
em nossa história houve um governo – de sonhadores e de mártires – que<br />
teve a coragem, numa hora de revolução e já no caminho do cadafalso, de<br />
prometer a liberdade aos escravos, sentindo que eles suspiravam também<br />
pela independência desejada, e não desprezeis esse testamento dos heróis<br />
de 1817 somente porque o governo deles foi uma explosão espontânea da<br />
alma pernambucana e não uma tirania imposta de fora. Comecemos por<br />
aí, e façamos um pacto nós todos que choramos de dor ao ver a decadência<br />
política da nossa província, façamos um pacto para efetuar uma segunda