eleições - Livros Grátis

eleições - Livros Grátis eleições - Livros Grátis

livrosgratis.com.br
from livrosgratis.com.br More from this publisher
17.04.2013 Views

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 31 estabelecer a eleição das províncias sem dar representação própria e elevada às grandes cidades. Com efeito, senhores, penso que a deputação das cidades deve ser aumentada em tais proporções que a parte esclarecida do país predomine sobre a que está privada, pelo monopólio escravista, de instrução, de propriedade, de independência. Sou pela honestidade nas transações do Tesouro e portanto contra o déficit permanente que nos constitui em falência adiada de exercício em exercício, e que impõe sacrifícios cada vez maiores à nação extenuada. Em matéria de política exterior sou resolutamente pelo arbitramento internacional e faço votos por uma aproximação para esse fim entre as nações deste continente, o que é neste momento uma das inscrições dos dois partidos norte-americanos na luta presidencial. Penso, entretanto, senhores, que nenhuma reforma política produzirá o efeito desejado enquanto não tivermos extinguido de todo a escravidão, isto é, a escravidão do vapor pestífero que mata nele tudo que é espontâneo e livre, tudo que aspira a subir e ousa levantar a cabeça. (Na exibição destas idéias o orador foi constantemente aplaudido.) Sim, senhores, é diante do movimento abolicionista que vos achais colocados. Para qualquer lado que me volte, vejo o horizonte coberto pelas águas dessa inundação enorme. Vi essa grande corrente, que hoje alaga o país como um rio equatorial nas suas cheias, quando ela descia como um fio de água cristalina dos cimos de algumas inteligências e das fontes de alguns corações, iluminadas tanto umas como outras pelos raios do nosso futuro. (Aplausos.) Eu o vi, esse rio já formado, abrir o seu caminho como o Niágara pelo coração da rocha, pelo granito de resistências seculares. (Muito bem!) Vi-o quando, depois das cataratas, ele ganhou as planícies descobertas da opinião (continuam os aplausos), e desdobrou-se em toda a sua largura, alimentado por inúmeros afluentes vindos de todos os pontos da inteligência, da honra e do sentimento nacional; mudando de nome no seu curso, como o Solimões – chamando-se primeiro Ceará, depois Amazonas, depois Rio Grande do Sul (os aplausos cobrem a voz do orador) e hoje o vejo prestes a despejar-se no grande oceano da igualdade humana, dividido em tantos braços quantas são as províncias, levando em suas ondas os despojos de cinco ministérios e a represa de uma legislatura (aclamações) e vos digo, senhores: não tenhais medo da força dessa enchente, do volume dessas águas, dos prejuízos dessa inundação, porque assim como o Nilo de-

32 Joaquim Nabuco posita sobre o solo árido do Egito o lodo de que saem as grandes colheitas, por forma que se disse que o Egito é um presente do Nilo, assim também a corrente abolicionista leva suspensos em suas águas os depósitos de trabalho livre e de dignidade humana, o solo físico e moral do Brasil futuro do qual se há de um dia dizer que ele na sua prosperidade e na sua grandeza foi um presente do abolicionismo. (Entusiásticos aplausos.) Ah! Pernambuco tem um grande passado, mas parece que os seus filhos não querem que ele tenha um grande futuro! Ele exerceu a hegemonia nacional; acendeu no século XVII dois grandes faróis que alumiaram os mares deste continente – a liberdade de consciência e a liberdade de comércio, e, desajudado, só por si, entre as convulsões da monarquia portuguesa e os esforços supremos da Holanda, ele nos campos de Guararapes hasteou há mais de 200 anos essa bandeira da nacionalidade brasileira, em cujo centro desenhou mais tarde com o sangue dos seus mártires os grandes símbolos americanos da Independência e da República. (Salva de palmas.) Mas hoje aqueles grandes faróis apagaram-se; o movimento já não se irradia deste centro de tanta atividade generosa; o sangue não parte mais deste coração viril do Brasil colonial; a cidade de Maurício de Nassau perdeu a iniciativa das resoluções heróicas, e no meio de tal abatimento o Leão do Norte desaparece entre os rios da Veneza americana como o grande Leão de São Marcos, o símbolo da poderosa República do Adriático, entre os canais das suas lagunas. (Novos aplausos.) Pois bem, pernambucanos, ressuscitemos o nosso patriotismo e, para levantar esta província à altura do seu passado, comecemos por inscrevê-la entre as províncias livres, na porção luminosa e não na porção escura do país. Lembrai-vos que foi em Pernambuco que pela primeira vez em nossa história houve um governo – de sonhadores e de mártires – que teve a coragem, numa hora de revolução e já no caminho do cadafalso, de prometer a liberdade aos escravos, sentindo que eles suspiravam também pela independência desejada, e não desprezeis esse testamento dos heróis de 1817 somente porque o governo deles foi uma explosão espontânea da alma pernambucana e não uma tirania imposta de fora. Comecemos por aí, e façamos um pacto nós todos que choramos de dor ao ver a decadência política da nossa província, façamos um pacto para efetuar uma segunda

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 31<br />

estabelecer a eleição das províncias sem dar representação própria e elevada<br />

às grandes cidades. Com efeito, senhores, penso que a deputação das<br />

cidades deve ser aumentada em tais proporções que a parte esclarecida do<br />

país predomine sobre a que está privada, pelo monopólio escravista, de<br />

instrução, de propriedade, de independência. Sou pela honestidade nas<br />

transações do Tesouro e portanto contra o déficit permanente que nos<br />

constitui em falência adiada de exercício em exercício, e que impõe sacrifícios<br />

cada vez maiores à nação extenuada. Em matéria de política exterior<br />

sou resolutamente pelo arbitramento internacional e faço votos por uma<br />

aproximação para esse fim entre as nações deste continente, o que é neste<br />

momento uma das inscrições dos dois partidos norte-americanos na luta<br />

presidencial. Penso, entretanto, senhores, que nenhuma reforma política<br />

produzirá o efeito desejado enquanto não tivermos extinguido de todo a<br />

escravidão, isto é, a escravidão do vapor pestífero que mata nele tudo que<br />

é espontâneo e livre, tudo que aspira a subir e ousa levantar a cabeça. (Na<br />

exibição destas idéias o orador foi constantemente aplaudido.)<br />

Sim, senhores, é diante do movimento abolicionista que vos<br />

achais colocados. Para qualquer lado que me volte, vejo o horizonte coberto<br />

pelas águas dessa inundação enorme. Vi essa grande corrente, que hoje alaga<br />

o país como um rio equatorial nas suas cheias, quando ela descia como<br />

um fio de água cristalina dos cimos de algumas inteligências e das fontes de<br />

alguns corações, iluminadas tanto umas como outras pelos raios do nosso<br />

futuro. (Aplausos.) Eu o vi, esse rio já formado, abrir o seu caminho como o<br />

Niágara pelo coração da rocha, pelo granito de resistências seculares. (Muito<br />

bem!) Vi-o quando, depois das cataratas, ele ganhou as planícies descobertas<br />

da opinião (continuam os aplausos), e desdobrou-se em toda a sua<br />

largura, alimentado por inúmeros afluentes vindos de todos os pontos da<br />

inteligência, da honra e do sentimento nacional; mudando de nome no seu<br />

curso, como o Solimões – chamando-se primeiro Ceará, depois Amazonas,<br />

depois Rio Grande do Sul (os aplausos cobrem a voz do orador) e hoje o vejo<br />

prestes a despejar-se no grande oceano da igualdade humana, dividido<br />

em tantos braços quantas são as províncias, levando em suas ondas os<br />

despojos de cinco ministérios e a represa de uma legislatura (aclamações) e<br />

vos digo, senhores: não tenhais medo da força dessa enchente, do volume<br />

dessas águas, dos prejuízos dessa inundação, porque assim como o Nilo de-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!