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Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 29<br />
Vede bem, senhores, nós temos hoje de dez a doze milhões de habitantes,<br />
população que vai sempre em aumento e cujos descendentes, entregue<br />
ela a si mesma, serão um dia cem milhões. Pretende-se que essa população tem<br />
certos vícios, acusam-na de indolência, de incapacidade para o trabalho contínuo,<br />
de indiferença pela propriedade, e não sei que mais, e disso concluem que<br />
a salvação do Brasil está na importação em larga escala de uma raça que trabalhe<br />
sem intermitência. Mas eu pergunto: Que Brasil se trata de salvar assim? É o território,<br />
ou é a população? (Aprovação.) Dizei-me como se salvaria quer um quer<br />
outro abandonando a essa ociosidade invencível, a esse desamor pelo trabalho<br />
e pela propriedade, uma população de dez milhões e sua descendência, deixando-a<br />
viver na pobreza e multiplicar-se na miséria, abstraindo dela, e pensando<br />
tão-somente em importar pouco a pouco em carregações sucessivas um povo<br />
diverso que fosse capaz de possuir e cultivar este magnífico torrão do globo?<br />
Quem já viu o problema dos defeitos de uma raça ser solvido pela importação<br />
de outra? Uma nação declarando-se imprópria para o trabalho e importando<br />
outra para dominá-la, porque quem trabalha é quem domina! (Muito bem!)<br />
Não, senhores, o recurso da imigração é muito importante, mas é secundário a<br />
perder de vista comparativamente a esse outro: o de vincular ao trabalho, o de<br />
transformar pelo trabalho a nossa população toda. Se ela não trabalha é porque<br />
não pode ou porque não quer, e a nossa tarefa é fazer que ela queira e que ela<br />
possa, criando a emulação que lhe falta, se é porque ela não quer, destruindo os<br />
obstáculos – quaisquer que sejam – que se lhe opõem, se é porque ela não pode.<br />
(Prolongados aplausos.)<br />
Num e noutro caso, senhores, o primeiro passo a dar é abolir a<br />
escravidão, essa maldição do trabalho, porque com ela não é possível nem<br />
fazer brotar do solo o trabalho nacional nem atrair o estrangeiro. 2<br />
2 Ocupando-ae ainda da questão da imigração com relação à escravidão, o orador<br />
disse em outra reunião eleitoral no Peres: “Vede bem, senhores, duas das mais<br />
salientes contradições da escravidão. Ela clama pela imigração estrangeira e<br />
imobiliza parte da população nacional; quer que o trabalhador europeu deixe<br />
o seu país, e não consente que um milhão e meio de homens se movam livremente<br />
no nosso. Ela pede a grande naturalização, que o estrangeiro tenha duas<br />
pátrias, e não permite que se nacionalize uma vasta porção do nosso povo, que<br />
mantém sem pátria.”<br />
Uma voz: – E inutiliza, degrada ou escraviza mais de um milhão de índios.