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17.04.2013 Views

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 23 mentais da consciência humana, os princípios de que nunca hei de apostatar, muito menos para servir estadistas onipotentes; podem forçar-me a ir bater à porta de outra província, empenhado como estou em solicitar um lugar na próxima legislatura cuja existência vai ser toda um combate sem descanso em torno da escravidão; isso podem, mas não rasgar o meu título de pernambucano, que ninguém me pode tirar porque ninguém me pode fazer filho de outra província, nem, sem nada saberem de minha vida íntima, pretender que eu renegasse ou pública ou tacitamente, por pensamentos, palavras ou obras, as minhas origens, o meu berço, a minha Pátria. (Prolongados aplausos.) Sim, senhores, não digo demais dizendo: a minha pátria. Nunca falei linguagem diversa desta. Neste ponto, como em tudo mais, tenho a coerência espontânea das afeições que são os alicerces da nossa vida moral. Há relações que me prendem a diversos pontos do país, tenho orgulho em confessá-lo e quisera multiplicá-las. Há por exemplo um laço intelectual que me prende a São Paulo – hoje uma simples recordação; há um laço complexo de associações variadas cobrindo mais da metade da minha vida, que me prende ao Rio de Janeiro; há o laço abolicionista que me prende ao Ceará; mas nenhuma dessas relações se confunde nem sequer se compara com a identificação de alma e coração que me prende a Pernambuco tão intimamente como o filho com a mãe e de tal forma que, se por uma dessas terríveis fatalidades, que eu daria a última gota do meu sangue para evitar, esse magnífico território fosse quebrado ao meio ou em pedaços, eu pensaria tanto em não ser pernambucano como hoje penso em não ser brasileiro! (Sensação.) Sim, senhores, sinto-me tão pernambucano como quem melhor o seja. Ninguém, acreditai-me, faz mais sinceros nem mais ardentes votos do que eu para que Pernambuco reconquiste no futuro algum reflexo pelo menos da hegemonia nacional que, capitania ou província, exerceu no passado, do papel que representou neste Brasil em cuja alma insuflou o espírito de nacionalidade, o espírito de independência e o espírito de liberdade! (Muito bem!) Era preciso, senhores, que eu reivindicasse os meus foros de cidadão pernambucano para ter o direito de comparecer perante vós como candidato por este primeiro distrito, por esta capital ciosa do nome dos seus filhos. Vós sabeis em que condições me apresento; disse-o o Dr. José Ma-

24 Joaquim Nabuco riano que não podia ter-se identificado com a minha eleição de modo mais franco nem mais leal. Eu nada posso dizer-vos sobre ele que não esteja em vossa consciência. Direi somente do homem que vive no meio de vós: que nesta cidade ele é o mais popular dos pernambucanos vivos, e popular pelo muito que recebeu do povo e pelo muito que tem dado ao povo; do deputado que vi no Parlamento em duas legislaturas; que sabe impor a vontade dos seus eleitores aos governos do dia e combater a peito descoberto pelos seus princípios. O que ele fez nesta reunião é uma prova dessa franqueza, ou, para usar da verdadeira expressão, dessa honestidade, desse decoro, desse respeito de si mesmo que lhe faz, como também a mim, preferir a derrota à vitória, quando a vitória só possa ser comprada a preço da dubiedade do caráter, ou do silêncio das convicções próprias. Vós sabeis que o meu nome figura com o do Dr. José Mariano numa combinação feita pelos dois chefes do Partido Liberal. Dessa combinação direi somente que admiro a elasticidade da opinião do Partido Liberal que, ainda hoje, vai do extremo dos nossos nomes ao extremo oposto do nome do Sr. Sousa Carvalho, mas que não admiro – o contrário seria um excesso de temeridade –, que esse partido depois de acolher no seu seio o representante mais exaltado da reação escravista não cometa o suicídio de querer lançar fora dos seus arraiais toda a grande massa de opinião abolicionista que nós representamos no seio dele, e que forma a sua porção que tem verdadeiramente o direito de chamar-se liberal. (Aplausos.) Luto, senhores, nesta minha candidatura com duas grandes dificuldades: tenho o meu nome apagado na penumbra do intenso interesse que desperta em vós a candidatura do meu ilustre amigo pelo 2 o distrito, e substituo como candidato regular do partido um homem, como é o Dr. Epaminondas de Melo, que representa uma injustiça tradicional e que nesse caráter fala a todos os vossos sentimentos. A minha força está nisto: que represento uma idéia que não pode deixar de ser acolhida pelo povo pernambucano, e que se impõe às vossas consciências. Sabeis que o atual presidente do Conselho apelou para o eleitorado do voto de desconfiança da Câmara passada sobre o projeto de emancipação. Nessa votação solene o Recife disse Sim pela voz do Sr. José Mariano e disse Não pela voz do Sr. Portela. (Rumor.) O governo quer saber, o país quer saber como o Recife pensa, qual é a opinião do Recife: se Sim, se

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riano que não podia ter-se identificado com a minha eleição de modo mais<br />

franco nem mais leal. Eu nada posso dizer-vos sobre ele que não esteja em<br />

vossa consciência. Direi somente do homem que vive no meio de vós: que<br />

nesta cidade ele é o mais popular dos pernambucanos vivos, e popular pelo<br />

muito que recebeu do povo e pelo muito que tem dado ao povo; do deputado<br />

que vi no Parlamento em duas legislaturas; que sabe impor a vontade<br />

dos seus eleitores aos governos do dia e combater a peito descoberto pelos<br />

seus princípios. O que ele fez nesta reunião é uma prova dessa franqueza,<br />

ou, para usar da verdadeira expressão, dessa honestidade, desse decoro, desse<br />

respeito de si mesmo que lhe faz, como também a mim, preferir a derrota<br />

à vitória, quando a vitória só possa ser comprada a preço da dubiedade<br />

do caráter, ou do silêncio das convicções próprias. Vós sabeis que o meu<br />

nome figura com o do Dr. José Mariano numa combinação feita pelos dois<br />

chefes do Partido Liberal. Dessa combinação direi somente que admiro a<br />

elasticidade da opinião do Partido Liberal que, ainda hoje, vai do extremo<br />

dos nossos nomes ao extremo oposto do nome do Sr. Sousa Carvalho, mas<br />

que não admiro – o contrário seria um excesso de temeridade –, que esse<br />

partido depois de acolher no seu seio o representante mais exaltado da reação<br />

escravista não cometa o suicídio de querer lançar fora dos seus arraiais<br />

toda a grande massa de opinião abolicionista que nós representamos no<br />

seio dele, e que forma a sua porção que tem verdadeiramente o direito de<br />

chamar-se liberal. (Aplausos.)<br />

Luto, senhores, nesta minha candidatura com duas grandes dificuldades:<br />

tenho o meu nome apagado na penumbra do intenso interesse<br />

que desperta em vós a candidatura do meu ilustre amigo pelo 2 o distrito,<br />

e substituo como candidato regular do partido um homem, como é o Dr.<br />

Epaminondas de Melo, que representa uma injustiça tradicional e que nesse<br />

caráter fala a todos os vossos sentimentos. A minha força está nisto: que<br />

represento uma idéia que não pode deixar de ser acolhida pelo povo pernambucano,<br />

e que se impõe às vossas consciências.<br />

Sabeis que o atual presidente do Conselho apelou para o eleitorado<br />

do voto de desconfiança da Câmara passada sobre o projeto de emancipação.<br />

Nessa votação solene o Recife disse Sim pela voz do Sr. José Mariano<br />

e disse Não pela voz do Sr. Portela. (Rumor.) O governo quer saber, o país<br />

quer saber como o Recife pensa, qual é a opinião do Recife: se Sim, se

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