eleições - Livros Grátis
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Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 179<br />
do Partido Liberal unânime, e dos que se aliaram com ele nesse imponente<br />
escrutínio de 9 de janeiro, será frustrado, mas a minha ausência de uma Câmara<br />
assim reconquistada pela escravidão não diminuirá a força da corrente<br />
que a há de transbordar. Essa Câmara, qualquer que seja, não poderá servir<br />
de represa a uma onda de três séculos de formação. Hoje eu não tenho mais<br />
as emoções que tinha quando há seis anos entrei em luta com a escravidão:<br />
desanima-me quase de obtermos solução eficaz e verdadeiramente nacional,<br />
a resistência que nada pode abrandar dos proprietários; mas que se<br />
fará, dentro de pouco, justiça aos escravos e à raça negra, não é mais para<br />
nenhum de nós objeto de dúvida. (Aplausos.)<br />
Sim, meus senhores, eu vos direi por último lançando um olhar<br />
sobre o caminho que temos percorrido desde 1879. Há muitos anos que<br />
estamos subindo essa grande cordilheira do abolicionismo em que estão<br />
separadas as vertentes do Brasil colonial das vertentes do Brasil moderno.<br />
(Aplausos.) A princípio, o que nos fez empreender essa dolorosa e fatigante<br />
ascensão, à borda sempre do precipício e através de matas virgens seculares,<br />
foi a própria altura dos cimos nevados que nos pareciam inacessíveis...<br />
Mas, como acontece nas montanhas, logo perdemos de vista os acidentes<br />
do solo que pisávamos, esquecemos as privações que sofríamos, para nos<br />
absorvermos na imensidade do horizonte. Hoje podemos dizer que chegamos<br />
ao cume desse divisor das águas, dessa alta fronteira moral que separa<br />
duas épocas da nossa história, dir-se-ia duas nacionalidades. De um lado<br />
avistamos o ponto do qual partimos, nós abolicionistas, com todos os seus<br />
prolongamentos até a orla apagada dos tempos coloniais; do outro avistamos<br />
o mapa extensíssimo do futuro nacional.<br />
Que importa que o solo que pisamos seja por sua natureza vulcânico,<br />
se é preciso atravessá-lo para passar da região desolada e inefítica<br />
da escravidão para as planícies saudáveis e fecundas do trabalho livre? Até<br />
hoje não houve em nossa marcha um abalo qualquer, mas tal é a coerção<br />
das leis que presidem à marcha dos povos, nós não poderíamos mais parar<br />
nessa migração nacional, quando mesmo tivéssemos que fazê-la entre alas<br />
de vulcões acesos e por sobre as oscilações e o pânico de grandes terremotos<br />
sociais (Sensação e aplausos.) Sim, senhores, não haveria de estranhar em<br />
uma sublevação do solo em que pisamos, por que o que nós temos debaixo<br />
dos pés é uma nação! (Novos aplausos.) É essa fatalidade providencial, essa