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eleições - Livros Grátis

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160 Joaquim Nabuco<br />

Tenho dito bastante sobre uma desgraça que ninguém lamentou<br />

mais do que eu; por certo, não os que fazem dela uma bandeira de<br />

rancor, e cuja responsabilidade pertence, infelizmente, ao homem destemido<br />

e partidário que, sozinho, fez em face da multidão desprevenida<br />

e entusiasta que penetrou na Matriz, e morreu vítima da sua coragem e<br />

dos seus ódios políticos. Se, em vez dele, tivesse morrido José Mariano,<br />

contra quem ele atirou, eu teria o direito de dizer-lhe, no seu processo,<br />

que ele não tinha qualidade para repelir o povo do Recife da Matriz de<br />

São José, e que na sua conhecida exaltação chegou a esquecer o perigo<br />

em que colocou a população do Recife: de assistir a uma noite de São<br />

Bartolomeu política, a uma explosão horrível da vindita popular, atirando<br />

sobre José Mariano.<br />

Mas o grande argumento é este: para que foi José Mariano a São<br />

José? O que tinha o povo que fazer em São José! Senhores, é preciso não<br />

esquecer que tudo isso foi questão de minutos, que ninguém tinha calma,<br />

assim como ninguém sabia ao certo do resultado da eleição, é muito pouco<br />

do modo por que ela tinha corrido nas seções. A ida de José Mariano a São<br />

José era a coisa mais natural do mundo, sobretudo constando que havia<br />

um protesto liberal. Se se planejasse uma fraude, não teria sido mais fácil<br />

e mais pronto realizá-la na Câmara Municipal donde o povo saía? Mas foi<br />

exatamente porque o povo viu com seus olhos que na Câmara Municipal,<br />

no nosso baluarte, houve uma fraude, que ele pensou que podia ter havido<br />

fraudes semelhantes em outros lugares, e o que todos queriam saber naquele<br />

momento era quem tinha ganho, ou, para melhor dizer, se eu tinha<br />

realmente perdido a eleição.<br />

Esse povo levava na alma uma grande ferida; ele tinha descoberto<br />

a traição em vossos arraiais, visto que o inimigo tinha, entre os nossos, pessoas<br />

encarregadas de trocar o meu nome pelo do Dr. Portela, e foi ao grito<br />

de traição que ele acompanhou o homem da sua confiança ao primeiro<br />

ponto a que este foi buscar esclarecimentos.<br />

Ninguém entretanto tem competência para instaurar processos<br />

de intenção e afirmar que o povo do Recife foi a São José levando um plano<br />

sinistro. A imaginação assustada atribui ao adversário toda espécie de más<br />

intenções, mas ninguém tem direito de atirar a bala sobre outrem só pelo<br />

que imagina e receia.

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