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Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 157<br />
recorrer a esta tribuna, entender-me diretamente com o povo, procurar<br />
nele a base precisa à minha candidatura, que – essencialmente do povo por<br />
ser abolicionista – eu tinha obrigação de empregar os últimos esforços para<br />
tornar popular? (Longos aplausos.)<br />
O que resultou desse esforço em que me prodigalizei dia por dia,<br />
sempre acompanhado por milhares de pessoas, vós sabeis. O Partido Liberal<br />
em massa nesta cidade tornou-se abolicionista, e o abolicionismo que<br />
era a opinião de alguns tornou-se o partido popular. O Recife nunca viu<br />
semelhante espetáculo, novo também no Brasil: o de uma eleição disputada,<br />
como nos Estados Unidos ou na Inglaterra, na praça pública, em grandes<br />
meetings, com esta diferença somente: que naqueles países ambos os partidos<br />
comparecem perante o povo e batem-se diante dele na mais transparente<br />
publicidade possível, ao passo que em Pernambuco éramos nós abolicionistas<br />
os únicos a dirigir-nos ao povo, a falar ao povo, e tínhamos assim,<br />
da publicidade, da luz meridiana, sem tramas e sem mistério, que disputar<br />
as <strong>eleições</strong> com a um partido cujos movimentos eram todos secretos, cujos<br />
meios eram todos desconhecidos, que maquinava, comprava, falsificava e se<br />
armava nas trevas! (Aplausos.)<br />
Por isso mesmo, senhores, tenho o direito de lamentar que à<br />
lembrança da campanha eleitoral mais legitimamente conduzida, a mais<br />
pura, mais patriótica e mais estreme de qualquer idéia de fraude, corrupção<br />
ou violência, como foi a campanha dos abolicionistas no Recife, fique associada<br />
a nódoa de sangue de São José.<br />
Mas, já que falo desse modo no sangue derramado, devo dizer<br />
todo o meu pensamento a respeito. Pelo muito que tenho ouvido sobre<br />
esses acontecimentos, não me resta a mínima dúvida de que a responsabilidade<br />
dos fatos de São José não pertence ao Partido Liberal, que em todo<br />
esse conflito em mais uma vez, se demonstrou a crueldade do medo, foi um<br />
pânico, e, como todos os pânicos, surpresa de um momento.<br />
A teoria conservadora é, como vos disse, que o povo foi a São<br />
José anular uma eleição que me fora contrária e disposto a matar e a morrer<br />
para chegar aos seus fins. Deixemos por enquanto de parte a intenção com<br />
que o povo foi a São José, mas a disposição em que ele estava não era nem<br />
de matar nem de morrer. Ninguém tinha idéia, na multidão de conflito, de<br />
sangue derramado. A surpresa em todo o Recife quando se soube que uma