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eleições - Livros Grátis

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156 Joaquim Nabuco<br />

que tem feito, dito ou escrito, e pedir que se lhe mostre um ato ou uma<br />

frase que pudesse atuar no espírito de um homem sensato para movê-lo a<br />

um atentado contra a vida ou a pessoa de quem quer que fosse.<br />

É estranho, senhores, que os conservadores me contestem o direito<br />

da palavra na quadra eleitoral. Eu cheguei no fim de setembro ao<br />

Recife, desconhecido de quase toda a população. Era amigo íntimo, é certo,<br />

do presidente da província, mas sabia não só que ele não se prestava a fazer<br />

relação alguma, como que ele não poderia auxiliar-me, no estado a que<br />

chegaram as finanças provinciais, quando, por mais necessário que fosse,<br />

nenhum candidato podia conseguir dele o pagamento dos ordenados atrasados<br />

dos funcionários... Em tais condições, ser reputado candidato oficial<br />

era carregar com a responsabilidade de uma situação odiosa para a qual eu<br />

não havia de forma alguma concorrido, e isso sem a mínima compensação,<br />

porquanto, vós sabeis, as grandes repartições do Estado e da província no<br />

Recife estão sob as ordens de conservadores, e o empregado – que tem<br />

meios no escrutínio secreto de encobrir o voto – prefere marchar de acordo<br />

com o seu chefe permanente a, quando muito, agradar a um presidente<br />

provisório, que apenas acabada a eleição deixará a cadeira. Além disso, tão<br />

fundo se entranhou a convicção de que os liberais não reagem, que a<br />

ameaça de um conservador para quando o partido subir produz em toda<br />

parte maior pressão sobre o funcionário eleitor do que mesmo a intimação<br />

do mais autorizado liberal.<br />

Sem elementos oficiais, portanto, eu via-me numa cidade empobrecida<br />

e necessitada, em frente de todo o capital, de toda a plutocracia açucareira,<br />

de toda a clientela nacional e estrangeira, leiga e eclesiástica, comercial<br />

e operária, mercenária e ociosa da escravidão. Tinha além disso contra<br />

mim a campanha da difamação e do insulto feita no Tempo e no Diário de<br />

Pernambuco, onde até a memória de meu pai era vilipendiada por dinheiro.<br />

Sem recursos e com demasiado espírito público para entrar no mercado de<br />

votos, para o qual os nossos adversários tinham criado um como fundo dos<br />

reptis: sem empregos que prometer; incapazes de desrespeitar no mínimo<br />

dos funcionários a liberdade do seu voto; em luta com as poderosas famílias<br />

comerciais e proprietárias de quem tanta gente depende, e por fim sem residência<br />

nesta província para responder ao argumento máximo de que tanto<br />

se abusou – que eu não era mais pernambucano, o que podia eu fazer senão

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