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Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 155<br />
idéia de que fora derrotado, tomando-o de surpresa, seria como uma faísca<br />
lançada sobre o imenso material de paixões explosivas que uma longa tradição<br />
histórica depositou entre as diversas camadas do povo de Pernambuco.<br />
Mas, senhores, que novo crime é esse de se fazer estimar pelos<br />
seus comprovincianos? De lançar raízes no coração do povo? De provocar<br />
o interesse geral, a ansiedade mesma da população, para a eleição que se<br />
disputa? (Aplausos.)<br />
Eu argumento na hipótese dos nossos adversários, porque a teoria<br />
deles sobre os fatos de São José não é a minha. A minha é muito diversa<br />
e logo eu terei que expô-la, a deles é que o povo do Recife – porque foi o<br />
povo indistintamente; não eram, como com eles, capangas armados e assalariados<br />
para o dia; era o povo mesmo, homens de todas as idades, de todas<br />
as posições e de todos os partidos –, a idéia deles é que o povo do Recife foi<br />
a São José cometer assassinatos como um bando de assassinos, movido pela<br />
sobreexcitação em que estava por causa desta campanha. Eles pretendem assim<br />
responsabilizar-me por ter concorrido para o derramamento de sangue<br />
com a agitação produzida no ânimo público pelos meus discursos.<br />
Senhores, eu sei bem que todo homem político que promove<br />
grandes reformas sociais, e que para isso tem de expor as extorsões e os<br />
abusos dos privilégios que ataca, e, por outro lado, de estabelecer as relações<br />
diretas, causais, entre as injustiças denunciadas e o sofrimento, a miséria, a<br />
triste condição dos oprimidos, arrisca-se sempre a acusações de provocar o<br />
derramamento de sangue e explosão de cóleras populares... Durante o longo<br />
processo de toda e qualquer reforma social, o sangue, o crime, digamos<br />
logo, resultado de impaciências que se não podem conter ou de paixões<br />
momentâneas que se não podem suprimir, intervém como elemento perturbador<br />
da luta, como que para ainda mais envenená-la. A história está<br />
cheia de situações dessas, em que os homens de reforma, os mais humanos e<br />
até mesmo os mais tímidos, viram-se de repente paralisados pelo crime que,<br />
pretendendo auxiliá-los, os obrigava a parar e perguntarem a si mesmos se<br />
estavam seguindo o verdadeiro caminho; mas em caso nenhum faltou a<br />
esses homens a acusação dos adversários de terem provocado o derramamento<br />
de sangue.<br />
A essa acusação, senhores, deve sentir-se superior todo aquele<br />
que pode no decurso de uma longa agitação de seis anos apontar para tudo