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Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 151<br />
homens pobres, como quereis que os poderosos se compadeçam de vós, se<br />
não tendes compaixão para entes ainda mais infelizes e desamparados do<br />
que vós mesmos! Não... isso não é possível. Não será com os vossos votos<br />
que se manterá por mais tempo uma instituição desumana e cruel, violação<br />
perpétua de todas as verdades fundamentais da ciência como da religião, da<br />
jurisprudência como da moral, causa de atrofia que pesa durante séculos<br />
sobre o desenvolvimento das nações, instituição que destrói e avilta tudo<br />
o que as instituições sociais têm por fim edificar e engrandecer! (Aplausos<br />
prolongados.)<br />
Não, senhores, a cidade do Recife acordou do sonho profundo<br />
de tantos anos de indiferença e de insensibilidade, e neste lugar donde falo,<br />
do centro de tantas tradições e de tanto heroísmo, que se não fora a escravidão<br />
seria hoje uma república forte e respeitada e que com a escravidão começa<br />
a esquecer o passado e a descrer do futuro, dir-se-ia que nós ouvimos<br />
uma voz que nos brada: “Basta de perseguição, basta de sofrimento.” É a<br />
voz que sobe do solo das vossas batalhas nacionalistas, das vossas revoluções<br />
liberais, e é, escutando-a e articulando-a, que eu denuncio neste momento<br />
solene a escravidão ao povo pernambucano com todas as forças de minha<br />
alma. (Aplausos.) Sim, em nome do passado e do futuro, denuncio ao povo<br />
do Recife reunido nos seus comícios aquela instituição que, para ser condenada<br />
pela consciência humana, basta ser chamada pelo seu nome – de<br />
escravidão (aplausos); eu a denuncio como incursa em todos os crimes do<br />
Código Penal, em todos os mandamentos da lei de Deus. (Longos aplausos.)<br />
A vós, artistas, eu a denuncio como o roubo do trabalho; a vós, sacerdotes,<br />
como o roubo da alma; a vós, capitalistas, como o roubo da propriedade;<br />
a vós, magistrados, como o roubo da lei; a vós, senhoras, como o roubo<br />
da maternidade; a vós, pais, filhos, irmãos, como roubo da família; a vós,<br />
homens livres, como o roubo da liberdade; a vós, militares, como o roubo<br />
da honra; a vós, homens de cor, como o roubo de irmãos; a vós, brasileiros,<br />
como o roubo da pátria... sim, a todos eu denuncio essa escravidão maldita<br />
como o fratricídio de uma raça, como o parricídio de uma nação! (Longos e<br />
estrepitosos aplausos. Durante muitos minutos o auditório aclama o orador.)