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Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 137<br />
Vede, senhores, que passos agigantados vai dando essa repulsão<br />
pelo trabalho, conseqüência da escravidão. Já entre nós muitos preferem<br />
mendigar a trabalhar. A mendicidade, chaga dos governos despóticos e dos<br />
países congestos, começa a aparecer em nossas capitais. Em parte na aparência<br />
a mendicidade é de emprego, breve sê-lo-á exclusivamente de dinheiro.<br />
Nessa mendicidade têm caído descendentes de antigas famílias, netos<br />
de morgados. Para a aristocracia, educada na escravidão, quando não hoje,<br />
gerações atrás, pedir é menos humilhante do que trabalhar. (Aplausos.)<br />
Vós sabeis como as artes nasceram entre nós e que vida difícil<br />
elas têm tido. O seu nível pouco tem subido do que era no tempo colonial,<br />
a sua organização é ainda rudimentar. As altas tarifas necessárias para<br />
sustentar a fantasmagoria das nossas finanças não bastam para dar-lhes impulso,<br />
para habilitá-las a lutar com a indústria estrangeira. Os altos preços<br />
da vida, a falta de economia, a frouxidão dos princípios sociais, tudo opera<br />
para elevar o custo da mão-de-obra, e isto, junto a nenhuma educação mecânica<br />
do operário, impossibilita o que todos devêramos tanto desejar – a<br />
nacionalização das indústrias essenciais à vida.<br />
Pensou-se muito tempo entre os artistas, mesmo do Recife, que<br />
a nacionalização do comércio a retalho produziria o milagre de espalhar<br />
entre eles a abundância. Não há maior erro. Qualquer restrição à liberdade<br />
de comércio só teria o efeito de arruinar este país. Seria uma desonra e<br />
uma calamidade, ainda que não fosse mais do que uma restrição ilusória.<br />
Afastar o estrangeiro estabelecido, repelir o capital, criar um privilégio para<br />
alguns brasileiros à custa da comunhão toda, quem pensaria hoje em cometer<br />
tal suicídio? Mas a nacionalização do comércio não deixa de ser um<br />
ideal patriótico, uma vez que seja realizada naturalmente, por meio da livre<br />
concorrência, pela vitória da atividade, do espírito mercantil, da solidez<br />
do crédito, do comércio nacional. Assim também com as artes, nada mais<br />
patriótico do que todos concorrermos para que os artigos produzidos em<br />
nossas oficinas possam substituir e dispensar a importação estrangeira. Para<br />
este fim, senhores, estou pronto a promover todos os meios de proteção às<br />
artes que eu julgar legítimos e eqüitativos.<br />
Começarei por dizer-vos francamente que não acredito na proteção<br />
das tarifas. Pelo nosso sistema tributário, que apoiando-se sobre as<br />
fraquezas psicológicas do nosso povo, sobre a ignorância e a covardia do