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Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 135<br />
é enorme. Não serei eu, porém, quem se preste a desmoralizar as artes e as<br />
profissões mecânicas, prometendo empregos públicos e estimulando assim<br />
uma propensão nacional, que é uma forma da incapacidade moral para o<br />
trabalho e da inferioridade em que ele é tido, ambas efeitos da escravidão...<br />
e que efeitos! De que tristes, duradouras e multiformes conseqüências! Que<br />
terrível causa de atraso e de retrocesso!<br />
É por isso que vos repito: se eu tivesse que escolher uma classe<br />
com a qual devesse identificar a minha candidatura, não procuraria nem os<br />
proprietários do solo a quem chamam – a lavoura; nem os descontadores<br />
de safras, a quem chamam – o comércio; nem os empregados públicos,<br />
que representam a enfermidade nacional por excelência; nem as profissões<br />
científicas, que formam uma aristocracia intelectual, grande demais para<br />
um povo tão deprimido como o nosso; escolheria, sim, o insignificante,<br />
o obscuro, o desprezado elemento operário, porque está nele o germe do<br />
futuro da nossa pátria; porque o trabalho manual, somente o trabalho manual,<br />
dá força, vida, dignidade a um povo, e a escravidão inspirou ao nosso<br />
um horror invencível por toda e qualquer espécie de trabalho em que ela<br />
algum dia empregou escravos. (Aplausos.)<br />
Mais de uma vez tenho mostrado, nesta campanha, a simpatia<br />
que sinto pela principal classe de nossa comunhão, a que cultiva a terra, ou<br />
sem salário, como os escravos, ou sem garantia de ordem alguma, como<br />
os moradores livres do interior. Por uma série de circunstâncias serão precisos,<br />
talvez, 30 anos para se fazer compreender a essa classe, a qual é uma<br />
população, que ela também tem direitos. Vós, porém, artistas das cidades,<br />
não levareis todo esse tempo a adquirir a noção da vossa dignidade e dos<br />
vossos direitos, e em minha opinião não há neste momento medida mais<br />
urgente do que a de educar-vos para a posição que ocupais – não somente<br />
de cidadãos a cujo alcance a Constituição pôs todos os cargos públicos, mas<br />
também de classe chamada nada menos do que a salvar o país pela reabilitação<br />
do trabalho. (Aplausos.)<br />
Para isso o primeiro passo é abolir a escravidão. Escravidão e trabalho<br />
repelem-se tanto como escravidão e liberdade. O que é a escravidão<br />
senão o roubo do trabalho e a degradação, desde o berço, do trabalhador?<br />
O que é o senhor de escravos senão um patrão que reduziu a coisas, e possui<br />
como coisas os seus operários? Vede, bem, vós homens do trabalho, que a