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134 Joaquim Nabuco poderosos pela sua riqueza e sua clientela, nem com os funcionários públicos, formidáveis pelo número, nem com os proprietários e os profissionais; fá-lo-ia com a mais insignificante de todas as parcelas do eleitorado – com os operários que vivem do seu trabalho de cada dia. (Aplausos.) Eu sei bem que vós não pesais pelo número, e não influís pela fortuna, e além disso estais desarmados por falta de organização; mas, como na frase revolucionária de Sieyés, podeis desde já dizer: “O que é o operário? Nada. O que virá ele a ser? Tudo.” (Aplausos.) É que o futuro, a expansão, o crescimento do Brasil está em vós, depende de vós, e enquanto não fordes um elemento ativo, enérgico, preponderante, vós que sois a democracia nacional (aplausos), enquanto grandes correntes de idéias não vos moverem e não tiverdes consciência da vossa força, não teremos chegado ainda ao nível das nações emancipadas. Comparado convosco, é imenso o número dos funcionários eleitores. O funcionalismo afogaria o trabalho, mas quem não prefere estar identificado com os artistas a representar os funcionários? Entre nós o funcionalismo é uma doença, e doença mortal. Todos querem ser empregados públicos; artistas de talento estão prontos a deixar a oficina pela repartição. A esse respeito circulam as noções mais extravagantes e promessas escandalosas. Como tive ocasião de dizer em Afogados, onde essas promessas, para quando o Partido Conservador subir, são oferecidas em maior escala ao aceite de eleitores necessitados e crédulos, se todo o mundo fosse empregado público cada qual teria que pagar a si mesmo o seu próprio ordenado... Vós compreendeis que quem sustenta os empregados públicos são os produtores, os contribuintes: se o funcionalismo chegasse para quantos o procuram, o ordenado de cada empregado teria que sair da sua própria algibeira. (Riso aprobativo.) Mas nós temos um tão pequeno número de empregos disponíveis que é duro ver o jogo que se faz com eles para desmoralizar e corromper os que deviam viver do seu trabalho manual, os que deviam ser forçados às artes. Vós tendes interesse na barateza de todos os artigos e cômodos necessários à vida, e, portanto em que os impostos sejam brandos e não elevem os preços acima das vossas posses. O funcionalismo, pelo contrário, ou melhor, a empregomania só pode viver com um grande orçamento, grandes impostos e grandes déficits. No entanto, senhores, a representação dos artistas é quase nenhuma, e a dos funcionários públicos

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 135 é enorme. Não serei eu, porém, quem se preste a desmoralizar as artes e as profissões mecânicas, prometendo empregos públicos e estimulando assim uma propensão nacional, que é uma forma da incapacidade moral para o trabalho e da inferioridade em que ele é tido, ambas efeitos da escravidão... e que efeitos! De que tristes, duradouras e multiformes conseqüências! Que terrível causa de atraso e de retrocesso! É por isso que vos repito: se eu tivesse que escolher uma classe com a qual devesse identificar a minha candidatura, não procuraria nem os proprietários do solo a quem chamam – a lavoura; nem os descontadores de safras, a quem chamam – o comércio; nem os empregados públicos, que representam a enfermidade nacional por excelência; nem as profissões científicas, que formam uma aristocracia intelectual, grande demais para um povo tão deprimido como o nosso; escolheria, sim, o insignificante, o obscuro, o desprezado elemento operário, porque está nele o germe do futuro da nossa pátria; porque o trabalho manual, somente o trabalho manual, dá força, vida, dignidade a um povo, e a escravidão inspirou ao nosso um horror invencível por toda e qualquer espécie de trabalho em que ela algum dia empregou escravos. (Aplausos.) Mais de uma vez tenho mostrado, nesta campanha, a simpatia que sinto pela principal classe de nossa comunhão, a que cultiva a terra, ou sem salário, como os escravos, ou sem garantia de ordem alguma, como os moradores livres do interior. Por uma série de circunstâncias serão precisos, talvez, 30 anos para se fazer compreender a essa classe, a qual é uma população, que ela também tem direitos. Vós, porém, artistas das cidades, não levareis todo esse tempo a adquirir a noção da vossa dignidade e dos vossos direitos, e em minha opinião não há neste momento medida mais urgente do que a de educar-vos para a posição que ocupais – não somente de cidadãos a cujo alcance a Constituição pôs todos os cargos públicos, mas também de classe chamada nada menos do que a salvar o país pela reabilitação do trabalho. (Aplausos.) Para isso o primeiro passo é abolir a escravidão. Escravidão e trabalho repelem-se tanto como escravidão e liberdade. O que é a escravidão senão o roubo do trabalho e a degradação, desde o berço, do trabalhador? O que é o senhor de escravos senão um patrão que reduziu a coisas, e possui como coisas os seus operários? Vede, bem, vós homens do trabalho, que a

134 Joaquim Nabuco<br />

poderosos pela sua riqueza e sua clientela, nem com os funcionários públicos,<br />

formidáveis pelo número, nem com os proprietários e os profissionais;<br />

fá-lo-ia com a mais insignificante de todas as parcelas do eleitorado – com<br />

os operários que vivem do seu trabalho de cada dia. (Aplausos.)<br />

Eu sei bem que vós não pesais pelo número, e não influís pela<br />

fortuna, e além disso estais desarmados por falta de organização; mas, como<br />

na frase revolucionária de Sieyés, podeis desde já dizer: “O que é o operário?<br />

Nada. O que virá ele a ser? Tudo.” (Aplausos.) É que o futuro, a expansão, o<br />

crescimento do Brasil está em vós, depende de vós, e enquanto não fordes<br />

um elemento ativo, enérgico, preponderante, vós que sois a democracia nacional<br />

(aplausos), enquanto grandes correntes de idéias não vos moverem e<br />

não tiverdes consciência da vossa força, não teremos chegado ainda ao nível<br />

das nações emancipadas.<br />

Comparado convosco, é imenso o número dos funcionários eleitores.<br />

O funcionalismo afogaria o trabalho, mas quem não prefere estar<br />

identificado com os artistas a representar os funcionários? Entre nós o funcionalismo<br />

é uma doença, e doença mortal. Todos querem ser empregados<br />

públicos; artistas de talento estão prontos a deixar a oficina pela repartição.<br />

A esse respeito circulam as noções mais extravagantes e promessas escandalosas.<br />

Como tive ocasião de dizer em Afogados, onde essas promessas,<br />

para quando o Partido Conservador subir, são oferecidas em maior escala<br />

ao aceite de eleitores necessitados e crédulos, se todo o mundo fosse empregado<br />

público cada qual teria que pagar a si mesmo o seu próprio ordenado...<br />

Vós compreendeis que quem sustenta os empregados públicos são<br />

os produtores, os contribuintes: se o funcionalismo chegasse para quantos<br />

o procuram, o ordenado de cada empregado teria que sair da sua própria<br />

algibeira. (Riso aprobativo.) Mas nós temos um tão pequeno número de<br />

empregos disponíveis que é duro ver o jogo que se faz com eles para desmoralizar<br />

e corromper os que deviam viver do seu trabalho manual, os que<br />

deviam ser forçados às artes. Vós tendes interesse na barateza de todos os<br />

artigos e cômodos necessários à vida, e, portanto em que os impostos sejam<br />

brandos e não elevem os preços acima das vossas posses. O funcionalismo,<br />

pelo contrário, ou melhor, a empregomania só pode viver com um grande<br />

orçamento, grandes impostos e grandes déficits. No entanto, senhores, a<br />

representação dos artistas é quase nenhuma, e a dos funcionários públicos

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