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Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 129<br />
que é um só todo, do qual o papel-moeda depreciado, a apólice sugadora,<br />
o déficit permanente são panes tão essenciais como a hipoteca, a usura, a<br />
bancarrota, e estas como o tronco e o chicote, e assim por diante – tudo<br />
preso, ligado, inseparável –, e vereis a que fica reduzido o comércio e que<br />
expansão ele terá sobretudo em províncias como esta em que a escravidão<br />
já está falida. (Aplausos.)<br />
Não, senhores, é preciso pensar virilmente, afoitamente, e não<br />
querer sacrificar a algumas pessoas comprometidas com um interesse nacional<br />
como é o comércio, que precisa da liberdade, como do ar, da liberdade<br />
em todas as relações sociais. (Aplausos.)<br />
Eu não farei à inteligência do comércio brasileiro a injúria de<br />
supor que ele não compreende o valor mercantil da liberdade, da dignidade<br />
e do direito. (Aplausos.) Com efeito, o passivo nacional da escravidão reduz<br />
a nada o ativo de que ela se jacta... fazei a conta de lucros e perdas, calculai<br />
o valor do homem livre, o valor do imigrante, o valor do trabalhador, o do<br />
pequeno proprietário, o do consumidor, o do aluno da escola primária, o<br />
do artista, e vede que fração desse valor é o valor do escravo. Não, não há<br />
que comparar, e ver isso e não se decidir; ter uma idéia disso e não fazer<br />
dessa idéia o centro da nossa vontade e da nossa iniciativa, é lançar o futuro<br />
todo do país na herança jacente da escravidão.<br />
Mas, senhores, quando eu não tivesse outro argumento que<br />
empregar, bastar-me-ia este para convencer uma classe como o comércio,<br />
ao mesmo tempo ciosa do seu patriotismo e cônscia da vaidade de resistências<br />
inúteis. Pode alguém, pode o capital disponível todo desta praça<br />
e deste país deter a velocidade da avalancha abolicionista? Não sentis que<br />
a escravidão está morta e que mesmo com o Imperador, o Parlamento, o<br />
exército, a marinha, a magistratura, o concurso dos cidadãos – forças que<br />
já perdestes ou que ides perdendo uma a urna – junto do seu túmulo não<br />
a poderíeis ressuscitar? Para que então, dizei-me, obstinarde-nos a manter<br />
um provisório que não pode ser remediado, uma situação anômala de<br />
incerteza quando tendes como nós uma grande e única certeza? A inteligência<br />
do comércio está em reconhecer as situações e adaptar-se a elas, em<br />
não se consumir, como os partidos do passado, em lutas desesperadas, em<br />
não sacrificar o que pode ser salvo para salvar o que está irremissivelmente<br />
perdido. (Aplausos.)