eleições - Livros Grátis
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126 Joaquim Nabuco<br />
o vagar da sua marcha. É uma carta dirigida aos administradores da companhia,<br />
no domínio holandês, pela Câmara da vila de Olinda. “Será patente<br />
engano”, dizia a Câmara, “cuidar que toda grossura e riqueza que o povo<br />
pode adquirir por meio do comércio livre podem, restringindo-se, vir a cair<br />
na bolsa da companhia, porque nunca houve coisa particular que pudesse<br />
equivaler ao que é geral, que tem vezes de infinito; donde não só se segue<br />
que ficará este povo pobre e miserável reduzido a esta estreiteza e privado<br />
da esperança do poder, engrossar em cabedal e riqueza, senão ainda fraco e<br />
indefensável, e o que mais é, que estas riquezas, que ele havia de lograr, não<br />
poderá alcançá-las a companhia por ser seu cabedal (suposto que grande)<br />
limitado e o de livre comércio (por ser geral) como infinito.” Já no século<br />
XVII os comerciantes de Pernambuco compreendiam que o que é limitado,<br />
ainda que grande, não pode competir com o que é geral, que é infinito, e<br />
por isso opunham-se às restrições feitas ao comércio. Seriam precisos dois<br />
séculos, senhores, para estender-se essa noção tão simples à escravidão e<br />
dizer que o capital da escravidão, que é limitado, não se pode comparar ao<br />
do trabalho livre que é geral? (Aplausos.)<br />
Com efeito, não é mais preciso mostrar como a escravidão entorpece,<br />
limita, paralisa e arruína o comércio. Se o que o comércio do Recife<br />
tem em vista é o interesse destas e daquelas firmas em relações com estes<br />
e aqueles senhores de engenho, a questão é muito diversa, mas nenhuma<br />
classe tem o direito de impedir o progresso de um país em nome das transações<br />
que fez e dos seus lucros pendentes. Não se tem o direito de alegar<br />
um interesse particular de ordem pecuniária contra o interesse público de<br />
ordem moral. Mas se o comércio tem em vista o desenvolvimento do próprio<br />
comércio, a estabilidade das transações, a consolidação do crédito, a<br />
prosperidade e a riqueza da comunhão de que ele é, por assim dizer, o aparelho<br />
circulatório, seria quase perder tempo insistir que a escravidão é o seu<br />
maior inimigo, a causa da sua decadência e da sua apatia. (Aplausos.)<br />
Tomai qualquer dos grandes ramos da profissão mercantil. De<br />
que é que precisa o que chamarei o grande comércio açucareiro, o que mais<br />
se identifica com a escravidão? Precisa antes de tudo de uma regularidade<br />
inflexível de pagamento; que os adiantamentos que faz lhe voltem logo em<br />
açúcar, que a safra se preste a grandes transações... Pois bem, senhores, não<br />
quererá esta parte do comércio compreender que a escravidão é devido ao