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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Discurso Pronunciado no Meeting Popular no Largo do Corpo Santo A 28 de novembro MEUS senhores, sinto que a Associação Comercial me tenha recusado sob o fundamento de que não é a associação política o privilégio que eu reclamava de fazer esta conferência nos seus salões, isto é, de dizer o que tinha que dizer aos eleitores deste bairro comercial do Recife na sede oficial do comércio pernambucano. É estranho que os representantes delegados do comércio nesta cidade suponham ainda que podem separar o comércio da política, que pode haver prosperidade comercial sem boas instituições sociais, e não se atrevam, eles que acolheram nas salas da Associação o recente Congresso Agrícola, simples demonstração do escravagismo, a acolher da mesma forma o movimento abolicionista! (Aplausos.) Pois, senhores, terá sido tão demorada a evolução do comércio pernambucano que no fim do século XIX os negociantes do Recife não vejam que comércio e escravidão são termos incomparáveis? (Aplausos.) Será possível que eles ignorem que a escravidão quer dizer monopólio, e que a missão do comércio em toda parte é destruir os monopólios? (Aplausos.) Há nos arquivos da história pernambucana um documento que serve para mostrar quanto semelhante compreensão por parte do comércio provaria
126 Joaquim Nabuco o vagar da sua marcha. É uma carta dirigida aos administradores da companhia, no domínio holandês, pela Câmara da vila de Olinda. “Será patente engano”, dizia a Câmara, “cuidar que toda grossura e riqueza que o povo pode adquirir por meio do comércio livre podem, restringindo-se, vir a cair na bolsa da companhia, porque nunca houve coisa particular que pudesse equivaler ao que é geral, que tem vezes de infinito; donde não só se segue que ficará este povo pobre e miserável reduzido a esta estreiteza e privado da esperança do poder, engrossar em cabedal e riqueza, senão ainda fraco e indefensável, e o que mais é, que estas riquezas, que ele havia de lograr, não poderá alcançá-las a companhia por ser seu cabedal (suposto que grande) limitado e o de livre comércio (por ser geral) como infinito.” Já no século XVII os comerciantes de Pernambuco compreendiam que o que é limitado, ainda que grande, não pode competir com o que é geral, que é infinito, e por isso opunham-se às restrições feitas ao comércio. Seriam precisos dois séculos, senhores, para estender-se essa noção tão simples à escravidão e dizer que o capital da escravidão, que é limitado, não se pode comparar ao do trabalho livre que é geral? (Aplausos.) Com efeito, não é mais preciso mostrar como a escravidão entorpece, limita, paralisa e arruína o comércio. Se o que o comércio do Recife tem em vista é o interesse destas e daquelas firmas em relações com estes e aqueles senhores de engenho, a questão é muito diversa, mas nenhuma classe tem o direito de impedir o progresso de um país em nome das transações que fez e dos seus lucros pendentes. Não se tem o direito de alegar um interesse particular de ordem pecuniária contra o interesse público de ordem moral. Mas se o comércio tem em vista o desenvolvimento do próprio comércio, a estabilidade das transações, a consolidação do crédito, a prosperidade e a riqueza da comunhão de que ele é, por assim dizer, o aparelho circulatório, seria quase perder tempo insistir que a escravidão é o seu maior inimigo, a causa da sua decadência e da sua apatia. (Aplausos.) Tomai qualquer dos grandes ramos da profissão mercantil. De que é que precisa o que chamarei o grande comércio açucareiro, o que mais se identifica com a escravidão? Precisa antes de tudo de uma regularidade inflexível de pagamento; que os adiantamentos que faz lhe voltem logo em açúcar, que a safra se preste a grandes transações... Pois bem, senhores, não quererá esta parte do comércio compreender que a escravidão é devido ao
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MEUS senhores, sinto que a Associação Comercial me<br />
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delegados do comércio nesta cidade suponham ainda que podem separar o<br />
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que comércio e escravidão são termos incomparáveis? (Aplausos.) Será<br />
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