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17.04.2013 Views

122 Joaquim Nabuco da morte, deve-se isso aos votos conservadores, à união desse partido sob o bandeira da resistência. Pois bem, sendo assim entre emancipadores e escravocratas não há quem possa fazer diferença, e acredito que o eleitorado do Recife não a fará. (Aplausos.) Eu vejo que o meu contendor coloca-se sob a alta proteção do Conselheiro Saraiva... mas o Conselheiro Saraiva recusando o poder, porque não podia com a Câmara passada resolver o problema servil, mostrou terminantemente que não quer ficar na “fiel execução da lei de 28 de setembro”. O ilustre chefe liberal felizmente nunca se prendeu àquela lei, cuja tremenda injustiça – a de não ter cuidado das gerações de escravos existentes – ele denunciou desde logo no Senado. Não, não é com o prestígio do Sr. Saraiva que a resistência escravista se há de cobrir impunemente nesta crise da nossa história. (Muito bem!) Ele tem a sua responsabilidade própria, que de forma alguma se confunde com a do Partido Conservador, com a da Câmara dissolvida... (Aplausos.) 2 É o voto dessa Câmara rejeitando o projeto que tendes de julgar e estou certo que o eleitorado, do alto da sua consciência e do seu patriotismo, pronunciará contra os que por simples interesse partidário prolongaram os dias da escravidão em nosso país, uma sentença que será a gloriosa justificação do governo que se atreveu a consultar a nação brasileira sem medo dos que há séculos a oprimem e, o que pior é, a possuem. (Aplausos.) Sim, senhores, este grande eleitorado não será convertido numa feira política, em que se vejam os postes infamantes de inscrições como es- 2 O orador leu o seguinte trecho de uma carta que o Senador Saraiva lhe fez a honra de dirigir em 1883 para mostrar que o eminente chefe liberal não se contentava com a Lei de 28 de setembro. “É essa a razão por que o Gabinete 28 de março não podia ser o reformador da Lei de 28 de setembro. Queria uma reforma eficaz, e só poderia fazer uma reforma ilusória. Não sejamos impacientes. A reforma virá mais cedo do que V. Ex a mesmo cogita, e será apressada não tanto pelos propagandistas radicais, como e principalmente pelos que tudo esperam e tudo querem obter da Lei de 28 de setembro com um fundo ridículo de emancipação e sem providências auxiliares e enérgicas que estimulem a emancipação por todas as formas regulares.”

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 123 tas: “Aqui compram-se votos!” “Aqui prometem-se empregos!” “Aqui falsificam-se cédulas!” “Aqui se coagem eleitores!” Não! A opinião do Recife há de pairar acima do monstruoso mercado de consciências com que querem desonrar esta cidade, e, franca e altamente enunciada, ela será uma glorificação da idéia que nós abolicionistas representamos. (Aplausos prolongados.) É com essa esperança que me despeço de vós, eleitores do 2 o distrito de Afogados, agradecendo-vos o terdes concorrido a mais esta reunião, a qual pelo número e pelo entusiasmo parece um prenúncio de vitória para a liberdade e o direito no dia 1 o de dezembro. (Prolongados aplausos. Vivas. O orador é ruidosamente aclamado.)

122 Joaquim Nabuco<br />

da morte, deve-se isso aos votos conservadores, à união desse partido sob o<br />

bandeira da resistência.<br />

Pois bem, sendo assim entre emancipadores e escravocratas não<br />

há quem possa fazer diferença, e acredito que o eleitorado do Recife não a<br />

fará. (Aplausos.)<br />

Eu vejo que o meu contendor coloca-se sob a alta proteção do<br />

Conselheiro Saraiva... mas o Conselheiro Saraiva recusando o poder, porque<br />

não podia com a Câmara passada resolver o problema servil, mostrou<br />

terminantemente que não quer ficar na “fiel execução da lei de 28 de setembro”.<br />

O ilustre chefe liberal felizmente nunca se prendeu àquela lei, cuja<br />

tremenda injustiça – a de não ter cuidado das gerações de escravos existentes<br />

– ele denunciou desde logo no Senado. Não, não é com o prestígio do<br />

Sr. Saraiva que a resistência escravista se há de cobrir impunemente nesta<br />

crise da nossa história. (Muito bem!) Ele tem a sua responsabilidade própria,<br />

que de forma alguma se confunde com a do Partido Conservador, com a da<br />

Câmara dissolvida... (Aplausos.) 2<br />

É o voto dessa Câmara rejeitando o projeto que tendes de julgar e<br />

estou certo que o eleitorado, do alto da sua consciência e do seu patriotismo,<br />

pronunciará contra os que por simples interesse partidário prolongaram os<br />

dias da escravidão em nosso país, uma sentença que será a gloriosa justificação<br />

do governo que se atreveu a consultar a nação brasileira sem medo dos que há<br />

séculos a oprimem e, o que pior é, a possuem. (Aplausos.)<br />

Sim, senhores, este grande eleitorado não será convertido numa<br />

feira política, em que se vejam os postes infamantes de inscrições como es-<br />

2 O orador leu o seguinte trecho de uma carta que o Senador Saraiva lhe fez a<br />

honra de dirigir em 1883 para mostrar que o eminente chefe liberal não se contentava<br />

com a Lei de 28 de setembro. “É essa a razão por que o Gabinete 28 de<br />

março não podia ser o reformador da Lei de 28 de setembro. Queria uma reforma<br />

eficaz, e só poderia fazer uma reforma ilusória. Não sejamos impacientes. A<br />

reforma virá mais cedo do que V. Ex a mesmo cogita, e será apressada não tanto<br />

pelos propagandistas radicais, como e principalmente pelos que tudo esperam e<br />

tudo querem obter da Lei de 28 de setembro com um fundo ridículo de emancipação<br />

e sem providências auxiliares e enérgicas que estimulem a emancipação<br />

por todas as formas regulares.”

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