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120 Joaquim Nabuco e ninguém deixará de reconhecer que esse procedimento é mais nobre do que o de procurar aluir o crédito pessoal do adversário nas entrevistas sem eco e sem testemunhas da cabala de porta em porta. (Muito bem!) Mas antes disso devo observar que um candidato, pessoalmente, não precisa dizer nada contra o seu adversário, quando encontra tanta gente, como a que me agride pela imprensa, que se encarrega de dizer tudo por ele. Quanto a mim gabo-me de ter tratado sempre, tanto o candidato do primeiro distrito como o do segundo, com toda a deferência pessoal; ainda não impugnei o caráter ou a capacidade de nenhum deles. O que digo e repito é que eles não merecem os votos dos abolicionistas hoje, nem os merecerão enquanto não tiverem a coragem de dizer o que querem e mostrar os títulos com que os disputam a abolicionistas dedicados. (Adesões.) Sim, senhores, não se trata de uma questão de pessoas; eu não tenho nada que ganhar, tenho tudo que perder em tornar a luta política travada entre mim e o candidato conservador uma questão pessoal, quando ela é por sua natureza uma questão de princípios. Espero que ambos sobrevivamos à batalha do dia 1 o de dezembro com as nossas reputações perfeitamente intatas; assim como espero que naquele dia os eleitores não escolherão entre dois indivíduos, mas entre duas opiniões, duas políticas, dois interesses de ordem social como ainda outros não... (Os aplausos cobrem a voz do orador.) Vejo, e aplaudo, que o meu contendor esforça-se por mostrar que ele também é um inimigo da escravidão. Senhores, há duas sortes de inimigos da escravidão: uns que são inimigos da escravidão em palavras, e que ficam sendo amigos e aliados dos amigos da escravidão e recebem os votos dela; e outros que são inimigos de fato e são distinguidos dos primeiros pelo ódio que despertam em todo o campo escravista. Mas o que digo é isto. Qualquer que seja o nome dos partidários da escravidão, quer se chamem Escravocratas da gema, como o Sr. Martinho Campos, quer se chamem Emancipadores, como os escravocratas do Norte, eles têm todos a mesma responsabilidade, porquanto o voto, por exemplo, do Sr. Portela contra o Projeto Dantas pesou tanto onça por onça, na balança da Câmara passada, como o voto do Sr. Andrade Figueira. (Aplausos.) Acusam-me de ter falado com dureza do Partido Conservador chamando-o – partido do chicote.

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 121 Não falei do partido, falei da política, mas quando falasse do partido tê-lo-ia caluniado? Supondo que eu me levantava para propor, da tribuna da Câmara, a abolição dos castigos corporais. Acreditais por acaso que os emancipadores do Norte votariam por ela? Julgais que o partido conservador aceitaria a minha proposta?... (Vozes: – Não! Não!) Por certo que não, e, portanto até eles declararem solene e publicamente que são contrários aos castigos corporais, enquanto considerarem o código penal das fazendas e dos engenhos parte integrante e viva da nossa lei consuetudinária, temos todos o direito de dizer que eles são, porque o querem ser – o partido do chicote! (Aplausos prolongados.) Não é somente isto; vede até onde vai a responsabilidade dos chamados emancipadores. Vós sabeis que, no mês de agosto, o conselheiro Dantas fez questão de gabinete de um projeto sobre a emancipação dos escravos de 60 anos. Esses escravos, se a lei tivesse passado, estariam hoje livres. (Sensação.) Muitos deles morreram na escravidão e outros estão talvez no momento em que vos falo chorando sob o azorrague do feitor. Pois bem, eu vos pergunto: quem é o responsável pelos açoites, pelas torturas que possam ainda ser infligidas a esses homens? (Sensação.) Não serão todos aqueles que impediram que, neste ano de 1884, eles ficassem livres por uma lei de emancipação semelhante à Lei de 28 de setembro? (Aplausos.) Se, quando o Ministério Dantas apresentou o seu projeto, a oposição conservadora tivesse, como lhe cumpria, se ela queria alguma coisa – o que eu nego – apresentado um contraprojeto; se ela tivesse dito: “Vós quereis isto, nós queremos esta alternativa”, então não se lhe poderia fazer uma acusação tão grave. Mas o Partido Conservador não propôs nada. (Muito bem!) É lamentável que o Partido Conservador do Norte não tivesse acentuado publicamente as divergências e dissensões latentes, sem causa, todavia nos altos princípios morais que existem entre ele e o Partido Conservador do Sul; mas, já que falta resolução a esse partido para pôr-se do lado da idéia emancipadora, ele não tem direito a recompensa alguma, não tem direito aos votos de um eleitorado esclarecido, não pode vir pedi-los debaixo da mesma bandeira que nos cobre! (Muito bem!) Faltou-lhe a coragem no momento preciso. Se há ainda no Brasil escravos de 60 anos, se ainda a nação não começou a usufruir uma lei, cujo resultado seria extinguir a escravidão dentro dum prazo muito menor do que o atual, que é o

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 121<br />

Não falei do partido, falei da política, mas quando falasse do<br />

partido tê-lo-ia caluniado?<br />

Supondo que eu me levantava para propor, da tribuna da Câmara,<br />

a abolição dos castigos corporais. Acreditais por acaso que os emancipadores<br />

do Norte votariam por ela? Julgais que o partido conservador aceitaria a minha<br />

proposta?... (Vozes: – Não! Não!) Por certo que não, e, portanto até eles declararem<br />

solene e publicamente que são contrários aos castigos corporais, enquanto<br />

considerarem o código penal das fazendas e dos engenhos parte integrante e<br />

viva da nossa lei consuetudinária, temos todos o direito de dizer que eles são,<br />

porque o querem ser – o partido do chicote! (Aplausos prolongados.)<br />

Não é somente isto; vede até onde vai a responsabilidade dos<br />

chamados emancipadores. Vós sabeis que, no mês de agosto, o conselheiro<br />

Dantas fez questão de gabinete de um projeto sobre a emancipação dos<br />

escravos de 60 anos. Esses escravos, se a lei tivesse passado, estariam hoje<br />

livres. (Sensação.) Muitos deles morreram na escravidão e outros estão talvez<br />

no momento em que vos falo chorando sob o azorrague do feitor. Pois bem,<br />

eu vos pergunto: quem é o responsável pelos açoites, pelas torturas que possam<br />

ainda ser infligidas a esses homens? (Sensação.) Não serão todos aqueles<br />

que impediram que, neste ano de 1884, eles ficassem livres por uma lei de<br />

emancipação semelhante à Lei de 28 de setembro? (Aplausos.)<br />

Se, quando o Ministério Dantas apresentou o seu projeto, a oposição<br />

conservadora tivesse, como lhe cumpria, se ela queria alguma coisa – o<br />

que eu nego – apresentado um contraprojeto; se ela tivesse dito: “Vós quereis<br />

isto, nós queremos esta alternativa”, então não se lhe poderia fazer uma acusação<br />

tão grave. Mas o Partido Conservador não propôs nada. (Muito bem!)<br />

É lamentável que o Partido Conservador do Norte não tivesse<br />

acentuado publicamente as divergências e dissensões latentes, sem causa,<br />

todavia nos altos princípios morais que existem entre ele e o Partido Conservador<br />

do Sul; mas, já que falta resolução a esse partido para pôr-se do<br />

lado da idéia emancipadora, ele não tem direito a recompensa alguma, não<br />

tem direito aos votos de um eleitorado esclarecido, não pode vir pedi-los<br />

debaixo da mesma bandeira que nos cobre! (Muito bem!) Faltou-lhe a coragem<br />

no momento preciso. Se há ainda no Brasil escravos de 60 anos, se<br />

ainda a nação não começou a usufruir uma lei, cujo resultado seria extinguir<br />

a escravidão dentro dum prazo muito menor do que o atual, que é o

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