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118 Joaquim Nabuco com expedientes de empréstimo, e se todos não sentem que uma catástrofe pende sobre o crédito público, catástrofe que só poderia talvez ser obviada por um sacrifício colossal de todos nós – mas sacrifício que o regime atual, que a presente direção e organização da sociedade não nos levaria por certo a fazer, porque seria em pura perda, e os abusos, crimes e excessos recomeçariam no dia seguinte. (Aplausos repetidos.) A que meio recorrer? Ao papel-moeda? Seria depreciar ainda mais o crédito, a firma, a moeda do Estado. A apólice? – já se começou a desconfiar de que a apólice não é tão seguro emprego de capital como parecia, além de que se compreende que o Estado não pode continuar nesse papel de sugar, por meio das apólices, todas as economias da produção para desperdiçá-las, em vez de deixar que elas sejam aplicadas a melhorar as condições do nosso solo, a beneficiar o interior e a desenvolver as nossas indústrias. O que resta a um país nessas condições é uma política ousada, mas severa, e sobretudo consciente, dirigida por uma bússola invariável através de todas as correntes. Sim, senhores, as nossas finanças há muitos anos que são governadas mais do que pela ignorância, pela inconsciência. O general delas tem sido esse general que Turenne tanto admirava – O Acaso. (Aplausos.) O que nos pode salvar, mas que me parece um remédio impraticável, seria uma política firme e perseverante, que consistisse em restringir as despesas públicas primeiro, exceto a da amortização da dívida, e depois em aplicar ao aumento de produção as sobras da produção, em criar indústrias, em variar os nossos produtos coloniais e sobretudo em empregar no trabalho rural toda essa população inativa, privada do trabalho e para gozo da qual nós devêramos reconquistar a terra de que a escravidão fez um monopólio, por meio de um novo imposto que é uma necessidade da situação – o imposto territorial. (Muito bem!) Mas essa, senhores, é uma política financeira que não depende só do governo, mas da nação; que o Parlamento não pode decretar, porque sois vós mesmos que a podeis pôr em prática, e para a qual o Estado teria que concorrer menos com uma boa lei de orçamento do que com grandes reformas sociais. (Aplausos.) Nessa política há imenso interesse para o proletariado – porque ele só precisa ter trabalho –, mas há também imenso interesse para o rico, para o capitalista, porque, a continuar este estado de

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 119 coisas, em breve as apólices em que eles depositam tanta confiança não valerão mais do que o escravo, essa outra ilusão fatal, esse outro abismo em que desapareceram tantas fortunas. (Muito bem!) Longe, portanto, de serem comunistas, são os abolicionistas os que querem salvar da riqueza pública aquilo que ainda pode ser salvo, os que querem manter o crédito do Estado, e evitar uma bancarrota, que será inevitável se não houver uma reação em nossos costumes e em nossa política, se o Estado não abandonar completamente o caminho de aventuras e de indiferença em que entrou por causa da escravidão! Falando hoje neste bairro da Madalena, que se ufana de ser porção rica do Recife, era do meu dever chamar a atenção do capital e da riqueza para o interesse vital que a meu ver eles têm na transformação segura e pacífica do atual regime... Não é só aos “que nada têm a perder”, como nos chamam, que o abolicionismo se dirige. Não há uma classe social que não tenha nele o máximo interesse e que não venha a tirar vantagem da sua pronta e completa vitória, mas nenhuma dessas classes tanto como a que representa a propriedade existente, quando mais não fosse, e nada procedesse do que tenho dito, porque com a escravidão toda a fortuna e prosperidade têm caráter provisório, é social e moralmente instável. (Aplausos.) Agora direi algumas palavras sobre um manifesto do meu adversário publicado esta manhã. Depois de acusar-me de “virulência e acrimônia de frase e falta de urbanidade” o Dr. Portela acrescenta: “Por essa conferência, impressa depois de revista e corrigida na calma do gabinete, avalio o que ele terá dito nos sucessivos discursos que tem feito ao ar livre, não destinados à imprensa!” Pois bem: eu tenho o direito de retorquir que, depois de ter lido o que o Dr. Portela escreveu nos jornais, ao ar livre da imprensa, eu avalio o que ele terá dito de mim a portas fechadas, no segredo das suas confidências com os eleitores. (Sensação. Aplausos.) Sim, senhores, tenho direito de queixar-me dessa frase do meu antagonista, porque falo sempre perante milhares de pessoas, muitas das quais conservadores, que podem, por assim dizer, taquigrafar na memória as minhas palavras, e portanto falo sempre para os que não me ouvem tanto como para o auditório que me cerca... Em todo caso, se mudo de linguagem na praça pública, faço-o exatamente quando é maior o número das testemunhas,

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 119<br />

coisas, em breve as apólices em que eles depositam tanta confiança não<br />

valerão mais do que o escravo, essa outra ilusão fatal, esse outro abismo em<br />

que desapareceram tantas fortunas. (Muito bem!)<br />

Longe, portanto, de serem comunistas, são os abolicionistas os<br />

que querem salvar da riqueza pública aquilo que ainda pode ser salvo, os<br />

que querem manter o crédito do Estado, e evitar uma bancarrota, que será<br />

inevitável se não houver uma reação em nossos costumes e em nossa política,<br />

se o Estado não abandonar completamente o caminho de aventuras e<br />

de indiferença em que entrou por causa da escravidão!<br />

Falando hoje neste bairro da Madalena, que se ufana de ser porção<br />

rica do Recife, era do meu dever chamar a atenção do capital e da riqueza<br />

para o interesse vital que a meu ver eles têm na transformação segura<br />

e pacífica do atual regime... Não é só aos “que nada têm a perder”, como<br />

nos chamam, que o abolicionismo se dirige. Não há uma classe social que<br />

não tenha nele o máximo interesse e que não venha a tirar vantagem da sua<br />

pronta e completa vitória, mas nenhuma dessas classes tanto como a que representa<br />

a propriedade existente, quando mais não fosse, e nada procedesse<br />

do que tenho dito, porque com a escravidão toda a fortuna e prosperidade<br />

têm caráter provisório, é social e moralmente instável. (Aplausos.)<br />

Agora direi algumas palavras sobre um manifesto do meu adversário<br />

publicado esta manhã. Depois de acusar-me de “virulência e acrimônia<br />

de frase e falta de urbanidade” o Dr. Portela acrescenta: “Por essa<br />

conferência, impressa depois de revista e corrigida na calma do gabinete,<br />

avalio o que ele terá dito nos sucessivos discursos que tem feito ao ar livre,<br />

não destinados à imprensa!”<br />

Pois bem: eu tenho o direito de retorquir que, depois de ter lido<br />

o que o Dr. Portela escreveu nos jornais, ao ar livre da imprensa, eu avalio o<br />

que ele terá dito de mim a portas fechadas, no segredo das suas confidências<br />

com os eleitores. (Sensação. Aplausos.)<br />

Sim, senhores, tenho direito de queixar-me dessa frase do meu antagonista,<br />

porque falo sempre perante milhares de pessoas, muitas das quais<br />

conservadores, que podem, por assim dizer, taquigrafar na memória as minhas<br />

palavras, e portanto falo sempre para os que não me ouvem tanto como<br />

para o auditório que me cerca... Em todo caso, se mudo de linguagem na<br />

praça pública, faço-o exatamente quando é maior o número das testemunhas,

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