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116 Joaquim Nabuco Ora, se alguma coisa se assemelha ao comunismo não vos parece que é a escravidão, comunismo da pior espécie – por que é comunismo em proveito de uma só classe? (Aplausos.) Sim, pernambucanos, se há homens que sejam interessados – acreditai bem na sinceridade com que falo –, diretamente interessados na abolição pelo interesse material, como o devemos ser todos pelo interesse da dignidade humana, são os que representam a riqueza acumulada, quer seja a propriedade da terra, quer seja o capital. Esses é que são mais diretamente interessados na abolição, e se não o compreendem é que são tão ignorantes, sinto dizê-lo, na generalidade, quanto se supõem ricos. (Aplausos.) Entre tantas instituições úteis imagináveis nenhuma entre nós seria mais proveitosa ao Estado do que uma escola em que se ensinasse aos nossos homens de fortuna os deveres da propriedade e as relações da riqueza particular com as idéias de justiça e de solidariedade e o nível moral da população toda. (Aplausos.) Com efeito, seria um grande serviço o de educar para a comunhão e o patriotismo a esses que representam a propriedade, e que assim representam, na sua maior parte, uma geração que desapareceu, porquanto a propriedade honestamente adquirida no Brasil hoje é adquirida a muito custo, e a que existe é quase toda resto do trabalho de outra época, de outra geração diversamente educada e muito menos agitada e inconstante do que a nossa. Educar a nossa enfezada e raquítica plutocracia, a qual já não suporta a armadura de qualidades viris dos que lhe edificaram a fortuna (muito bem!), quer dizer antes de tudo fazer-lhe compreender um dos dogmas sociais do nosso tempo: que ela não tem somente direitos, mas tem também deveres (aplausos) e deveres para com o território que ela possui, para com a população que dela depende, para com a sociedade que a protege e garante, e a comunhão de que ela faz parte, e ao abrigo de leis imemoriais e de favores imprescritíveis parte preponderante e absorvente. (Longos aplausos.) A minha convicção, senhores, é que, formado perante a história o processo das nossas classes proprietárias, havia-se de reconhecer que elas, quer na posse da terra, quer no gozo do capital, haviam durante gerações consecutivas faltado completamente aos seus deveres sociais e usado com usura dos seus direitos. (Sensação prolongada.)

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 117 Pois, meus senhores, haverá indiferença mais criminosa do que a indiferença com que a classe única que dirige os destinos deste país desde que ele se fundou tem assistido ao crescimento desamparado da nossa população, à promiscuidade no nosso povo, à miséria que se espalha por todo o país, à degradação dos nossos costumes, só se preocupando dos seus interesses de classe, de manter o jugo férreo dos seus monopólios desumanos e atentatórios da civilização universal, aumentando ao mesmo tempo no seu interesse exclusivo e para seus fins particulares as responsabilidades do Estado, levando-nos ao orçamento que hoje temos, isto é, hipotecando o futuro do país que não lhe pertence aos seus credores e aos seus parasitas? (Aplausos ruidosos.) Acredito ter estudado com a maior atenção e a máxima profundeza que a minha inteligência me permite o orçamento do Império, e penso que temos chegado a uma situação financeira sem remédio. É triste ser forçado a admitir tal conclusão, mas seria falta de lealdade não confessá-lo, tendo chegado a ela. Vós vos queixais da situação da província! Mas essa situação não é mais do que o resultado da situação geral do Império, que absorveu todas as economias e todos os recursos do povo e não deixou às províncias uma só fonte de rendimento, porquanto o próprio manancial está esgotado. (Muito bem!) O país chegou ao extremo da sua força taxativa; os impostos não podem ser aumentados. O nosso orçamento tomou proporções colossais, que assentam, como eu já disse, sobre estes quatro pilares carcomidos: a apólice, a dívida externa, o papel-moeda, o déficit. (Aplausos.) Como podeis remediar semelhante situação? Os impostos não podem ser elevados, a dívida não pode ser reduzida; as províncias vão caindo em bancarrota, umas após outras; o nosso crédito, essa fonte de confiança que parecia inesgotável no estrangeiro, está começando a ser afetado, e já se descobriu que há muito tempo nós pagamos as nossas dívidas com os empréstimos que fazemos! Nestas condições, pergunto se as finanças da escravidão (porque são as finanças da escravidão), as finanças de uma classe única, exclusiva detentora da riqueza nacional e senhora do Parlamento, duma classe que entendia que este país era rico bastante para realizar os sonhos de todos os especuladores, não chegaram a um estado de bancarrota adiada dia a dia

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 117<br />

Pois, meus senhores, haverá indiferença mais criminosa do que<br />

a indiferença com que a classe única que dirige os destinos deste país desde<br />

que ele se fundou tem assistido ao crescimento desamparado da nossa<br />

população, à promiscuidade no nosso povo, à miséria que se espalha por<br />

todo o país, à degradação dos nossos costumes, só se preocupando dos seus<br />

interesses de classe, de manter o jugo férreo dos seus monopólios desumanos<br />

e atentatórios da civilização universal, aumentando ao mesmo tempo<br />

no seu interesse exclusivo e para seus fins particulares as responsabilidades<br />

do Estado, levando-nos ao orçamento que hoje temos, isto é, hipotecando<br />

o futuro do país que não lhe pertence aos seus credores e aos seus parasitas?<br />

(Aplausos ruidosos.)<br />

Acredito ter estudado com a maior atenção e a máxima profundeza<br />

que a minha inteligência me permite o orçamento do Império, e penso<br />

que temos chegado a uma situação financeira sem remédio. É triste ser<br />

forçado a admitir tal conclusão, mas seria falta de lealdade não confessá-lo,<br />

tendo chegado a ela. Vós vos queixais da situação da província! Mas essa<br />

situação não é mais do que o resultado da situação geral do Império, que<br />

absorveu todas as economias e todos os recursos do povo e não deixou às<br />

províncias uma só fonte de rendimento, porquanto o próprio manancial<br />

está esgotado. (Muito bem!)<br />

O país chegou ao extremo da sua força taxativa; os impostos não<br />

podem ser aumentados. O nosso orçamento tomou proporções colossais,<br />

que assentam, como eu já disse, sobre estes quatro pilares carcomidos: a<br />

apólice, a dívida externa, o papel-moeda, o déficit. (Aplausos.)<br />

Como podeis remediar semelhante situação? Os impostos não<br />

podem ser elevados, a dívida não pode ser reduzida; as províncias vão caindo<br />

em bancarrota, umas após outras; o nosso crédito, essa fonte de confiança<br />

que parecia inesgotável no estrangeiro, está começando a ser afetado, e<br />

já se descobriu que há muito tempo nós pagamos as nossas dívidas com os<br />

empréstimos que fazemos!<br />

Nestas condições, pergunto se as finanças da escravidão (porque<br />

são as finanças da escravidão), as finanças de uma classe única, exclusiva<br />

detentora da riqueza nacional e senhora do Parlamento, duma classe que<br />

entendia que este país era rico bastante para realizar os sonhos de todos os<br />

especuladores, não chegaram a um estado de bancarrota adiada dia a dia

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