eleições - Livros Grátis
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114 Joaquim Nabuco<br />
parece digna de entusiasmo ou admiração a quem contemplou a riqueza<br />
dos povos livres (aplausos), a quem descobre o contraste das duas e sabe que<br />
este simulacro de opulência com que nos querem deslumbrar não exprime<br />
senão a miséria e o aviltamento da Nação brasileira (muito bem!), não é<br />
senão uma forma ainda dessa pobreza a que estão fatalmente condenadas as<br />
nações que não trabalham, mas que fazem trabalhar! (Aplausos.)<br />
Sim, senhores, os que têm visto a riqueza dos povos livres, de<br />
nações antigas, em que todos trabalham, em que não recai sobre o trabalho<br />
a mesma maldição que aqui parece pesar sobre a cor, não podem comparar<br />
esta simulação, este fantasma de riqueza que vemos nas nossas grandes cidades,<br />
com a verdadeira riqueza, tal como existe nos países que se libertaram<br />
do cativeiro e dos monopólios, e onde as forças nacionais são todas aproveitadas<br />
para o bem-estar da comunhão, e não paralisadas e desperdiçadas<br />
como nos países de escravos. (Aplausos.)<br />
Mas, desde que fiz referência ao bairro aristocrático do Recife,<br />
devo dizer que são os homens ricos do país os que mais deveriam auxiliar<br />
o movimento abolicionista, porque são os que mais interesse têm, interesse<br />
material, está visto, em dirigir – e para dirigi-lo é preciso estar disposto a<br />
acelerá-lo – aquele movimento. Se não o fazem é porque neles a riqueza não<br />
substitui a inteligência e não corrige a ignorância. (Aplausos.)<br />
Não é falta simplesmente de patriotismo, porque, se o interesse<br />
fosse claro, eles o satisfariam, sendo, como são, muitas vezes os homens do<br />
interesse; mas é que esse interesse não se lhes mostra de modo claro e terminante;<br />
é que eles não lêem nem estudam, não conhecem o valor das leis<br />
sociais de liberdade e igualdade, e por outro lado acreditam que a escravidão<br />
está viva, que ela ainda pode produzir benefícios, que ainda pode servir<br />
de base à fortuna pública e particular, quando a escravidão está morta tanto<br />
como exploração de riqueza quanto como regime social, e sua manutenção<br />
importa a ruína e a bancarrota de todos e de tudo. (Aplausos.)<br />
Não é de admirar que os homens de capital e de fortuna não<br />
vejam senão desastres e perdição fora do navio apodrecido da escravidão<br />
em que navegam, quando uma sociedade, que pretende dirigir a lavoura<br />
e pôr-se à frente dela, a Sociedade Auxiliadora da Agricultura, não acha<br />
como qualificar o Projeto Dantas senão de comunista. Não creio que dessa<br />
forma a associação pernambucana, a que me refiro, auxilie a lavoura,