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108 Joaquim Nabuco de achar-se, como Cortez, na posse de um novo mundo de incomensurável grandeza e inesgotável opulência.” O Ministro argentino em Londres, D. Manuel Garcia, trouxe para o nosso festim a nota da simpatia argentina lembrando a fraternidade da Aliança. Ele podia acrescentar que a Guerra do Paraguai, como o confessou Rio Branco, foi um dos fatores da lei de 28 de setembro. “Como argentino, aplaudo os esforços generosos de quantos têm cooperado”, disse ele, “para extirpar do Brasil essa mancha de sua bandeira. Esta tremulou unida à Argentina defendendo causas nobres e generosas, e me honro em expressar aqui no meio de brasileiros meu voto pela amizade de ambos os povos, chamados a grandes destinos, cultivando a paz, explorando seus inesgotáveis recursos, aumentando a instrução, o comércio e a indústria pelo trabalho livre, pelo comércio livre e pelas instituições liberais.” (Aplausos.) Também o representante do Chile não deixou de fazer ouvir a voz da forte e viril República do Pacífico, a mais rija, a mais compacta e a mais perfeita de todas as organizações sociais da América do Sul. “Não, senhores”, disse ele proclamando a hegemonia do Brasil, “não pode ser um país de escravos aquele que pela sua posição geográfica, pela extensão do seu território, pela riqueza do seu solo, pelo nobre e generoso caráter de seus habitantes, está chamado a ser o paladino da América Latina em presença da Europa civilizada.” (Aplausos.) Levantando o último brinde não pude deixar de acentuar a espontaneidade com que a festa abolicionista brasileira se convertera numa demonstração, na Inglaterra, de solidariedade americana. “A emancipação dos escravos”, disse eu, “é o princípio apenas de um programa, que compreende o desenvolvimento das relações pacíficas e cordiais sobretudo com a América, a educação moral e intelectual do povo, a criação de forças sociais de progresso, e tudo isso quer dizer a mais estreita união da América com o Brasil. Nós temos pressa de acabar com a escravidão, porque temos pressa de adaptar o organismo nacional à liberdade, que deve ser a atmosfera de todo o novo mundo. A emancipação dos escravos entre nós quer dizer um progresso para toda essa região, e, por isso, estou certo de propor um brinde, que

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 109 interessa imediatamente a todos os presentes, brindando à emancipação total dos escravos no Brasil, ao fim da escravidão na América. (Calorosos e continuados aplausos.) Está aí, senhores, mais uma dessas festas, não sei por que não as chamam de orgias e bacanais – haveria a mesma plausibilidade – em que eu procurava rebaixar a minha pátria no estrangeiro! Em abril deste ano, de 1884, voltei para o Brasil chegando ao Rio a 18 de maio. Ao pisar a terra da pátria, gravemente doente, vi que o meu nome não havia sido esquecido. A Assembléia provincial das Alagoas, fazendo-me uma honra de que não havia precedente nos anais das Assembléias provinciais, chamou-me a tomar assento à sua Mesa e permitiu-me agradecer-lhe essa demonstração inolvidável. Na Bahia, os abolicionistas festejaram a minha passagem por meio de numerosas cartas de liberdade. No Rio, apenas desembarcado, e muito sem forças, entrei logo em campanha. A situação era má, mas eu pressentia que em breves dias tudo estaria mudado. Logo depois o Ministério Dantas havia subido e eu estava a postos para sustentar esse ministério, que é nossa conquista e nossa criação e que representa a idéia abolicionista no poder. Sustentei-o na imprensa com numerosos artigos assinados Garrison, que estou certo foram de algum proveito para o gabinete; sustentei-o na tribuna popular em mais de um discurso, e em mais de um lugar, no Teatro Politeama do Rio, como no Teatro São José de São Paulo, como no Teatro Santa Isabel do Recife, e agora sustento-o ainda defendendo a minha eleição que será antes de tudo a vitória do Gabinete 7 de Junho, isto é, da nova situação que ele criou e que está sendo chamada por todos pelo seu verdadeiro nome – de situação abolicionista. (Repetidos aplausos.) Pensei apresentarme pela corte onde amigos influentes ofereciam-me sustentar a minha candidatura em mais de um distrito, mas o poder da escravidão no Rio é muito grande, e eu não tratava mais, como em 1881, de dar uma batalha perdida de antemão, somente para afirmar um princípio, mas, sim, de ter um lugar de combate no Parlamento. Em vez de pensar em aceitar uma das diversas candidaturas que me eram generosamente oferecidas, não pelo governo, mas pelos próprios candidatos, pensei então em vir a Pernambuco. Animava-me a esperança de que poderia localizar a minha eleição neste primeiro distrito, continuando no Parlamento a represen-

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 109<br />

interessa imediatamente a todos os presentes, brindando à emancipação<br />

total dos escravos no Brasil, ao fim da escravidão na América. (Calorosos e<br />

continuados aplausos.)<br />

Está aí, senhores, mais uma dessas festas, não sei por que não as<br />

chamam de orgias e bacanais – haveria a mesma plausibilidade – em que eu<br />

procurava rebaixar a minha pátria no estrangeiro!<br />

Em abril deste ano, de 1884, voltei para o Brasil chegando<br />

ao Rio a 18 de maio. Ao pisar a terra da pátria, gravemente doente, vi<br />

que o meu nome não havia sido esquecido. A Assembléia provincial das<br />

Alagoas, fazendo-me uma honra de que não havia precedente nos anais<br />

das Assembléias provinciais, chamou-me a tomar assento à sua Mesa e<br />

permitiu-me agradecer-lhe essa demonstração inolvidável. Na Bahia, os<br />

abolicionistas festejaram a minha passagem por meio de numerosas cartas<br />

de liberdade. No Rio, apenas desembarcado, e muito sem forças, entrei<br />

logo em campanha. A situação era má, mas eu pressentia que em breves<br />

dias tudo estaria mudado. Logo depois o Ministério Dantas havia subido<br />

e eu estava a postos para sustentar esse ministério, que é nossa conquista e<br />

nossa criação e que representa a idéia abolicionista no poder. Sustentei-o<br />

na imprensa com numerosos artigos assinados Garrison, que estou certo<br />

foram de algum proveito para o gabinete; sustentei-o na tribuna popular<br />

em mais de um discurso, e em mais de um lugar, no Teatro Politeama do<br />

Rio, como no Teatro São José de São Paulo, como no Teatro Santa Isabel<br />

do Recife, e agora sustento-o ainda defendendo a minha eleição que será<br />

antes de tudo a vitória do Gabinete 7 de Junho, isto é, da nova situação<br />

que ele criou e que está sendo chamada por todos pelo seu verdadeiro<br />

nome – de situação abolicionista. (Repetidos aplausos.) Pensei apresentarme<br />

pela corte onde amigos influentes ofereciam-me sustentar a minha<br />

candidatura em mais de um distrito, mas o poder da escravidão no Rio é<br />

muito grande, e eu não tratava mais, como em 1881, de dar uma batalha<br />

perdida de antemão, somente para afirmar um princípio, mas, sim, de<br />

ter um lugar de combate no Parlamento. Em vez de pensar em aceitar<br />

uma das diversas candidaturas que me eram generosamente oferecidas,<br />

não pelo governo, mas pelos próprios candidatos, pensei então em vir a<br />

Pernambuco. Animava-me a esperança de que poderia localizar a minha<br />

eleição neste primeiro distrito, continuando no Parlamento a represen-

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