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104 Joaquim Nabuco províncias. (Apoiados.) A corte é refratária e lá não se tenta coisa alguma. Em compensação, as províncias estão se queimando para purificar-se, uma a uma, na chama sagrada que as atrai. O chefe abolicionista deverá estar não no Rio somente, mas no Ceará, no Amazonas, no Rio Grande do Sul e assim por diante. A descentralização do movimento abolicionista que eu tinha previsto justificou-me assim completamente. (Adesões.) A força centrífuga multiplicou a velocidade da nossa carreira para o futuro. Eu era um homem político, e a voz tinha chegado dos homens de ação. Eram estes que podiam tornar a abolição um fato consumado no País antes de o ser na lei. A minha ausência favoreceu antes do que prejudicou o movimento, dando-lhe maior liberdade do que ele teria se se limitasse acompanhar-me. Nós não precisamos de chefes, nem de táticas, nem de consistórios... temos uma opinião que cresce, somos um partido livre e aberto a todos. (Aplausos.) Eis aí as razões pelas quais parti. No exílio, meus senhores, a minha história é muito simples. Eu escrevia as correspondências do Jornal do Commercio, correspondências em que procurava fazer uso de todos os fatos do progresso material, moral e econômico do mundo, para esclarecimento dos nossos estadistas; escrevia para La Razon, jornal de Montevidéu, estudos políticos, e respondia a consultas sobre questões de Direito brasileiro. Mesmo na advocacia proibi-me do modo o mais severo, pelo que mais de uma vez rejeitei comissões, que teriam tentado outros, tudo o que se relacionasse com dinheiros públicos ou favores da administração, desejoso de nunca receber um ceitil que importe em agravo das responsabilidades do Tesouro. (Apoiados.) Apesar dessa vida, da qual tenho numerosas testemunhas, do mais requintado escrúpulo que já teve homem público em qualquer país ou qualquer tempo, a calúnia ousou ferir-me na minha reputação. O Sr. Andrade Figueira atreveu-se a dizer que eu recebia uma subvenção do governo. O Jornal do Commercio desmentiu logo essa calúnia. Eu entendi que bastava referir-me a ela com o desprezo que merecia da parte de um homem, cuja consciência, se tivesse preço, o teria pelo menos tão alto quanto a do Sr. Andrade Figueira. (Sensação.) “O que me interessa agora é o destino que terá tido essa gratificação”, escrevi eu. “Tais gratificações, para produzirem o seu efeito e serem

Campanha Abolicionista no Recife – Eleições de 1884 105 apreciadas pelos donatários, devem ser levadas ao conhecimento deles sob uma forma tangível, e estou ainda sem notícias da soma e do fim dessa generosidade a mim feita. (Riso.) Não sei mesmo se foi no Ministério do Sr. Saraiva, ou no do Sr. Martinho Campos, ou no do Sr. Paranaguá, ou no do Sr. Lafayette que foi votada. É da natureza dessas transações serem secretas, mas o segredo não deve ir ao ponto de não serem reveladas ao indivíduo que faz objeto delas. Dê-se, pois, o Sr. Andrade Figueira ao trabalho de verificar a quanto sobem os atrasados que me são devidos, e eu terei ocasião de oferecer essa quantia e as que lhe acresçam, em nome do ministro que me tiver feito tão grande honra, para aumentar a recompensa nacional ao Sr. Dr. Lacerda, descobridor do antídoto do veneno ofídico. (Hilaridade. Aplausos gerais.) Dizem que no meu exílio ainda difamei o Brasil. Só me ocupei da escravidão nas seguintes vezes: Primeira, quando fui a Milão, ao Congresso Jurídico Internacional, de 1883, propor uma série de artigos condenatórios da escravidão perante o direito das gentes. Esses artigos foram unanimemente aclamados pelo Congresso, não é dizer pouco, senhores, em favor deles porque figuravam no Congresso alguns dos maiores propagandistas da unificação e do progresso moral do direito. Estavam ali, além de outros, o Sr. Henry Richard, o apóstolo da paz e do arbitramento, o eminente professor Gabba da Universidade de Pisa, o deputado italiano Pierantoni, professor de direito internacional da Universidade de Roma, o professor Olive, de Modena, o presidente do tribunal da relação de Hamburgo, o Sr. FK Sierweking, o Sr. Fioria-Goria, o notável jurisconsulto de Turim, Sir Travers Twiss, uma das autoridades inglesas de lei internacional. Vós ides ouvir as proposições votadas e que por ordem do Congresso foram comunicadas aos embaixadores e ministros de todas as potências da Europa, América e Ásia. As proposições foram estas: 1 o A Assembléia declara que segundo o direito internacional o tráfico dos negros equivale à pirataria. 2 o Sendo a escravidão contrária ao direito natural, qualquer nação pode, segundo o direito internacional, recusar-se a reconhecer aquela instituição, quer nas pessoas dos estrangeiros, que habitam no seu território, quer nas pessoas de seus próprios súditos, que a estabeleçam em país estrangeiro.

104 Joaquim Nabuco<br />

províncias. (Apoiados.) A corte é refratária e lá não se tenta coisa alguma.<br />

Em compensação, as províncias estão se queimando para purificar-se, uma<br />

a uma, na chama sagrada que as atrai. O chefe abolicionista deverá estar<br />

não no Rio somente, mas no Ceará, no Amazonas, no Rio Grande do Sul<br />

e assim por diante. A descentralização do movimento abolicionista que eu<br />

tinha previsto justificou-me assim completamente. (Adesões.)<br />

A força centrífuga multiplicou a velocidade da nossa carreira para<br />

o futuro. Eu era um homem político, e a voz tinha chegado dos homens de<br />

ação. Eram estes que podiam tornar a abolição um fato consumado no País<br />

antes de o ser na lei. A minha ausência favoreceu antes do que prejudicou<br />

o movimento, dando-lhe maior liberdade do que ele teria se se limitasse<br />

acompanhar-me. Nós não precisamos de chefes, nem de táticas, nem de<br />

consistórios... temos uma opinião que cresce, somos um partido livre e<br />

aberto a todos. (Aplausos.)<br />

Eis aí as razões pelas quais parti. No exílio, meus senhores, a<br />

minha história é muito simples. Eu escrevia as correspondências do Jornal<br />

do Commercio, correspondências em que procurava fazer uso de todos os<br />

fatos do progresso material, moral e econômico do mundo, para esclarecimento<br />

dos nossos estadistas; escrevia para La Razon, jornal de Montevidéu,<br />

estudos políticos, e respondia a consultas sobre questões de Direito<br />

brasileiro. Mesmo na advocacia proibi-me do modo o mais severo, pelo<br />

que mais de uma vez rejeitei comissões, que teriam tentado outros, tudo<br />

o que se relacionasse com dinheiros públicos ou favores da administração,<br />

desejoso de nunca receber um ceitil que importe em agravo das responsabilidades<br />

do Tesouro. (Apoiados.) Apesar dessa vida, da qual tenho numerosas<br />

testemunhas, do mais requintado escrúpulo que já teve homem<br />

público em qualquer país ou qualquer tempo, a calúnia ousou ferir-me<br />

na minha reputação.<br />

O Sr. Andrade Figueira atreveu-se a dizer que eu recebia uma<br />

subvenção do governo. O Jornal do Commercio desmentiu logo essa calúnia.<br />

Eu entendi que bastava referir-me a ela com o desprezo que merecia da<br />

parte de um homem, cuja consciência, se tivesse preço, o teria pelo menos<br />

tão alto quanto a do Sr. Andrade Figueira. (Sensação.)<br />

“O que me interessa agora é o destino que terá tido essa gratificação”,<br />

escrevi eu. “Tais gratificações, para produzirem o seu efeito e serem

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