a importância do lúdico no processo de alfabetização - DFE
a importância do lúdico no processo de alfabetização - DFE
a importância do lúdico no processo de alfabetização - DFE
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO NO<br />
PRIMEIRO ANO DO ENSINO DE NOVE ANOS<br />
1<br />
Fernanda Age Mace<strong>do</strong> 1<br />
Alencar, Gizeli Aparecida R. <strong>de</strong>²<br />
Bacaro, Paula Edicléia F.³<br />
Resumo: A presença <strong>do</strong> <strong>lúdico</strong> <strong>no</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s tem si<strong>do</strong> objeto<br />
<strong>de</strong> muitas investigações <strong>no</strong> campo educacional dada a sua <strong>importância</strong> <strong>no</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento da criança. A brinca<strong>de</strong>ira é compreendida como situação imaginária<br />
criada pelo contato da criança com a realida<strong>de</strong> social. Por meio <strong>de</strong>la a criança recria<br />
aquilo que sabe <strong>de</strong> forma espontânea e imaginativa. Nessa perspectiva a brinca<strong>de</strong>ira<br />
<strong>de</strong>ntro da sala <strong>de</strong> aula tem <strong>importância</strong> significativa <strong>no</strong> <strong>processo</strong> <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e<br />
aprendizagem. Este trabalho tem como objetivo i<strong>de</strong>ntificar a freqüência com que<br />
ocorrem as ativida<strong>de</strong>s lúdicas <strong>no</strong> planejamento <strong>do</strong> professor <strong>do</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s. Para tanto será realizada uma pesquisa bibliográfica, on<strong>de</strong> serão<br />
analisa<strong>do</strong>s os planejamentos <strong>de</strong> aula <strong>do</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2010 <strong>de</strong> <strong>do</strong>is professores da re<strong>de</strong><br />
municipal <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>, <strong>do</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s. Pressupõe que o<br />
professor realiza ativida<strong>de</strong>s lúdicas sem sistematização em salas <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong>ssa forma o<br />
brincar se tor<strong>no</strong>u um passa tempo e não uma ativida<strong>de</strong> que visa o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
criança. Busca-se nesse trabalho fomentar discussões sobre a <strong>importância</strong> <strong>do</strong> <strong>lúdico</strong><br />
como proposta pedagógica para o <strong>de</strong>senvolvimento da criança <strong>no</strong> <strong>processo</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>alfabetização</strong>.<br />
Palavras-chave: <strong>lúdico</strong>, <strong>alfabetização</strong>, crianças, ensi<strong>no</strong>.<br />
Introdução<br />
1 Acadêmica <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> Pedagogia da universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Maringá. E-mail:<br />
fernandinha_age@hotmail.com<br />
² Orienta<strong>do</strong>ra professora Mestre <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Teoria e Prática da Educação, Universida<strong>de</strong><br />
Estadual <strong>de</strong> Maringá – PR. E-mail: alencargizeli@hotmail.com.<br />
³ Co-orienta<strong>do</strong>ra professora Mestre <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Teoria e Prática da Educação, Universida<strong>de</strong><br />
Estadual <strong>de</strong> Maringá –PR E-mail: bacaropaula@hotmail.com.
Na educação observamos diferentes materiais didáticos que po<strong>de</strong>m contribuir com o<br />
aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> educan<strong>do</strong> e o seu <strong>de</strong>senvolvimento. A brinca<strong>de</strong>ira na fase pré-escolar é<br />
um <strong>de</strong>sses recursos, que sen<strong>do</strong> utilizada corretamente é essencial para a aprendizagem e<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento infantil.<br />
Sabemos que a brinca<strong>de</strong>ira faz parte <strong>do</strong> dia a dia da criança. É por meio <strong>de</strong>la que a<br />
criança apren<strong>de</strong>, <strong>de</strong>monstra os seus sentimentos e suas vonta<strong>de</strong>s. A brinca<strong>de</strong>ira é a<br />
principal ativida<strong>de</strong> que respon<strong>de</strong> as necessida<strong>de</strong>s infantis, que permite o <strong>de</strong>scobrir a si<br />
mesma e ao mun<strong>do</strong>, é ainda por meio da brinca<strong>de</strong>ira que a criança cria o seu mun<strong>do</strong><br />
imaginário e que posteriormente será reproduzi<strong>do</strong> <strong>no</strong> âmbito real.<br />
Brincar é uma das ativida<strong>de</strong>s fundamentais para o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e da auto<strong>no</strong>mia. O fato <strong>de</strong> a criança, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito ce<strong>do</strong> po<strong>de</strong>r<br />
se comunicar por gestos, sons e mais tar<strong>de</strong>, representar <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />
papel na brinca<strong>de</strong>ira, faz com que ela <strong>de</strong>senvolva sua imaginação. Nas<br />
brinca<strong>de</strong>iras, as crianças po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver algumas capacida<strong>de</strong>s<br />
importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação.<br />
Amadurecem também algumas capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> socialização, por meio<br />
da interação, da utilização e da experimentação <strong>de</strong> regras e papeis<br />
sociais. (LOPES, 2006 p.110).<br />
No entanto, em <strong>no</strong>ssa socieda<strong>de</strong>, o espaço para o brincar <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> cotidia<strong>no</strong> das<br />
crianças vem sen<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong> por afazeres que não permitem a criança o ato <strong>de</strong><br />
brincar, exigin<strong>do</strong> <strong>de</strong>la responsabilida<strong>de</strong> que muitas vezes não se faz necessária a faixa<br />
etária em que se encontra.<br />
Sen<strong>do</strong> assim, a presença <strong>do</strong> <strong>lúdico</strong> <strong>no</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s tem si<strong>do</strong><br />
objeto <strong>de</strong> muitas investigações <strong>no</strong> campo educacional, dada a sua <strong>importância</strong> <strong>no</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento da criança. A brinca<strong>de</strong>ira é compreendida como situação imaginária<br />
criada pelo contato da criança com a realida<strong>de</strong> social. Por meio <strong>de</strong>la a criança recria<br />
aquilo que sabe <strong>de</strong> forma espontânea e imaginativa. Nessa perspectiva a brinca<strong>de</strong>ira<br />
<strong>de</strong>ntro da sala <strong>de</strong> aula tem <strong>importância</strong> significativa <strong>no</strong> <strong>processo</strong> <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e –<br />
aprendizagem.<br />
Este trabalho tem como objetivo i<strong>de</strong>ntificar a freqüência com que ocorrem as ativida<strong>de</strong>s<br />
lúdicas <strong>no</strong> planejamento <strong>do</strong> professor <strong>do</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s. Para<br />
tanto será realizada uma pesquisa bibliográfica, em que serão analisa<strong>do</strong>s os<br />
planejamentos <strong>de</strong> aula <strong>do</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2010 <strong>de</strong> <strong>do</strong>is professores da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong><br />
da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sarandi, <strong>do</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s.<br />
2
Pressupõe que o professor realiza ativida<strong>de</strong>s lúdicas sem sistematização em salas <strong>de</strong><br />
aula, <strong>de</strong>ssa forma, o brincar se tor<strong>no</strong>u um passa tempo e não uma ativida<strong>de</strong> que visa o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da criança. Busca-se nesse trabalho fomentar discussões sobre a<br />
<strong>importância</strong> <strong>do</strong> <strong>lúdico</strong> como proposta pedagógica para o <strong>de</strong>senvolvimento da criança<br />
conseqüentemente em seu <strong>processo</strong> <strong>de</strong> <strong>alfabetização</strong>.<br />
A brinca<strong>de</strong>ira e a relação com o <strong>de</strong>senvolvimento da criança.<br />
A brinca<strong>de</strong>ira é compreendida como uma ativida<strong>de</strong> que provoca prazer na criança,<br />
contu<strong>do</strong> Vigotski (2007) afirma que além <strong>de</strong> gerar prazer também gera um <strong>de</strong>sprazer,<br />
principalmente quan<strong>do</strong> a ativida<strong>de</strong> possui resulta<strong>do</strong>s que não são interessantes para a<br />
criança, como por exemplo, os jogos que envolvem um vence<strong>do</strong>r e um per<strong>de</strong><strong>do</strong>r.<br />
Mesmo quan<strong>do</strong> o brincar não gera prazer na criança, ela está <strong>de</strong> certa maneira suprin<strong>do</strong><br />
seus <strong>de</strong>sejos, sen<strong>do</strong> ou não bem sucedida.<br />
Segun<strong>do</strong> Vigotski (2007), a criança procura suprir seus <strong>de</strong>sejos por meio <strong>do</strong> ato <strong>de</strong><br />
brincar. Mas esses <strong>de</strong>sejos não po<strong>de</strong>m ser satisfeitos <strong>de</strong> imediato, o que leva a criança a<br />
buscar situações imaginárias como solução.<br />
No inicio da ida<strong>de</strong> pré-escolar, quan<strong>do</strong> surgem os <strong>de</strong>sejos que não<br />
po<strong>de</strong>m ser imediatamente satisfeitos ou esqueci<strong>do</strong>s, e permanece ainda<br />
a característica <strong>do</strong> estágio prece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma tendência a satisfação<br />
imediata <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>sejos, o comportamento da criança muda. Para<br />
resolver essa tensão, a criança em ida<strong>de</strong> pré-escolar envolve-se num<br />
mun<strong>do</strong> ilusório e imaginário on<strong>de</strong> os <strong>de</strong>sejos não realizáveis po<strong>de</strong>m ser<br />
realizáveis e esse mun<strong>do</strong> é o que chamamos <strong>de</strong> brinque<strong>do</strong>. (VIGOTSKI,<br />
2007, p. 108).<br />
No brincar a criança faz uso <strong>de</strong> uma ação imaginária, por meio <strong>de</strong>la po<strong>de</strong> assumir<br />
diferentes papeis na socieda<strong>de</strong>, colocan<strong>do</strong>-se <strong>no</strong> lugar <strong>de</strong> outros como, por exemplo, <strong>de</strong><br />
um herói. Dessa forma a criança irá seguir regras <strong>de</strong> um comportamento heróico, porque<br />
agora ela po<strong>de</strong> ser um herói e assumir as funções <strong>de</strong> um herói. Nesse momento a criança<br />
consegue ir além <strong>do</strong> real, atuan<strong>do</strong> em um nível superior <strong>do</strong> que ela realmente se<br />
encontra.<br />
Quan<strong>do</strong> a criança está representan<strong>do</strong> um herói, ou médico, uma mãe em suas<br />
brinca<strong>de</strong>iras, ela não faz uso <strong>de</strong> um médico ou um herói específico, mas sim <strong>de</strong> um<br />
personagem. A criança reproduz o que é típico, geralmente o que po<strong>de</strong> ser generaliza<strong>do</strong><br />
3
em uma situação. No jogo <strong>de</strong> “faz-<strong>de</strong>-conta”, a criança experimenta diferentes papéis<br />
sociais, funções sociais generalizadas a partir da observação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s adultos.<br />
Oliveira (2002) diz que o jogo simbólico ou faz-<strong>de</strong>-conta, é ferramenta para a criação da<br />
fantasia, necessária à leitura não convencional <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Abre caminho para a<br />
auto<strong>no</strong>mia, a criativida<strong>de</strong>, a exploração <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>s e senti<strong>do</strong>s. Esse jogo simbólico<br />
atua também sobre a capacida<strong>de</strong> da criança <strong>de</strong> imaginar e <strong>de</strong> representar, articulada com<br />
outras formas <strong>de</strong> expressão. Os jogos são instrumentos para aprendizagem <strong>de</strong> regras<br />
sociais, contribuem para que a criança compreenda o uso das regras o que irá beneficiá-<br />
la mais tar<strong>de</strong> na vida adulta.<br />
O brinque<strong>do</strong> permite o avanço da capacida<strong>de</strong> cognitiva da criança, é por meio <strong>de</strong>le que a<br />
criança faz uso <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> real, <strong>do</strong>mina os conhecimentos e se relaciona com os outros.<br />
Nas brinca<strong>de</strong>iras percebemos atitu<strong>de</strong>s e comportamentos ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s, fazen<strong>do</strong> uma<br />
análise <strong>de</strong> como a criança se comporta mediante as diferentes situações, sen<strong>do</strong> assim é<br />
possível com a mediação <strong>de</strong> um adulto interferir e mostrar à criança o padrão<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> correto.<br />
Por meio da brinca<strong>de</strong>ira, ela tem um comportamento <strong>de</strong> referência maior <strong>do</strong> que é na<br />
realida<strong>de</strong>, realiza simbolicamente o que mais tar<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá realizar na vida real. Vigotski<br />
(2007) <strong>de</strong>staca que:<br />
[...] o brinque<strong>do</strong> cria uma zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento proximal<br />
da criança. No brinque<strong>do</strong>, a criança sempre se comporta além<br />
<strong>do</strong> comportamento habitual da sua ida<strong>de</strong>, alem <strong>do</strong> seu<br />
comportamento diário; <strong>no</strong> brinque<strong>do</strong> é como se ela fosse maior<br />
<strong>do</strong> que é na realida<strong>de</strong>. Como <strong>no</strong> foco <strong>de</strong> lente <strong>de</strong> aumento, o<br />
brinque<strong>do</strong> contém todas as tendências <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sob<br />
forma con<strong>de</strong>nsada, sen<strong>do</strong>, ele mesmo, uma gran<strong>de</strong> fonte <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento. (p.122)<br />
Com a manipulação <strong>do</strong> brinque<strong>do</strong> a criança apren<strong>de</strong> a agir fazen<strong>do</strong> o uso <strong>do</strong> imaginário,<br />
sen<strong>do</strong> assim, não precisa fazer o uso real <strong>do</strong> objeto. Quan<strong>do</strong> a criança <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> la<strong>do</strong> o<br />
real significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> objeto, ela começa a agir <strong>de</strong> forma diferente daquilo que realmente<br />
se vê. Por exemplo, ela po<strong>de</strong> utilizar caixas <strong>de</strong> sapato como carros, folhas velhas como<br />
tapetes mágicos, tampas <strong>de</strong> panelas como volante <strong>de</strong> carros, enfim, usam objetos<br />
diferentes dan<strong>do</strong> uma função distinta <strong>de</strong> sua real finalida<strong>de</strong>.<br />
4
De acor<strong>do</strong> com Leontiev (1994), o brinque<strong>do</strong> surge na criança <strong>no</strong> início da ida<strong>de</strong> pré-<br />
escolar, <strong>no</strong> momento em que ela sente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir não apenas com os objetos<br />
que fazem parte <strong>de</strong> seu ambiente físico e que são acessíveis a ela, mas com objetos que<br />
ela ainda não tem <strong>do</strong>mínio, sen<strong>do</strong> estes os objetos <strong>do</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>do</strong>s adultos. Para saciar<br />
essa necessida<strong>de</strong> a criança brinca, e durante a ativida<strong>de</strong> lúdica ela faz parte <strong>de</strong>sse<br />
mun<strong>do</strong>, esforçan<strong>do</strong>-se para agir como um adulto, por exemplo, dirigir um carro, andar a<br />
cavalo ou fazer comida. É na ativida<strong>de</strong> e, sobretu<strong>do</strong>, por meio <strong>do</strong> brinque<strong>do</strong> que a<br />
criança supera os limites da manipulação <strong>do</strong>s objetos que a cercam e se insere num<br />
mun<strong>do</strong> mais amplo.<br />
O brinque<strong>do</strong> é a ativida<strong>de</strong> principal da criança, aquela em conexão com<br />
a qual ocorrem as mais significativas mudanças <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
psíquico <strong>do</strong> sujeito e na qual se <strong>de</strong>senvolvem os <strong>processo</strong>s psicológicos<br />
que preparam o caminho da transição da criança em direção a um <strong>no</strong>vo<br />
e mais eleva<strong>do</strong> nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. (LEONTIEV, 1994).<br />
O brinque<strong>do</strong> cria na criança uma <strong>no</strong>va forma, ensinan<strong>do</strong> e relacionan<strong>do</strong> seus <strong>de</strong>sejos a<br />
um “eu” fictício, o seu papel <strong>no</strong> jogo e suas regras. Dessa maneira, as maiores<br />
aquisições <strong>de</strong> uma criança são alcançadas <strong>no</strong> brinque<strong>do</strong>, estas que <strong>no</strong> futuro, se tornarão<br />
seu nível básico <strong>de</strong> ação real.<br />
A ludicida<strong>de</strong> muda o comportamento infantil, por meio <strong>de</strong>la a criança <strong>de</strong>senvolve a<br />
auto<strong>no</strong>mia e a afetivida<strong>de</strong> fundamentais para o <strong>processo</strong> <strong>do</strong> apren<strong>de</strong>r. Brincan<strong>do</strong> as<br />
crianças apren<strong>de</strong>m a cooperar com os companheiros, a obe<strong>de</strong>cer às regras <strong>do</strong>s jogos, a<br />
respeitar os direitos <strong>do</strong>s outros, a acatar a autorida<strong>de</strong>, a assumir responsabilida<strong>de</strong>s, a<br />
aceitar as penalida<strong>de</strong>s que lhes são impostas, a dar oportunida<strong>de</strong>s aos <strong>de</strong>mais, enfim, a<br />
viver em socieda<strong>de</strong>.<br />
Sen<strong>do</strong> assim, as ativida<strong>de</strong>s lúdicas proporcionam às crianças o <strong>de</strong>senvolvimento motor,<br />
o da linguagem, da percepção, da representação, da memória, <strong>do</strong> equilíbrio afetivo, da<br />
apropriação <strong>de</strong> sig<strong>no</strong>s sociais e das transformações significativas da consciência infantil.<br />
Portanto, a presença <strong>do</strong> <strong>lúdico</strong> <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da criança é <strong>de</strong> suma <strong>importância</strong><br />
para o seu aprendiza<strong>do</strong>. De forma significativa, torna as aulas mais dinâmicas e<br />
atrativas, possibilitan<strong>do</strong> à criança o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>no</strong> <strong>processo</strong> <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e <strong>de</strong><br />
aprendiza<strong>do</strong> preparan<strong>do</strong>-a para a <strong>alfabetização</strong>.<br />
5
A <strong>importância</strong> <strong>do</strong> <strong>lúdico</strong> <strong>no</strong> <strong>processo</strong> <strong>de</strong> <strong>alfabetização</strong> da criança.<br />
A criança é um sujeito social, histórico e faz parte <strong>de</strong> uma organização familiar que está<br />
inserida em uma socieda<strong>de</strong>, com uma <strong>de</strong>terminada cultura em um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />
momento histórico. Portanto o seu <strong>de</strong>senvolvimento ocorre <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> continuo com<br />
ritmo diferente para cada criança. Quanto ao conhecimento este acontece nas relações<br />
sujeito-objeto- realida<strong>de</strong>, com a mediação <strong>do</strong> professor (Brasil, 1998).<br />
O significa<strong>do</strong> da aprendizagem muda <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a espécie. O homem possui a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aproveitar tu<strong>do</strong> o que apren<strong>de</strong>, tem ações e reações, que começam até<br />
antes <strong>do</strong> seu nascimento e se <strong>de</strong>senvolvem por toda a vida.<br />
Coll (1997) afirma que, a análise <strong>de</strong> qualquer <strong>processo</strong> <strong>de</strong> aprendizagem precisa levar<br />
em conta os fatores e as possíveis interações que po<strong>de</strong>m ser estabelecidas entre eles,<br />
fatores que são ativida<strong>de</strong>s, características e natureza.<br />
Costuma-se limitar o conceito <strong>de</strong> aprendizagem somente à ações que ocorrem nas<br />
escolas como produto <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong>. No entanto, a aprendizagem envolve os hábitos,<br />
aspectos <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa vida afetiva, assimilação <strong>de</strong> valores culturais, funcionais e proce<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
toda estimulação ambiental recebida pelo indivíduo <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr da vida e, também, ao<br />
sofrer interferências intelectuais, psicomotoras, físicos e sociais (COLL, 1997).<br />
Para que a aprendizagem seja significativa, é necessário que o indivíduo perceba a<br />
relação entre o que está apren<strong>de</strong>n<strong>do</strong> e o seu cotidia<strong>no</strong>. Isso envolve seu raciocínio,<br />
análise, imaginação, relacionamento entre i<strong>de</strong>ias, coisas e acontecimentos.<br />
A ludicida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser utilizada como forma <strong>de</strong> sondar, introduzir o reforçar os<br />
conteú<strong>do</strong>s, fundamenta<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s interesses que po<strong>de</strong>m levar o alu<strong>no</strong> a sentir satisfação em<br />
<strong>de</strong>scobrir um caminho interessante <strong>no</strong> aprendiza<strong>do</strong>. Assim, o <strong>lúdico</strong> é uma ponte para<br />
auxiliar na melhoria <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s que os professores querem alcançar (BRASIL,<br />
2007).<br />
6
O <strong>lúdico</strong> proporciona à criança a relação com o ambiente em que vive, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong><br />
como meio <strong>de</strong> expressão e aprendiza<strong>do</strong>. As ativida<strong>de</strong>s lúdicas possibilitam o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento cultural, a assimilação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos conhecimentos, o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
sociabilida<strong>de</strong> e da criativida<strong>de</strong>. Assim, a criança encontra o equilíbrio entre o real e o<br />
imaginário e tem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver <strong>de</strong> maneira prazerosa.<br />
Ativida<strong>de</strong>s lúdicas criam um clima agradável, é este aspecto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
emocional que torna a ludicida<strong>de</strong> um ato motiva<strong>do</strong>r, capaz <strong>de</strong> gerar um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
euforia. Kishimoto (1994) <strong>de</strong>staca que<br />
[...] <strong>no</strong> contexto cultural e biológico as ativida<strong>de</strong>s são livres, alegres e envolve<br />
uma significação. É <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valora social, oferecen<strong>do</strong> possibilida<strong>de</strong>s<br />
educacionais, pois, favorece o <strong>de</strong>senvolvimento corporal, estimula a vida<br />
psíquica e a inteligência, contribui para a adaptação ao grupo preparan<strong>do</strong> para<br />
viver em socieda<strong>de</strong>, participan<strong>do</strong> e questionan<strong>do</strong> os pressupostos das relações<br />
sociais. (p.13).<br />
O <strong>lúdico</strong> é um instrumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem e <strong>do</strong> imaginário, como<br />
um meio <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s espontâneas ou naturais da criança. Um momento<br />
para observar a criança que, expressa por meio <strong>do</strong> <strong>lúdico</strong>, sua natureza psicológica.<br />
Também, esse colabora com a aprendizagem <strong>de</strong> valores importantes, possibilita a<br />
socialização e a internalização <strong>de</strong> conceitos <strong>de</strong> maneira significativa e prazerosa.<br />
(KISHIMOTO, 1994).<br />
Alguns profissionais <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ram o <strong>lúdico</strong> como fator importante <strong>no</strong> <strong>processo</strong> ensi<strong>no</strong>-<br />
aprendizagem. Por esse motivo não <strong>de</strong>senvolvem ativida<strong>de</strong>s lúdicas e mantêm<br />
resistência ao dizer que o trabalho com a ludicida<strong>de</strong> acarreta <strong>de</strong>sorganização, é <strong>no</strong><br />
<strong>lúdico</strong> que a criança tem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vivenciar regras, <strong>no</strong>rmas, transformar,<br />
recriar, apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as suas necessida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>senvolver seu raciocínio e sua<br />
linguagem. (KISHIMOTO, 1994).<br />
Existem também alguns profissionais que acreditam que a escola é um espaço <strong>de</strong><br />
transmissão <strong>de</strong> conhecimento científico apenas e não valorizam o <strong>lúdico</strong> <strong>no</strong>s <strong>processo</strong>s<br />
<strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e <strong>de</strong> aprendiza<strong>do</strong> das crianças. Ocorre que, como vimos anteriormente, é por<br />
meio da brinca<strong>de</strong>ira que a criança <strong>de</strong>senvolve conceitos importantes para aprendizagem<br />
como organização <strong>de</strong> pensamento, planejamento, reflexão, ativida<strong>de</strong>s cognitivas<br />
importantes para o seu <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
7
Uma postura lúdica não é necessariamente aquela que ensina conteú<strong>do</strong>s por meio <strong>de</strong><br />
jogos, mas na qual estejam presentes as características <strong>do</strong> <strong>lúdico</strong>, ou seja, <strong>no</strong> mo<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
ensinar <strong>do</strong> professor, na seleção <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>s e <strong>no</strong> papel <strong>do</strong> alu<strong>no</strong>. O professor, neste<br />
<strong>processo</strong>, reconhece a <strong>importância</strong> da ludicida<strong>de</strong> e tem uma postura ativa nas situações<br />
<strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>. O alu<strong>no</strong>, nessa situação, aparece como sujeito da aprendizagem, em que a<br />
espontaneida<strong>de</strong> e a criativida<strong>de</strong> são constantemente estimuladas. (KISHIMOTO, 1994).<br />
Por meio <strong>de</strong> uma aula lúdica, o alu<strong>no</strong> é estimula<strong>do</strong> a <strong>de</strong>senvolver sua criativida<strong>de</strong> e não<br />
a produtivida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> sujeito <strong>do</strong> <strong>processo</strong> pedagógico. Por meio da brinca<strong>de</strong>ira o alu<strong>no</strong><br />
<strong>de</strong>sperta o <strong>de</strong>sejo <strong>do</strong> saber, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar e a alegria da conquista. Quan<strong>do</strong> a<br />
criança percebe que existe uma sistematização na proposta <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> dinâmica e<br />
lúdica, a brinca<strong>de</strong>ira passa a ser interessante e a concentração <strong>do</strong> alu<strong>no</strong> fica maior,<br />
assimilan<strong>do</strong> os conteú<strong>do</strong>s com mais facilida<strong>de</strong> e naturalida<strong>de</strong>. (KISHIMOTO, 1994).<br />
A ausência <strong>do</strong> <strong>lúdico</strong> po<strong>de</strong> ter relação direta com as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem. Sob<br />
esta visão, aponta-se a <strong>importância</strong> <strong>do</strong> imaginário como <strong>processo</strong> <strong>de</strong> aprendizagem,<br />
neste inclui-se o brinque<strong>do</strong>. Brincar é um ato natural e faz parte <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong><br />
ser huma<strong>no</strong>. O faz <strong>de</strong> conta mostra a realida<strong>de</strong> e são maneiras encontradas pela criança<br />
<strong>de</strong> atuar e modificar, contribuin<strong>do</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento tanto motor como psíquico.<br />
Como afirma Winnicott (1995), o <strong>lúdico</strong> é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> prazeroso, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a sua<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorver o indivíduo <strong>de</strong> forma intensa e total, crian<strong>do</strong> um clima <strong>de</strong><br />
entusiasmo. É este aspecto <strong>de</strong> envolvimento emocional que torna uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forte<br />
teor motivacional, capaz <strong>de</strong> gerar um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> vibração e euforia.<br />
Com relação as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem que afetam um número significativo <strong>de</strong><br />
crianças em ida<strong>de</strong> escolar, Dockrell (2000, p 11) afirma que:<br />
As dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem afetam um número substancial <strong>de</strong> crianças em<br />
<strong>no</strong>ssa socieda<strong>de</strong>. São heterogêneas, leves, mo<strong>de</strong>radas, graves, <strong>de</strong> curta ou longa<br />
duração e as mesmas exigem avaliações e intervenções e uma teorização <strong>do</strong>s<br />
mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> funcionamento cognitivo [...] As dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />
po<strong>de</strong>m ser classificadas <strong>de</strong> várias formas, a mais relevante é relacionada à base<br />
cognitiva subjacente a uma dificulda<strong>de</strong>, pois a intervenção procura afetar o<br />
funcionamento cognitivo, avaliação apresenta um perfil das potencialida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s <strong>do</strong>mínios relevantes <strong>do</strong> funcionamento cognitivo. (2000, p.11).<br />
8
Normalmente as crianças gostam <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> fazer to<strong>do</strong>s os exercícios propostos, e<br />
quan<strong>do</strong> isso não acontece é porque alguma coisa não está in<strong>do</strong> bem. É preciso fazer um<br />
questionamento sobre os motivos <strong>de</strong>ssas dificulda<strong>de</strong>s escolares. De acor<strong>do</strong> com Morais<br />
(1986), a falta <strong>de</strong> estimulação a<strong>de</strong>quada, méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s, problemas<br />
emocionais, falta <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong> e dislexia, são causas <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem.<br />
Para Simpson (1973), mesmo as crianças com dificulda<strong>de</strong>s na leitura e escrita, po<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong>senvolver-se em outras áreas <strong>do</strong> conhecimento, as áreas <strong>de</strong> interesses da criança,<br />
<strong>de</strong>vem ser estimuladas para <strong>de</strong>senvolver sua auto-estima. Crianças com dificulda<strong>de</strong> para<br />
ler e escrever tem geralmente habilida<strong>de</strong>s para a música, pintura, matemática, ciência e<br />
cabe ao professor estimular o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssas habilida<strong>de</strong>s, auxilian<strong>do</strong> a utilizar<br />
com meio <strong>de</strong> compensar suas limitações.<br />
As dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem po<strong>de</strong>m ocorrer tanto <strong>no</strong> início como durante o perío<strong>do</strong><br />
escolar. Essas dificulda<strong>de</strong>s aparecem em diferentes ocasiões <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> alu<strong>no</strong> e<br />
necessita um estu<strong>do</strong> na área em que elas se manifestam. Os primeiros sinais <strong>de</strong><br />
dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem aparecem, <strong>no</strong>rmalmente, na época da <strong>alfabetização</strong>, pois é<br />
o momento on<strong>de</strong> é exigida da criança uma atenção voltada para as ativida<strong>de</strong>s<br />
sistematizadas. Nesse senti<strong>do</strong>, por meio da ludicida<strong>de</strong> é possível <strong>de</strong>senvolver na criança<br />
a memória, estimular a atenção, se apropriar <strong>de</strong> conceitos e respeitar regras, condições<br />
importantes para que a criança supere suas dificulda<strong>de</strong>s.<br />
É por meio <strong>do</strong> <strong>lúdico</strong> que a criança centraliza suas energias, ultrapassa suas<br />
dificulda<strong>de</strong>s, reconstrói sua realida<strong>de</strong>, cria condições favoráveis à fantasia e a<br />
transforma em uma fonte <strong>de</strong> prazer. E isso não está apenas <strong>no</strong> ato <strong>de</strong> brincar, <strong>no</strong> ato <strong>de</strong><br />
ler, essa prática proporciona o <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem, <strong>do</strong> pensamento e da<br />
concentração.<br />
Dessa forma, vimos que é necessário respeitar o <strong>de</strong>senvolvimento da criança, favorecer<br />
um ambiente propício à aprendizagem por meio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s lúdicas que favoreçam<br />
seu <strong>processo</strong> <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e <strong>de</strong> aprendizagem. A criança matriculada <strong>no</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong><br />
ensi<strong>no</strong> fundamental muitas vezes não completou seis a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, isso significa que<br />
necessita se apropriar <strong>de</strong> conceitos necessários para o <strong>de</strong>senvolvimento acadêmico.<br />
Nesse senti<strong>do</strong> a criança inserida em um ambiente que se preocupa apenas com a<br />
aplicação <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>s científicos e não leva em conta sua aprendizagem natural por<br />
9
meio das brinca<strong>de</strong>iras e <strong>do</strong> jogo simbólico, prejudica a criança em seu <strong>processo</strong> <strong>de</strong><br />
ensi<strong>no</strong> e <strong>de</strong> aprendizagem queiman<strong>do</strong> etapas <strong>de</strong> aprendizagem e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
causan<strong>do</strong> mais tar<strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
Em busca <strong>de</strong> respostas<br />
Devi<strong>do</strong> ao baixo rendimento <strong>do</strong>s alu<strong>no</strong>s nas séries iniciais, realizou-se uma pesquisa<br />
para i<strong>de</strong>ntificar a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> horas/aulas que são <strong>de</strong>stinadas a ativida<strong>de</strong>s lúdicas <strong>no</strong><br />
cotidia<strong>no</strong> das crianças, uma vez que a ativida<strong>de</strong> lúdica é um estimulo para que o<br />
aprendiza<strong>do</strong> se torne significativo.<br />
Nosso objetivo nessa investigação é apresentar apenas a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> horas que são<br />
<strong>de</strong>dicadas realmente a ludicida<strong>de</strong> <strong>no</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s, em duas<br />
escolas municipais <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Sarandi. Foi realizada a análise <strong>do</strong> pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> aula <strong>de</strong><br />
duas professoras <strong>do</strong> 1º a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> 9 a<strong>no</strong>s <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Sarandi. Esperamos,<br />
posteriormente em outro momento, apresentar encaminhamentos que, <strong>de</strong> alguma forma,<br />
contribuam para que a presença <strong>do</strong> <strong>lúdico</strong> seja utilizada <strong>de</strong> forma significativa <strong>no</strong><br />
<strong>processo</strong> <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>-aprendizagem <strong>do</strong>s alu<strong>no</strong>s <strong>do</strong> município.<br />
A primeira professora atua em uma escola localizada <strong>no</strong> centro <strong>do</strong> município, aten<strong>de</strong><br />
uma clientela bem diferente da segunda professora, pois esta atua em uma escola<br />
consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> periferia, em um <strong>do</strong>s bairros mais carentes <strong>do</strong> município. Outra<br />
diferença que <strong>de</strong>ve ser levada em consi<strong>de</strong>ração é o tempo <strong>de</strong> atuação que difere entre<br />
elas, a primeira professora está <strong>no</strong> município há apenas três a<strong>no</strong>s, mas já atua na área há<br />
<strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s. Já a segunda professora está <strong>no</strong> município há <strong>do</strong>ze a<strong>no</strong>s, mas atua na área há<br />
mais <strong>de</strong> quinze.<br />
Escolhemos a pesquisa bibliográfica, porque segun<strong>do</strong> Gil (2006) uma pesquisa<br />
bibliográfica se <strong>de</strong>senvolve a partir <strong>de</strong> materiais já elabora<strong>do</strong>s tai como: artigos, livros,<br />
revistas, dissertações, entre outros. Para tanto, consi<strong>de</strong>ra-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que em<br />
todas as pesquisas um levantamento bibliográfico sobre o assunto para <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong>senvolver uma pesquisa que analise to<strong>do</strong> o <strong>processo</strong>. A pesquisa bibliográfica é<br />
10
importante porque por meio <strong>de</strong>la se obtém da<strong>do</strong>s relevantes para a pesquisa e ao mesmo<br />
tempo <strong>no</strong>s possibilita ter acesso a informações da <strong>no</strong>ssa história.<br />
Sabemos que <strong>no</strong> âmbito educacional, é comum se <strong>de</strong>stacar as pesquisas quantitativas,<br />
porem são os aspectos qualitativos que po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver <strong>no</strong>vas alternativas<br />
meto<strong>do</strong>lógicas que venham contribuir com uma mudança significativa em educação,<br />
diminuin<strong>do</strong> um índice forneci<strong>do</strong> pela pesquisa quantitativa, obten<strong>do</strong> assim o valor<br />
qualitativo das práticas pedagógicas que apresentam resulta<strong>do</strong>s possíveis <strong>de</strong> aplicações.<br />
A pesquisa quantitativa permite a mensuração <strong>de</strong> opiniões, reações, hábitos e atitu<strong>de</strong>s<br />
em um universo, por meio <strong>de</strong> uma amostra que a represente estatisticamente. Segun<strong>do</strong><br />
Ethos (2002) a pesquisa quantitativa é especialmente projetada para gerar medidas<br />
precisas e confiáveis que permitam uma análise estatística.<br />
Diante das análises <strong>do</strong> pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> aula, foi cria<strong>do</strong> um quadro com a quantida<strong>de</strong> em horas<br />
<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s lúdicas presentes <strong>no</strong>s pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> aula das duas professoras <strong>do</strong> município.<br />
1ª professora<br />
2ª professora<br />
Carga horária anual Carga horária total <strong>de</strong><br />
800 horas<br />
ativida<strong>de</strong>s lúdicas.<br />
140 horas/aula<br />
800 horas 50 horas/aula<br />
Observa-se que a primeira professora apresentou ativida<strong>de</strong>s lúdicas sistematizadas com<br />
maior freqüência, essa professora apresenta uma preocupação diária com o brincar<br />
<strong>de</strong>ntro na sala <strong>de</strong> aula. Nas ativida<strong>de</strong>s propostas para o primeiro bimestre, e<br />
principalmente das que fazem parte <strong>do</strong> início <strong>do</strong> a<strong>no</strong> letivo, aparece com maior<br />
frequencia, ativida<strong>de</strong>s fora <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, com objetos concretos para levar o alu<strong>no</strong> que<br />
ingressa <strong>no</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s ao aprendiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma significativa.<br />
É <strong>no</strong>tável também que toda vez que um conteú<strong>do</strong> <strong>no</strong>vo está sen<strong>do</strong> proposto, a<br />
professora busca recursos diferencia<strong>do</strong>s para <strong>de</strong>spertar um interesse maior <strong>no</strong>s alu<strong>no</strong>s,<br />
crian<strong>do</strong> um ambiente agradável e propício ao ensi<strong>no</strong>. Um <strong>de</strong>sses recursos utiliza<strong>do</strong>s pela<br />
primeira professora é o <strong>de</strong> uma “caixa surpresa”, on<strong>de</strong> é coloca<strong>do</strong> algum objeto que<br />
esteja relaciona<strong>do</strong> ao conteú<strong>do</strong> que será ministra<strong>do</strong> na aula daquele dia. É proposto uma<br />
11
oda <strong>de</strong> conversa para que as crianças, por meio <strong>de</strong> pistas, <strong>de</strong>scubram qual o objeto que<br />
está <strong>de</strong>ntro da caixa e como ele está relaciona<strong>do</strong> ao conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> dia.<br />
Essa prática promove o enriquecimento <strong>do</strong> vocabulário <strong>do</strong>s alu<strong>no</strong>s, estimula a<br />
imaginação da criança e trabalha com a ansieda<strong>de</strong> da turma, pois para muitos <strong>do</strong>s alu<strong>no</strong>s<br />
<strong>do</strong> primeiro a<strong>no</strong>, este é o primeiro contato com o ensi<strong>no</strong> sistematiza<strong>do</strong>.<br />
Outra prática da professora é <strong>de</strong> iniciar a aula, com uma conversa em que to<strong>do</strong>s estão<br />
senta<strong>do</strong>s <strong>no</strong> chão. Nesta conversa a professora esclarece o que será trabalha<strong>do</strong> nesse dia<br />
e como serão realizadas as ativida<strong>de</strong>s. Assim, a criança se sente segura quanto a sua<br />
rotina, ten<strong>do</strong> tranqüilida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>senvolver as ativida<strong>de</strong>s propostas para aquele dia.<br />
Com o passar <strong>do</strong> tempo, <strong>no</strong>ta-se que as ativida<strong>de</strong>s lúdicas são substituídas por<br />
ativida<strong>de</strong>s concretas, respeitan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento da criança e sua adaptação escolar.<br />
Visto que a criança <strong>do</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s, geralmente, foi transferida<br />
<strong>de</strong> centros <strong>de</strong> educação infantil on<strong>de</strong> sua rotina é totalmente diferente <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong><br />
fundamental.<br />
Leontiev (1994) contribui ao afirmar que, mesmo quan<strong>do</strong> a criança passa a frequentar o<br />
ensi<strong>no</strong> fundamental, em que se exige <strong>de</strong>la maior compromisso com a escolarização<br />
formal, não se apaga “[...] o elemento infantil, o elemento verda<strong>de</strong>iramente pré-escolar<br />
que existe nela”, ou seja, ela não per<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma hora para outra a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> brincar,<br />
fantasiar, imaginar, criar, ou seja, <strong>de</strong> agir <strong>no</strong> mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma lúdica.<br />
Diferente da primeira professora, a segunda não <strong>de</strong>monstra uma preocupação com o<br />
brincar em sala <strong>de</strong> aula como a primeira apresenta em seus pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> aula. Nos<br />
primeiros dias <strong>de</strong> aula a segunda professora traz algumas brinca<strong>de</strong>iras, mas nenhuma<br />
<strong>de</strong>las com os objetivos sistematiza<strong>do</strong>s <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o conteú<strong>do</strong> proposto.<br />
A falta <strong>de</strong> objetivo em suas ativida<strong>de</strong>s, consi<strong>de</strong>radas pela professora, como lúdicas, é<br />
algo frequente em seus pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> aula. A ludicida<strong>de</strong> aparece algumas vezes <strong>no</strong> final <strong>do</strong><br />
dia letivo apenas como brinque<strong>do</strong>s espalha<strong>do</strong>s pelo chão. Sabemos que essa prática não<br />
apresenta nenhum objetivo e nenhuma contribuição <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento motor e<br />
cognitivo <strong>de</strong> seus alu<strong>no</strong>s. Rocha (2007), afirma que:<br />
as brinca<strong>de</strong>iras são apenas permitidas, como um momento em que<br />
as crianças “gastam energia” e se recuperam para a próxima<br />
12
ativida<strong>de</strong> dirigida. [...] as brinca<strong>de</strong>iras são muitas vezes tratadas<br />
como “pausa pedagógica” necessária apenas para a continuida<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> trabalho (p. 273)<br />
A segunda professora apresenta como proposta pedagógica para seus alu<strong>no</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
inicio <strong>do</strong> a<strong>no</strong> letivo, ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cópia e dita<strong>do</strong>s que muitas vezes são práticas que não<br />
apresentam um significa<strong>do</strong> real para as crianças que estão sen<strong>do</strong> inseridas <strong>no</strong> primeiro<br />
a<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s, uma vez que para muitas <strong>de</strong>las, este é o primeiro contato com o<br />
ensi<strong>no</strong> sistematiza<strong>do</strong>.<br />
Nota-se uma diferença significativa entre a primeira e a segunda professora quanto ao<br />
número <strong>de</strong> horas <strong>de</strong>dicadas a ludicida<strong>de</strong>. Analisan<strong>do</strong> os pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> aula <strong>do</strong>s quatro<br />
bimestres <strong>do</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2010 das duas professoras, é evi<strong>de</strong>nte que a primeira se preocupa<br />
mais com o <strong>lúdico</strong> mais <strong>do</strong> que a segunda. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> horas <strong>de</strong>stinadas a<br />
ativida<strong>de</strong>s lúdicas e momentos <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s as brinca<strong>de</strong>iras é <strong>de</strong> 140horas/aula, isso<br />
significa que foram propostas mais <strong>de</strong> 200 ativida<strong>de</strong>s lúdicas durante o a<strong>no</strong> letivo <strong>de</strong><br />
2010.<br />
Percebe-se que a segunda professora não apresenta a mesma preocupação com o <strong>lúdico</strong>,<br />
um <strong>do</strong>s motivos que <strong>de</strong>ve ser leva<strong>do</strong> em conta é a diferença <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> entre elas. A<br />
segunda professora atua há mais tempo que a primeira, apresentan<strong>do</strong> uma atuação mais<br />
próxima ao mo<strong>de</strong>lo tradicional. A primeira é mais jovem teve uma formação<br />
diferenciada. Além disso, <strong>de</strong>vemos levar em conta que muitos profissionais por falta <strong>de</strong><br />
formação têm exigi<strong>do</strong> das crianças <strong>do</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s o mesmo<br />
rendimento acadêmico da 1ª série <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> fundamental. Essa questão não será<br />
discutida, pois não é o objetivo proposto da pesquisa.<br />
No entanto, é importante consi<strong>de</strong>rar as mudanças ocorridas <strong>no</strong> sistema <strong>de</strong> educação em<br />
que é inserida crianças <strong>de</strong> seis a<strong>no</strong>s <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> fundamental. O ensi<strong>no</strong> básico <strong>de</strong> oito<br />
a<strong>no</strong>s para <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s gerou <strong>no</strong>s professores uma incerteza <strong>de</strong> como trabalhar o primeiro<br />
a<strong>no</strong>, quais os conteú<strong>do</strong>s pertinentes e qual a postura que o <strong>do</strong>cente <strong>de</strong>ve ter, uma vez<br />
que as crianças <strong>de</strong> seis a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>senvolviam ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pré III. Ocorre que, com o<br />
ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s, os professores <strong>de</strong> primeiro a<strong>no</strong>, na sua maioria, trabalham a<br />
<strong>alfabetização</strong>, enquanto que <strong>no</strong> pré III era prioriza<strong>do</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor das<br />
crianças em algumas escolas.<br />
13
De acor<strong>do</strong> com o <strong>do</strong>cumento “Ensi<strong>no</strong> Fundamental <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s: Orientações para a<br />
inclusão da criança <strong>de</strong> seis a<strong>no</strong>s” produzi<strong>do</strong>s pelo Ministério da Educação (MEC), o<br />
brincar <strong>de</strong>ve ser concebi<strong>do</strong> como um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser e estar <strong>no</strong> mun<strong>do</strong>. Nesse <strong>do</strong>cumento,<br />
questiona-se: “o espaço <strong>do</strong> brincar nas <strong>no</strong>ssas escolas é apenas passatempo e liberação-<br />
reposição <strong>de</strong> energia para alimentar o trabalho?” (BRASIL, 2007, p. 41).<br />
Sabemos que a função <strong>do</strong> brincar não é <strong>de</strong> apenas “liberação <strong>de</strong> energia” e sim uma<br />
forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento psíquico e motor das crianças.<br />
.Consi<strong>de</strong>rações finais<br />
O objetivo <strong>de</strong>ste artigo foi apresentar a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> horas/aula que são <strong>de</strong>dicadas a<br />
ludicida<strong>de</strong> <strong>no</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s, em duas escolas municipais <strong>de</strong><br />
Sarandi.<br />
Notou que um <strong>do</strong>s principais motivos <strong>do</strong> <strong>lúdico</strong> não fazer parte <strong>do</strong> cotidia<strong>no</strong> das<br />
crianças <strong>no</strong> material analisa<strong>do</strong> foi a falta <strong>de</strong> formação e capacitação <strong>do</strong>s professores para<br />
atuarem <strong>no</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s.<br />
O MEC (Ministério <strong>de</strong> Educação e Cultura) propõe uma mudança <strong>no</strong> currículo que<br />
<strong>no</strong>rteia o trabalho <strong>do</strong>s professores, na <strong>no</strong>va proposta, os conteú<strong>do</strong>s serão aplica<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />
forma mais lúdica, valorizan<strong>do</strong> as características <strong>de</strong> cada criança. O Ministério <strong>de</strong><br />
Educação recomenda ainda jogos, danças, contos e brinca<strong>de</strong>iras espontâneas que sejam<br />
usa<strong>do</strong>s como instrumentos pedagógicos, respeitan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo da<br />
criança (BRASIL, 2007). Pasqualini (2006, p.34) aponta como problema a falta <strong>de</strong><br />
clareza <strong>de</strong> uma proposta pedagógica:<br />
Não há ainda clareza acerca <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> pedagógico pertinente a esta<br />
<strong>no</strong>va série <strong>do</strong> Ensi<strong>no</strong> Fundamental. Ela passa a compor os “A<strong>no</strong>s<br />
Iniciais” ou o primeiro ciclo <strong>do</strong> segmento; <strong>no</strong> entanto, parece <strong>de</strong>spontar<br />
a tendência <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> „pré-ciclo‟: em Curitiba,<br />
por exemplo, a <strong>no</strong>va série vem sen<strong>do</strong> chamada <strong>de</strong> „Etapa Inicial‟; em<br />
outros municípios, <strong>de</strong> „Classe <strong>de</strong> Alfabetização‟ ou mesmo <strong>de</strong> „Sala <strong>de</strong> 6<br />
a<strong>no</strong>s‟. Se já não havia suficiente entendimento da natureza <strong>do</strong> trabalho a<br />
ser realiza<strong>do</strong> na Educação Infantil, tal medida vem certamente<br />
confundir ainda mais o professor.<br />
14
Com essa mudança, o professor que assume a turma <strong>do</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve<br />
a<strong>no</strong>s, não sabe ao certo qual a sua função, qual conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve ser trabalha<strong>do</strong> e<br />
procedimentos didáticos a serem utiliza<strong>do</strong>s. Uma vez que a Provinha Brasil que<br />
quantifica o rendimento escolar <strong>do</strong> alu<strong>no</strong>, principalmente o número <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s<br />
alfabetiza<strong>do</strong>s, ocorre <strong>no</strong> segun<strong>do</strong> a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> fundamental <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s. O MEC<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que <strong>no</strong> primeiro a<strong>no</strong> a função <strong>do</strong> professor é dar continuida<strong>de</strong> a fase<br />
da pré-escola, enfatizan<strong>do</strong> o faz-<strong>de</strong>-conta, a estimulação da imaginação, as brinca<strong>de</strong>iras,<br />
as ativida<strong>de</strong>s lúdicas, e outras ativida<strong>de</strong>s relacionadas ao seu <strong>de</strong>senvolvimento. Por<br />
outro la<strong>do</strong>, esse mesmo órgão cobra <strong>do</strong>s professores o sucesso <strong>do</strong>s alu<strong>no</strong>s na Provinha<br />
Brasil, que é aplicada <strong>no</strong> início <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> a<strong>no</strong>. Com essa cobrança <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s<br />
positivos nessas avaliações elaboradas pelo próprio MEC, o professor <strong>do</strong> primeiro a<strong>no</strong><br />
sente-se pressiona<strong>do</strong> pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alfabetizar as crianças logo que inicia o a<strong>no</strong>,<br />
não respeitan<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> brincar das crianças que ali estão. Segun<strong>do</strong> Rocha<br />
(2007, p. 272):<br />
A priorização <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>s e práticas escolarizantes <strong>no</strong> dia-a-dia das<br />
crianças revela que há uma tendência <strong>de</strong> se colocar em primeiro pla<strong>no</strong> a<br />
garantia <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s, em geral os<br />
culturalmente mais valoriza<strong>do</strong>s (lógico matemáticos, letramento, etc.).<br />
Outras aprendizagens e possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, como da<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> brincar <strong>de</strong> faz-<strong>de</strong>-conta e da imaginação, em geral, ficam<br />
<strong>de</strong>sloca<strong>do</strong>s para segun<strong>do</strong>, terceiro pla<strong>no</strong>s. Esta priorização costuma<br />
ocorrer ora <strong>de</strong> maneira explícita (na priorização das chamadas<br />
ativida<strong>de</strong>s dirigidas em que são trabalha<strong>do</strong>s os conceitos acima<br />
menciona<strong>do</strong>s), ora aproveitan<strong>do</strong> as situações <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras para<br />
agregar conteú<strong>do</strong>s escolares; este último tipo <strong>de</strong> procedimento tem si<strong>do</strong><br />
<strong>no</strong>mea<strong>do</strong> na literatura como didatização[...] ou instrumentalização <strong>do</strong><br />
brincar [...].<br />
Nesse senti<strong>do</strong>, percebe-se que a primeira professora está mais próxima <strong>do</strong>s<br />
encaminhamentos <strong>do</strong> MEC quanto ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s lúdicas <strong>no</strong><br />
primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s. A análise <strong>do</strong>s pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> aula não é uma forma <strong>de</strong><br />
con<strong>de</strong>nar o trabalho da segunda professora, pois a mesma tem contribuí<strong>do</strong> e muito com<br />
a formação <strong>de</strong> muitos alu<strong>no</strong>s durante to<strong>do</strong>s esses a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> atuação. Destaca-se a<br />
<strong>importância</strong> da formação <strong>de</strong> professores para atuar <strong>no</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> 9 a<strong>no</strong>s.<br />
No entanto, percebe-se por meio <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos elabora<strong>do</strong>s pelo MEC que existe uma<br />
15
contradição, uma vez que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s lúdicas e ao mesmo<br />
tempo exige que to<strong>do</strong>s os alu<strong>no</strong>s <strong>no</strong> segun<strong>do</strong> a<strong>no</strong> estejam alfabetiza<strong>do</strong>s.<br />
Como já foi aponta<strong>do</strong> anteriormente um aspecto que gera certa ansieda<strong>de</strong> <strong>no</strong> professor é<br />
a aplicação da Provinha Brasil, que é aplicada <strong>no</strong> segun<strong>do</strong> a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s<br />
com o objetivo <strong>de</strong> avaliar o nível <strong>de</strong> <strong>alfabetização</strong> <strong>do</strong>s alu<strong>no</strong>s/turmas <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s inicias <strong>do</strong><br />
ensi<strong>no</strong> fundamental; diag<strong>no</strong>sticar possíveis insuficiências das habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e<br />
escrita. (INEP, 2011).<br />
Com esses objetivos os professores interpretam que é preciso alfabetizar as crianças<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo <strong>do</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> la<strong>do</strong> as ativida<strong>de</strong>s<br />
lúdicas e dinâmicas, que <strong>de</strong>veriam ser a priorida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s iniciais da escolarização.<br />
Vimos à <strong>importância</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s lúdicas <strong>no</strong> <strong>processo</strong> <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e<br />
<strong>de</strong> aprendizagem <strong>do</strong>s alu<strong>no</strong>s e como a ausência <strong>de</strong>la prejudica o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
criança. Assim, <strong>de</strong>stacamos a <strong>importância</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver pesquisas relacionadas ao<br />
tema para fomentar discussões que evi<strong>de</strong>nciam a falta <strong>de</strong> encaminhamentos<br />
meto<strong>do</strong>lógicos para os professores que atuam <strong>no</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s e<br />
apresentar propostas que possam amenizar a problemática apresentada.<br />
Referencias<br />
BRASIL, Ministério da Educação. Ensi<strong>no</strong> Fundamental <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s: orientações para<br />
a inclusão da criança <strong>de</strong> seis a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Brasília, DF: MEC, 2007.<br />
BRASIL. Ministério da Educação e <strong>do</strong> Desporto. Secretaria <strong>de</strong> Educação<br />
Fundamental. Referencial curricular nacional para a Educação Infantil. Brasília:<br />
MEC/SEF, 1998.<br />
COLL, C. et. al. senvolvimento psicológico e educação: Necessida<strong>de</strong>s especiais e<br />
aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997<br />
DOCKRELL, J. et. al. Crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem: Uma abordagem<br />
cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.<br />
GIL, A.C. Como elaborar projetos <strong>de</strong> pesquisa. São Paulo: Atlas S.A., 2006.<br />
Instituto Ethos <strong>de</strong> pesquisa - Disponível em http://www.ethos.com.br Acesso em :<br />
04/08/211<br />
INEP, Instituto Nacional <strong>de</strong> Educação e Pesquisas Educacionais Anísio<br />
Teixeira. Disponível em http://provinhabrasil.inep.gov.br/ acessa<strong>do</strong> em: 23/09/2011.<br />
16
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Livraria<br />
Pioneira Editora, 1994.<br />
LEONTIEV, Alexei Nikolaevich. Uma contribuição à teoria <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
psique infantil. In: LEONTIEV, Alexei Nikolaevich, VYGOTSKY, Lev Seme<strong>no</strong>vich,<br />
LURIA, Alexan<strong>de</strong>r Roma<strong>no</strong>vich. Linguagem, <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem. São<br />
Paulo: Ícone, 1994. p. 59-83.<br />
LOPES, Vanessa Gomes, Linguagem <strong>do</strong> Corpo e Movimento. Curitiba, PR: FAEL,<br />
2006.<br />
MORAIS, A. M. P. Distúrbios da aprendizagem: uma abordagem psicopedagógica.<br />
São Paulo: Edicon, 1986.<br />
OLIVEIRA, Z. R. De. Educação Infantil: Fundamentos e Méto<strong>do</strong>s. Ed. São Paulo:<br />
Cortez, 2002.<br />
PASQUALINI, Juliana Campregher. Contribuições da Psicologia HistóricoCultural<br />
para a educação escolar <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> 0 a 6 a<strong>no</strong>s: <strong>de</strong>senvolvimento infantil e<br />
ensi<strong>no</strong> em Vigotski, Leontiev e Elkonin. 2006. 206 f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong>) -<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências e Letras, Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista Julio <strong>de</strong> Mesquita<br />
Filho, Araraqura, SP, 2006.<br />
ROCHA, Maria Silvia Pinto <strong>de</strong> Moura Librandi da. O ensi<strong>no</strong> da psicologia e a<br />
educação infantil: a <strong>no</strong>va política pública para a educação infantil e o ensi<strong>no</strong><br />
fundamental e suas possíveis repercussões para o <strong>de</strong>senvolvimento psicológico<br />
infantil, ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v. 8, n. 2, p. 266-277, 2007.<br />
SIMPSON, D. M. Apren<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a apren<strong>de</strong>r. Curitiba: Cultrix, 1973.<br />
VIGOTSKI. L. S. A formação social a mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007.<br />
WINNICOTT, D. W. O brincar e a realida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1995.<br />
17