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Resumo - DFE

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ<br />

Curso de Pedagogia<br />

4728 – Trabalho de Conclusão de Curso<br />

MICHELE BORGES DA COSTA<br />

O BRINCAR E SUAS IMPLICAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

MARINGÁ<br />

2011


MICHELE BORGES DA COSTA<br />

O BRINCAR E SUAS IMPLICAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

Trabalho apresentado ao Curso de Pedagogia<br />

da Universidade Estadual de Maringá como<br />

requisito parcial da disciplina Trabalho de<br />

Conclusão de Curso.<br />

Orientadora: Profª. Drª. Heloisa Toshie Irie<br />

Saito.<br />

MARINGÁ<br />

2011


O BRINCAR E SUAS IMPLICAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

PARECER DA BANCA EXAMINADORA<br />

ALUNO(A): Michele Borges da Costa<br />

DATA DA DEFESA: _____/_____/_____<br />

Trabalho apresentado nesta data ao Curso de Pedagogia da Universidade<br />

Estadual de Maringá como requisito da disciplina Trabalho de Conclusão de<br />

Curso, examinado pela Banca Examinadora composta pelos professores:<br />

_______________________________________<br />

Profª. Drª. Heloisa Toshie Irie Saito (Orientador)<br />

______________________________________<br />

Profª. Drª. Tânia Alvarez da Silva (Professor Convidado)<br />

PARECER CONCLUSIVO:<br />

______________________________________<br />

Profª. Drª. Marta Chaves (Professor Convidado)<br />

_______________________________________________________________<br />

_______________________________________________________________<br />

_______________________________________________________________


A minha família,<br />

A minha mãe, meu marido, minhas irmãs,<br />

sogros, e filho que sempre me deram carinho e<br />

incentivo para nunca desistir.<br />

A minha orientadora,<br />

pela paciência, motivação e carinho que foram<br />

essenciais para a conclusão deste trabalho.


AGRADECIMENTOS<br />

Agradeço a Deus, por tudo, sempre.<br />

Agradeço a todas as pessoas que direta ou indiretamente têm me ajudado para<br />

a realização deste trabalho. Especialmente aos meus familiares por terem me<br />

ajudado sempre em tudo que puderam, transmitindo valores nobres como o<br />

trabalho honesto e correto. Agradeço sobretudo à minha mãe pelo exemplo de<br />

perseverança e força, que me impulsionaram a continuar sem desanimar.<br />

Agradeço aos professores que fizeram parte de minha trajetória acadêmica,<br />

pelo compromisso sério e dedicado que têm com o trabalho que desenvolvem,<br />

oferecendo excelente formação aos alunos. Em especial ao Jorge Cantos que<br />

me deu forças para continuar a pesquisa com esse eixo temático.<br />

Agradeço infinitamente à minha orientadora, sobretudo, pela orientação<br />

competente, humilde, paciente, séria, adequada, dedicada, enfim pelo<br />

excelente exemplo enquanto profissional, oferecendo condições plenas para a<br />

formação completa de seus alunos, entre os quais felizmente, eu me incluo.<br />

Agradeço aos meus amigos.<br />

E finalmente, agradeço aos grandes amores da minha vida... Vinicius e Edson.


“As crianças não brincam de brincadeira,<br />

brincam de verdade”<br />

(Mário Quintana).


RESUMO<br />

A presente pesquisa visa discutir a importância e os benefícios que o brincar<br />

proporciona ao desenvolvimento infantil. Sendo assim conceituaremos o<br />

brincar e argumentaremos acerca dos benefícios que o lúdico proporciona ao<br />

desenvolvimento cognitivo das crianças e apresentaremos a construção<br />

histórica da infância a fim de contextualizar o brincar. Entendemos também ser<br />

primordial considerar o papel do professor perante o lúdico, com vistas a<br />

contribuir com seu trabalho pedagógico, sendo que um dos desafios deste<br />

profissional é entender o cuidar e o educar de forma indissociada, sem<br />

privilegiar um em detrimento do outro, pois alguns professores se perdem em<br />

meio a tantas tarefas de cuidar e zelar, e acabam se distanciando de seu papel<br />

de educador. Defendemos a educação infantil como espaço lúdico capaz de<br />

promover interações e o desenvolvimento de forma prazerosa, pois essas<br />

atividades ajudam a construir o conhecimento, uma vez que as crianças podem<br />

expressar diferentes sentimentos e, gradativamente, aceitar a existência do<br />

outro. São ações que visam melhorar a socialização entre as crianças, fazendo<br />

com que vivenciem situações de colaboração, trabalho em equipe e respeito,<br />

motivando-as a ultrapassarem seus próprios limites, pois enquanto brinca, a<br />

criança está pensando, criando e desenvolvendo. Para realizar as discussões<br />

organizamos a pesquisa em três partes. Inicialmente apresentaremos a<br />

construção histórica da infância e do brincar, na sequência discutiremos os<br />

benefícios do brincar apontando o estudo de alguns pesquisadores,<br />

enfatizando as contribuições de Vygotsky. Depois disso, faremos algumas<br />

considerações sobre o papel do professor frente ao ato de brincar nas<br />

instituições de educação infantil. Desta forma, esperamos oferecer uma<br />

discussão acerca da importância do brincar na vida do ser humano, e em<br />

especial na vida da criança, por meio de análise de informações em formato de<br />

pesquisa bibliográfica. Constatamos a necessidade de tornar o brincar uma<br />

atividade sistematizada para atender aos fins da aprendizagem, dosado com<br />

momentos de brincadeiras livres com a participação dos professores,<br />

oportunizando momentos de criação, interação e autonomia intelectual.<br />

Palavras-chave: Infância. Brincar. Desenvolvimento. Professor.


ABSTRACT<br />

This present research intends to discuss the importance and the benefits that<br />

play offers to the child development. Therefore, we will conceptualize play and<br />

question about the benefits that the ludic offers to the cognitive development of<br />

the children and show the historical construction of the childhood in order to<br />

contextualize play. We understand, as well, that it is essential to consider the<br />

role of the teacher towards the ludic once that one of the challenges of this<br />

professional is to understand caring and educating inextricably, without<br />

privileging one and disprivileging another, because some teachers loose<br />

themselves in between so many tasks of caring and warmth that they get<br />

distant from their role as an educator. We defend the child education as a ludic<br />

space where the children can interact and develop themselves in a pleasurable<br />

way because these activities help to build knowledge once that children can<br />

express different feelings and accept, gradually, the existence of another<br />

person. These are actions which aim to improve the socialization among<br />

children, making them experience collaborative situations, team work and<br />

respect; and motivating them to surpass their own limits because while the<br />

children play, they think, create and develop. To accomplish this discussion, this<br />

research was divided in three parts. Firstly, we will introduce the historical<br />

construction of the childhood and play; then, we will discourse about the<br />

benefits of playing and point the study of some researchers emphasizing<br />

Vygotsky contributions. After that, we will make some considerations about the<br />

role of the teacher towards the act of playing in the institutions of child<br />

education. So, we hope to offer a discussion about the importance of play in the<br />

life of the human being, specially the child‟s, through analysis of information in<br />

the form of literature. We see the need to make the play a systematic activity to<br />

meet the purposes of learning, dosed with moments of free play with the<br />

participation of teachers, offer moments of creation, interaction and intellectual<br />

autonomy.<br />

Keywords: Childhood. Play. Development. Teacher.


SUMÁRIO<br />

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 9<br />

2 HISTÓRICO DA INFÂNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES NO BRINCAR ......... 14<br />

3 O PAPEL DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO HUMANO ................. 27<br />

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 39<br />

REFERÊNCIAS ............................................................................................... 41


1 INTRODUÇÃO<br />

Minha atuação como aluna de magistério e recentemente do curso de<br />

pedagogia, assim como minhas vivências em alguns centros de educação infantil me<br />

impulsionaram a questionar alguns aspectos sobre a educação infantil, dentre os<br />

quais, o fato de alguns professores realmente se perderem, em meio a tantas tarefas<br />

de cuidar e zelar, e acabarem se distanciando de seu papel de educador, e em<br />

alguns casos assimilando o brincar como um momento de descontração, como um<br />

tempo destinado a deixar as crianças livres para gastar energia.<br />

Percebi que a profissão de professor é constantemente estigmatizada; muitos<br />

pais e integrantes da comunidade pensam que o professor não interfere no<br />

desenvolvimento das crianças e até os próprios professores passam a acreditar<br />

nisto, limitando sua prática apenas com o cuidar, não podemos desconsiderar o<br />

caráter educativo que permeia o cuidar, porém este não deve ser o único<br />

instrumento educativo oferecido pela educação infantil.<br />

Cerisara (2002) define a ocupação docente, sem determinar um perfil para as<br />

profissionais, dizendo que essa profissão tem a predominância de mulheres das<br />

mais diferentes classe sociais, idade e raças, com trajetórias e expectativas<br />

diferentes, trabalhando em uma instituição em que os espaços públicos e<br />

domésticos se misturam, em uma profissão que oscila entre as funções maternas e<br />

docentes. A autora aponta que trabalhos acadêmicos no Brasil, com essa temática,<br />

têm sido permeados por uma visão negativa, de modo que características do<br />

trabalho doméstico e da maternidade têm se feito presentes nos ambientes da<br />

educação infantil, em detrimento da técnica e competência.<br />

Segundo Mello (1992), a condição feminina na educação infantil garante que<br />

se perpetue o senso comum, do qual confere à profissional o amor a vocação e a<br />

total falta de profissionalismo. Contrapondo-se a esses argumentos, Carvalho (1994)<br />

assinala que a profissão deve ser olhada com menos preconceito, e que a<br />

explicação acerca dessa situação não está nas trabalhadoras, mas na forma como a<br />

escola é entendida, ou seja, não há limites entre a esfera pública e doméstica.


- 10 -<br />

Mello (1992) complementa dizendo ser inquestionável que o magistério exige<br />

um relacionamento de aproximação com as pessoas, sendo difícil imaginar a relação<br />

entre adulto e crianças sem afetividade e sem que as mesmas incluam maternagem.<br />

Diante dessas constatações, defendemos a educação infantil como um<br />

espaço lúdico no qual a criança interage com adultos e entre si, de forma prazerosa,<br />

via vivências e atividades que proporcionem a construção de conhecimento. Nesse<br />

sentido a criança tende a se expressar de diferentes formas e, gradativamente,<br />

aceita e compreende a existência do” outro”. Para tanto essas ações e condutas<br />

exigem uma reflexão acerca do professor nas instituições escolares- Educação<br />

Infantil.<br />

Sabemos que o brincar é um direito da criança como apresenta o documento<br />

internacional Declaração Universal dos Direitos da Criança – ONU (20/11/1989) o<br />

qual afirma que: “ a criança deve ter todas as possibilidades de entregar-se aos<br />

jogos e às atividades recreativas, que devem ser orientadas para os fins visados<br />

pela educação; a sociedade e os poderes públicos devem esforçar-se por favorecer<br />

o gozo deste direito”. Infelizmente muitas autoridades não garantem estes direitos a<br />

crianças brasileiras uma vez que fazem parte da realidade nacional, crianças em<br />

situação de trabalho escravo; escolas sem brinquedos, sem parques, sem<br />

professores capacitados, sem brincadeiras, enfim sem o conhecimento necessário e<br />

especifico sobre a importância do brincar para o seu desenvolvimento.<br />

O ato de brincar, segundo Vygotsky (1988), faz com que a criança atue com<br />

diversos papéis sociais, internalizando normas de conduta e de valores que<br />

direcionam a nossa sociedade, pois se trata de um processo de imitação da<br />

realidade no qual a criança toma para si o papel de adulto, agindo acima de sua<br />

idade, exercitando suas funções psicológicas superiores.<br />

Entendemos que as atividades lúdicas ajudam a construir o conhecimento, já<br />

que a criança, no momento da brincadeira expressa à realidade que a circunda,<br />

organiza seu pensamento, expressa e desenvolve as diferentes linguagens,<br />

socializa-se e toma para si diversos papéis sociais. São ações que visam melhorar a<br />

socialização entre as crianças, fazendo com que vivenciem situações de<br />

colaboração, trabalho em equipe e respeito, motivando-as a ultrapassarem seus<br />

próprios limites, pois enquanto brinca, a criança está pensando, criando e se<br />

desenvolvendo.


- 11 -<br />

Acredita-se que em algumas escolas de educação infantil as brincadeiras são<br />

pouco utilizadas e, em alguns casos, vistas como se existissem fora do contexto<br />

escolar, como um processo a parte da educação, às vezes pela acomodação dos<br />

educadores ou pelo desconhecimento dos benefícios das brincadeiras para o<br />

desenvolvimento infantil.<br />

Entendemos ser indispensável a apresentação da construção histórica da<br />

infância, a fim de contextualizar a história do brincar e sua importância para o<br />

desenvolvimento infantil, uma vez que as concepções de infância mudaram no<br />

decorrer dos tempos. Segundo Áries (1981), até o século XII não se diferenciava o<br />

adulto da criança, ela era tida como um adulto em miniatura. Somente no final do<br />

século XVI, a criança passa a receber atenção da família, instituição essa que se<br />

torna mais íntima, fato que se deu principalmente pelo novo papel assumido pelo<br />

estado, pela alfabetização e ampliação do hábito de leitura com o surgimento da<br />

imprensa e também pelas novas formas de religião.<br />

Já no período do iluminismo, de acordo com Costa (2000) para Rousseau a<br />

criança nasce pura e é corrompida pela sociedade. Segundo o filósofo a intimidade<br />

guarda a pureza da natureza. Rousseau traz uma grande contribuição à concepção<br />

de infância da época, pela primeira vez na história se separa a mente da criança da<br />

do adulto e a palavra infância passa a significar criança.<br />

A partir do século XX surgiram outros modos de olhar e tratar a criança. Em<br />

1956, com a Declaração dos Diretos da Criança, pela primeira vez na história da<br />

humanidade a criança é reconhecida legalmente, vista como um ser humano<br />

singular de características específicas e com direitos próprios. Kraemer (1996) situa<br />

a criança como sujeito social, criador de cultura e com outro modo de enxergar a<br />

realidade.<br />

Segundo Postman (1999), atualmente as crianças têm se apropriado da<br />

linguagem e das imagens de forma diferente, influenciadas pelas tecnologias, os<br />

objetos culturais disponibilizados também sofreram mudanças. O autor chama<br />

atenção para o fato de que a infância, como a concebemos está, em extinção, as<br />

evidências vão desde o fato de as crianças estarem usando os mesmos estilos de<br />

vestimentas e linguagem dos adultos, os hábitos alimentares, a profissionalização<br />

precoce, o acesso a informações, até o aumento de crimes cometidos por crianças e


- 12 -<br />

a erotização precoce. Frente ao exposto entendemos que a criança está voltando a<br />

ser um adulto em miniatura.<br />

Tomando por base a atual concepção de infância, colocada por Postman<br />

(1999), ocorre-nos a seguinte incerteza: Será que há espaço para o brincar no<br />

cotidiano das escolas e das próprias crianças, já que os benefícios do brincar não<br />

sofreram alteração? Para Wajskop (1995) quando pensamos no brincar devemos<br />

considerar que a criança age além de sua idade reproduz papéis sociais faz uso da<br />

linguagem e de símbolos, além de internalizar normas de condutas e exercitar as<br />

capacidades psicológicas superiores.<br />

Dispomo-nos a discutir questões inerentes à instituição de educação infantil.<br />

Será que ela tem concebido seu papel discernindo com lucidez os extremos entre o<br />

cuidar e o educar? Ela reconhece sua função e sua especificidade em relação aos<br />

outros níveis de ensino? E no que tange aos cursos de formação de professores,<br />

nos compete debater se os mesmos também têm reconhecido a imparidade deste<br />

segmento.<br />

A presente pesquisa observa no brincar uma fonte do desenvolvimento infantil<br />

além de um importantíssimo recurso da prática docente. Por meio de sua dimensão<br />

pedagógica, entendemos que o brincar é um significativo instrumento de<br />

aprendizagem, por proporcionar situações imaginárias que acarretam no<br />

desenvolvimento cognitivo, além de ser um possibilitador de interações sociais que<br />

promovem o conhecimento. Por tanto, caracteriza-se como necessidade curricular<br />

indispensável aos cursos de formação que prezem formar profissionais para<br />

atuarem nas esferas da educação infantil, de forma a fazer-se necessário que se<br />

estabeleça nas grades curriculares o espaço que o mesmo mereça devido a<br />

amplitude de sua importância.<br />

Pretendemos com esta pesquisa discutir o papel do educador perante o<br />

lúdico, a fim de melhorar as condições de trabalho do educador infantil e<br />

concomitantemente o desenvolvimento das crianças. Assim como contribuir com o<br />

trabalho docente nas instâncias da educação infantil, por meio de discussões a<br />

respeito do papel do brincar no desenvolvimento infantil.<br />

Pensando neste processo organizamos, a presente pesquisa em três partes:<br />

1) Apresentação da construção histórica da infância, juntamente com as brincadeiras


- 13 -<br />

praticadas pelas crianças nos diferentes momentos históricos; 2) Apontamos os<br />

benefícios do brincar o parecer de alguns teóricos, enfatizando as contribuições de<br />

Vygotsky e 3) Tecemos algumas considerações acerca da educação infantil e<br />

discutimos algumas práticas que tem permeado os cursos de formação de<br />

professores e pesado negativamente na construção da identidade deste profissional,<br />

tecendo também algumas considerações acerca o papel do professor perante o<br />

lúdico.<br />

Desta forma, esperamos oferecer uma leitura mais consciente e consistente<br />

acerca da importância do brincar na vida do ser humano, e em especial na vida da<br />

criança, por meio de análise de informações, em formato de pesquisa bibliográfica.


2 HISTÓRICO DA INFÂNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES NO BRINCAR<br />

Este capítulo pretende contextualizar o brincar a fim de entender os<br />

significados atribuídos à criança no decorrer dos tempos e as formas com as quais o<br />

brincar se fez presente em cada época, bem como seus benefícios ao<br />

desenvolvimento humano.<br />

Os dados provenientes de inúmeros estudos etnográficos, antropológicos,<br />

referenciados por Elkonin (1998), em sua obra Psicologia do Jogo, mostram que nas<br />

sociedades mais primitivas conhecidas as crianças pouco brincavam. Desde muito<br />

cedo se viam envolvidas com as atividades de trabalho dos adultos, o que<br />

significava a busca pelo sustento, pela própria existência, e se ausentando do<br />

núcleo familiar. Essa postura não permitia estabelecer limites claros entre a fase<br />

adulta e a infância e as poucas brincadeiras observadas eram as imitações das<br />

atividades adultas, como uma espécie de treinamento.<br />

Já na Antiguidade, os filósofos gregos acreditavam e ressaltavam a<br />

possibilidade das crianças serem educadas a fim de se tornarem adultos racionais e<br />

ideais. Inclusive, partilhavam a ideia de que as crianças deveriam iniciar sua<br />

educação literária por meio do relato de mitos e não somente do relato oral de<br />

acontecimentos cotidianos e reais. Destacando como forma de desenvolver a mente<br />

humana e de certa forma valorizando o simbólico.<br />

Nesse tempo surge a ideia do jogo, como algo não sério com Aristóteles que<br />

o confronta com o trabalho sério. Segundo o estudioso se existe o jogo, logo existe o<br />

trabalho, e ao homem é dada a chance de “relaxar” em alguma atividade, ou em um<br />

conjunto delas, para que lhe seja devolvido o ânimo e as forças necessárias para<br />

retornar ao trabalho. À criança, como não trabalha, é dada a chance de gastar seu<br />

tempo em brincadeiras, algo considerado natural, próprio, espontâneo e mágico. Na<br />

Antiguidade brincavam adultos e crianças, em atividades compartilhadas ou não, ao<br />

ar livre, nos teatros, nas arenas e nas praças públicas. Servia para o relaxamento<br />

dos adultos e, depois, para as crianças entre as atividades “escolares” da época,<br />

para tais atividades preconizavam o uso do jogo, especialmente o de imitação de


- 15 -<br />

atividades adultas e, portanto, sérias, como forma de prepará-los para atividades<br />

futuras.<br />

Na Roma antiga, o jogo era visto como forma de treinamento para obtenção<br />

de vigor físico, com o objetivo de lutar, combater, entre gladiadores, real ou<br />

teatralmente, para a diversão geral, inclusive de crianças. Já as crianças jogavam<br />

para recrearem-se, mas, também, como exercícios para aprendizagem nas escolas.<br />

Segundo Kishimoto (1994) há referências nos escritos de Horácio e Quintiliano de<br />

doces destinados às crianças em forma de letras para que aprendessem as<br />

mesmas.<br />

Nos estudos históricos de Àries (1981) evidenciam que até no início dos<br />

tempos modernos não se diferenciava a criança do adulto e que ela deveria estar<br />

sempre calada sem merecer ser ouvida. O que não nos parece algo distante da<br />

realidade contemporânea, uma vez que se tornou natural vestirmos nossas crianças<br />

com roupas semelhantes as dos adultos e não dar a elas o direito de falarem e<br />

serem ouvidas. É como se todas as necessidades infantis pudessem ser sanadas<br />

por meio da antecipação de seus desejos, via brinquedos caros, roupas da moda,<br />

internet e programas televisivos.<br />

Esta situação está relacionada com o sentido etimológico da palavra Infantis,<br />

segundo o Dicionário Latino/Português significa: incapacidade de falar. Para Ariés<br />

(1981), o estado de não saber falar terminava aos sete anos, depois desta idade as<br />

crianças passam a se vestir como o adulto e se responsabilizar por sua<br />

sobrevivência, as crianças participavam ativamente do cotidiano dos adultos em<br />

passeios, reuniões sobre o trabalho e até mesmo em jogos sexuais. Esses<br />

comportamentos se justificam por não considerarem na criança uma inocência<br />

pueril.<br />

As crianças tinham um papel produtivo de utilidade na sociedade e a partir<br />

dos sete anos imitavam o adulto enquanto trabalhavam para ajudar no orçamento da<br />

família, cumprindo assim seu papel na sociedade.<br />

Nessa perspectiva, ser criança era estar na condição de quem não pensa,<br />

não age e nem raciocina. Segundo Ariés (1981), passar da condição de criança a<br />

adulto era uma questão de superação e a forma com que as crianças eram tratadas,<br />

devia ser também pelo fato de que as mesmas passavam pouquíssimo tempo com a


- 16 -<br />

família e a sociedade (7 anos) o que era insuficiente para que se tivesse uma ideia<br />

mais sensível ou elaborada sobre a infância. Ariés (1981) também compara esse<br />

período a velhice, afirmando que os jovens e adultos eram os responsáveis pelas<br />

atividades sociais na sociedade.<br />

O amor materno parecia não existir e a mortalidade infantil era encarada com<br />

naturalidade. Algumas famílias entregavam seus filhos para que fossem educados<br />

por outros pais, e se sobrevivessem voltariam ao lar para a vida em família e<br />

trabalho. Em alguns casos, elas eram substituídas por espécimes melhores, pois a<br />

sociedade estava construída em uma perspectiva utilitária da criança.<br />

Por volta do século XIII, instituiu-se uma imagem de criança pública e a<br />

preocupação com a continuidade da família. O parto por exemplo era assistido como<br />

um acontecimento público, assim como os batizados, ou seja os primeiros passos<br />

deveriam ser feitos em lugares públicos, sendo assistidos por outros a fim de<br />

garantir aos pais a prova da continuidade da família.<br />

Nesta linha de pensamento, Gélis (1991) diz que permeava essas sociedades<br />

a crença de que o indivíduo saía da terra via concepção e a tornará por meio de sua<br />

morte, concepção que aponta a consciência de corpo e vida diferente da que temos<br />

hoje, uma vez que estava voltada à preservação da linhagem, o que afirma a idéia<br />

de que o corpo não é unicamente do indivíduo, mas também dos outros; logo a<br />

criança era entendida como uma figura pública. Não havia espaço para o privado,<br />

tampouco sensibilidade ou laços afetivos entre pais e filhos.<br />

Segundo Ariés (1981), no final do século XVI, mudam-se os focos das<br />

preocupações, isto é, passou-se a garantir a vida da criança provendo-lhe condições<br />

de atenção da família e de higiene, evitando doenças. Desta forma a família torna-se<br />

mais íntima e privada, caráter que se dá principalmente pelo novo papel assumido<br />

pelo estado pela alfabetização e ampliação do hábito de leitura com o surgimento da<br />

imprensa, também pelas novas formas de religião.<br />

Somente no século XVII, a criança passa a ser concebida de outra forma, por<br />

meio de interferência do poder público e da Igreja, ao saber passa a não mais<br />

admitir o infanticídio de maneira passiva. A sociedade entende que cabe<br />

exclusivamente a mulher (amas e parteiras) o papel de proteger o bebê. Surge então<br />

uma nova concepção sobre a manutenção da vida infantil. Ainda segundo Áries


- 17 -<br />

(1981), essa mudança deu-se também pela cristianização dos costumes. Sendo<br />

assim, concebe-se novas formas de atender as crianças e as condições de saúde e<br />

higiene foram melhoradas. Por meio desse movimento religioso de cristianizar os<br />

costumes cria-se uma nova imagem de criança, relacionada a anjo e ao menino<br />

Jesus o que, de acordo com o autor, causou consternação e ternura nas pessoas.<br />

Essas mudanças também são sentidas no seio da família. A relação entre<br />

pais e filhos fica mais terna, fazendo brotar, o que Ariés (1981) chama de, o<br />

sentimento de infância. O surgimento desse novo sentimento se dá em dois<br />

momentos. O primeiro é a paparicação, algo impulsionado pela graciosidade e<br />

beleza da criança que passa a ser vista como um “bichinho de estimação” e suas<br />

gracinhas passam a ser admiradas, porém o fascínio não era compartilhado por<br />

todos, causando irritação entre as partes. Em um segundo momento, surge a<br />

perspectiva do apego, como resultado de um movimento contrário a paparicação,<br />

promovendo uma separação da criança e do adulto, para que ela possa ser educada<br />

em uma disciplina mais racional.<br />

Tratamento esse que gerou muitas críticas, pois de um lado acreditava-se que<br />

a criança era ingênua e precisava de “mimos‟ e de outro que ela estava em fase de<br />

crescimento e precisava de moral e educação, e os “mimos “ poderiam enfraquecê-<br />

las.<br />

Nesse contexto foi inspirada a educação das crianças, fundamentada<br />

precisamente no seio familiar, que passou a ter laços de afetividade para com seus<br />

filhos e mais preocupação com sua formação, ocasionando a necessidade de regras<br />

e normas de condutas, para atender aos novos anseios da sociedade que surgia.<br />

Sendo assim, a Igreja e o estado decidem dar fim a educação privada, tomando para<br />

si o encargo educativo, e os pais aceitam essa intromissão, pois se julgam<br />

incapazes de formar adequadamente seus filhos. A escola tinha como propósito<br />

preparar as crianças para o convívio social e moral estabelecido pela sociedade,<br />

concepção que irá distinguir a criança do adulto.<br />

Segundo Costa (2000), por motivos políticos a Igreja passa a fundar colégios<br />

com o intuito de controlar os fiéis e disseminar a fé cristã que estava ameaçada pelo<br />

absolutismo.


- 18 -<br />

De acordo com Kishimoto (1994), com a chegada do Cristianismo na<br />

civilização romana o jogar e o brincar se desvincularam das questões educacionais,<br />

uma vez que relacionou-se com aspectos pecaminosos dos adultos, tais como sexo<br />

e álcool. Para a Igreja da época, para aprender, bastava disciplina e boa memória,<br />

justificando assim a não utilidade dos jogos para fins educacionais.<br />

Na Idade Média o jogo também esteve associado, muito intimamente, com os<br />

prazeres e vícios adultos e se afastou da criança. No verbete da Encyclopédie de<br />

Diderot e d‟Alembert (ARIÉS, 1981, p. 45) sobre jogar: “diz-se de todas as<br />

ocupações frívolas, com as quais nos divertimos ou relaxamos, embora, muitas<br />

vezes, acarretem a perda da fortuna e da honra”.<br />

Conforme Costa (2000), Santo Agostinho, em suas Confissões, revela as<br />

punições em forma de castigos físicos que recebia quando menino na escola, por<br />

não se dedicar com afinco às leituras e às lições. Ele sentia prazer nos jogos, assim<br />

como aqueles que o castigavam sobre o pretexto de que os jogos impediam seu<br />

aproveitamento escolar e, deste modo, proibiam-lhe qualquer espécie de jogos.<br />

Contrapondo-se a isto, o Rei Afonso X, rei de Leão e Castela, em seu “Livro de<br />

Jogos”, anunciava, como que concedendo seu aval real, ao mesmo tempo divino,<br />

que era Deus quem queria que os homens tivessem muitos jogos com que se<br />

divertir e assim poderem obter conforto e alívio das preocupações.<br />

Segundo Ariés (1981), com a chegada da Idade Moderna, no que diz respeito<br />

ao aspecto moral dos jogos e das brincadeiras, nos quais todos participavam, criou-<br />

se uma certa tolerância generalizada, com a não aceitação manifestada apenas por<br />

uma minoria, os conservadores moralistas. Havia, também, uma distinção entre os<br />

tipos de jogos de uma camada social mais elevada, daqueles jogos dos menos<br />

abastados e os das crianças.<br />

As crianças no início desse período brincavam, e podiam estudar brincando.<br />

De acordo com Rocha (2002), Erasmo de Roterdam (1467-1536), em sua obra<br />

Civilidade Pueril fazia referências de boas maneiras a jovens e crianças sem<br />

distingui-las. Em outra obra sobre educação infantil, recomendava a deixarem as<br />

crianças comerem abecedários, feitos de massa de pastel, em ordem alfabética,<br />

como forma de ensiná-los. Entretanto, o brincar, que era um evento social, perde<br />

seu sentido comunitário, social, religioso para assumir seu lado mais fútil e<br />

individual. É neste aspecto que, transmitido ao longo do tempo, favoreceu o


- 19 -<br />

surgimento e a manutenção do preconceito em relação ao jogo - atividade fútil,<br />

permissiva e nociva.<br />

Já no período do Iluminismo, conforme Costa (2000) para Rousseau a criança<br />

nasce pura e é corrompida pela sociedade. Essa influência fez com que a sociedade<br />

priorizasse uma educação mais individualizada afastada dos colégios com<br />

preceptores, pois, segundo o filósofo a intimidade guarda a pureza da natureza.<br />

Acreditava também que a criança é uma tabula rasa, na qual o adulto pode ensinar o<br />

que quiser. Esse ideal trouxe uma grande contribuição à concepção de infância da<br />

época, uma vez que pela primeira vez na história se separa a mente da criança da<br />

do adulto, e a palavra infância passa a significar criança, fase designada ao sujeito<br />

até o início da puberdade.<br />

Ainda segundo o pensador, a criança deve ser educada partindo de seus<br />

interesses naturais, deve aprender a lidar com seus desejos e conhecer seus limites.<br />

Por acreditar na natureza boa do homem ao nascer, faz várias críticas a educação<br />

autoritária, diz ainda que a finalidade da educação é a inserção social e a<br />

humanização, mesmo a criança tendo recebido uma educação individualizada.<br />

Neste período a criança brinca, joga espontaneamente e se expressa,<br />

podendo aprender aspectos da moral, da ética, da história e da geografia. Brinca e,<br />

ao mesmo tempo, desenvolve a inteligência com isso, facilita o estudo, a<br />

aprendizagem dos conteúdos escolares e a saúde física. É o resgate dos jogos<br />

como forma de educação tanto do espírito como do corpo. Nesse tempo segundo<br />

Áries (1981), pode-se situar o surgimento do jogo educativo, porque se abrem<br />

perspectivas para a capacidade educativa dos jogos.<br />

Durante o século XVII, Elkonin (1998) apresenta a existência de brincadeiras<br />

exclusivas das crianças até os três, quatro anos. Depois dessa idade, as<br />

brincadeiras infantis eram a expressão da imitação das atividades dos adultos. As<br />

crianças brincavam com ou sem os adultos, mas com os mesmos tipos de<br />

divertimentos, de jogos; não havia separações, não havia sentimentos ou<br />

julgamentos de infantilidade quanto a determinados jogos desempenhados por<br />

adultos. As atividades pertenciam a ambos, sendo que a criança, por ser menor,<br />

tomava emprestado do adulto o divertimento do jogo.


- 20 -<br />

Ariés (1981), relata que naquele tempo, muitos dos brinquedos em miniaturas<br />

retratavam objetos da vida cotidiana de famílias mais abastadas, e que se<br />

destinavam também aos adultos, especialmente as mulheres.<br />

Ao longo do tempo, um dos propósitos dos brinquedos se revela, ou seja, sua<br />

função educacional. Segundo Costa (2000), no século XVII, John Locke (1632-<br />

1704), filósofo inglês, acreditando na capacidade dos brinquedos servirem para a<br />

educação das crianças pequenas, idealizou uma coleção de pequenos cubos de<br />

madeira, com letras gravadas em suas faces, que permitia, ao mesmo tempo, o<br />

brincar e o aprendizado do alfabeto. Mas tal instrumento, em princípio, servia<br />

somente às crianças da nobreza e das classes mais abastadas, futuros membros da<br />

classe social, que logo emergiria no período seguinte, como dominante no setor<br />

econômico e político. Para as demais crianças, a recomendação era para um<br />

aprendizado predominantemente manual, uma atividade para um futuro como<br />

trabalhador, com muito pouco conteúdo de áreas como leitura, escrita e cálculo.<br />

Do século XVII ao século XVIII surge a preocupação de proteger a criança, o<br />

que expressa uma certa vontade ou desejo de educá-la. As crianças ficam proibidas<br />

de ter acesso a determinados jogos e brincadeiras, considerados inapropriados para<br />

um ser que se supõe em formação os jogos de carta, de azar. Alguns jogos são<br />

abandonados pela aristocracia e pela nobreza. Essa preocupação com a criança, na<br />

visão de Ariés (1981), denota o surgimento do sentido de criança, de infância até<br />

então ausente.<br />

Na medida em que jogos e brincadeiras considerados inapropriados são<br />

retirados do contexto das crianças elitizadas, os mesmos se mantem nas atividades<br />

de crianças das camadas mais baixas. Alguns jogos passam a ser ignorados pelos<br />

adultos, ou por eles transformados, para serem aceitos, enquanto ainda<br />

permanecem intactos no domínio das crianças, independentemente de classe social.<br />

O surgimento das classes sociais, a preocupação em proteger a figura da criança,<br />

conduz a seleção de alguns jogos e divertimentos que a ela são permitidos,<br />

dependendo de sua classe social.<br />

No século XIX, período da Revolução Industrial, formam-se as bases da<br />

sociedade industrial moderna e surge a burguesia. As crianças possuíam uma vida<br />

separada da vida dos adultos, permaneciam parte de seu tempo nas escolas, e o<br />

brincar passou a ser um instrumento de ensino ou um trabalho da criança.


- 21 -<br />

Se no início deste período se pensava na necessidade de manter uma<br />

infância viva, passa-se a pensar que era importante que as crianças tivessem saúde<br />

e fossem treinadas para o mercado de trabalho. Precisava-se preparar o homem<br />

para atender as necessidades daquele futuro – racional e produtivo – tarefa árdua<br />

dos professores da época nas instituições ou nas famílias. Para isso, retira-se por<br />

completo os aspectos físicos, sensoriais e emocionais da educação da criança e<br />

reforça tudo aquilo que pode auxiliar a disciplinar sua personalidade. Ainda persiste<br />

o brincar e o jogar, mas voltados para o mesmo objetivo expresso acima, ou seja, a<br />

formação do novo homem.<br />

Era um meio educacional e também uma forma de recreação, para depois<br />

voltar ao “treinamento”, ou preparo para a nova sociedade que emergia. Os<br />

brinquedos primavam pelos conteúdos de conhecimentos que podem transmitir<br />

durante a brincadeira – jogos de cartas e cartões com noções de geografia, de<br />

história, de astronomia; quebra-cabeças representando mapas, em um conjugar de<br />

divertimento, prazer e instrução.<br />

Segundo Costa (2000), Johan Heinrich Pestalozzi (1746-1827) adepto das<br />

ideias naturalistas de Rousseau, preocupou-se com as crianças pobres, fundou<br />

escolas, onde atendia órfãos e mendigos, relacionou a educação à natureza,<br />

comentando que a semente contém o germe com as características da árvore e<br />

todas as características da arvore após o nascimento, estavam contidas na semente<br />

e na raiz. Assim, comparava o homem com a árvore, afirmando que com seu<br />

nascimento tudo ainda está oculto, e deverá desdobrar-se no decorrer da vida. Por<br />

meio das experiências realizadas em suas instituições, Pestalozzi criou um método<br />

no qual o conhecimento se constrói do desconhecido para o conhecido, ou seja, do<br />

concreto para o abstrato do particular para o geral.<br />

Após Pestalozzi destaca-se Friedrich Froebel (1782-1852), tendo sua<br />

preocupação destinada às crianças na primeira infância, o criador do jardim de<br />

infância, seguindo a ideia do jardineiro que precisa cuidar e cultivar suas plantas,<br />

pois entende que a infância é uma fase fundamental para o desenvolvimento<br />

humano.<br />

Conforme Saito (2004, p. 48) Froebel considerou a importância dos jogos e da<br />

linguagem, pois por meio dos jogos a criança:


- 22 -<br />

atribui vida, sensibilidade e palavra a todas as coisas, iniciando o<br />

processo de exteriorização do interior, a lei natural compreendida<br />

pelo sentimento e, à medida que se desenvolve a vida da criança na<br />

sua totalidade, desenvolve-se também sua vida na natureza e com a<br />

mesma que, por sua vez, se assemelha à sua (SAITO, 2004, p. 48).<br />

Comenta também que o autor atribui aos jogos a função de representar as<br />

situações cotidianas, o aprendizado ou as manifestações individuais, estando esses<br />

relacionados com o papel que a criança deveria exercer, para atender as<br />

necessidades da sociedade, na figura do futuro cidadão trabalhador.<br />

No início do século XX segundo Costa (2000), acredita-se muito no progresso<br />

da ciência e surgem novos estudos sobre a criança. Maria Montessori (1870-1952)<br />

criticava a educação tradicional, dizendo que a mesma modelava a criança e<br />

sujeitava as concepções adultas. A estudiosa cria uma escola diferente que deu<br />

origem às instituições escolares atuais. Acreditava na interação das forças corporais<br />

e espirituais (corpo inteligência e vontade). Para ela, esta ramificação só acontece<br />

nas crianças se trabalharem atenção e concentração.<br />

Celéstin Freinet (1896-1966), quando convidado a lecionar no interior de seu<br />

país, constatou que as crianças que eram felizes fora da escola, dentro dela<br />

mostravam-se apáticas e desinteressadas. Criou então as escolas passeios, nas<br />

quais era possível ficar em contato com a natureza e com o mundo social. Segundo<br />

ele, a vida em sala de aula era distanciada da realidade, por isso tornava-se<br />

monótona.<br />

De acordo com a literatura especializada podemos dizer que a partir do<br />

século XX surgiram outros modos de olhar e tratar a criança. Para Rocha (2002)<br />

os estudos de Kraemer situa a criança como sujeito social, criadora de cultura e com<br />

outro modo de enxergar a realidade. Destacamos, em 1956, a Declaração dos<br />

Diretos da Criança, por meio da qual pela primeira vez na história da humanidade, a<br />

criança é reconhecida legalmente, vista como um ser humano singular de<br />

características específicas e com direitos próprios.<br />

Atualmente observamos que as crianças não agem mais como crianças, a<br />

inocência não existe mais e muitos até parecem agir como reis que precisam de<br />

súditos ao seu redor.


- 23 -<br />

É cada vez mais rotineiro observamos notícias em que crianças se agridem<br />

na escola, machucam professores, portam armas e desafiam qualquer tipo de<br />

autoridade. A esse respeito salientamos – Será que as crianças cresceram,<br />

perderam a infância ou o que será que está acontecendo com nossas crianças?<br />

O estudioso parte da ideia de que a prensa tipográfica criou a infância e de<br />

que a mídia eletrônica a fez desaparecer.Nesse sentido, o que separa o mundo da<br />

infância do mundo do adulto é o acesso a determinadas informações, como<br />

podemos constatar neste trecho:<br />

Num mundo letrado, ser adulto implica ter acesso a segredos<br />

culturais codificados em símbolos não naturais. Num mundo letrado,<br />

as crianças precisam transformar-se em adultos. Entretanto num<br />

mundo não letrado não há necessidade de distinguir com exatidão a<br />

criança e o adulto, pois existem poucos segredos e a cultura não<br />

precisa ministrar instrução sobre como entendê-la (POSTMAN, 1999,<br />

p. 99).<br />

Na visão do autor, o desaparecimento da infância com o surgimento de uma<br />

tecnologia de comunicação: o telégrafo. Podemos atribuir, a Samuel Morse a<br />

paternidade da „era sem crianças‟ a partir da invenção do telégrafo, que mudou o<br />

caráter da informação do pessoal e regional para o impessoal e global. O telégrafo<br />

elétrico foi o primeiro meio de comunicação a permitir que a velocidade da<br />

mensagem ultrapassasse o corpo humano rompendo o vínculo histórico entre<br />

transporte e comunicação. Essa invenção levou a um mundo de simultaneidade e<br />

instantaneidade que foi além da experiência humana, pois eliminou de uma tacada<br />

só o tempo e o espaço como dimensões da comunicação.<br />

De acordo com Postman (1999), tudo isso teve repercussões na infância, já<br />

que esse conceito é fruto de um ambiente em que uma forma especial de<br />

informação – controlada por adultos – tornava-se pouco a pouco disponível para<br />

crianças. O telégrafo extorquiu o lar e a escola do controle da informação.<br />

Paralelamente ao desenvolvimento da comunicação elétrica, desenvolveu-se a<br />

“revolução gráfica”, que colocou um novo mundo aos olhos dos homens – com<br />

cartazes e anúncios de todas as formas. A imagem tomou o lugar da palavra, e a<br />

partir disso surgiu um mundo simbólico – que não pôde sustentar as hierarquias<br />

sociais e intelectuais que tornavam a infância possível.


- 24 -<br />

No entendimento deste autor, a televisão é o mecanismo que vem diluindo a<br />

fronteira entre o que é ser adulto e o que é ser criança. Isso porque o meio só requer<br />

aptidões naturais e o entendimento da fala, adquirido no primeiro ano de vida.<br />

Todos os acontecimentos na televisão surgem completamente destituídos de<br />

continuidade histórica ou qualquer outro contexto, e em uma sucessão tão rápida e<br />

fragmentada que caem sobre a nossa cabeça como uma “enxurrada”.<br />

Postman (1999) faz um alerta aos pais e educadores que nossas crianças<br />

estão crescendo a mercê do capitalismo e da disponibilidade de produtos que se<br />

pode oferecer. E uma forma de se conseguir mais consumidores pode ser o livre<br />

acesso de crianças aos programas de televisão, aos costumes e valores muitas<br />

vezes distorcidos da família de origem e a forma como os assuntos são assimilados<br />

com naturalidade, sem levar em conta a idade e o amadurecimento emocional das<br />

crianças e as possíveis consequências que podem acarretar em um adulto que foi<br />

prematuramente exposto a situações que não possuía controle emocional para<br />

assimilar e direcionar se deveria ou não agir dessa ou daquela forma.<br />

Este autor não tem a pretensão de mostrar soluções que possam reverter<br />

esse curso. Ele acredita que há duas forças de resistência, a família e a escola, mas<br />

que estão perdendo a luta.<br />

Para fechar seu pensamento, Postman (1999) descreve que a televisão 1<br />

destrói a linha divisória entre infância e idade adulta por três motivos: 1) não requer<br />

aprendizagem específica; 2) não faz exigências complexas à mente ou ao<br />

comportamento; 3) não segrega o público. O novo ambiente midiático que surgiu<br />

fornece a todos as mesmas informações sem segredos. E, sem segredos, não pode<br />

haver algo como a infância. A televisão escancara tudo: coloca público o que antes<br />

era do domínio privado e elimina a exclusividade do conhecimento mundano. Ela é<br />

uma tecnologia com entrada franca.<br />

1 Nosso objetivo não é atacar diretamente a televisão, pois a mesma pode ser utilizada com o fim de<br />

beneficiar a sociedade, até existem programas educativos que contribuem de forma positiva para com<br />

o desenvolvimento humano, porém a lógica capitalista que a determina, na busca desenfreada pelo<br />

lucro, faz com que a mesma se caracterize conforme descrito no texto.


- 25 -<br />

Nesse sentido, observamos que atualmente muitas famílias têm pouco tempo<br />

para se dedicarem aos filhos – muitos precisam trabalhar para manterem condições<br />

mínimas de sobrevivência a família e acabam transferindo à escola ou à televisão a<br />

função de cuidar, educar, ser babá das crianças.<br />

A escola segue um padrão, tem no Projeto Político Pedagógico como deve<br />

orientar os alunos e qual cidadão pretende formar. Então aos pais, quando<br />

matriculam seus filhos nessa ou naquela instituição deveriam estar cientes do tipo<br />

de educação formal que estaria sendo repassada a sua criança.<br />

Todavia, em muitos momentos nossas crianças são cuidadas pela televisão.<br />

Essa mesma que é só „apertar um botão‟ e se tem acesso a diversos programas,<br />

que nem sempre se preocupam com o que estão transmitindo e sim no retorno<br />

financeiro que determinado programa poderia oportunizar.<br />

Para nós, um exemplo disso são os programas de televisão que transmitem<br />

cenas de sexos muitas vezes explicitas e em horário que crianças têm acesso,<br />

desenhos animados salientando que o mal pode vencer o bem, que por meio da luta<br />

você será vencedor, que armas são para serem usadas, que os fracos são<br />

eliminados, que para vencer na vida você precisa enganar outros e até mesmo<br />

matar.<br />

Em consonância disso uma pesquisa realizada pela Cartoon Network no ano<br />

de 2000 em três capitais brasileiras com mil crianças entre seis e onze anos de<br />

idade constatou que o objeto de desejo infantil por excelência não é mais o<br />

brinquedo: 46% das crianças entrevistadas apontaram a roupa como presente<br />

favorito, enquanto 33% indicaram os brinquedos. Nem mesmo se somássemos as<br />

crianças que escolheram os videogames (10%) a estas, os resultados bateriam a<br />

preferência por roupas. Sua atividade preferida é ver televisão, seguida por brincar<br />

(VEIGA, 2001).<br />

Estes dados nos remetem há algumas indagações a respeito do brincar e de<br />

sua importância que serão discutidas no capítulo seguinte.


3 O PAPEL DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO HUMANO<br />

As novas necessidades educacionais do período pós-moderno nos remetem<br />

ao fato de que a infância não é simplesmente um investimento no futuro, muito<br />

menos a realização do sonho material e simbólico do adulto. A ideia que se tem hoje<br />

de criança é de um indivíduo parceiro do adulto, dotado de peculiaridades, seres<br />

com os quais negociamos afetos, nos interagimos, e dividimos conhecimento e<br />

espaço social. Essa concepção nos permite ajudar a criança a interagir socialmente<br />

de maneira diferente no presente e estão permeados pela reivindicação do seu<br />

direito ao brincar.<br />

Segundo Brougére (1998), o brincar é uma atividade mental que nos permite<br />

sentir e interpretar o comportamento humano. Nessa perspectiva, o brincar deve ser<br />

considerado como a interpretação e representação de algumas atividades infantis<br />

expressadas por meio da linguagem, como fato social referente à imaginação de<br />

criança e como uma brincadeira que determinada comunidade ou grupo de pessoas<br />

estabelecem. Nas palavras de Wajskop, (1995, p. 65), “é uma atitude mental [...] e<br />

uma linguagem baseadas na atribuição de significados diferentes aos objetos e a<br />

linguagem, comunicados e expressos por um sistema próprio de signos e sinais”.<br />

Brougére (1998) afirma ainda que as relações estabelecidas entre brincadeira<br />

e educação, durante a história contemporânea, contribuíram para mudar o<br />

pensamento de gratuidade e futilidade que se tinha acerca do lúdico, o que por sua<br />

vez permitiu a ela manter-se como uma atividade infantil.<br />

Entendemos que o brincar exige uma análise sócio-cultural, pois se trata de<br />

um potencial educativo e não está sujeito unicamente ao indivíduo em<br />

desenvolvimento, mas com maior relevância às estratégias estabelecidas pela<br />

sociedade para fazer da criança um ser social.<br />

Para Wajskop (1995) o brincar, em uma perspectiva sócio-cultural, permite a<br />

criança experimentar o mundo adulto, os objetos e a cultura, fazendo com que a<br />

criança supere sua idade real e atue com outros papéis sociais, agindo além de sua<br />

idade.


- 27 -<br />

De acordo com Vygotsky (1998), quando brinca a criança vai além de seu<br />

comportamento habitual, por meio do brinquedo que permite a ela ser maior do que<br />

realmente é. Além de desenvolver a imaginação, as crianças constroem relações<br />

entre si e elaboram regras de convivência, o que as permitem tomar consciência da<br />

realidade e vivenciar a possibilidade de modificá-la. A partir dessas experiências<br />

tentam elucidar em nível simbólico as contradições impostas pela liberdade do<br />

brincar e a submissão à regras impostas por elas mesmas, desenvolvendo assim o<br />

autocontrole.<br />

Para melhor explicar o autocontrole, Wajskop (1995) diz que quando a criança<br />

assume um papel na brincadeira, opera com o significado de sua ação e submete<br />

seu comportamento a determinadas regras. Isso conduz ao desenvolvimento da<br />

vontade e da capacidade de fazer escolhas conscientes, que estão intrinsecamente<br />

relacionadas à capacidade de atuar de acordo com o significado de ações ou de<br />

situações e de controlar o próprio comportamento por meio de regras.<br />

O significado mais difundido nos dicionários, acerca do brincar, diz que o<br />

mesmo não passa de distração e imaginação, agitação, entretanto defendemos que<br />

não se trata simplesmente de distração, pois pode ser um momento de<br />

aprendizagem, no qual a criança expressa sua linguagem em gestos e atitudes<br />

repletos de significados.<br />

Segundo Wajskop (1995) por meio do brinquedo a criança pode questionar o<br />

universo adulto, colocando para fora suas emoções, uma vez que quando elas<br />

nascem o mundo já está repleto de regras as quais elas têm que se adaptarem.<br />

Durante a brincadeira, ela questiona o que lhe é imposto, construindo um mundo ao<br />

seu jeito. No momento da brincadeira as regras devem se adaptar ao mundinho da<br />

criança, sem caracterizar uma fuga da realidade, mas uma busca para melhor<br />

conhecê-la. O brincar também permite a criança externar seus medos e angústias;<br />

com o brinquedo ela pode reviver algo que lhe foi dolorido de forma ativa, e de<br />

maneira passiva e por intermédio da imaginação ela troca o final que lhe causou dor,<br />

fato este impossível na vida real.<br />

Brincando de forma livre e prazerosa a criança cria um imaginário, um faz-de-<br />

conta, que a permite assumir vários papéis sociais, reproduzindo seu cotidiano de<br />

maneira simbólica, o que por si próprio possibilita a criança a capacidade de<br />

generalizar e abstrair. Nesse processo, ela entra em contato com suas emoções:


- 28 -<br />

alegria, sucesso, realização de seus desejos e frustrações, experiências essas que<br />

permitem a estruturar sua personalidade e lidar com suas angústias. Contribui<br />

também para atividades futuras como o trabalho, pois exige concentração e atenção<br />

e aumenta a autoestima, confiança em si mesmo e nos outros, além de permitir a<br />

interação social.<br />

O brincar pode desempenhar um excelente instrumento de aprendizagem. O<br />

professor pode embasar suas práticas partindo das necessidades da criança, as<br />

quais podem ser observadas durante as brincadeiras, assim como a organização e o<br />

nível de desenvolvimento de cada criança. No entanto, ele precisa ser uma atividade<br />

sistematizada e planejada, com finalidade pedagógica, considerando o relevante<br />

papel que o professor necessita desempenhar para atender a esta necessidade,<br />

propiciando situações em que a criança brinque e aprenda ao mesmo tempo, em um<br />

espaço planejado e equilibrado entre a ação e interação professor/aluno.<br />

Wajskop (1995) define algumas características da brincadeira infantil,<br />

considerando tratar-se de um fato social variável conforme a cultura das crianças.<br />

Comenta que existe um enredo ou situação imaginária a partir do qual as crianças<br />

brincam e se comunicam atribuindo significados diversos a ações e objetos, cuja<br />

característica pode ser identificada por uma forma singular de utilização da<br />

linguagem, por meio do condicional verbal ou de sinais e gestos corporais próprios a<br />

brincadeira. Atribuem a si próprias outras características, fantasiando-se e<br />

representando papéis como se fossem um adulto, outra criança, um boneco, um<br />

animal, entre outros. Podem também, manipular objetos ou bonecos para os quais<br />

são atribuídas características singulares.<br />

Considera que a criança utiliza objetos substitutos, ou seja, pode atribuir aos<br />

objetos significados diferentes daqueles que normalmente possuem, transformando-<br />

os em brinquedos, que poderão ser utilizados para imitar e representar as interações<br />

presentes na sociedade na qual vivem. Diz ainda que durante o processo de<br />

interação e negociação entre aqueles que brincam, é que são atribuídos significados<br />

as ações, aos objetos e aos personagens com os quais as crianças brincam. Isto<br />

quer dizer que as brincadeiras se constroem durante o processo de brincar. As<br />

crianças decidem sobre” o que”, “com quem”, “onde”, “com o que” e “durante” quanto<br />

tempo brincam. Decidem, no processo mudanças nos papéis, no uso dos objetos e<br />

nas ações imaginativas que se desenrolam. Definem e respeitam as regras que


- 29 -<br />

deverão ser seguidas por todos que participarão da brincadeira, sendo que a mesma<br />

é desprovida de finalidade ou de objetivos explícito.<br />

Vista desta forma, pode-se dizer que a brincadeira é uma forma de apropriar<br />

se do mundo ativamente, não podendo ser considerado como característica inata,<br />

mas como uma atitude e linguagem a ser aprendida desde cedo.<br />

Vygotsky (1998), em sua busca no campo de desenvolvimento dos processos<br />

psicológicos superiores levou em conta a individualidade dos sujeitos, ressaltando<br />

que é o meio que o define e as relações humanas que o humaniza. Buscou entender<br />

os aspectos da infância, enfatizando o brinquedo e sua capacidade de estruturar o<br />

funcionamento psíquico da criança. Para ele o brinquedo permite a criança<br />

diferenciar a ação do significado, e o brincar possibilita aprendizagens futuras mais<br />

elaboradas, o que em nosso entendimento nos auxilia a refletir acerca de uma<br />

proposta educacional.<br />

Para Vygotsky (1998), as necessidades da criança e os incentivos que a<br />

levam a brincar revelam seu desenvolvimento. Pois ela avança quando suas<br />

motivações mudam; por exemplo; o que motiva um bebê não é atrativo para uma<br />

criança maior.<br />

O comportamento dos “menorzinhos” é determinado por situações concretas<br />

e pelo imediatismo, já que eles ainda não são capazes de planejar suas ações, já os<br />

maiores podem desejar algo impossível de ser realizado imediatamente. Justamente<br />

neste momento surge o brinquedo, das necessidades não realizáveis<br />

imediatamente, pois por meio do brinquedo e da imaginação a criança pode realizar<br />

seus anseios no momento em que quiser, diminuindo seu sofrimento, por meio do<br />

brincar.<br />

A imaginação surge da ação, o que desmente a ideia de que brincar é a<br />

imaginação da criança em ação. As brincadeiras estão repletas de regra, isto é, a<br />

criança brinca de boneca e ilusoriamente, coloca-se no papel de mãe, o papel por<br />

ela assumido estará norteado por regras de comportamento maternal.<br />

Os pequeninos ainda não se envolvem em situação imaginária, isto porque se<br />

prendem ao que os objetos ditam a eles, como por exemplo: A porta solicita ser<br />

aberta e fechada, caracterizando uma força inerente que motiva a ação da criança e<br />

determina seu comportamento.


- 30 -<br />

Com o passar do tempo e na prática social da brincadeira a criança<br />

alcança uma condição na qual ela age independentemente daquilo que vê, na qual<br />

ela passa a separar pensamento de objetos, e sua ação passa a ser determinada<br />

por sua ideia e não pelo objeto, nestes casos um pedaço de madeira pode vir a ser<br />

um boneco. Isso caracteriza um grande salto na evolução da criança.<br />

Nesses casos, a criança se relaciona com o significado por ela atribuído ao<br />

objeto, e não com o objeto concreto. Sendo assim, o brinquedo é um instrumento de<br />

transição entre a ação infantil com objetos concretos e as suas ações com<br />

significados.<br />

Vygotsky (1998) também afirma que por meio do brincar a criança<br />

experimenta a subordinação a regras, já que deve abrir mão de algo que deseja<br />

imediatamente, renuncia esta que por sua vez ditará o prazer da brincadeira.<br />

Outro benefício proporcionado pelo brinquedo é a criação de uma Zona de<br />

Desenvolvimento Proximal na criança, trata-se de um domínio em constante<br />

transformação. Durante a brincadeira, ela se torna maior do que é agindo além de<br />

seu comportamento habitual.<br />

Para Vygotsky (1998), a essência do objeto reside no fato de que ele liberta o<br />

pensamento da criança, para que não fique unicamente determinado pelos<br />

estímulos visuais, permitindo à criança imaginar, e desprender-se do real significado<br />

do objeto. Complementa atribuindo três características em comum encontrada nas<br />

brincadeiras, sendo elas: imaginação, imitação e regra.<br />

Vygotsky (1998, p. 124) considera que “a situação imaginária de qualquer<br />

forma de brinquedo já contém regras de comportamento”. Quando a criança brinca<br />

de ser um caixa de supermercado e não aceita que seu colega leve as mercadorias<br />

sem pagar durante a brincadeira, já sabe como funciona essa ação social. É por<br />

meio dessa imitação, faz-se uma relação com a realidade.<br />

Através da imitação, a criança busca fazer uma ligação com a realidade e de<br />

uma forma mais abrangente com o jogo simbólico favorece a troca de significados e<br />

construções de novas representações acerca do mundo. É via os jogos simbólicos<br />

que a criança desenvolve sua capacidade de pensar, passando a representar,<br />

simbolicamente, suas ações e suas atividades motoras, porque neste período, já<br />

corre e salta, enfim, realiza inúmeras atividades que propiciam seu desenvolvimento.


- 31 -<br />

Ao aprender a trabalhar com as regras, as crianças passam a desenvolver um<br />

conceito moral, apropriação das normas sociais, entre outros. Toda brincadeira tem<br />

uma regra e, a partir dessas regras, a criança passa a imitar e reproduzir o papel<br />

social, não apenas da sua família, do seu meio, mas também, da sociedade em<br />

geral. Por meio do respeito às regras do jogo, são assimilados conceitos do mundo<br />

real e das relações concretas, e então, a criança passa da individualidade para a<br />

socialização.<br />

Segundo Queiroz (2004), para analisar o desenvolvimento infantil deve ser<br />

considerado o ambiente em que ocorre a brincadeira, ambiente esse estruturado em<br />

consonância aos significados culturais dos responsáveis pela criança. Ainda<br />

segundo a autora, a criança constrói uma versão pessoal dos eventos sociais e<br />

trocas de objetos cujos significados estão presentes na cultura coletiva. A criança<br />

expressa sua compreensão de mundo por meio da ação e que cada classe social<br />

tem um sistema de significação própria de acordo com o cotidiano de seu grupo.<br />

Sendo assim, a brincadeira deve ser interpretada sem desconsiderar os<br />

contextos sociais em que ela se dá, assim como relacioná-la aos valores e lugares<br />

agregados em cada cultura específica, para poder conceituar o brincar em cada uma<br />

delas.<br />

Para Queiroz (2004), a criança não brinca norteada unicamente pela<br />

imaginação mesmo quando não está reproduzindo a realidade; a brincadeira sempre<br />

parte de significados culturalmente construídos, uma vez que os pais são quem<br />

fornecem os primeiros brinquedos a elas, que geralmente são bolas, bonecas e<br />

carrinhos, que são impostos como objetos de valor e transformados em brinquedos<br />

admirados por meio da imaginação. No processo da brincadeira a criança vai além<br />

da cultura de seus pais e professores, pois ela reconstrói as experiências adquiridas,<br />

criando em suas brincadeiras novos cenários para as sugestões sociais, de maneira<br />

que ela expõe sua subjetividade sobre os eventos sociais e reconstrói o significado<br />

social da brincadeira.<br />

Diz ainda que, a subjetividade da criança é formada por meio das interações<br />

que estas estabelecem com seus pais, dependendo dos valores culturais do mundo<br />

adulto é oferecida à criança uma visão estereotipada, levando a criança às<br />

brincadeiras marcadas pelo gênero, como acontece em situações em que o menino<br />

só pode brincar de carrinho e de bola e a menina só de boneca. São casos em que a


- 32 -<br />

família direciona suas ações para que as crianças assumam papéis socialmente<br />

aceitos pela sociedade.<br />

Tomando por base todo o contexto apresentado acima, defendemos a<br />

necessidade de uma instituição de educação infantil que venha ao encontro com as<br />

reais necessidades da criança, que valorize seu direito de brincar e principalmente<br />

que comporte profissionais qualificados para atuarem diante do ato de brincar,<br />

especificamente com a faixa etária do zero aos cinco anos, sem, portanto ter a<br />

pretensão de oferecer um modelo a ser seguido, e sim proporcionar um espaço<br />

onde estas questões possam ser debatidas.<br />

Cerisara (1995) aponta algumas tendências que orientam as práticas<br />

pedagógicas nas instituições de educação infantil: a que pretende preparar para o 1º<br />

grau, com caráter antecipatório, objetivando suprir as carências infantis e a que<br />

encara a recreação como uma oportunidade espontânea e natural de aprendizagem,<br />

por meio do convívio social e do lúdico.<br />

Perante esses fatos e contra eles, surge a defesa da função pedagógica, em<br />

uma série de propostas curriculares que foram elaboradas nessa direção. A LDB<br />

(Lei de Diretrizes e bases da Educação) também se opôs as tendências<br />

ultrapassadas, em resposta a isso a pré- escola foi vinculada às secretarias de<br />

educação e não mais as do bem estar social, o que reforça a ideia de se ter<br />

educadores com formação especifica.<br />

Na prática essas propostas ainda não foram incorporadas, e há evidencias de<br />

que a educação infantil ainda não superou seus dois extremos, de um lado o cuidar<br />

e do outro o educar; quando se prioriza o cuidar se nega o educar e vice-versa, isto<br />

porque muitas vezes o cuidar e educar que encontramos estão longe de serem<br />

considerados adequados.<br />

Não se pode isentar os cursos de formação, que não estão cumprindo com<br />

seu dever de formar professores competentes, deixando-se levar por uma “versão<br />

escolar de conhecimento”. Não é difícil encontrar crianças em creches sendo<br />

atendidas por profissionais sem formação, pesando negativamente na identidade do<br />

educador, demonstrando também indefinição nesta área. Indefinição fomentada<br />

tanto pelas políticas públicas, para a infância quanto pelos modismos pedagógicos<br />

que acabam congelando posturas e negando o que já foi construído.


- 33 -<br />

No entendimento de Kishimoto (2002), nos cursos de formação de<br />

professores em instituições de ensino superior, o modelo do ensino fundamental tem<br />

sido predominante no currículo de formação profissional, prática esta que<br />

desrespeita a especificidade da educação infantil, por privilegiar um modelo<br />

disciplinar e escolarizado, em detrimento da organização da área da infância. A<br />

autora chama atenção para a necessidade de uma reformulação na estrutura da<br />

formulação disciplinar destes cursos. Para melhor ilustrar este parecer, Côrrea<br />

(2002) cita o exemplo daquela que é considerada uma das maiores universidades da<br />

América Latina, em seu curso de pedagogia a Universidade de São Paulo (USP)<br />

apresenta apenas uma disciplina obrigatória que trata especificamente da educação<br />

infantil.<br />

A nosso ver, a faixa etária que vai do zero aos seis anos é extensa demais e<br />

“cobre” uma das fases mais complexas do desenvolvimento humano, exigindo,<br />

portanto muito mais tempo e profundidade de estudo por parte daqueles que atuarão<br />

nesse segmento.<br />

Segundo Cerisara (1995), até existiram movimentos preocupados em resgatar<br />

a socialização dos conhecimentos historicamente acumulados, mas estes não têm<br />

atendido as necessidades das particularidades existentes entre pré-escola e escola,<br />

pois na prática os princípios metodológicos apontam para a reprodução de uma<br />

metodologia de trabalho que compartimentaliza as disciplinas. A autora reconhece o<br />

avanço, por meio da superação da visão espontaneista e assistencialista encontrada<br />

nas propostas anteriores, e acredita que a educação infantil deve ser pensada a<br />

partir do modelo histórico cultural, ele reconhece as formas especificamente<br />

humanas de cada indivíduo de conceber e interagir com o mundo.<br />

Faz-se necessário considerar que a pedagogia tem historicamente<br />

estabelecido parâmetros pedagógicos pertinentes as escolas de 1º e 2º graus,<br />

inadequadas para as instituições de Educação Infantil, para que melhor possamos<br />

compreender os objetivos e funções da pré-escola. Cerisara (1995) comenta a<br />

proposta da construção de uma pedagogia da infância 2 , que permita a essas<br />

instituições se diferenciar das demais, tanto pelo seu objeto que é a criança e não o<br />

2 O projeto de construção de uma pedagogia para a infância não é de autoria exclusiva da<br />

Ana Beatriz Cerisara, é um movimento de origem italiana que envolve diversos<br />

pesquisadores.


- 34 -<br />

sujeito escolar, quanto pela sua função que é diferente da pedagogia escolar. A<br />

autora defende uma concepção que entende que a Educação Infantil tem uma<br />

intencionalidade educativa diferente das escolas de Ensino Fundamental. Enquanto,<br />

a escola se coloca como espaço para o domínio dos conhecimentos básicos, as<br />

instituições de Educação Infantil se põem com fins de complementar à educação da<br />

família. Portanto, enquanto a escola tem como sujeito o aluno e como o objeto o<br />

ensino nas diferentes áreas por meio da aula, “a creche e a pré-escola têm como<br />

objeto as relações educativas travadas no espaço de convívio coletivo, que tem<br />

como sujeito a criança de 0 a 6 anos de idade.” (CERISARA, 2002, p. 10)<br />

Ainda segundo a autora as funções da pedagogia da infância se diferenciam<br />

das demais, uma vez que enfatiza a necessidade de uma concepção de infância<br />

heterogênea, que entenda a infância como tempo de direitos, que é um pressuposto<br />

indispensável para a construção desta pedagogia.<br />

Sendo assim, a função destas instituições deve considerar o cuidar e o<br />

educar com a lucidez de que a instituição não é um preparatório para o ensino<br />

fundamental nem, tampouco a casa das crianças. E, principalmente, conhecer os<br />

eixos que fundamentam seu trabalho, para melhor delimitar a especificidade da<br />

instituição de educação infantil que tem como principais eixos: Linguagens,<br />

Interação, Brinquedo e a Organização do Tempo e do Espaço, baseados na idéia de<br />

que nesta faixa etária, estas crianças necessitam de um trabalho educativo<br />

intencional que objetive principalmente o desenvolvimento infantil, a facilitação das<br />

relações educativas, interpessoais e com a cultura das crianças e com o<br />

conhecimento.<br />

Cerisara (1994) aponta que a superação, do que está estabelecido nos<br />

centros de educação infantil, só se dará se considerarmos o todo cultural, no qual a<br />

pré escola está ligada, dialogando e enfrentando a instituição família e a instituição<br />

escolar para que seja possível desvencilhar-se dela e construir suas próprias<br />

características, e enfatiza principalmente a necessidade de se pensar na formação<br />

dos educadores tanto no processo de formação quanto em se pensar em políticas<br />

públicas que envolvam plano de carreira e salários dignos.<br />

Entendemos que uma educação infantil de qualidade deve priorizar a estreita<br />

relação que une o aprendizado ao brincar. Em consonância a isso Vygotsky (1988)<br />

diz que o aprendizado de uma criança começa antes mesmo que ela freqüente a


- 35 -<br />

escola, e que todo o conteúdo que lhe for apresentado na mesma já tem uma<br />

historia prévia. Para o autor o conhecimento só estará assegurado mediante o<br />

contato com outros indivíduos, pois ao contrário do sistema digestivo que já nasce<br />

na criança o conhecimento precisa ser construído. Logo, o brincar se faz um<br />

importante instrumento de aprendizagem, por proporcionar situações imaginárias<br />

que acarretam no desenvolvimento cognitivo, além de ser um possibilitador de<br />

interações com indivíduos que lhes aumentarão o conhecimento.<br />

As brincadeiras são instrumentos imprescindíveis no meio pedagógico e<br />

devem ser um dos eixos organizadores das instituições de educação infantil. O que<br />

se torna ainda mais importante quando consideramos que hoje a criança está cada<br />

vez mais isolada em seu apartamento minúsculo; quanto aos pais, estes estão cada<br />

vez mais entretidos com seu trabalho e sem tempo para brincar com seus filhos que<br />

muitas vezes, passa ater uma rotina demasiada de atividades.<br />

No âmbito educacional, a brincadeira tem sido reconhecida, quanto à sua<br />

importância. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1999)<br />

estabeleceu a brincadeira como um de seus princípios norteadores, definida como<br />

direito da criança para que desenvolva seu pensamento e capacidade de expressão,<br />

além de situá-lo em sua cultura.<br />

Logo é imprescindível, que o professor diferencie brincadeira livre de<br />

atividade pedagógica que envolve brincadeira e no caso de querer fazer brincadeiras<br />

com a turma lembrar que o mais importante é o interesse da criança, e quando o<br />

objetivo for a aprendizagem, ele pode fazer uso de atividades lúdicas como<br />

instrumento para alcançar a aprendizagem e o conseqüente desenvolvimento da<br />

criança. Quando o professor mantém a brincadeira livre, o adulto pode participar<br />

sem se impor, convida, mas não obriga para não destruir o interesse da criança.<br />

Segundo Dantas (2002), a intervenção docente pode acontecer em dois<br />

níveis, a não destrutiva do interesse infantil pelo brinquedo e a sugestão no melhor<br />

momento em concordância com a brincadeira, de atividades direcionadas com<br />

objetivos pedagógicos. Os resultados dessa interferência são imprevisíveis.<br />

O professor pode brincar com a criança, mas com cuidado, respeitando o<br />

ritmo da brincadeira, e quando propor uma atividade pedagógica de natureza lúdica,<br />

sempre estar atento a especificidade cultural de cada um: Como e com o que


- 36 -<br />

brincam? Para que estas atividades tenham significado para a criança e de fato<br />

contribuam para o seu desenvolvimento.<br />

Segundo Queiroz (2004), o grande detalhe e riqueza do brinquedo reside no<br />

fato de que nem sempre o conhecimento construído pelo aluno será o desejado pelo<br />

professor. Como por exemplo, a utilização de blocos lógicos coloridos, com o<br />

objetivo de identificar as cores, talvez a criança os empilhe construindo um castelo<br />

não correspondendo ao anseio do professor, porém ela estará exercitando a<br />

imaginação e habilidade motora.<br />

No ponto de vista de Cerisara (1994), os pressupostos teóricos capazes de<br />

sustentar uma educação infantil de qualidade apontam para a concepção de criança<br />

enquanto condição infantil (possuidora de direitos), rumando para uma pré-escola de<br />

qualidade, capaz de reconhecer e valorizar as diferenças existentes nas crianças e<br />

assegurar a aquisição do conhecimento de forma prazerosa e significativa.<br />

Sobre essa condição infantil de possuidora de direitos segundo Queiroz<br />

(2004) não é suficiente dar às crianças o direito do jogo, é preciso manter e<br />

despertar nelas o desejo do jogo; não é possível se contentar apenas em ampliar os<br />

espaços de brincadeiras ou os estoques de brinquedos é preciso formar educadores<br />

capacitados e animadores.<br />

Em nosso entendimento, existe a necessidade de se criar cenários no espaço<br />

da educação infantil para possibilitar o brincar e a autonomia da criança.<br />

Acreditamos que a sala de aula deve apresentar diferentes recursos necessários<br />

para a rotina do trabalho pedagógico, cabendo ao professor pensar em espaços que<br />

possibilitem vivências agradáveis e seguras para as crianças proporcionando um<br />

espaço onde ela possa expressar seus pensamentos via as palavras e se fazer<br />

entender e consequentemente construir sua autonomia.<br />

De acordo com Oliveira (2002), ao professor cabe trazer uma nova concepção<br />

acerca do brincar, podendo também intervir na brincadeira explicando e refletindo<br />

com a criança. Como por exemplo na relação criança/brinquedo é papel do<br />

professor responsabilizar a criança diante deste objeto que a pertence ensinando-a<br />

que ela tem direitos sobre este brinquedo e que estes direitos impõem riscos: se ela<br />

o quebrar, terá apenas um brinquedo quebrado; senão guardá-lo poderá ficar sem


- 37 -<br />

ele. Trata-se de uma atividade educativa que sensibiliza quanto ao fato de que toda<br />

posse de brinquedo impõe regras.<br />

Oliveira (2002) enfatiza que formar professores para atuarem na educação<br />

infantil, vai além de discutir e propor um trabalho junto com as crianças, defendendo<br />

que é permitir a estes professores experimentarem esta proposta, sendo importante<br />

resgatar o lúdico no universo adulto, pois saber brincar é mais do que poder mostrar<br />

algumas brincadeiras e jogos às crianças, é sentir prazer no jogo.


4 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

No decorrer da pesquisa procuramos conceituar a infância historicamente<br />

com vistas a contextualizar, o brincar nos diferentes momentos da história. Nesse<br />

sentido acreditamos que mesmo tendo acesso a várias pesquisas acerca da<br />

infância, ainda temos sérias dificuldades para entender a especificidade da criança,<br />

pois sabemos que sua história é construída pelo adulto: seus valores aprendizagens<br />

e experiências são estabelecidos por meio dessa relação. Sendo assim quando<br />

propusemos esses movimentos de entrelaçar as concepções de infância e as<br />

brincadeiras consideramos também nossa limitação perante os fatos.<br />

A infância no decorrer de sua construção nos mostra o lugar da criança dentro<br />

da sociedade, assim como o espaço para brincadeiras em suas vidas. Por meio<br />

deste estudo pudemos vivenciar a condição de infância nos diferentes momentos da<br />

história, no qual a mesma já foi vista como um adulto em miniatura, ou com um olhar<br />

onde se destacava o que ela não tinha em relação ao adulto, como um modelo a ser<br />

alcançado por meio da superação.<br />

Este fato nos impõe uma reflexão: será que hoje o modo com que<br />

concebemos nossa criança nas instituições de educação infantil e na sociedade,<br />

enxerga na mesma um adulto em miniatura, uma fase a ser superada? Faz-se<br />

necessário romper com estes modos de tratar a criança, respeitando e garantindo<br />

seus direitos, e na mesma dose reconhecendo nossas limitações de compreensão<br />

acerca da criança, uma vez que cada criança é única e possui especificidades em<br />

relação à outra. Logo não existe um único jeito de concebê-la.<br />

A brincadeira, por sua vez, no decorrer do trabalho mostrou-se como um<br />

riquíssimo instrumento para a prática pedagógica, caracterizando-se como atividade<br />

indispensável para o desenvolvimento infantil, merecendo atenção e envolvimento<br />

por parte de professores, pais, instituições de formação de professores e<br />

autoridades competentes. Por este motivo, necessita ser constantemente<br />

estimulada, tendo em vista que contribui para o desenvolvimento das funções<br />

psicológicas superiores da criança.


- 39 -<br />

No que compete ao papel do educador perante o lúdico, pudemos constatar<br />

que o mesmo pode participar das brincadeiras, de preferência brincando junto, seja<br />

de forma ativa ou como observador para melhor entender a organização do<br />

pensamento de seu aluno, sua capacidade de expressão, a realidade que o cerca,<br />

suas representações e interações, podendo ainda organizar os espaços para que os<br />

mesmos possam brincar com plenitude, assim como melhor direcionar seu<br />

planejamento para que este atenda diretamente as necessidades da criança.<br />

Evitando, que as brincadeiras do cotidiano da educação infantil se torne<br />

apenas uma ocupação sem significado e fragmentada para “preencher o tempo”,<br />

uma vez que em nosso entendimento o momento da brincadeira pode ser<br />

sistematizado para atender os fins da aprendizagem, assim como pode caracterizar-<br />

se por brincadeira livre, no qual a criança possa criar, imaginar, assumir diversos<br />

papéis sociais e agir além de sua idade. Porém sob observação do professor, a fim<br />

de que este possa melhorar suas condições de trabalho e promover o<br />

desenvolvimento das crianças.<br />

Uma das formas de contribuição ao desenvolvimento da criança é legitimando<br />

sua necessidade de brincar, e uma das atitudes capazes de validar o brincar como<br />

direito da criança e a educação infantil como espaço por excelência do lúdico, está<br />

justamente em formar profissionais capacitados, para atuarem nesta etapa da<br />

educação, compreendendo a especificidade da mesma em relação aos demais<br />

níveis de ensino. Formação sólida que permita ao profissional um fazer pedagógico<br />

que valorize o brincar diante de sua amplitude e riqueza de possibilidades.


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