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A pena de morte no Portugal medievo

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Um luxo para um pais pobre?<br />

A <strong>pena</strong> <strong>de</strong> <strong>morte</strong> <strong>no</strong> <strong>Portugal</strong> <strong>medievo</strong><br />

Luis Miguel Duarte<br />

(não esqueçamos que o papel das crónicas é reproduzir essas morais da história); é<br />

muito bem feito perdoar por amor <strong>de</strong> Nosso Senhor Jesus Cristo, comenta o cronista,<br />

«que tantas cousas <strong>no</strong>s perdoa cada ora» 34 .<br />

Esta imagem do rei misericordioso <strong>de</strong>ve ser constantemente temperada com a do<br />

rei implacável com aqueles que o traíam: é um exercício <strong>de</strong> equilíbrio que os reis<br />

faziam diariamente e que nós temos que continuar a fazer cinco séculos <strong>de</strong>pois. Um<br />

piloto e dois marinheiros fugiram da feitoria da Mina, na África central, e refugiaramse<br />

em Castela.Aqui não havia nada <strong>de</strong> político e talvez se aplicassem acordos <strong>de</strong> extradição,<br />

mas o rei não se atrapalhou com isso: mandou um peque<strong>no</strong> comando capturálos<br />

a Castela e trazê-los <strong>de</strong> imediato a <strong>Portugal</strong>. Só que as “hermanda<strong>de</strong>s” foram avisadas<br />

e começaram a perseguir a expedição portuguesa.Vendo-se em situação <strong>de</strong>sesperada,<br />

os portugueses mataram os cavalos, para não fazerem barulho, <strong>de</strong>golaram os<br />

dois marinheiros, guardando as respectivas cabeças para mostrarem ao rei, e assim que<br />

se livrarão da perseguição das “hermanda<strong>de</strong>s”, retomaram o caminho <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong>, viajando<br />

a pé, <strong>de</strong> <strong>no</strong>ite; ao infeliz piloto fecharam-lhe a boca com anzóis para que não<br />

gritasse por socorro. Assim que chegou a Évora à presença do rei foi imediatamente<br />

esquartejado – creio que em vida. Uma vez mais, o que <strong>no</strong>s interessa aqui é a moral<br />

da história, extraída pelo cronista:<br />

«Por on<strong>de</strong> nenhum ousava <strong>de</strong> yr como não <strong>de</strong>via, porque não sabiam on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ssem<br />

escapar a el Rey, e com mandar as vezes matar poucos escusava a <strong>morte</strong> <strong>de</strong> muytos, e<br />

outras perdas e dan<strong>no</strong>s que os Reys fazem, quando não têm medo, nem receo, que quanto<br />

bem os bons fazem por amor, tanto mal os maos <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> fazer com temor» 35 .<br />

5. As forcas do Livro das Fortalezas <strong>de</strong> Duarte d’Armas<br />

Depois das investigações que conduzi, não tenho a pretensão <strong>de</strong> trazer gran<strong>de</strong>s<br />

<strong>no</strong>vida<strong>de</strong>s ao estudo das forcas. Ainda assim, <strong>de</strong>ixo algumas <strong>no</strong>tas:<br />

1. É possível que alguns pelourinhos tenham sido utilizados para enforcamentos,<br />

pelo método do estrangulamento.<br />

2. As forcas podiam ser amovíveis, montadas e <strong>de</strong>smontadas ou construídas <strong>de</strong><br />

propósito para <strong>de</strong>terminada execução, ou permanentes. Penso que nas terras mais<br />

importantes podiam coexistir forcas permanentes com outras ad hoc. Deixava <strong>de</strong> ser<br />

tão importante a silhueta do patíbulo vigiando ameaçadoramente do morro fronteiro;<br />

haveria mais execuções, que podiam <strong>de</strong>correr nas praças públicas, à vista do maior<br />

número possível <strong>de</strong> gente. Luís Chaves é <strong>de</strong>sta opinião: «Em Lisboa e Porto havia for -<br />

cas permanentes, e armavam-se outras, quando havia <strong>de</strong> isso necessida<strong>de</strong>. Erguiam-se patíbu -<br />

los, como palcos para espectáculo público, se os réus eram <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>».<br />

A partir da <strong>no</strong>ssa gran<strong>de</strong> fonte ico<strong>no</strong>gráfica, o Livro das Fortalezas <strong>de</strong> Duarte<br />

d’Armas, tentarei uma tipologia rudimentar. As forcas podiam ser <strong>de</strong> pedra, <strong>de</strong><br />

34 Garcia <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong>: O.c., Cap. CII, p. 140.<br />

35 Garcia <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong>: O.c., Cap. CLXXXVIII, p. 260-261.<br />

Clio & Crimen<br />

nº 4 (2007), pp. 81/94<br />

ISSN: 1698-4374<br />

D.L.: BI-1741-04

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