Revista Frutas e derivados - Edição 05 - Ibraf
Revista Frutas e derivados - Edição 05 - Ibraf
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CAPA<br />
PRODUÇÃO: PerformanceCG<br />
FOTO: Banco de Imagens do<br />
<strong>Ibraf</strong><br />
07<br />
ENTREVISTA<br />
07 À FRENTE DE DESAFIOS<br />
Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo,<br />
João de Almeida Sampaio Filho, fala sobre<br />
fruticultura paulista.<br />
FRUTAS FRESCAS<br />
14 FRUTAS FINAS<br />
<strong>Frutas</strong> finas ainda têm produção limitada por causa<br />
do alto custo de produção.<br />
CERTIFICAÇÃO<br />
18 PASSAPORTE PARA EXPORTAÇÃO<br />
Comércio internacional exige certificação e<br />
segurança do alimento. Projeto Fruta Paulista segue<br />
as normas.<br />
AGROINDÚSTRIA<br />
27 TENDÊNCIA MUNDIAL<br />
<strong>Frutas</strong> minimamente processadas começam a<br />
fazer parte do cotidiano das redes de varejo.<br />
MEIO AMBIENTE<br />
33 PERIGO VIAJANTE<br />
A introdução de espécies exóticas altera o<br />
ambiente e traz perigos ao homem do campo.<br />
14<br />
38<br />
SEÇÕES<br />
SUMÁRIO<br />
MARÇO 2007<br />
04 editorial<br />
06 espaço do leitor<br />
10 campo de notícias<br />
Panorama dos principais acontecimentos do trimestre.<br />
12 no pomar<br />
Lançamentos, dicas, normas e leis do setor.<br />
30 tecnologia<br />
Pesquisador desenvolve processo inovador que garante mais<br />
sabor e aroma no processamento de sucos.<br />
36 opinião<br />
Osvaldo Dias: a força do associativismo mudou a história de<br />
Junqueirópolis/SP.<br />
37 agenda<br />
Acontecimentos do trimestre.<br />
27<br />
38 eventos<br />
Fechamento de negócios e divulgação no país europeu que<br />
mais consome frutas brasileiras e no mercado promissor dos<br />
Emirados Árabes.<br />
41 artigo técnico<br />
Abacaxi minimamente processado requer cuidados para manter<br />
qualidade e sabor.<br />
48 campo & culturap<br />
44 produtos e serviços<br />
46 fruta na mesa<br />
Delicadeza do figo.
CUIDANDO DO FUTURO<br />
editorial<br />
Na vida de uma cultura perene, o primeiro ano é determinante para sua<br />
produção futura. Muito há para se fazer até colher os primeiros frutos. Os<br />
cuidados com solo, fertilização, controle de pragas e doenças e a correta<br />
irrigação para a pequena árvore precisam ser constantes. Traçando um<br />
paralelo, assim é com o ‘plantio’ de uma publicação. Seu primeiro ano é de<br />
cuidados intensos para que não se perca a semente da informação plantada.<br />
Foi assim que caminhamos nos primeiros 365 dias da <strong>Frutas</strong> e Derivados,<br />
que se completam em março: cuidando da ‘fruteira’ da notícia para que, no<br />
seu devido tempo, dê frutos abundantes de informação. O seu retorno,<br />
leitor, nos dá a segurança de que o tratamento está certo. E é, para você,<br />
que preparamos uma edição apontando caminhos para maior rentabilidade.<br />
O passaporte para exportar está na certificação, que ampliam mercados à<br />
sua colheita, além de ajudá-lo na organização da propriedade. O<br />
processamento mínimo de frutas, tendência mundial, começa a ganhar espaço<br />
no País, principalmente, nos grandes centros urbanos, devido à procura<br />
do consumidor por produtos que ofereçam praticidade e sejam saudáveis.<br />
Para que esse consumidor tenha praticidade, sem perder a delícia do<br />
sabor, a pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro desenvolveu<br />
método inovador de processamento de sucos de frutas, outro segmento em<br />
crescimento contínuo na cadeia frutícola. Em se tratando de crescimento, as<br />
frutas no Estado de São Paulo são o maior exemplo. O Estado mais industrial<br />
da Nação é também a maior plataforma frutícola e, para valorizar esse fruticultor<br />
e sua colheita, o Instituto Brasileiro de <strong>Frutas</strong>, em parceria com o<br />
Sebrae-SP, lançou o programa Fruta Paulista.<br />
Vale ressaltar que todos os esforços para o aprimoramento do setor cairão<br />
por terra, se não houver os devidos cuidados ambientais e os bioinvasores<br />
continuarem entrando no País. Hoje, a fruticultura luta para manter sob controle<br />
e erradicar as espécies exóticas invasoras cydia pomonella, mosca-dafruta,<br />
sigatoka negra e a mosca-da-carambola, um desafio atual. O setor e as<br />
autoridades do País precisam estar alertas: a questão ambiental, mais do que<br />
uma bandeira, é questão de sobrevivência econômica e das espécies.<br />
Uma ótima leitura e obrigada pelo apoio em nosso primeiro ano!<br />
fale conosco<br />
REDAÇÃO<br />
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Marlene Simarelli<br />
Editora<br />
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Salomão, Dirceu Colares, Fernando Brendaglia de Almeida, Francisco<br />
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Brasileiro de <strong>Frutas</strong>, distribuída a profissionais ligados ao setor.<br />
Os artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião do<br />
Instituto. Para a reprodução do artigo técnico e do artigo opinião, é<br />
necessário solicitar autorização dos autores.<br />
A reprodução das demais matérias publicadas pela revista é permitida,<br />
desde que citados os nomes dos autores, a fonte e a devida data de<br />
publicação.
6<br />
ESPAÇO DO LEITOR<br />
“A revista é ótima, supera as expectativas,<br />
com temas atuais e dinâmicos.<br />
Deixo uma sugestão para que vocês aumentem<br />
o espaço que traz publicações<br />
sobre a fruticultura e os endereços de<br />
onde adquiri-las.”<br />
Waldemar Domingos de Santana Júnior<br />
Produtor Rural, Itumbiara – GO<br />
“Gostaria de parabenizá-los pela excelente<br />
qualidade da revista e seu conteúdo<br />
técnico. Sem sombra de dúvidas, a revista<br />
é de grande importância para o desenvolvimento<br />
da fruticultura nacional.”<br />
Fernando Augusto de Souza<br />
Gerente Geral da Korin Agricultura Natural<br />
“Sou pesquisadora-científica do<br />
Fruthotec/Ital na área de tecnologia de<br />
frutas. Acho as reportagens da <strong>Revista</strong> <strong>Frutas</strong><br />
e Derivados muito esclarecedoras e bem<br />
acessíveis ao público leigo.”<br />
Ms. Silvia Cristina Sobottka Rolim de Moura<br />
Campinas - SP<br />
“Ao visitar a empresa <strong>Frutas</strong> Boutim, de<br />
Porto Amazonas/PR, minha esposa,<br />
Suzana M. R. Gorniski, encontrou um<br />
exemplar da revista <strong>Frutas</strong> e Derivados e<br />
elogiou as matérias abordadas e as bemelaboradas<br />
composição e arte, além de uma<br />
impressão sofisticada. Parabéns à equipe.”<br />
Aramis Gorniski<br />
Editor do jornal “A Tribuna Regional” e da<br />
revista “Informação”, Lapa - PR<br />
“Foi uma satisfação receber a revista <strong>Frutas</strong><br />
e Derivados e deparar com artigos que<br />
atendam diferenciados segmentos da cadeia<br />
frutícola. Assim como o amigo Professor<br />
Pesquisador Dr. Rafael Pio, concordamos<br />
que existam muitos entraves para<br />
podermos conquistar recursos públicos<br />
para fins científicos. Como opção, buscamos<br />
os produtores como parceiros, que nos<br />
apoiam e se beneficiam diretamente de<br />
nossas pesquisas.”<br />
Prof. Adjunto Fabio del Monte Cocozza<br />
Universidade Estadual da Bahia<br />
Campus IX - Barreiras<br />
ERRATA<br />
Na matéria de capa Altos e Baixos,<br />
publicada na edição 4, de dezembro<br />
de 2006, a informação sobre o volume<br />
de exportação de figos está errada.<br />
Onde se lê “no acumulado de janeiro<br />
a outubro, o Brasil exportou<br />
482 mil toneladas da fruta”, leia-se<br />
482 toneladas.<br />
Agradecemos o alerta sobre os números<br />
referentes à exportação, enviado<br />
pelo produtor e exportador<br />
Maurício Brotto, de Campinas/SP.<br />
ESCREVA PARA<br />
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Paulo • SP<br />
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João de Almeida Sampaio Filho, 41 anos,<br />
nasceu na capital paulista, cidade onde a zona rural<br />
praticamente acabou, mas sua história de vida está<br />
associada à agricultura. Economista e produtor<br />
rural nos Estados de São Paulo, Mato Grosso e<br />
Paraná, esteve à frente de diversas entidades ligadas<br />
ao agronegócio. Foi presidente da Associação<br />
dos Produtores de Borracha do Estado do Mato<br />
Grosso e vice-presidente da Associação Paulista do<br />
Setor. Ocupou, também, a presidência da Câmara<br />
Setorial Nacional de Borracha e da Comissão Na-<br />
ENTREVISTA JOÃO SAMPAIO<br />
À FRENTE DE<br />
DESAFIOS<br />
JOÃO LUIZ - SAA/COMUNICAÇÃO<br />
cional da Borracha da CNA (Confederação Nacional<br />
da Agricultura). Foi vice-presidente na Associação<br />
Comercial do Estado de São Paulo, conselheiro<br />
da Associação Brasileira do Agronegócio de<br />
Ribeirão Preto e, a partir de 2002, ocupou a presidência<br />
da Sociedade Rural Brasileira, função que<br />
deixou para assumir a Secretaria de Agricultura e<br />
Abastecimento do Estado de São Paulo. À frente<br />
do Estado, detentor da maior plataforma agrícola<br />
do País, ele fala de projetos para sua gestão, iniciada<br />
este ano.<br />
7
8<br />
ENTREVISTA JOÃO SAMPAIO<br />
<strong>Frutas</strong> e Derivados - Qual é plano de governo<br />
para a agricultura nesta nova gestão?<br />
João Sampaio - São Paulo, apesar de pouco sabido,<br />
é a maior plataforma agrícola do País, responsável<br />
por 17% do valor bruto da produção<br />
agropecuária brasileira. No entanto, nosso maior<br />
trunfo não está tão somente dentro da porteira, e,<br />
sim, em nossa capacidade de multiplicar o valor da<br />
produção fora das fazendas. Agregamos valor aos<br />
produtos, graças à infra-estrutura de industrialização,<br />
à logística de exportação e ao grande mercado<br />
consumidor. Nosso plano está concentrado em<br />
ampliar e melhorar a renda do produtor, apostando<br />
na agregação de valor aos produtos.<br />
“A fruticultura paulista é das mais<br />
diversificadas e das mais fortes.”<br />
<strong>Frutas</strong> e Derivados - O novo governo implica em<br />
direcionamento de novos projetos da Secretaria<br />
focados na agricultura do Estado mais industrial da<br />
Nação? Quais? Por quê?<br />
João Sampaio - Como disse anteriormente, o<br />
Estado de São Paulo sintetiza esta capacidade de<br />
unir a indústria e a agricultura; processamos os produtos<br />
agrícolas com eficiência industrial. Trabalhar<br />
as cadeias produtivas e apostar nas vocações agrícolas<br />
e agroindustriais de cada região é o caminho<br />
para otimizar recursos e ampliar a renda.<br />
<strong>Frutas</strong> e Derivados - Investir em programas para<br />
melhorar a renda e a vida do produtor rural paulista<br />
está entre os planos do governo? O que pretende?<br />
Como acredita ser possível?<br />
João Sampaio - O governador José Serra, quando<br />
me chamou para a Secretaria de Agricultura,<br />
disse-me exatamente o objetivo número 1 deste<br />
governo: o crescimento econômico.Precisamos<br />
gerar trabalho e renda e como podemos fazer isto?<br />
Por meio de programas e parcerias com a iniciativa<br />
privada, que trabalhem na direção de unir o produtor<br />
e o consumidor. Entre estas duas pontas é<br />
onde está a chance de crescermos. A Secretaria de<br />
Agricultura possui seis institutos de pesquisa, alguns<br />
deles centenários, com larga experiência em pes-<br />
quisa, desenvolvimento e produção de novas variedades<br />
agrícolas e na adaptação de tecnologias.<br />
Temos uma rede de extensionistas, que está à disposição<br />
do produtor e do empreendedor rural e<br />
precisa ser melhor utilizada. A melhor integração<br />
entre a pesquisa, a extensão e a iniciativa privada<br />
pode render ótimos frutos, com o perdão do trocadilho.<br />
A agricultura tem mostrado, pelos consecutivos<br />
superávits da balança comercial, que é a<br />
vocação do nosso País. E mais que agricultura, o<br />
agronegócio, esta rede, que envolve produção, industrialização,<br />
comercialização e serviços, geradora<br />
de 37% dos empregos no País, será a responsável<br />
pelo crescimento econômico tão esperado e<br />
prometido nos últimos anos.<br />
<strong>Frutas</strong> e Derivados - Quais são os projetos para<br />
a fruticultura no Estado, cuja atividade gera muitos<br />
postos de trabalho por hectare no campo?<br />
João Sampaio - A fruticultura paulista é das mais<br />
diversificadas. Por incrível que pareça, não produzimos<br />
somente laranja para indústria, onde somos<br />
os maiores produtores e exportadores de suco de<br />
laranja do mundo. Essa atividade importante é nosso<br />
terceiro item na pauta de exportações do<br />
agronegócio; perde apenas para cana (açúcar e álcool)<br />
e carne bovina. São Paulo produz frutas frescas<br />
com alto valor agregado e baseado na pequena<br />
propriedade – reside nestas características o grande<br />
potencial de crescimento econômico. Regiões,<br />
como a do Circuito das <strong>Frutas</strong>, compreendendo<br />
municípios de Valinhos, Jundiaí, Louveira, Vinhedo,<br />
entre outros; Jales, com uva e parte do sudoeste<br />
do Estado de São Paulo são pólos de produção que<br />
precisam de uma concentração de atendimento e,<br />
assim, ampliaremos o poder de geração de empregos.<br />
A Secretaria de Agricultura possui o Centro<br />
Apta de <strong>Frutas</strong>, em Jundiaí/SP, um centro de<br />
pesquisa totalmente dedicado à fruticultura, onde<br />
foram geradas as principais variedades desenvolvidas<br />
no Estado. Temos o Instituto de Tecnologia dos<br />
Alimentos (Ital), que se dedica a novas embalagens,<br />
rotulagens, conservação dos alimentos e frutas processadas.<br />
E ainda temos o Instituto Agronômico,<br />
onde a última novidade é o desenvolvimento de<br />
variedades de tangerinas sem semente, já com fazendas<br />
em produção no sudoeste do Estado. Estas<br />
oportunidades estão aí para serem aproveitadas. A<br />
Câmara Setorial de <strong>Frutas</strong>, da Secretaria, tem estas<br />
ferramentas à mão. Precisamos melhor aproveitá-las
e utilizá-las, conjuntamente, com empresas do setor<br />
em projetos diferenciados e adequados a cada região.<br />
<strong>Frutas</strong> e Derivados - Quanto ao seguro rural,<br />
haverá alguma subvenção do Estado?<br />
João Sampaio - Já temos um projeto de 50%<br />
de subvenção ao prêmio do seguro rural no Estado<br />
de São Paulo. Começamos em 2003 com um<br />
projeto piloto e estamos no quarto ciclo agrícola.<br />
São 23 culturas envolvidas no projeto e grande parte<br />
delas é de frutas. É um projeto voltado para o<br />
pequeno produtor com renda bruta anual de até<br />
R$ 215 mil. Nele, o produtor faz o seguro junto a<br />
uma das seguradoras credenciadas. De posse da<br />
apólice, e dentro das especificações técnicas do<br />
projeto, ele pleiteia a subvenção. Se aprovada, em<br />
menos de um mês, ele recebe metade do valor<br />
que pagou do prêmio do seguro por intermédio<br />
do Banco Nossa Caixa. Este projeto é um sucesso,<br />
principalmente entre os fruticultores, por se tratar de<br />
culturas mais susceptíveis às intempéries climáticas.<br />
Nossos maiores beneficiados são produtores de uva,<br />
caqui e figo, nas regiões de Campinas. Queremos que<br />
produtores de todo o Estado participem. Para isso,<br />
basta procurar a Casa de Agricultura local e se informar<br />
mais detalhadamente sobre o projeto. É um instrumento<br />
de proteção à disposição do produtor. E mais:<br />
é um projeto pioneiro em todo o País.<br />
<strong>Frutas</strong> e Derivados - Sebrae-SP e <strong>Ibraf</strong> acabam<br />
de lançar o Projeto Fruta Paulista. Como analisa essa<br />
parceria para os fruticultores de São Paulo?<br />
João Sampaio - Este é o caminho para a fruticultura<br />
paulista: unir a cadeia produtiva desde o<br />
produtor até o consumidor, apostando na capacidade<br />
destas instituições de agregar valor aos produtos.<br />
A Secretaria não só apóia como é co-participante<br />
deste projeto. A Câmara Setorial de <strong>Frutas</strong><br />
participa de todo o processo. A nossa estrutura,<br />
enquanto instituição de pesquisa e assistência<br />
técnica, adaptadora de tecnologia, vai participar<br />
ativamente deste projeto, colaborando na<br />
certificação e normatização da produção até a mesa<br />
do consumidor, seja ele paulista, brasileiro ou dos<br />
países importadores.<br />
<strong>Frutas</strong> e Derivados - Em sua opinião, quais as<br />
maiores necessidades da fruticultura paulista?<br />
João Sampaio - O mercado consumidor é dinâmico<br />
e alcançar sucesso junto ao consumidor de-<br />
ENTREVISTA JOÃO SAMPAIO<br />
pende da capacidade de leitura destas mudanças e<br />
o poder de adaptação e incorporação de novas<br />
tecnologias. A fruticultura paulista passa pelos mesmos<br />
desafios que outros setores. A seleção e o<br />
processamento das frutas com embalagens apropriadas<br />
que dêem durabilidade e frescor às frutas,<br />
assim como o desenvolvimento de variedades agrícolas,<br />
cada vez mais condizentes com as demandas<br />
de consumo, são as principais necessidades da fruticultura<br />
paulista. A certificação, sanidade e adequação<br />
aos mercados são os grandes desafios.<br />
“Trabalhar a imagem da fruta<br />
paulista passa por certificação<br />
na produção, padronização dos<br />
processos, combinado com<br />
campanha de marketing.”<br />
<strong>Frutas</strong> e Derivados - Como a Secretaria pode<br />
contribuir para saná-las?<br />
João Sampaio - A Secretaria de Agricultura,<br />
como enumerado anteriormente, possui várias das<br />
ferramentas necessárias para que estas dificuldades<br />
possam ser superadas. A articulação dentro da cadeia<br />
produtiva é um dos caminhos e, para isto, a<br />
Câmara Setorial de <strong>Frutas</strong> é o foro adequado.<br />
<strong>Frutas</strong> e Derivados - Mesmo produzindo quase<br />
metade das frutas nacionais (47% do total nacional),<br />
e sendo exportador, São Paulo é pouco reconhecido<br />
como pólo de fruticultura. A Secretaria tem algum<br />
plano para reverter essa imagem?<br />
João Sampaio - A fruticultura paulista é das mais<br />
fortes do País. Com grande rentabilidade, é responsável<br />
por uma distribuição e ampliação de renda<br />
nos seus pólos de produção. Trabalhar a imagem<br />
da fruta paulista passa pela certificação na produção,<br />
padronização dos processos e da embalagem,<br />
combinado com uma campanha de marketing.<br />
O caminho já foi iniciado pelo Projeto Fruta Paulista,<br />
que é criar a marca e o selo do produto de<br />
São Paulo. Isto deve ser ampliado para que alcancemos<br />
maior visibilidade e consolidação da marca<br />
fruta paulista.<br />
9
10<br />
CAMPO DE NOTÍCIAS<br />
Luciana Pacheco<br />
Brasil Recupera Registro<br />
da Marca Açaí<br />
O açaí, que desde 2003 estava registrado<br />
no Japão como marca de<br />
propriedade da empresa K.K. Eyela<br />
Corporation, é de novo brasileiro.<br />
O Departamento de Patrimônio<br />
Genético, do Ministério do Meio<br />
Ambiente, informou, em fevereiro,<br />
que o registro da marca “açaí” foi<br />
cancelado por ordem do Japan<br />
Patent Office, o escritório de registro<br />
de marcas do Japão. Porém, a<br />
empresa ainda tem 30 dias para<br />
recorrer da decisão.<br />
Para coibir o registro indevido de<br />
componentes da biodiversidade nacional,<br />
o governo formulou lista com<br />
3 mil nomes científicos de plantas brasileiras<br />
e distribuiu para escritórios de<br />
registro de marcas no mundo inteiro.<br />
Produtos típicos, como cupuaçu,<br />
rapadura e até escapulário já foram<br />
registrados indevidamente como<br />
marcas fora do País.<br />
Embrapa Lança Processo<br />
Agroindustrial de Passas<br />
de Mamão<br />
A Embrapa Mandioca e Fruticultura<br />
Tropical (Cruz das Almas/BA)<br />
lançou em dezembro o processo<br />
agroindustrial “passas de mamão”,<br />
sem o uso de conservantes, que demanda<br />
baixo investimento em equipamentos<br />
- basta um secador para<br />
que a temperatura durante o processo<br />
de secagem seja controlada.<br />
O aspecto do produto é um grande<br />
diferencial, pois possui textura<br />
e cor brilhantes, diferente dos produtos<br />
disponíveis no mercado, que<br />
são geralmente escuros, cristalizados<br />
na superfície e com textura rígida.<br />
Esta tecnologia, segundo a<br />
Embrapa, terá impactos significati-<br />
vos no aproveitamento do mamão,<br />
além de gerar receitas para a<br />
agroindústria de pequena escala,<br />
pois requer baixo investimento.<br />
Mais informações: Embrapa Mandioca<br />
e Fruticultura Tropical,<br />
telefone (75) 3621-8076, fax (75)<br />
3621-8015, e-mail: leacunha@<br />
cnpmf.embrapa.br.<br />
Usos Sustentáveis da<br />
Casca de Coco<br />
Segundo dados da Embrapa<br />
Agroindústria Tropical, cerca de<br />
70% do lixo gerado na orla das<br />
grandes cidades brasileiras é composto<br />
por cascas de coco verde,<br />
material de difícil degradação e foco<br />
de proliferação de doenças, que<br />
diminui a vida útil de aterros sanitários<br />
e lixões. Em Fortaleza/CE,<br />
nos meses de alta estação, só a<br />
Avenida Beira-Mar e a Praia do Futuro<br />
recebem 40 toneladas por dia<br />
do resíduo.<br />
Para reduzir este efeito e aproveitar<br />
a matéria-prima, a Embrapa<br />
Agroindústria Tropical desenvolveu<br />
uma tecnologia e um conjunto de<br />
equipamentos para processamento<br />
da casca de coco verde, transformando<br />
o resíduo em pó e fibra. O<br />
trabalho viabilizou a implantação de<br />
uma unidade de beneficiamento no<br />
bairro do Jangurussu, em Fortaleza,<br />
com recursos do Banco Mundial,<br />
em parceria com diversas instituições<br />
públicas e privadas. O projeto<br />
pretende instalar cercas verticais<br />
de contenção, feitas a partir das<br />
mantas de coco verde. As mantas<br />
ajudarão a barrar a ação do vento,<br />
evitando que as partículas de areia<br />
invadam as residências dos moradores<br />
da Praia do Serviluz. Elas<br />
também serão usadas como cobertura<br />
de solo para a plantação de<br />
espécies adaptadas ao ambiente,<br />
como cactáceas (palma forrageira),<br />
arbustivas (murici, guajiru e nim), frutíferas<br />
(cajueiro e goiabeira) e herbáceas<br />
(salsa e amendoim), além de<br />
canteiros com 14 espécies de plantas<br />
medicinais, como, por exemplo,<br />
alecrim-pimenta, malvarisco, confrei,<br />
chambá, capim-santo, hortelã<br />
japonesa e alfavaca.<br />
A casca do coco também está sendo<br />
transformada em vasos e placas<br />
por uma empresa de Fortaleza/CE.<br />
Confeccionados à base de<br />
fibra de coco, os produtos atendem<br />
ao critério de similaridade ao<br />
xaxim, espécie em extinção, devido<br />
à sua extração para paisagismo.<br />
A fibra de coco consegue reter umidade<br />
e deixa as plantas ultrapassarem<br />
as paredes dos vasos e das placas,<br />
permitindo, assim, que se desenvolvam<br />
conforme suas necessidades<br />
e funções.<br />
Embalagens de Madeira<br />
Ganham Novas Regras<br />
O Brasil passará a exigir dos seus<br />
parceiros comerciais mercadorias<br />
acondicionadas em embalagens de<br />
madeiras certificadas. A medida<br />
objetiva reduzir o risco de introdução<br />
de pragas exóticas no Brasil<br />
e manter o País livre das principais<br />
pragas quarentenárias florestais<br />
com ocorrência em países da<br />
Ásia, Europa e dos Estados Unidos.<br />
Nesse sentido, o Ministério<br />
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento<br />
(Mapa) publicou Portaria,<br />
que coloca em consulta pública<br />
por um prazo de 60 dias o projeto<br />
da Instrução Normativa, que<br />
visa adotar diretrizes e recomendações<br />
para certificação fitossanitária<br />
das embalagens e dos suportes<br />
de madeira, usados no
acondicionamento e transporte de<br />
quaisquer mercadorias destinadas<br />
ao comércio internacional.<br />
A nova norma estabelecerá critérios<br />
de rastreabilidade, emissão de<br />
certificados, exportação, inspeção<br />
e fiscalização, e medidas fitossanitárias<br />
cabíveis para essas embalagens<br />
e os suportes de madeira.<br />
A madeira deverá, por exemplo,<br />
estar livre de insetos vivos e sem<br />
sinal de infestação de pragas. A<br />
responsabilidade de cumprimento<br />
das regras recairá sobre a empresa<br />
exportadora e importadora, que<br />
deve estar em concordância com as<br />
regras da Instrução Normativa.<br />
A certificação será necessária para<br />
embalagens e suportes de madeira<br />
em bruto - aqueles que não sofreram<br />
processamento, nem foram<br />
submetidos a tratamento -,<br />
que inclui caixas, engradados,<br />
paletes, madeira de estiva, lastros<br />
e calços. Estão isentos das exigências<br />
de certificação, as embalagens<br />
e os suportes de madeira industrializados,<br />
processados ou que,<br />
no processo de fabricação, tenham<br />
sido submetidos ao calor, colagem<br />
ou pressão, a exemplo de compensados<br />
e aglomerados de partículas,<br />
fibras orientadas ou folhas com espessura<br />
de 6 mm ou menos.<br />
Para mais informações, consulte a<br />
Portaria de nº 7, publicada na edição<br />
de 17/01/07 no Diário Oficial da<br />
União, disponível no site da Imprensa<br />
Nacional, no endereço eletrônico<br />
www.in.gov.br.<br />
Castanhas do Rio Grande<br />
do Norte Acessam o<br />
Mercado Externo<br />
Exportação para Europa e preços<br />
de venda melhores, com aumen-<br />
to da rentabilidade do negócio são<br />
os resultados das ações, promovidas<br />
pelo Sebrae, há três anos,<br />
para fortalecer e desenvolver a<br />
cultura empreendedora entre os<br />
produtores de castanha de caju,<br />
organizados em 11 municípios do<br />
Rio Grande do Norte. No ano<br />
passado, foi criado um projeto<br />
para promover a ocupação e o aumento<br />
das vendas das castanhas<br />
de forma competitiva e sustentável,<br />
fundamentadas na cultura de<br />
cooperação. Desde então, foram<br />
construídas e revitalizadas dezenas<br />
de indústrias que, juntas, são responsáveis<br />
por quase 20% da produção<br />
de castanhas de caju de<br />
todo o Brasil.<br />
Nos períodos de safra, entre os<br />
meses de outubro e janeiro, as indústrias<br />
chegam a empregar 280<br />
famílias, beneficiando 600 pessoas<br />
diretamente e 3 mil indiretamente.<br />
De acordo com o gestor<br />
do projeto no Estado, Lecy Carlos<br />
Gadelha Júnior, em 2006, as<br />
minifábricas produziram 90 toneladas<br />
de castanhas de caju, das<br />
quais 75 foram enviadas para Itália<br />
e Alemanha e 15 toneladas foram<br />
vendidas para o mercado interno.<br />
Além disso, os produtores aumentaram<br />
o preço do quilo das castanhas<br />
de R$ 0,70 para R$ 1,10,<br />
melhorando sua rentabilidade.<br />
Com a implantação das unidades<br />
familiares nas minifábricas e acompanhamento<br />
do Sebrae, os produtores<br />
se organizaram, investiram<br />
em embalagens novas e mais<br />
modernas, reduziram a sua<br />
dependência sobre os atravessadores<br />
na comercialização<br />
e aumentaram a oferta para os<br />
mercados interno e externo da<br />
castanha e dos subprodutos do<br />
caju, inclusive o orgânico.<br />
Fazenda de Goiaba<br />
Conquista Certificação<br />
Rainforest Alliance<br />
O Sítio São Nicolau, da empresa Val<br />
<strong>Frutas</strong>, produtora e processadora de<br />
goiaba de Vista Alegre do Alto/SP, foi<br />
a primeira fazenda de goiaba do<br />
mundo a receber autorização para<br />
utilizar o selo Rainforest Alliance<br />
Certified em seus produtos.<br />
Roberto Rossi, supervisor de<br />
Marketing da empresa, explica que<br />
“este é um selo reconhecido internacionalmente<br />
e, no intuito da<br />
melhoria contínua de suas práticas<br />
agrícolas, a Val <strong>Frutas</strong> encontrou<br />
nesta certificação os requisitos<br />
ideais para a promoção da<br />
agricultura sustentável”. A<br />
certificação garante que a empresa<br />
respeita o meio ambiente, os<br />
trabalhadores e a região onde está<br />
inserida. Para conquistar a<br />
certificação, a propriedade se<br />
comprometeu com as regras da<br />
Rede de Agricultura Sustentável,<br />
rede internacional de organizações<br />
sem fins lucrativos, que estabelece,<br />
entre outras normas, a conservação<br />
dos rios, dos solos e do<br />
meio ambiente. Além disso, as propriedades<br />
devem garantir que os trabalhadores<br />
e suas famílias sejam respeitados,<br />
recebendo um salário digno<br />
e tendo acesso à saúde e à educação.<br />
Para o Imaflora, organização<br />
sem fins lucrativos,responsável pelo<br />
processo de certificação Rainforest<br />
Alliance no Brasil, a conquista da Val<br />
<strong>Frutas</strong> representa o primeiro passo<br />
para a ampliação do segmmento de<br />
certificação para frutas. Além da<br />
goiaba, outros cultivos possuem o<br />
selo Rainforest Alliance, como<br />
café, banana, laranja e flores, em<br />
diversos países da América Latina<br />
e mais recentemente na África.<br />
11
12<br />
NO POMAR<br />
Marlene Simarelli<br />
BANANA RESISTENTE<br />
A SIGATOKA NEGRA<br />
Quando o fungo Mycosphaerella fijiensis Morelet, causador da Sigatoka negra, atinge<br />
os bananais, com variedades suscetíveis em condições de clima quente e úmido, as<br />
perdas chegam a 100% da produção. Para ajudar na solução do problema, a Embrapa<br />
Mandioca e Fruticultura Tropical lançou as novas cultivares de bananeira Japira e Pacovan<br />
Ken, resistentes à doença. O pesquisador Sebastião de Oliveira e Silva, responsável<br />
pelo melhoramento de bananeira, afirma que “o uso das duas variedades evita a<br />
aplicação de fungicidas no controle das sigatokas amarela e negra, prática de elevado<br />
custo e com implicações ambientais”.<br />
A cultivar Japira produz 25 toneladas por hectare; apresenta a maioria das características<br />
de desenvolvimento e de rendimento superior à Prata e bastante semelhante a<br />
Pacovan. Mas é superior na reação às doenças, sendo resistente a Sigatoka amarela, a<br />
Sigatoka negra e ao mal-do-Panamá. Foi lançada no Espírito Santo e avaliada em diferentes<br />
ecossistemas na Bahia, no Amazonas e no Acre.<br />
A Pacovan Ken tem porte de médio a alto, ciclo médio e se destaca das demais por<br />
apresentar produção de 30 toneladas por hectare. Os cachos, de frutos mais doces,<br />
podem chegar a 28 quilos, com sete a dez pencas por unidade. Apresenta também<br />
resistência a Sigatoka amarela e ao mal-do-Panamá. Lançada na Bahia, a Pacovan Ken<br />
foi testada e recomendada para outros estados da região Norte.<br />
Informações sobre as mudas das novas variedades podem ser obtidas na Campo<br />
Biotecnologia, telefone (75) 3621-2584, email: fernando@campo.com.br.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
CUIDADOS COM O MAMOEIRO<br />
A partir de março, quando diminuem as chuvas e a temperatura cai, a cultura do mamoeiro, de produção contínua, exige que os<br />
produtores fiquem atentos, principalmente para os problemas fitossanitários, como o ácaro-rajado e as doenças viróticas meleira e<br />
mosaico do mamoeiro. Isto porque sua ocorrência fica favorecida com a entrada do período da seca.<br />
O pesquisador David Martins, do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – Incaper –, explica que “os<br />
ácaros-rajados (Tetranychus urticae) surgem com o início da seca. São pequenos indivíduos, pouco perceptíveis a olho nu, encontrados<br />
associados às folhas mais velhas do mamoeiro, geralmente na parte inferior do limbo, formando colônias entre as nervuras mais<br />
próximas do pecíolo, onde tecem teias e depositam seus ovos. Quando as folhas são intensamente atacadas, secam e caem, prematuramente,<br />
provocando redução da área foliar. A queda das folhas afeta o desenvolvimento e a produtividade da planta e deprecia a<br />
qualidade dos frutos pela sua exposição à ação direta<br />
dos raios solares”. O ataque do ácaro-rajado aos pés de<br />
mamoeiro normalmente surge em reboleiras. “E é nas<br />
FOTOS INCAPER/ES<br />
O clima mais ameno e seco<br />
favorece o aparecimento de pragas<br />
e doenças como ácaro rajado<br />
(acima) e meleira (ao lado).<br />
Japira (acima) e Pacovan Ken são<br />
resistentes a sigatoka negra.<br />
reboleiras que a praga deve ser combatida antes que se<br />
disseminem pela lavoura”, enfatiza Martins.<br />
As duas doenças viróticas meleira e mosaico do mamoeiro<br />
aparecem com o final do verão, em condições de<br />
temperaturas mais amenas. Essas condições climáticas<br />
favorecem o aparecimento dos sintomas com maior rapidez,<br />
ou seja, ficam mais evidentes. Como para essas<br />
doenças não há controle, o pesquisador recomenda que<br />
as plantas atacadas sejam erradicadas, tão logo apareçam<br />
os primeiros sintomas, para evitar que se disseminem<br />
pela lavoura.<br />
EMBRAPA CNPMF
MUDAS DE MORANGO<br />
EM CÂMARA FRIA<br />
As mudas de morango da cultivar Camarosa, uma das mais plantadas no País e a mais<br />
importante no Rio Grande do Sul, produzem mais quando vernalizadas em câmara fria. A<br />
vernalização, técnica que consiste em colocar as mudas em câmara fria durante uma fase de<br />
seu crescimento, fez com que a produtividade fosse de 1,07 kg por planta por ano, o<br />
equivalente a 117% superior em relação a muda sem vernalização. As mudas oriundas do<br />
Chile, também usadas para comparação, tiveram produção semelhante a muda nacional<br />
vernalizada. “Os resultados da pesquisa tornam competitivas as mudas produzidas no Brasil,<br />
sendo possível reduzir a importação e oferecer uma alternativa de renda aos produtores<br />
nacionais”, afirma Roberto Pedroso de Oliveira, da Embrapa Clima Temperado, Pelotas/RS,<br />
coordenador do estudo. Para se ter uma idéia do mercado, mais de 80% das mudas de<br />
morango utilizadas no Rio Grande do Sul, provêm do Chile e da Argentina. O pesquisador<br />
explica que “a vernalização das mudas foi feita por 24 dias em câmara fria, sob condições de<br />
temperatura de 4±1oC e umidade relativa de 94±2%”.<br />
A produção e a qualidade dos frutos do morangueiro estão diretamente relacionadas ao<br />
número de horas de frio que as mudas recebem no viveiro. Em sua maioria, as mudas<br />
produzidas no País não atingem o padrão de certificação, apresentando produtividade inferior<br />
às importadas dos Estados Unidos, do Chile e da Argentina. O experimento foi realizado<br />
no sítio Simon, município de Pelotas/RS, utilizando sistema de produção sob túneis com Produtor de mudas Pedro Signorini tes-<br />
mudas de morango da cultivar Camarosa, produzidas em viveiro da região de Pelotas. Para tou e aprovou a tecnologia desenvolvida.<br />
a vernalização, as folhas foram removidas, mantendo-se as raízes intactas, sendo realizado<br />
um tratamento preventivo com fungicida tiofanato metil. Em seguida, as mudas foram dispostas em câmara fria no interior de sacos<br />
plásticos transparentes de 0,<strong>05</strong> mm de espessura, contendo 20 plantas cada. O transplantio das mudas foi realizado de acordo com<br />
as técnicas de produção em uso no País. Mais informações sobre a pesquisa com Roberto Pedroso de Oliveira, email:<br />
rpedroso@cpact.embrapa.br, telefone (53) 3275-8100.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO/INCAPER<br />
ABACAXI VITÓRIA<br />
PARA ENFRENTAR FUSARIOSE<br />
Resistência a fusariose é a principal característica do abacaxi Vitória, nova cultivar lançada<br />
pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – Incaper -,<br />
em parceria com a Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical. A doença, causada<br />
pelo fungo Fusarium subglutinans f.sp. ananás, é o problema fitossanitário que mais<br />
ataca a cultura. A nova cultivar, com folhas sem espinhos, é destinada ao consumo in<br />
natura e à agroindústria. Seus frutos têm polpa branca, boa suculência, eixo central de<br />
tamanho reduzido e elevado teor de açúcares (média de 15,8 °Brix). Outras características<br />
favoráveis para produção são a cor amarela da casca, o formato cilíndrico e o<br />
peso dos frutos, em torno de 1,5 kg. De acordo com as instituições, o abacaxi Vitória<br />
é 30% mais produtivo, dispensa o uso de fungicidas para controle da doença, possibilitando<br />
a redução do impacto ambiental e dos custos de produção. Apresenta, tam-<br />
Vitória chega ao mercado depois de<br />
bém, maior resistência ao transporte e ao pós-colheita. As recomendações técnicas<br />
uma década de pesquisa.<br />
de cultivo são as mesmas usadas para as cultivares Pérola e Smooth Cayenne.<br />
O Programa de Melhoramento Genético do Abacaxizeiro da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical começou em 1984. Os<br />
híbridos gerados passaram por avaliações e seleção em diferentes regiões produtoras. Deles, três híbridos foram introduzidos nas<br />
fazendas experimentais do Incaper, onde, nos últimos 10 anos, realizou-se a seleção, que originou o Vitória. Para outras informações<br />
e locais de aquisição de mudas, contatar Aureliano Nogueira da Costa, na coordenação do Programa Estadual de Fruticultura do<br />
Incaper, telefone (27)3137-9887, email: aureliano@incaper.es.gov.br.<br />
EMBRAPA CPACT<br />
13
14<br />
FRUTAS FRESCAS<br />
NICEBERRY<br />
FRUTAS FINAS<br />
Empresas apostam na<br />
produção e comercialização de<br />
frutas finas e delicadas como<br />
mirtilo e physalis, exigentes em<br />
cultivo, colheita e transporte,<br />
cujo alto valor agregado é o<br />
principal diferencial.<br />
Beth Pereira<br />
Embora representem um grande potencial econômico,<br />
frutas finas como mirtilo, framboesa, cereja,<br />
amora, pitaya e physalis, têm consumo restrito<br />
por causa do alto valor agregado, em decorrência<br />
da produção limitada, do manejo da difícil colheita,<br />
da exigência em mão-de-obra, dos cuidados no<br />
transporte e armazenagem e por serem altamente<br />
perecíveis. Os preços elevados fazem com que seu<br />
consumo fique praticamente restrito às pessoas com<br />
maior poder aquisitivo. Júlio Cesar Zanardi, gerente<br />
de importação da Irmãos Benassi, concorda que<br />
a demanda por frutas finas no País ainda é bastante<br />
limitada às pessoas da classe A. “Apenas no pico da
FOTOS NICEBERRY<br />
safra, quando os preços caem, elas ficam mais acessíveis<br />
também às classes B, C e D”, observa. Ele<br />
lembra que a amora é a que apresenta maior produção<br />
e preço mais reduzido, principalmente no<br />
pico da safra. Segundo Zanardi, as frutas finas são<br />
muito sensíveis, apresentando bastante dificuldade<br />
de manuseio. Isso faz que o preço do mirtilo, por<br />
exemplo, seja muito alto, tornando praticamente<br />
impossível consumi-lo fresco. No geral, essa fruta<br />
é comercializada congelada, sob a forma de polpa<br />
ou utilizada no preparo de doces e geléias.<br />
Outra fruta difícil de ser comercializada fresca,<br />
na opinião de Zanardi, é a framboesa. “É muito sensível<br />
para ser comercializada fresca, exige cuidados<br />
na colheita e na pós-colheita, além de uma estrutura<br />
muito boa de armazenagem e refrigeração”, explica.<br />
Já a pitaya, embora seja uma fruta nova no<br />
mercado, tem tido o consumo aumentado aos poucos,<br />
mas os preços ainda estão elevados. “Se aumentar<br />
a produção, a tendência é o preço cair e o<br />
consumo ampliar”, analisa. Enquanto isso, para a<br />
physalis, a demanda é reprimida, por ser uma fruta<br />
pouco divulgada e pouco conhecida. “A venda é<br />
quase irrisória. O consumo tem aumentado, porém<br />
de forma insignificante.”<br />
EXCLUSIVO<br />
A empresa Irmãos Benassi é distribuidora de frutas<br />
finas para o Brasil da italiana Italbras, com sede<br />
em Vacaria/RS. São Paulo responde pelo maior consumo<br />
dessas frutas, por uma questão de logística.<br />
Na safra, a empresa recebe remessas de frutas diariamente.<br />
Agora, porém, com a colheita chegando<br />
ao fim, o recebimento ocorre apenas duas vezes<br />
por semana. Para Zanardi, a forma de tornar<br />
essas frutas acessíveis ao consumidor brasileiro é<br />
reduzir o valor agregado, o que ele considera difícil,<br />
por causa do alto custo de produção e da alta<br />
exigência em mão-de-obra. “Daí a preferência por<br />
congelar a fruta”, observa. “Um quilo de framboe-<br />
sa vale mais do que o quilo de filé mignon”, compara,<br />
lembrando que, atualmente, na Ceasa, o quilo<br />
chega a R$ 35,00, o mesmo vale para a physalis.<br />
Enquanto isso, o preço do quilo da amora é R$<br />
30,00, atualmente, e, na safra, R$ 10,00; e da<br />
pitaya, R$ 10,00.<br />
Há algumas frutas, porém, as quais o Brasil importa<br />
praticamente toda a necessidade de consumo.<br />
É o caso da cereja e da pêra, porque o clima<br />
não favorece o cultivo. Zanardi afirma que há testes<br />
em andamento, mas ainda não foram encontradas<br />
variedades que se adaptem ao nosso clima, até<br />
porque muitas delas precisam de muito frio. O Brasil<br />
produz uma ou outra variedade de pêra, mas, para<br />
atender à demanda, importa a fruta dos Estados<br />
Unidos, Chile, Espanha, Argentina, Itália e Portugal.<br />
“É uma fruta produzida e importada em escala,<br />
portanto, de preço barato”, diz Zanardi.<br />
INCENTIVO<br />
Há três anos, a Nice Berry, empresa do Grupo<br />
Hathor, está incentivando o cultivo de frutas finas<br />
no Brasil. Possui pomares de physalis, blue berry<br />
(mirtilo), framboesa e amora nos municípios<br />
catarinenses de Itá e Bom Retiro, e nas cidades argentinas<br />
de Santa Isabel e Concórdia. Segundo Débora<br />
Schäfer, responsável pela área de Marketing<br />
de empresa, os 22 hectares cultivados no País com<br />
frutas finas produzem 60 toneladas, sendo a maior<br />
produção de amora e framboesa, cuja colheita se<br />
concentra de outubro a janeiro, com exceção do<br />
physalis, que produz o ano todo, cerca de 17 toneladas.<br />
Na Argentina, onde a produção é maior,<br />
90% da colheita é exportada para os Estados<br />
Unidos e a Europa. Débora diz que o maior mercado<br />
de frutas finas é São Paulo, mas a idéia é trabalhar<br />
o Brasil como um todo. “O consumidor brasileiro<br />
aprecia frutas e acreditamos que a divulgação<br />
das propriedades e do sabor das frutas finas vai<br />
aumentar a demanda e, ao mesmo tempo, baixar<br />
Physalis e mirtilo têm<br />
alto valor agregado e<br />
são acessíveis apenas<br />
aos consumidores de<br />
maior poder aquisitivo.<br />
15
16<br />
FRUTAS FRESCAS<br />
os preços, tornando-as mais acessíveis”, observa.<br />
“Já existe uma demanda, embora pequena. Temos<br />
realizado ações promocionais, que incluem<br />
degustação nos pontos-de-vendas, anúncios em<br />
revista e folders.”<br />
As frutas finas exigem cuidados na<br />
colheita, e estrutura de armazenagem<br />
e refrigeração.<br />
Débora aponta uma demanda mundial crescente<br />
por mirtilo. Ela conta que a Argentina deve produzir<br />
140 toneladas este ano. Outra fruta com<br />
bom potencial de mercado é a framboesa, muito<br />
procurada pelo sabor e pela cor. “Grandes empresas<br />
a têm utilizado para enriquecer outros alimentos,<br />
principalmente sobremesas e lácteos”, afirma<br />
e acrescenta que a demanda por amora também<br />
vai aumentar bastante. “A oferta está crescendo e o<br />
preço está ficando mais acessível para as empresas<br />
industrializarem os produtos.”<br />
A venda da produção da Nice Berry no Brasil é<br />
feita por meio de distribuidores nas Ceasas e no<br />
Ceagesp, em São Paulo, principalmente. A empresa<br />
vende as frutas in natura, em embalagens de 125<br />
gramas, e também congeladas (IQF), visando à produção<br />
de geléias, iogurtes, tortas e sucos. Conhecido<br />
como fonte da juventude, pelo seu poder<br />
antioxidante, além de propriedades nutricionais, o<br />
blue berry (mirtilo) é comercializado em embalagens<br />
de 125 gramas, por cerca de R$ 8,00. “O<br />
ROBERTO PEDROSO DE OLIVEIRA/EMBRAPA CLIMA TEMPERADO<br />
mirtilo exige muita mão-de-obra porque os frutos<br />
têm de ser colhidos com bastante cuidado, para<br />
não se romperem, vão direto na embalagem com<br />
gelo no fundo.” Segundo Débora, no ano passado,<br />
foram colhidas seis toneladas da fruta. “A idéia é<br />
dobrar a produção de mirtilo este ano”, planeja e<br />
acrescenta que os pomares são novos e a planta<br />
entra no seu pico de produção a partir do quinto<br />
ano, produzindo até 15 anos.<br />
A embalagem de amora é comercializada<br />
por R$ 4,00. “Além de maior produtividade, comparada<br />
a outras frutas finas, é mais fácil de conduzir.”<br />
A framboesa é vendida por R$ 7,00 a embalagem<br />
de 125 gramas, o mesmo preço da sofisticada<br />
physalis, de sabor único e incomparável, que une o<br />
ácido e o adocicado, e é apreciada pelos grandes<br />
chefs da cozinha internacional. “Tem sido muito utilizada<br />
na decoração de pratos e na elaboração de<br />
bombons”, diz Débora. Também, é consumida na<br />
forma de doces, sucos, sorvetes, geléias ou como<br />
acompanhamento de vinhos. Originária da Amazônia<br />
e dos Andes, possui alto teor de vitaminas A,<br />
C, fósforo e ferro, licopeno e betacaroteno, que<br />
tem efeito antioxidante. De olho no mercado internacional,<br />
a produção já está em fase de<br />
certificação. “A idéia é ter o EurepGap para exportar<br />
para o mercado europeu”, diz Débora. Por enquanto,<br />
o foco da empresa é consolidar o mercado<br />
interno. “Apenas quando a oferta for maior do que<br />
a demanda, passaremos a exportar.” Embora não<br />
seja orgânica, a produção não utiliza agrotóxicos.<br />
“Como as frutas são colhidas direto na embalagem,<br />
que vai para o processo de refrigeração, o consumidor<br />
tem à sua disposição uma fruta de excelente<br />
qualidade”, diz.<br />
POTENCIAL<br />
O Programa Estadual de Fruticultura do Rio<br />
Grande do Sul tem estimulado o cultivo de frutas<br />
finas. Na região, as mais importantes são morango,<br />
amora e framboesa, mas já começam a despontar<br />
espécies como physalis e mirtilo. Mercado existe,<br />
há o interesse de compradores estrangeiros, mas<br />
ainda não há uma estrutura de logística no aeroporto,<br />
segundo o coordenador do programa, Paulo<br />
Lipp João. “Falta estrutura de câmara fria para o<br />
embarque dessas frutas congeladas via aérea. O aeroporto<br />
não está preparado para essa finalidade”,<br />
afirma João. Ele acrescenta que, por essa razão, o<br />
fruticultor tem de preparar a carga e levar na hora<br />
País já dominou tecnologia para produção<br />
e comercialização do delicado morango.
para o aeroporto. “Além disso, muitas vezes, é preciso<br />
disputar lugar com outros produtos. Quando<br />
tem lugar no avião, a fruta é embarcada, caso contrário,<br />
volta para a propriedade. Por essa razão, a<br />
produção tem sido direcionada principalmente ao<br />
mercado de São Paulo, em especial para os sacolões<br />
de frutas finas.”<br />
Entre as frutas finas, a mais popular, segundo<br />
João, é o morango, com produção anual de 12 mil<br />
toneladas, direcionada basicamente para o mercado<br />
interno e muito pouco para exportação à Europa.<br />
Ele conta que “há cerca de cinco anos, produtores<br />
da Serra Gaúcha começaram a exportar a<br />
fruta, mas as vendas não avançaram mais por causa<br />
da baixa taxa cambial”. Segundo ele, são 450 hectares<br />
cultivados com morango, cuja produtividade<br />
tem aumentado, graças ao uso da fertirrigação. Além<br />
disso, ele conta que há variedades americanas e<br />
espanholas que podem ser plantadas e colhidas o<br />
ano inteiro. De amora, são 120 hectares e produção<br />
anual de 1.000 toneladas e, de framboesa, cerca<br />
de 10 hectares e produção de 50 toneladas. O cultivo<br />
da framboesa vem crescendo na região de Va-<br />
caria, visando à exportação – principalmente para<br />
a Itália, por meio de empresas italianas sediadas na<br />
região, como a Italbras – e também para o mercado<br />
interno, principalmente São Paulo.<br />
De acordo com João, a argentina Nice Berry<br />
tem fomentado o physalis, de forma ainda incipiente;<br />
além de mirtilo, na Serra Gaúcha, em Vacaria e<br />
Caxias do Sul, e no Alto Uruguai, em Erechim, onde<br />
está surgindo um novo pólo de cultivo de mirtilo.<br />
”Graças ao incentivo da Nice Berry, são 22 hectares<br />
de frutas finas e produção de 60 toneladas. Ele<br />
também lembra que “na região de Farroupilha está<br />
começando o cultivo de pitaia.”<br />
17
18<br />
PASSAPORTE<br />
PARA EXPORTAR<br />
Sistema garante a qualidade e a procedência da fruta, facilitando a<br />
entrada e a abertura de novos mercados para o produto brasileiro<br />
no Exterior, mas não é garantia de preços melhores.<br />
Beth Pereira
Segurança alimentar é uma das maiores preocupações<br />
mundiais, tanto que países e blocos comerciais<br />
têm criado legislações especiais para proteger<br />
o consumidor, que, a cada dia, aumenta o nível<br />
de exigências em relação a rastreabilidade dos<br />
alimentos. Com as frutas não é diferente. Na Europa,<br />
a maioria das grandes redes de varejo exige o<br />
EurepGap (Euro Retailer Produce Working Group),<br />
criado por grandes grupos varejistas desse continente.<br />
Mas há outros protocolos de certificação voltados<br />
para a fruticultura, como o GAP (Good<br />
Agricultural Practices), para o mercado americano;<br />
o TNC (Tesco Nature’s Choice) para os países onde<br />
a rede atua, mas principalmente para a Inglaterra; e<br />
o HACCP (Hazard Analysis and Critical Control<br />
Points), sendo este último recomendado pela Organização<br />
Mundial de Saúde (OMS), além do programa<br />
brasileiro Produção Integrada de <strong>Frutas</strong> (PIF).<br />
“Enquanto no sudeste asiático o alvará para a entrada<br />
de frutas é a declaração de boas práticas agrícolas,<br />
nos Estados Unidos, além da legislação sobre<br />
contaminações microbiológicas (Lei Clinton), os exportadores<br />
têm de cumprir as determinações da Lei<br />
Antiterror do presidente Bush”, destaca o presidente<br />
do Conselho do Instituto Brasileiro de <strong>Frutas</strong> (<strong>Ibraf</strong>)<br />
e da Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação<br />
da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA),<br />
Luiz Borges Junior. De acordo com Borges, o cerco<br />
está se fechando e a União Européia (UE) está se<br />
estruturando para implementar as normas de produção<br />
integrada de frutas em todos os países do<br />
bloco. Ele lembra que a Itália, Espanha, Alemanha,<br />
França e Bélgica já se adequaram ao programa, porém,<br />
os novos integrantes dos blocos da União Européia<br />
(UE) ainda estão se preparando para essa<br />
finalidade. “Quando esses novos países estiveram<br />
adequados, eles vão exigir que todos os exportadores<br />
estejam dentro das premissas do PIF”, diz.<br />
Neste mês de março, uma missão da UE virá<br />
ao Brasil para vistoriar a produção de melão, manga<br />
e outras frutas da pauta de exportação. “Certamente<br />
vão exigir a análise de resíduos, como já ocorre<br />
com a maçã e o mamão”, acredita Borges Junior.<br />
Ele conta que o País está se estruturando com laboratórios<br />
para atender a essa nova demanda. Além<br />
disso, laboratórios internacionais estão se instalando<br />
no território nacional para essa finalidade. Segundo<br />
Borges Junior, vale a pena adotar a<br />
certificação, até porque no futuro todos os mercados<br />
vão exigir rastreabilidade. “A pressão será maior<br />
e as exigências, também”, salienta. Ele acrescenta<br />
que “a segurança do alimento é o princípio básico<br />
para acesso aos mercados internacionais, inclusive<br />
para o mercado interno”.<br />
CONSUMO CONSCIENTE<br />
Gustavo Sanches Bacchi, da certificadora BCS<br />
Öko-Garantie - Brasil, considera que há vários tipos<br />
de exigências dos mercados importadores, entre<br />
elas as relacionadas às preferências do consumidor,<br />
como tamanho, cor, sabor; e as que se referem<br />
ao atendimento das mais diversas legislações<br />
vigentes no Brasil e nos países para os quais são<br />
exportadas as frutas brasileiras. “Além disso, há normas<br />
decorrentes do ‘consumo consciente’, que exige<br />
garantias sobre o cumprimento de padrões sociais<br />
e ambientais mínimos por parte dos fruticultores<br />
e distribuidores”, destaca. Bacchi lembra que um<br />
exemplo bastante importante de exigência do consumo<br />
consciente, que ganha cada vez mais relevância<br />
em muitos países, é a certificação orgânica. “O<br />
consumo dos produtos orgânicos ampliou-se nas<br />
últimas décadas na mesma proporção em que aumentou<br />
a consciência do consumidor sobre os benefícios<br />
da produção e do consumo das frutas orgânicas”,<br />
observa. Embora reconheça a necessidade<br />
e as vantagens da certificação, Bacchi afirma que há<br />
alguns mitos em torno do assunto. Um deles é a<br />
crença de que a certificação de uma propriedade,<br />
uma vez obtida, resolve todos os problemas de<br />
comercialização do produto em questão, o que não<br />
é verdade. “Muita gente também acredita que o<br />
esforço necessário para conseguir o certificado termina<br />
quando o mesmo é emitido pela certificadora.<br />
Isso, porém, não é real, até porque a maioria dos programas<br />
de certificação<br />
demanda uma melhoria<br />
contínua do<br />
produtor”,<br />
CERTIFICAÇÃO<br />
19 19
AGROECOLOGIA<br />
20<br />
CERTIFICAÇÃO<br />
Daniel Velloso, Agroecologia.<br />
ressalta. “Na prática, isso significa que o produtor<br />
precisa se organizar para conquistar a certificação e<br />
para mantê-la (ou seja aprimorá-la) nos anos seguintes.<br />
Além disso, também precisa atender às<br />
demais exigências dos mercados em questão.”<br />
Para Bacchi, outro aspecto interessante da<br />
certificação de propriedades agrícolas é o fato de<br />
que os produtores foram apresentados a esse tipo<br />
de serviço muito recentemente e, por esse motivo,<br />
ainda não há uma cultura de certificação bem consolidada<br />
no meio rural. “Conceitos fundamentais<br />
para uma certificação de alto nível, como por exemplo,<br />
conflito de interesses, independência, imparcialidade,<br />
transparência são, em muitos casos, completamente<br />
desconhecidos por parte dos produtores”,<br />
enfatiza. Ele acrescenta que pouco se sabe,<br />
também, sobre o rigor dos processos de acreditação<br />
aos quais são submetidas as certificadoras. “Nos<br />
processos de acreditação, as certificadoras são fiscalizadas<br />
constantemente, demandando, de forma<br />
permanente, a capacitação técnica dos seus funcionários,<br />
organização e muitas outras exigências que<br />
são pouco conhecidas pelos produtores rurais e<br />
pelos consumidores das suas frutas certificadas.”<br />
Soma-se a isso o fato de que cada país possui uma<br />
legislação própria, com variações conforme as diferentes<br />
espécies de frutas. “A própria União Européia,<br />
que tem realizado um grande esforço para<br />
harmonizar a legislação entre os países-membros,<br />
ainda possui diferenças na legislação de produtos<br />
fitossanitários referentes a produtos agroquímicos<br />
banidos e/ou limites máximos de resíduos”, analisa.<br />
Embora acredite que vale a pena investir na<br />
certificação, Bacchi destaca a importância de um<br />
bom plano de negócio, no qual todas as variáveis são<br />
estimadas e projetadas. “Os projetos de fruticultura certificados<br />
com a maior longevidade que conheço estão<br />
bem apoiados num bom planejamento”, salienta.<br />
Ele lembra que alguns aspectos relacionados<br />
à certificação tornam-se cada vez mais<br />
evidentes. “O enriquecimento da experiência<br />
dos produtores em conhecimento, organização,<br />
capacitação e outros quesitos exigidos<br />
pelos diferentes programas de certificação<br />
são bastante significativos”, afirma. “Talvez a<br />
avaliação econômica de curto prazo da relação<br />
entre os investimentos e os benefícios<br />
de um processo de certificação não<br />
consigam captar os ganhos em termos<br />
de produtividade, de eficiência administrativa,<br />
de redução de passivos<br />
ambientais, de saúde do consumidor<br />
e de tantos outros aspectos requeri-<br />
dos pelos diferentes programas de certificação e que<br />
se mantêm no longo prazo.”<br />
SEGURIDADE E<br />
BOAS PRÁTICAS<br />
O presidente do Instituto Agroecologia, Daniel<br />
Velloso, afirma que as principais premissas dos importadores<br />
de frutas são a comprovação da<br />
seguridade alimentar e a adoção das boas práticas<br />
agrícolas. Além de protocolos internacionais como<br />
EurepGap, US GAP e Tesco Natures Choice, ele<br />
afirma que outros países exportadores estão definindo<br />
legislações próprias. Caso do Chile, que criou<br />
o Chilegap, com benchmarking - técnica que consiste<br />
em acompanhar processos de organizações que<br />
sejam reconhecidas como representantes das melhores<br />
práticas administrativas. “Outros países exportadores<br />
estão buscando o benchmarking, ou seja,<br />
a equivalência e o reconhecimento com o<br />
EurepGap, a exemplo do México, China GAP, Kenia,<br />
Japão (J-GAP) e outros”, explica.<br />
Como representante do oficial da EurepGap no<br />
Brasil, Velloso destaca como as principais exigências<br />
desse selo requisitos da rastreabilidade, de<br />
sustentabilidade ambiental, seguridade alimentar e<br />
viabilidade econômica, mediante a aplicação das<br />
boas práticas agrícolas. Nessas práticas, está proibida<br />
a utilização de tecnologias agressivas ao ambiente<br />
e à saúde humana, segurança e bem-estar dos<br />
trabalhadores. “Isso implica em uso racional e exclusivo<br />
de produtos oficialmente registrados para<br />
Principais Pontos para<br />
Obter Certificação<br />
Fazer controle de agroquímicos;<br />
Cuidar da higiene na colheita e pós-colheita;<br />
Oferecer condições de trabalho adequadas<br />
à legislação trabalhista;<br />
Proteger o Meio Ambiente;<br />
Uma vez conquistada a certificação é<br />
necessário fazer uma melhoria contínua<br />
da propriedade para mantê-la;<br />
O tempo e o preço da certificação variam<br />
de acordo com o estágio em que se encontra<br />
a propriedade e tempo que o produtor leva<br />
para corrigir os pontos não conformes.
Compradores preocupam-se com questões<br />
ambientais e bem estar dos trabalhadores -<br />
Katia Leal Nogueira, SGS do Brasil.<br />
cada cultivo, respeitando-se os intervalos de segurança;<br />
conservação do solo, aplicação de fertilizantes, recursos<br />
hídricos, recursos naturais de maneira geral,<br />
análise de resíduos, colheita, pós-colheita”, detalha.<br />
PREOCUPAÇÃO<br />
DOS COMPRADORES<br />
Katia Leal Nogueira, gerente comercial da SGS<br />
do Brasil, também ressalta que há, atualmente, por<br />
parte dos compradores, uma preocupação muito<br />
grande com as questões relacionadas a resíduos<br />
químicos, ambiente e bem-estar dos trabalhadores.<br />
“O reflexo dessas preocupações está nas principais<br />
normas de certificação que, na maioria das vezes,<br />
são elaboradas pelas próprias redes varejistas ou entidades<br />
criadas por eles, caso do EurepGap e Tesco<br />
Natures Choice”, cita. “As exigências estabelecidas<br />
nessas normas visam a garantir a produção de fruta<br />
sustentável, de qualidade, livre de resíduos, respeitando<br />
o ambiente e os trabalhadores.”<br />
Ela chama a atenção para as questões relacionadas<br />
ao cumprimento do limite máximo de resíduo<br />
(LMR) permitido e a não-utilização de produtos proi-<br />
bidos, o que, na<br />
sua opinião, é de<br />
suma importância<br />
e pode comprometer<br />
a aceitação<br />
da fruta.<br />
Além disso, lembra<br />
que alguns<br />
países estabelecem<br />
regras de<br />
produção e<br />
empacotamento<br />
para o controle<br />
da mosca-dafruta.<br />
“Dentro desse contexto, percebe-se que a<br />
certificação pode ser um fator determinante para<br />
alguns compradores e mercados, aliada ao atendimento<br />
às especificações estabelecidas por cada importador<br />
(cor, tamanho, etc.).” Na opinião de Katia,<br />
vale a pena investir na certificação de frutas, principalmente<br />
porque pode facilitar o acesso do produtor<br />
certificado a mercados mais exigentes e, em alguns<br />
casos, que melhor remuneram. “O investimen-<br />
SGS DO BRASIL<br />
21
22<br />
to em certificação é rapidamente recuperado, haja vista o<br />
aumento da produtividade e a melhora da qualidade dos<br />
frutos”, pondera.<br />
Katia destaca como vantagens da certificação de frutas<br />
a redução do uso de agroquímicos, melhora do controle<br />
da produção, adequação à legislação quanto ao armazenamento,<br />
uso e descarte de agrotóxicos e maior qualificação<br />
dos funcionários. “Com a diminuição da necessidade<br />
de ações corretivas no solo e de controle de pragas<br />
e doenças, há uma economia de até 40% no uso de<br />
insumos agrícolas, diante da menor necessidade de ações<br />
corretivas no solo e do controle de pragas e doenças”,<br />
salienta. “Na parte administrativa, há uma melhor gestão<br />
da propriedade, entre outras vantagens.”<br />
PREOCUPAÇÕES RELEVANTES<br />
O engenheiro agrônomo da certificadora OIA (Organização<br />
Internacional Agropecuária) Edegar de Oliveira Rosa,<br />
destaca que, quem está comprando a fruta, quer ter a certeza<br />
de não estar trazendo nenhuma praga. “Para exportar limão<br />
para a Europa, é necessário dar um banho de hipoclorito<br />
na fruta, para evitar o tráfego de patógenos”, exemplifica.<br />
“Outra exigência é com a segurança do alimento (que não<br />
faça mal para quem o consome). As legislações começam a<br />
ser mais rígidas em relação a isso”, diz.<br />
A condição ambiental é outra preocupação, principalmente,<br />
no sentido de reduzir o risco de contaminação do ambiente<br />
e garantir um nível de justiça social, o que passa pela<br />
proibição do trabalho escravo e do uso de mão-de-obra infantil,<br />
além de garantias de condições mínimas para os funci-<br />
Quando se pensa em exportações de frutas, um dos assuntos<br />
mais preocupantes para o produto brasileiro é a<br />
questão dos limites mínimos de resíduos (LMR) de pesticidas.<br />
Segundo o coordenador do Comitê de Defensivos Agrícolas<br />
do Fundecitrus, Eliseu Nonino, atualmente, existem, apenas<br />
normas relativa a limites de resíduos para produtos in natura.<br />
“O Codex ainda não definiu sobre limites de resíduos para<br />
alimentos processados”, explica e acrescenta que esse assunto<br />
será discutido, na China, em maio, durante reunião.<br />
Em relação às frutas in natura, Nonino observa que cada<br />
país define quais são os defensivos permitidos e tem sua<br />
legislação sobre esse assunto. “Caso um produto seja aprovado<br />
para determinada cultura, é estabelecido um mínimo<br />
permitido de resíduos”, diz. No Brasil, ele lembra que são<br />
três os órgãos reguladores: o Mapa (Ministério da Agricultura,<br />
Pecuária e Abastecimento); a Anvisa (Agência de Vigilância<br />
Sanitária) e o Ministério do Meio Ambiente.<br />
Produtos certificados têm<br />
maior aceitação no Exterior.<br />
onáriosligados à produção<br />
da fruta.<br />
“Essa exigência<br />
está vindo<br />
de duas formas:<br />
por meio dos protocolos da iniciativa privada e dos governos,<br />
que prevê boas práticas agrícolas, e, ao mesmo tempo,<br />
está crescendo as legislações de orgânicos, cuja diferença<br />
principal é a proibição de uso de agrotóxicos”, enfatiza. Ele<br />
lembra que, no pólo brasileiro de Mossoró, exportador de<br />
melão, além das certificações exigidas pelos importadores, já<br />
há um movimento em torno da certificação orgânica.<br />
De acordo com Oliveira Rosa, atualmente, a primeira<br />
questão levantada na mesa de negociação com um produtor,<br />
que pensa em exportar frutas, é sobre a certificação que ele<br />
tem. Segundo ele, no passado alguns produtores aderiam à<br />
certificação de forma equivocada, acreditando que isso seria<br />
garantia de venda da produção, o que não é verdade. “É<br />
uma ferramenta comercial, mas não é salvação da lavoura,<br />
não é uma garantia de venda”, observa e lembra que o papel<br />
da certificação é garantir qualidade ou por produto ou por<br />
processo de produção. “Hoje, isso já está mais claro”, pondera.<br />
“Outro ponto é a melhoria no sistema de gestão da<br />
propriedade, muitas vezes até acompanhada de uma redução<br />
do custo de produção.” Ele aponta também um ganho<br />
financeiro, por dois motivos: é possível vender melhor o produto<br />
e obter mais lucro ou ter acesso a mercados antes restritos.<br />
“No caso da certificação orgânica, indiscutivelmente,<br />
há uma vantagem com relação ao preço.”<br />
LIMITES MÍNIMOS DOS RESÍDUOS<br />
Em nível internacional, Nonino lembra que há o Codex<br />
Alimentarius, programa conjunto da Organização das<br />
Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e<br />
da Organização Mundial da Saúde (OMS), que tem instâncias<br />
para cada tipo de alimento na comercialização internacional<br />
entre países. “Dentre essas instâncias alimentares,<br />
há também os limites de resíduos de pesticidas permitidos,<br />
válidos para o comércio internacional. Hoje há<br />
uma lista composta por 52 substâncias, que são aprovadas<br />
no Brasil, pelos importadores e pelo Codex”, explica.<br />
“No âmbito da citricultura brasileira há um comitê ligado<br />
ao Fundecitrus com a participação de vários órgãos.<br />
Trabalhamos com uma lista de defensivos apro-vados para<br />
uso no Brasil e pelos países que importam produtos<br />
cítricos brasileiros”, observa e acrescenta que<br />
“no País há 108 substâncias permitidas pelos mercados<br />
externos”.<br />
NYKLAURITZENCOOL DO BRASIL - PORTO DE NATAL/RN
PROGRAMA<br />
BRASILEIRO<br />
Atualmente, o Brasil tem 40,4<br />
mil hectares de frutas cultivados<br />
dentro do programa Produção Integrada<br />
de <strong>Frutas</strong> (PIF), cerca de<br />
cinco mil hectares a mais do que<br />
20<strong>05</strong>. O PIF tem como meta a produção<br />
de frutas de qualidade, de<br />
maneira segura para alimentação,<br />
sem resíduos danosos à saúde humana.<br />
Desta maneira, as frutas são<br />
produzidas sem insumos poluentes,<br />
com monitoramento dos procedimentos<br />
e rastreabilidade do campo<br />
à mesa do consumidor, em<br />
condições socialmente e ecologicamente<br />
justas e sustentáveis.<br />
Instrução Normativa, publicada<br />
em outubro de 2006 pelo Mapa,<br />
criou novas regras para a exportação<br />
de frutas. Segundo a medida,<br />
os produtores devem fazer<br />
parte do Plano Nacional de Segurança<br />
e Qualidade dos Produtos<br />
de Origem Vegetal (PNSQV),<br />
do Mapa. De acordo com o coordenador-geral<br />
do Sistema de Produção<br />
Integrada e Rastreabilidade<br />
do Mapa, José Rosalvo<br />
Andrigueto, além de garantir a<br />
qualidade dos alimentos, o programa<br />
tem a preocupação de produzir<br />
sem agredir o ambiente. “É<br />
uma melhoria do processo produtivo<br />
para se obter um alimento<br />
seguro, que não tenha contaminações.<br />
O sistema também é<br />
econômico, pois reduz o custo da<br />
produção ao usar menos<br />
agrotóxicos e fertilizantes.”<br />
LIVRO DE CAMPO<br />
Há três anos, a Daros-BR, de<br />
Mogi Mirim (SP), iniciou as exportações<br />
de papaia, limão, mamão<br />
formosa, figo, goiaba, manga,<br />
banana e abacaxi para a Europa.<br />
Na época, apenas um dos<br />
produtores que entrega frutas<br />
tinha o pomar certificado com o<br />
EurepGap. Segundo o diretor da<br />
empresa, Marcio Eduardo Bertin,<br />
nesse período, muitos conseguiram<br />
o selo, outros, porém, estão<br />
em fase de validação. Embora o selo<br />
não signifique valor agregado, mas<br />
apenas o atendimento a uma barreira,<br />
Bertim garante que o mesmo<br />
favorece a conscientização no meio<br />
em que a pessoa trabalha. “O produtor<br />
visualiza problemas que ele<br />
não percebia anteriormente,<br />
como, por exemplo, o uso de defensivos”,<br />
afirma e acrescenta que<br />
a empresa recebe frutas da região<br />
e de outros Estados, de produtores<br />
e packing houses certificados<br />
ou em validação.<br />
A Andrad Sun Farms, também de<br />
Mogi Mirim, tem o EurepGap e o<br />
selo orgânico americano NOP. A<br />
certificação orgânica foi conquistada<br />
há sete anos e segundo a gerente<br />
comercial e administradora<br />
da empresa, Aline Fátima Andrade<br />
Rosai, a principal mudança foi a<br />
adoção dos procedimentos de descrição<br />
de tudo que é realizado na<br />
lavoura, até porque a propriedade<br />
já não utilizava defensivos químicos.<br />
“Depois do selo, começamos a<br />
anotar e a descrever no livro de campo<br />
o dia-a-dia do sítio; os funcionários<br />
foram treinados para não cometer<br />
erros no manuseio de produtos<br />
autorizados pelo protocolo e<br />
passamos a fazer a rastreabilidade<br />
do pomar”, enumera.<br />
A Sun Farm vende a produção para<br />
empresas parceiras que fazem o<br />
processamento de suco e do óleo<br />
de limão orgânico, exportados<br />
para os Estados Unidos e, em pequena<br />
quantidade, para a Europa.<br />
No entanto, não consegue vender<br />
a fruta in natura, como orgânica,<br />
para o mercado europeu, por causa<br />
do banho de hipoclorito de<br />
sódio, que é uma barreira para<br />
aquele mercado. “Exportamos<br />
limão orgânico como convencional<br />
para a Europa.” Segundo Aline,<br />
as principais adaptações da<br />
propriedade para atender ao<br />
EurepGap foram a construção de<br />
sanitários e de depósito de defensivos;<br />
a adequação do packing<br />
house; o plantio de cercas-vivas;<br />
a realização periódica de análises<br />
de resíduos; o treinamento<br />
da equipe de trabalho e a<br />
implementação de uso de EPI.<br />
“Com o selo, não conseguimos<br />
vantagem com relação aos preços,<br />
mas ajudou bastante no cotidiano<br />
da propriedade. Além de<br />
reduzir custos, melhorou a qualidade<br />
da fruta.”<br />
CARTA DE<br />
CONFORMIDADE<br />
A Associação Paulista dos Produtores<br />
de Caqui (APPC) exporta a<br />
fruta para a Europa desde 2001.<br />
Todos os associados estão em<br />
fase de certificação da produção<br />
como o EurepGap. Segundo o assistente<br />
administrativo da APPC,<br />
Fábio Válio de Camargo, o único<br />
problema é que não há, no País,<br />
uma lista de defensivos autorizados<br />
para a cultura. Por essa<br />
razão, ele afirma que a<br />
certificadora vai dar uma carta<br />
de conformidade, informando sobre<br />
o cumprimento de todos os<br />
itens, com exceção do que trata<br />
de defensivos autorizados.<br />
“O governo precisa ter defensivos<br />
autorizados, afinal, esse é<br />
um dos itens principais do<br />
EurepGap”, afirma o produtor de<br />
caqui, Paulo Shigueru Toyoda, de<br />
Pilar do Sul (SP), que considera<br />
essa a principal dificuldade para<br />
receber o selo para a fruta.<br />
Ele não espera vantagens<br />
econômicas ou de preços com o<br />
selo. “É apenas uma forma de<br />
garantir mercado”, resume o<br />
dono do Sítio Toyoda, que cultiva<br />
caqui há 10 anos. Desde 2004,<br />
exporta a fruta para a Europa,<br />
via APCC, e está adequando a<br />
propriedade às normas EurepGap.<br />
Para ele, as principais mudanças<br />
em função da adequação à certi<br />
ficação são as anotações sobre<br />
defensivos, o uso correto e o respeito<br />
à carência dos produtos.<br />
23
24<br />
CERTIFICAÇÃO<br />
FRUTA<br />
PAULISTA<br />
Projeto enriquecerá a experiência dos produtores em conhecimento,<br />
organização e capacitação exigidos pelos diferentes programas<br />
internacionais de certificação, levando maior rentabilidade ao campo.<br />
Marlene Simarelli<br />
Fotos Sebrae-SP<br />
Os pomares de acerola, caqui, figo, goiaba, laranja,<br />
limão, pêssego, uva, morango, entre outras, fazem do<br />
Estado de São Paulo o detentor de 47% da produção<br />
brasileira de 40 milhões de toneladas de frutas, distribuídas<br />
em 2,3 milhões de hectares. Mesmo com quase<br />
metade da produção nacional, e sendo exportador, São<br />
Paulo é pouco reconhecido como pólo nacional de fruticultura.<br />
Nesse contexto, foi lançado o projeto de Boas<br />
Práticas Agrícolas e promoção comercial Fruta Paulista,<br />
uma parceria entre o Instituto Brasileiro de <strong>Frutas</strong> – <strong>Ibraf</strong>,<br />
e o Sebrae–São Paulo, com a participação de cerca de<br />
400 fruticultores das diversas regiões produtoras do Estado.<br />
O projeto pretende preparar os fruticultores para<br />
atender e superar as exigências dos mercados interno e<br />
externo quanto à rastreabilidade e à segurança dos alimentos.<br />
Assim como no restante do País, a fruticultura<br />
paulista está fundamentada em micro, pequena e média<br />
propriedades e gera de 2 a 5 postos de trabalho na cadeia.<br />
“O mercado das frutas nacionais, hoje, é o de longa<br />
distância, formado por países da Europa, sendo a Alemanha<br />
o maior consumidor. Emirados Árabes e outros<br />
do Oriente Médio surgem como nova alternativa”, afirma<br />
Moacyr Saraiva Fernandes, presidente do <strong>Ibraf</strong>. “Esse<br />
projeto é importante porque promove a integração dos<br />
pequenos agricultores. A grande vantagem do Brasil é<br />
produzir quase tudo e a grande força do País é o produtor”,<br />
ressalta o presidente do Sebrae-SP, Fábio Meirelles.<br />
O Fruta Paulista abrangerá as plantações das regiões<br />
de Araçatuba com abacaxi; de Araraquara, com goiaba,<br />
limão e manga; de Botucatu, com frutas de caroço; de<br />
Campinas, com figo e goiaba; de Itapeva, com caqui; de<br />
Presidente Prudente, com acerola e manga; e de<br />
<strong>Frutas</strong> paulistas serão valorizadas com convênio entre <strong>Ibraf</strong><br />
e Sebrae.<br />
Da esq. para dir. Paulo Arruda, diretor técnico do Sebrae,<br />
Moacyr Saraiva Fernandes, presidente do <strong>Ibraf</strong>, Fábio<br />
Meireles, presidente do Sebrae-SP e Ricardo Tortorella, diretor<br />
superintendente do Sebrae, assinam convênio.
26<br />
CERTIFICAÇÃO<br />
Sorocaba, com caqui e uva. O projeto<br />
terá três grandes frentes de atuação: aumento<br />
da competitividade da fruta por<br />
meio da melhoria da qualidade na produção,<br />
realização de ações de divulgação no<br />
mercado interno e abertura de mercados<br />
externos. Para tanto, deverão ser promovidas<br />
ações de capacitação de produtores<br />
em Boas Práticas Agrícolas, de gestão da<br />
propriedade, implantação de novas<br />
tecnologias e de manejo sustentável, com<br />
o intuito de melhorar a qualidade da fruta.<br />
“Vamos preparar as cadeias produtivas<br />
das frutas paulistas selecionadas para<br />
atender às novas exigências de qualidade,<br />
agregando valor, garantindo os mercados<br />
atuais e possibilitando acesso a novos”, afirmou<br />
o gerente do <strong>Ibraf</strong>, Mauricio de Sá<br />
Ferraz, durante o lançamento, em fevereiro,<br />
em São Paulo/SP. Para atingir esse<br />
objetivo, os participantes receberão trei-<br />
As regiões Sudeste e<br />
Sul consomem 66,6%<br />
das frutas produzidas<br />
no País, sendo que<br />
São Paulo consome<br />
25,53%.<br />
Fonte: <strong>Ibraf</strong><br />
namento e capacitação em Boas Práticas<br />
Agrícolas. “A meta é certificar produtores<br />
que atingirem as exigências dos protocolos<br />
internacionais de certificação, visando<br />
à exportação”, diz Sá Ferraz. “Desenvolveremos<br />
ferramentas para a<br />
rastreabilidade, importante para a<br />
comercialização, e para oferecer alimentos<br />
seguros, em respeito à sociedade”,<br />
assegura Saraiva Fernandes. Ele acrescenta<br />
que “os consumidores, a distribuição e<br />
as instituições públicas cada vez mostram<br />
mais preocupação pela qualidade e segurança<br />
das frutas e demais alimentos”.<br />
COMERCIALIZAÇÃO<br />
E VALORIZAÇÃO<br />
O projeto não pára no campo, pois é<br />
preciso que a fruta paulista seja<br />
comercializada e valorizada. “Por isso, depois<br />
do campo, haverá ações de<br />
marketing, com abrangência nacional e internacional.<br />
Internamente, vamos fazer<br />
campanhas de degustação, decoração e<br />
distribuição de folhetos em parceria com<br />
supermercados para atrair os consumidores<br />
e aumentar as vendas das frutas<br />
paulistas”, explica Sá Ferraz. A campanha<br />
para o mercado internacional inclui, entre<br />
outras ações, a participação em feiras e<br />
eventos, além de campanhas de promoção<br />
com redes de supermercados dentro<br />
do programa Brazilian Fruit, de divulgação<br />
e valorização da fruta brasileira no exterior.<br />
As estratégias de marketing internacional<br />
e acesso a mercados também<br />
contam com o apoio da Apex-Brasil –<br />
Agência de Promoção de Exportação<br />
e Investimentos.<br />
Saraiva Fernandes lembra que o produtor<br />
precisa ser mais empresário e reduzir<br />
os custos de produção para ganhar<br />
competitividade. Segundo ele, a fruticultura<br />
rentável passa por diversificação, investimento<br />
em pós-colheita e logística,<br />
agroindustrialização, acesso dos pequenos<br />
ao crédito e à infra-estrutura; otimização<br />
dos custos controláveis, promoção e propaganda,<br />
etc. “É o que pretendemos com<br />
o projeto, que terá como juiz a D. Maria<br />
(consumidora). Se ela se convencer do<br />
que fizemos, a fruta será vendida e valorizada”,<br />
conclui Saraiva Fernandes.
ROGÉRIO LOPES VIEITES/UNESP BOTUCATU/SP<br />
AGROINDÚSTRIA<br />
TENDÊNCIA<br />
MUNDIAL<br />
As frutas minimamente processadas começam a fazer parte<br />
do cotidiano nacional, principalmente dos grandes centros<br />
urbanos, e têm condições técnicas necessárias para desenvolver<br />
e ampliar o segmento.<br />
Beth Pereira<br />
A mudança nos hábitos, ocorrida nos últimos<br />
anos, está abrindo espaço para o consumo de alimentos<br />
frescos, dentro do conceito de produtos<br />
saudáveis. Neste cenário, surge um novo nicho para<br />
a comercialização de frutas minimamente processadas<br />
(fresh cut), prontas para consumo. Os Estados<br />
Unidos são o maior consumidor de frutas minimamente<br />
processadas, com venda anual destes itens<br />
na faixa de US$ 8 milhões a US$ 10 milhões, segundo<br />
a International Fresh-Cut Produce Association<br />
(IFPA - http://www.fresh-cuts.org/fcf.html). No Brasil,<br />
ainda não há estatísticas oficiais, porém, quando<br />
se fala em tecnologia, o País não fica atrás de nenhum<br />
outro nesse segmento. “Temos pesquisadores<br />
qualificados, técnicas apropriadas, laboratórios<br />
bem montados e todas as condições necessárias para<br />
Kiwi, manga, melão, melancia estão entre as frutas<br />
indicadas para processamento mínimo.<br />
desenvolver esses produtos”, afirma o pesquisador<br />
Murillo Freire Junior, da Embrapa Agroindústria de<br />
Alimentos, de Guaratiba/RJ, que esteve em<br />
Montpellier, na França, em 2004, fazendo seu pósdoutorado<br />
em manga pré-cortada, embalada com<br />
revestimentos comestíveis.<br />
O professor José Fernando Durigan, do Departamento<br />
de Tecnologia da Unesp, campus de<br />
Jaboticabal/SP, considera que o potencial de venda<br />
de frutas minimamente processadas é grande no<br />
País, embora o consumo seja relativamente novo.<br />
“Seja em residências, em restaurantes ou em locais<br />
de refeições coletivas, essa tecnologia oferece<br />
praticidade por causa da economia de tempo e de<br />
trabalho”, diz. Durigan cita pesquisa do Instituto Nielsen,<br />
segundo a qual, desde 1996, o consumo desse tipo de<br />
produto tem aumentado 80% ao ano.<br />
Porém, ele aponta um desafio: a falta<br />
de conhecimento sobre o comportamento<br />
fisiológico, químico e<br />
bioquímico do produto. Um dos problemas,<br />
explica, é a curta vida útil desses<br />
produtos, de 3 a 4 dias.<br />
De acordo com o professor, o<br />
processamento mínimo de frutas<br />
tem contribuído para a diversificação<br />
das indústrias regionais, reduzindo<br />
as perdas pós-colheita, melhorando<br />
o manejo de resíduos dentro<br />
da propriedade, facilitando o<br />
27
28<br />
AGROINDÚSTRIA<br />
transporte e eliminando problemas sanitários. “A<br />
tecnologia fresh cut permite maior aproveitamento<br />
da produção e agrega valor às frutas”, afirma.<br />
O professor, no entanto, observa que falta uma<br />
legislação sanitária sobre produtos minimamente<br />
processados, que, em sua opinião, deve abranger<br />
produção, colheita, preparo, manipulação,<br />
embalagem e transporte ao mercado e exposição<br />
em balcões para a venda.<br />
REDUÇÃO DE PERDAS<br />
O presidente da Associação Brasileira de Supermercados<br />
(Abras), Sussumu Honda, acredita que<br />
o consumo de frutas minimamente processadas<br />
pode ajudar a reduzir as perdas de frutas. “O Brasil<br />
produz um volume muito grande de frutas, mas<br />
perde muito também. Assim, nesse modelo, quando<br />
você tem operações adequadas, evita-se perdas”,<br />
observa. Na opinião de Honda, o consumo<br />
de frutas minimamente processadas é uma tendência<br />
mundial. “Atende aos requisitos de praticidade e<br />
de racionalização de tempo”, afirma e acrescenta<br />
que o mercado americano é gigantesco. “Lá, o consumidor<br />
tem um bom poder aquisitivo e pode pagar pelo<br />
produto, que tem valor agregado.” Lembra que nos<br />
aeroportos americanos, as frutas minimamente processadas<br />
estão à disposição, para consumo imediato.<br />
“Atende ao apelo de alimento mais saudável e substitui<br />
os fast-foods e outros alimentos processados.”<br />
Processamento mínimo deve seguir<br />
normas rigorosas de higiene e<br />
tecnologia apropriada, para garantir<br />
qualidade e seguridade no consumo.<br />
Ele lembra que nos Estados Unidos, a tecnologia<br />
de frutas minimamente processadas está bastante<br />
avançada. “No caso de maçã, que se oxida rapidamente,<br />
já há tecnologia para impedir o processo”,<br />
conta. Segundo Honda, os supermercados brasileiros<br />
começam a oferecer frutas preparadas - melão,<br />
mamão, melancia, uva, abacaxi, além de salada e<br />
até uma mix de frutas - prontas para consumo. “Nos<br />
grandes centros urbanos do País, isso já começa a<br />
se apresentar como tendência”, diz e lembra que<br />
há outra opção, com menor valor agregado, ideal<br />
para frutas grandes, que são cortadas pela metade,<br />
para atender às famílias menores, o que é uma forma<br />
de evitar o desperdício. O presidente da Abras,<br />
porém, observa que o processamento mínimo requer<br />
EMBRAPA CTAA<br />
uma manipulação cuidadosa. “O produto<br />
é fresco, pronto para consumo e<br />
tem vida de prateleira bastante curta.<br />
Além de cuidado na manipulação e no<br />
ambiente onde se faz o processamento,<br />
a questão de higiene e seguridade é<br />
fundamental”, afirma.<br />
REALIDADE<br />
O consumo de frutas minimamente processadas<br />
não é mais uma tendência futura, mas uma realidade<br />
visível nas gôndolas dos supermercados,<br />
onde as áreas destinadas a esses itens estão cada<br />
vez maiores. A diversificação de produtos é grande,<br />
o volume de produção tem aumentado e o preço<br />
está baixando, analisa Freire Junior, da Embrapa<br />
Agroindústria de Alimentos. Em sua opinião, as frutas<br />
minimamente processadas apresentam a conveniência<br />
de não requerer qualquer preparação significativa<br />
por parte do consumidor, em termos de<br />
seleção, limpeza, lavagem ou cortes. “Além disto, o<br />
valor agregado ao produto, pelo processamento,<br />
aumenta a competitividade e propicia meios alternativos<br />
para a comercialização. O sucesso deste empreendimento<br />
depende do uso de matérias-primas de<br />
alta qualidade, manuseadas e processadas em condições<br />
adequadas de higiene”, explica o pesquisador.<br />
Freire Junior afirma que, atualmente, o consumidor<br />
tem à sua disposição uma boa variedade de<br />
frutas minimamente processadas, tais como abacaxi,<br />
melão, kiwi, melancia, manga, além de salada de<br />
frutas. São vários os tipos de apresentação, em pedaços<br />
pequenos ou em pedaços maiores, de acordo<br />
com as frutas, já prontos para consumo. As frutas<br />
selecionadas são previamente higienizadas,<br />
descascadas, pré-cortadas, embaladas em bandejas<br />
transparentes PET (polietileno tereftalato) e armazenadas<br />
sob refrigeração.<br />
“A proposta é atender à demanda da mulher<br />
moderna que cada vez mais está trabalhando fora”,<br />
afirma. E cita, como principais vantagens do consumo,<br />
a conveniência, a praticidade e a seguridade.<br />
Pesquisador<br />
Murilo Freire,<br />
tecnologia<br />
mantém gosto<br />
original da fruta.
“As frutas são processadas segundo as normas<br />
de higiene e com tecnologia apropriada,<br />
o que garante a qualidade e a seguridade<br />
no consumo do produto”, explica.<br />
“Graças à tecnologia, o gosto original da fruta<br />
se mantém.” Outros segmentos potenciais<br />
que podem ser beneficiados com essa<br />
tecnologia são os de refeições coletivas,<br />
catering, hospitais e restaurantes que não<br />
possuem grandes áreas de cozinha.<br />
O ponto crítico, porém, é a temperatura.<br />
De acordo com o pesquisador, a condição<br />
ideal para a conservação desses produtos,<br />
é em torno de 2°C, mas nem sempre os<br />
supermercados mantêm a cadeia do frio. Enquanto<br />
nas gôndolas dos supermercados, o<br />
tempo médio de vida útil é de três a quatro<br />
dias, com a aplicação de revestimentos naturais<br />
comestíveis pode-se chegar a sete dias,<br />
sem afetar a qualidade do produto.<br />
LINHAS DE PESQUISA<br />
A Embrapa Agroindústria de Alimentos<br />
desenvolve algumas linhas de pesquisa relacionadas<br />
ao processamento mínimo de<br />
frutas. Em convênio com a Fundação de<br />
Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro<br />
(Faperj) está pesquisando a utilização<br />
de filmes comestíveis em mangas pré-cortadas<br />
e, em projeto financiado pela<br />
Embrapa, a aplicação da tecnologia em abacaxi<br />
e melão.<br />
Freire Junior afirma que a técnica consiste<br />
basicamente em imergir as frutas précortadas,<br />
por dois minutos, em algumas soluções<br />
refrigeradas de quitosana ou de<br />
alginato de sódio (obtidos de algas) ou de<br />
carboximetilcelulose (derivado da celulose).<br />
“Essas substâncias formam um filme protetor<br />
comestível”, explica. O abacaxi, por exemplo,<br />
é descascado, cortado em rodelas de dois centímetros<br />
de espessura, retirado o miolo, cortado<br />
em oito partes e levado à imersão. Depois,<br />
é embalado em bandejas PET. Também<br />
pode ser embalado em sacos plásticos a vácuo<br />
e armazenado sob refrigeração.<br />
Há também em andamento um outro<br />
projeto de nanotecnologia em parceria com<br />
a Embrapa Instrumentação Agropecuária (São<br />
Carlos/SP). Trata-se da utilização de embalagens<br />
ativas, que liberam uma substância com<br />
função antimicrobiana (que impede o crescimento<br />
de microrganismos) ou antioxidantes<br />
(que evitam o escurecimento da fruta).<br />
EMBRAPA AGROINDÚSTRIA DE ALIMENTOS<br />
Demanda é<br />
crescente<br />
Nas lojas da OBA Hortifrúti, na capital e no interior de<br />
São Paulo, a procura por frutas minimamente processadas<br />
tem aumentado, segundo o gerente de Marketing<br />
da rede, Luciano Scherer. Ele acrescenta que a dona de<br />
casa adora comprar produtos já manipulados, graças<br />
ao apelo de praticidade. Contudo, ele considera que as<br />
opções ainda são poucas, por causa da perecibilidade<br />
das frutas. “Esse mercado está crescendo e existem algumas<br />
frutas que, atualmente, já são comercializadas<br />
com sucesso, como abacaxi, melancia e melão. No entanto,<br />
como as frutas são extremamente perecíveis, a<br />
manipulação pode prejudicar seu sabor”, acredita. “Apesar<br />
de a tecnologia ter avançado muito rapidamente, ainda<br />
é difícil encontrar algo no mercado que faça uma fruta<br />
ser conservada após a manipulação, sem perder seu principal<br />
atributo, o sabor”, avalia.<br />
Na opinião de Scherer, os produtos minimamente processados<br />
são um hábito dos grandes centros, onde há<br />
concentração de pessoas e a correria do dia-a-dia faz<br />
com que o consumidor busque a praticidade. No entanto,<br />
ele afirma que no Brasil o consumo ainda é baixo<br />
por vários fatores: alto custo na manipulação dos produtos,<br />
dificuldade no preparo aliado à alta perecibilidade<br />
dos produtos. “Isso torna o processo oneroso, refletindo<br />
no preço final ao consumidor, conseqüentemente, gerando<br />
dificuldades na comercialização dos mesmos.”<br />
A rede OBA possui 26 lojas, distribuídas na capital<br />
paulista e no interior do Estado, em Jundiaí, Campinas,<br />
Americana e Limeira, além de Brasília/DF e Belo<br />
Horizonte/MG. Scherer afirma que, nas lojas OBA, as<br />
frutas são abertas ou cortadas e embaladas com PVC.<br />
“Também há potes com os produtos descascados para<br />
degustação”, conta.<br />
29
30<br />
TECNOLOGIA<br />
MAIS<br />
SABOR<br />
Processo inovador permite a obtenção de suco concentrado de frutas,<br />
com teores de sabor e de aroma elevados, usando equipamentos mais<br />
compactos e de operação mais simples, que podem ser instalados em<br />
qualquer unidade industrial.<br />
Marlene Simarelli
Os sucos de frutas processados<br />
estão por toda parte: restaurantes,<br />
refeitórios, hospitais, cantinas de<br />
escola e até em carrinhos de lanches.<br />
A tendência do mercado é de<br />
crescimento, mas, mesmo deliciosos,<br />
alguns não guardam o sabor<br />
real da fruta, principalmente, quando<br />
o suco é de laranja. Essa realidade<br />
poderá ser diferente a partir das<br />
novas técnicas descobertas para recuperar<br />
aromas e concentrar sucos,<br />
resultado da tese de doutorado do<br />
engenheiro químico Cláudio Patrício<br />
Ribeiro Júnior, no Programa de<br />
Engenharia Química da Coordenação<br />
dos Programas de Pós-graduação<br />
em Engenharia – COPPE, da<br />
Universidade Federal do Rio de Janeiro<br />
- UFRJ. Desenvolvido com foco<br />
no suco de laranja, devido a sua importância<br />
na economia nacional, o<br />
processo pode ser usado também<br />
para processar outras frutas tropicais.<br />
O Brasil é o segundo maior produtor<br />
de suco concentrado de laranja<br />
no mundo e possui grande<br />
potencial para produção de suco de<br />
outras. Ribeiro Júnior acredita que<br />
“a nova rota de processamento desenvolvida,<br />
ao minimizar as alterações<br />
de sabor, pode fornecer um<br />
diferencial de qualidade para o suco<br />
de laranja nacional, aumentando sua<br />
competitividade no mercado externo”.<br />
O país responde atualmente<br />
pela exportação de US$1,3 bilhões<br />
de suco de laranja. Para o pesquisador,<br />
“a melhoria na qualidade do<br />
produto pode possibilitar a abertura<br />
do mercado interno para o suco<br />
de laranja concentrado, que não é<br />
bem aceito pelo consumidor brasileiro,<br />
habituado ao consumo do<br />
suco fresco, com características<br />
organolépticas superiores. Além disso,<br />
um processo mais ameno de<br />
concentração pode ampliar a variedade<br />
de sucos produzidos,<br />
viabilizando a disseminação da grande<br />
gama de frutas tropicais cultivadas<br />
no País”.<br />
O processo, vencedor do grande<br />
prêmio Capes César Lates de<br />
2006, já teve sua patente depositada.<br />
Poderá ser usado em qualquer<br />
unidade industrial de produção de<br />
suco concentrado, pois utiliza equipamentos<br />
mais compactos e de<br />
operação mais simples, aplicável a<br />
qualquer tipo de fruta. Os principais<br />
equipamentos usados são o<br />
evaporador por contato direto e o<br />
módulo de membranas seletivas. O<br />
pesquisador observa que “as duas<br />
técnicas que aplicamos são usadas<br />
em nível industrial para outras aplicações,<br />
de modo que ambos os<br />
equipamentos já existem no mercado.<br />
É só uma questão de<br />
dimensioná-los”. Em relação aos<br />
custos de operação e manutenção,<br />
tanto do módulo de membranas<br />
quanto do evaporador por contato<br />
direto, ele supõe que sejam mais<br />
baixos do que os associados aos<br />
equipamentos usados, mas ainda<br />
não se tem um valor exato para a<br />
montagem de montar uma nova<br />
unidade. A próxima etapa do processo,<br />
hoje restrita a laboratório, é<br />
um aumento de escala, com a construção<br />
de uma unidade piloto para<br />
avaliação do desempenho da técnica<br />
para maior capacidade de<br />
processamento e posterior aplicação<br />
industrial. Três empresas já estão em<br />
negociação para a implantação.<br />
NOVA ROTA<br />
O suco processado passa por<br />
duas etapas principais: a concentração<br />
e a recuperação de aromas. A<br />
concentração é uma fase primordial<br />
na produção, influindo diretamente<br />
na qualidade do suco e,<br />
consequentemente, na aceitação<br />
pelo mercado consumidor. Outro<br />
fator importante no processamento<br />
é a perda de aromas, compostos<br />
orgânicos responsáveis pelo sabor<br />
e odor de um suco, presentes em<br />
concentrações baixas e voláteis. O<br />
grande desafio é conseguir um suco<br />
processado com características superiores<br />
de paladar e de aroma.<br />
“Sabemos que o principal fator para<br />
a compra no setor alimentício é o<br />
31
32<br />
TECNOLOGIA<br />
gosto, principalmente, o suco cuja<br />
referência é o sabor natural das<br />
frutas”, explica o pesquisador.<br />
O processo de Ribeiro Júnior<br />
aplica uma nova rota para a produção<br />
de sucos de frutas concentrados<br />
envolvendo as técnicas de<br />
evaporação por contato direto e<br />
permeação de vapor com membranas<br />
seletivas. “Todo mundo<br />
que já tomou um suco de laranja<br />
reconstituído de caixinha sabe<br />
muito bem que o gosto é bem<br />
diferente do suco fresco. A técnica<br />
de evaporação por contato direto,<br />
aplicada na nossa rota, tem<br />
a grande vantagem de permitir a<br />
vaporização da água a temperaturas<br />
mais baixas, minimizando a<br />
degradação térmica dos compostos<br />
do suco, e garantindo um sabor<br />
mais próximo do suco real”,<br />
assegura o pesquisador. O equipamento<br />
do novo processo é<br />
considerado de fácil construção,<br />
constituído basicamente por uma<br />
coluna de líquido através da qual<br />
borbulha um gás superaquecido. O<br />
contato direto entre os fluidos,<br />
quente e frio, permite maior eficiência<br />
de transmissão de calor, possibilitando<br />
a utilização de temperaturas<br />
moderadas.<br />
O trabalho desenvolvido<br />
em Coppe/UFRJ possibilita<br />
a redução de custos no<br />
processo industrial.<br />
“A rota proposta envolve duas<br />
etapas: o arraste com gás inerte dos<br />
compostos responsáveis pelo aroma<br />
do suco, que são recuperados<br />
pela técnica de permeação de vapor<br />
empregando-se membranas<br />
de silicone, permitindo a passagem<br />
dos aromas, mas retendo a água e<br />
o gás inerte. Em seguida, o suco<br />
segue para concentração no<br />
evaporador por contato direto,<br />
onde faz-se basicamente o<br />
borbulhamento de um gás inerte<br />
Cláudio Ribeiro Júnior, COPPE/UFRJ, desenvolveu processo inovador de<br />
processamento de sucos que preserva sabor e aromas.<br />
quente através do suco para remoção<br />
da água. Ao final da concentração,<br />
os aromas recuperados<br />
são re-adicionados ao suco<br />
concentrado”, detalha o pesquisador.<br />
O processo atual de concentração<br />
aplicado nas indústrias,<br />
segundo ele, “utilizam os chamados<br />
evaporadores de película<br />
descendente, com temperaturas<br />
de operação para a vaporização da<br />
água suficientemente altas para<br />
modificações químicas, em alguns<br />
compostos do suco, resultando em<br />
alterações indesejáveis de cor e sabor<br />
no produto final”. Além das<br />
modificações por degradação térmica,<br />
com a vaporização da água,<br />
são removidos os chamados aromas<br />
do suco, compostos orgânicos<br />
responsáveis pelo odor e sabor<br />
característicos do suco da fruta.<br />
Esses compostos devem ser<br />
recuperados para evitar alterações<br />
de sabor, mas estão presentes<br />
em concentrações muito baixas,<br />
dificultando a recuperação.<br />
CONCENTRADO<br />
DE AROMAS<br />
Ribeiro Júnior explica que “na<br />
indústria, a recuperação dos aromas<br />
é feita por destilação e/ou<br />
condensação parcial, em sistemas<br />
que, para serem eficientes, são<br />
relativamente complexos. Com a<br />
adoção das membranas seletivas,<br />
não só simplificamos esses sistemas,<br />
mas melhoramos sobremaneira<br />
a eficiência de recuperação<br />
dos aromas, o que também contribui<br />
positivamente para a obtenção<br />
de um suco concentrado com<br />
sabor mais próximo do suco natural”.<br />
Para se ter uma idéia, o<br />
suco de laranja tem mais de 200<br />
substâncias na composição do<br />
aroma e o suco de morango, mais<br />
de 360.Outra grande vantagem<br />
no novo processo, segundo o<br />
pesquisador, é a obtenção de um<br />
concentrado de aromas do suco<br />
processado, produto de alto valor<br />
agregado, atualmente perdido<br />
em grande parte das indústrias<br />
de concentração de sucos.<br />
Os interessados em implantar a<br />
nova tecnologia desenvolvida no<br />
Coppe/UFRJ, que trabalha há mais<br />
de 10 anos com separação de aromas,<br />
devem entrar em contato com<br />
o pesquisador Cláudio Patrício Ribeiro<br />
Júnior, pelo telefone (21)<br />
2562-7162 ou pelo e-mail:<br />
cprj@peq.coppe.ufrj.br. Para conhecer<br />
mais detalhes sobre o processo,<br />
pode ser feita uma consulta<br />
à tese de doutorado disponível na<br />
Internet no endereço http://<br />
teses.ufrj.br/coppe_d/<br />
ClaudioPatricioRibeiroJunior.pdf.<br />
COPPE/UFRJ
Plantas, insetos, flores e frutos fora de seu habitat podem<br />
se transformar num grande problema e trazer impactos<br />
econômicos e ambientais.<br />
Marlene Simarelli<br />
Quando se trata de biodiversidade, há o orgulho<br />
nacional latente por causa da riqueza brasileira<br />
na diversidade de espécies. Porém, desde os<br />
primórdios, espécies exóticas entram no País com<br />
conseqüências ao ambiente e reflexos econômicos<br />
na cadeia atingida. São os bioinvasores, que podem<br />
chegar na mala de um viajante, saudoso da terra<br />
natal ou encantado pela novidade; nas embalagens<br />
de importação e exportação ou até mesmo ser<br />
inserida propositalmente visando a um prejuízo econômico<br />
premeditado. As pragas e doenças vindas<br />
do Exterior causam danos nos mais variados setores<br />
como o bicudo, no algodão; o geminivirus, no<br />
tomate; o retorno da febre aftosa no gado, após<br />
erradicação, só para citar alguns. Na fruticultura, são<br />
conhecidos a Sigatoka Negra, nos bananais; o<br />
greening, nos laranjais e a mosca do Mediterrâneo<br />
Ceratitis capitata, que atinge várias fruteiras, cujo<br />
registro de invasão data de 1901, entre outros.<br />
A pesquisadora, Maria Regina Vilarinho, da<br />
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, explica<br />
que “a entrada de pragas em áreas do sistema<br />
produtivo traz conseqüências dramáticas e muitas<br />
vezes irreversíveis para a agricultura, além de gastos<br />
da ordem de milhões de reais para controle e<br />
erradicação desses organismos, perdas na<br />
biodiversidade, nos recursos biológicos e genéticos,<br />
impacto na indústria alimentícia pela falta dos produtos<br />
primários e ainda desemprego na área rural.<br />
Nos últimos anos, mais de 11 mil espécies invasoras<br />
entraram no Brasil, de acordo com levantamentos<br />
de pesquisadores internacionais”. Olinda Maria<br />
Martins, pesquisadora da mesma unidade Embrapa,<br />
acrescenta que “a contenção de uma praga introduzida<br />
num país de extensão continental, como o Brasil, é<br />
muito difícil. As diferentes condições climáticas favorecem<br />
a adaptação de pragas exóticas, importantes para<br />
a fruticultura tropical e de clima temperado”.<br />
NO COTIDIANO DO CAMPO<br />
Para manter a competitividade, os produtores<br />
precisam estar atentos, pois o bioinvasor não tem<br />
predadores - elemento responsável pelo equilíbrio<br />
na natureza -, e, por isso, prolifera rapidamente. É<br />
o caso do caramujo gigante africano, símbolo de um<br />
problema que atinge vários Estados e se dispersa<br />
rapidamente mundo afora. Voraz, ele se alimenta<br />
de, pelo menos, 500 tipos de plantas, como frutapão,<br />
mandioca, cacau, mamão, amendoim, seringueira,<br />
feijão, ervilha, pepino, melão, abóbora, repolho,<br />
alface, batata, cebola, girassol, eucalipto,<br />
citros, plantas ornamentais, etc.<br />
MEIO AMBIENTE<br />
O fruticultor deve manter-se informado<br />
sobre os perigos da introdução de<br />
pragas exóticas.<br />
Os fruticultores podem atuar para minimizar a<br />
bioinvasão. A pesquisadora Olinda sugere algumas medidas.<br />
“A adoção de sistemas de alerta, quando existente,<br />
é uma medida que auxilia na prognose de doenças<br />
e permite planejar o seu controle. A introdução de<br />
mudas deve ser rigorosamente inspecionada, pois por<br />
meio destas ocorre a introdução de pragas. A aquisição<br />
de mudas sadias é fundamental para garantir a exclusão<br />
de pragas do pomar. O fruticultor deve manter-<br />
MOSCAMED BRASIL<br />
33
34<br />
MEIO AMBIENTE<br />
FOTOS ABPM<br />
se informado sobre os perigos da introdução de pragas<br />
exóticas. As importações de material vegetal para<br />
enxertia ou mudas devem obedecer rigorosamente às<br />
instruções normativas estabelecidas pelo Ministério da<br />
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).”<br />
A pesquisadora chama a atenção para o momento<br />
da compra de mudas. “Em caso da praga já se<br />
encontrar em determinadas regiões, os produtores<br />
não devem adquirir material vegetal proveniente<br />
dessas áreas infestadas, sem a devida quarentena.”<br />
Ela lembra que “as opções de utilização de cultivares<br />
resistentes são desfavoráveis ao estabelecimento<br />
de pragas e doenças e as substituições de portaenxertos<br />
suscetíveis pelos resistentes são importantes<br />
meios de evitar doenças. Para Olinda, “o diagnóstico<br />
rápido de pragas e doenças ajuda na tomada de decisões<br />
para erradicação e controle, antes de sua dispersão.<br />
Existem mapas de zonas de risco, zoneamento<br />
agroclimático, acoplados a modelos de simulação que<br />
podem ser úteis para indicar as áreas geográficas de<br />
maior probabilidade de ocorrência de doenças”.<br />
CONVIVENDO COM INIMIGOS<br />
A exportação enfrenta exigências e restrições<br />
rigorosas dos importadores para frutas in natura e<br />
industrializadas. Os fruticultores têm aprimorado<br />
sistemas de produção e estabelecido regras para<br />
garantir a sanidade e qualidade das frutas frente a<br />
bioinvasores. “Haja vista a organização dos produtores<br />
de maçã, que fez do país um exportador,”<br />
observa Olinda. A organização dos pomicultores<br />
inclui ações no campo e na cidade com o desenvolvimento,<br />
inclusive, de campanhas de erradicação,<br />
como a da cidade de Lages/SC. Lá, folhetos ensinam<br />
a população a substituir fruteiras hospedeiras<br />
da mariposa e alertam para o perigo da praga para<br />
a fruticultura do Sul, hoje sob controle.<br />
Em 1998, constatou-se a ocorrência da Sigatoka<br />
Negra, causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis var.<br />
difformis, em plantios de banana no Amazonas e Acre.<br />
O fungo, originário da República de Fiji (Ásia), causa<br />
prejuízos em Rondônia, Mato Grosso e outras regiões<br />
produtoras. Para controlá-lo, Olinda sugere “a inspeção,<br />
o treinamento de técnicos para reconhecer os<br />
sintomas da doença, o controle cultural, os cuidados<br />
na aquisição e no transporte de mudas como medidas<br />
que auxiliam para que não atinja outros Estados. Ela<br />
destaca ainda a seleção de variedades resistentes feita<br />
pela pesquisa, mas, em sua opinião, “é um entrave<br />
impactante, pois as desenvolvidas atualmente não<br />
atendem o mercado consumidor”.<br />
Na citricultura, Olinda relata a ocorrência da mosca<br />
negra dos citros (Aleurocanthus woglumi), detectada<br />
no Pará em 2001, vinda do sudoeste da Ásia. Já dispersa<br />
em cinco Estados da região Norte, é praga<br />
quarentenária A2, sob controle oficial. Outra doença<br />
introduzida da China, é o Greening ou Huanglongbing,<br />
cujo vetor é a bactéria Candidatus Liberibacter. “Em<br />
todos os casos, na maioria das vezes, recorre-se ao<br />
controle químico das pragas e doenças. Além do alto<br />
custo dos agroquímicos, salientam-se os efeitos indesejáveis<br />
destes no meio ambiente, na saúde humana e<br />
animal”, observa a pesquisadora.<br />
De acordo com Vilarinho, “muitos organismos apresentam<br />
uma evolução lenta de crescimento e podem<br />
passar despercebidos por horas ou dias. É importante<br />
lembrar que os que atacam plantas e animais não atuam<br />
sobre os seres humanos, podendo, portanto, ser<br />
facilmente transportados junto ao corpo, em maletas<br />
ou malas”. Para a pesquisadora, “a segurança de áreas<br />
importantes de produção agrícola deve ser levada em<br />
consideração em qualquer país que depende do<br />
agronegócio. No Brasil, segundo ela, são considerados<br />
produtos de risco a soja, as frutas, a carne e seus <strong>derivados</strong><br />
e todos os outros itens que compõem a pauta<br />
de exportação agrícola do mercado brasileiro”.<br />
A bioinvasora Cydia Pomonella, sob controle, é resultado da união dos pomicultores.
Mosca-da-Carambola<br />
A mosca-da-carambola, Bactrocera carambolae, foi detectada em<br />
fevereiro na divisa do Pará e Amapá, saindo da região do Oiapoque/<br />
AP, onde foi identificada há 10 anos. Considerando o risco para a<br />
economia brasileira, a Superintendência Federal da Agricultura,<br />
Pecuária e Abastecimento do Pará publicou, em fevereiro, no Diário<br />
Oficial da União, a proibição da saída de frutas frescas de<br />
espécies hospedeiras da praga, em especial carambola, jambo,<br />
goiaba e acerola, do distrito de Monte Dourado, município de<br />
Almerin/PA, para quaisquer outras áreas onde não ocorra a praga.<br />
Os prejuízos causados, caso seja disseminada, vão desde perdas na<br />
produção, contaminação ambiental até a proibição de exportação<br />
de frutas. O diretor da Associação Brasileira das Empresas de Tratamento<br />
Fitossanitário e Quarentenário (Abrafit), João Luiz Duarte<br />
Alvarez, alerta: “se não houver inspeção de 100% das cargas que<br />
entram no País, o risco da introdução de novas pragas tão nocivas<br />
quanto essa é enorme”.<br />
A mosca-da-carambola entrou no Brasil vinda do Suriname, mas<br />
sua origem é a Indonésia. “É uma praga muito séria, pois ataca os<br />
frutos nos primeiros estágios de formação, tornando sem efeito o<br />
controle por meio de ensacamento, feito quando as frutas estão<br />
maiores”, comenta a pesquisadora Maria Regina Vilarinho. Ela ressalta<br />
que “os resultados da pesquisa apontam que a goiaba é o<br />
hospedeiro preferencial, no Amapá, quando se compara com a<br />
carambola, tornando ainda mais sério o problema, já que a goiabeira<br />
pode ser encontrada em quintais nas cidades brasileiras. De<br />
acordo com estudos de<br />
pesquisadores brasileiros,<br />
além das perdas<br />
no campo, a interrupção<br />
das exportações de<br />
frutas frescas, causada<br />
pela presença da<br />
mosca, pode levar o<br />
Brasil a prejuízos de<br />
US$60 milhões, apenas no primeiro ano de dispersão da praga,<br />
caso ela se estabeleça em áreas de produção de goiaba, carambola,<br />
manga, acerola, citros, banana, etc”. A praga ainda não se difundiu<br />
pelo País devido à ação do Programa de Erradicação da mosca-da-carambola,<br />
sob coordenação do Ministério da Agricultura.<br />
No final de 2006, o programa ganhou uma rede de pesquisa de<br />
apoio, a ser conduzida pela Embrapa Amapá, para avaliar riscos<br />
de difusão e impactos na exportação de frutas. O coordenador,<br />
Ricardo Adaime, explica que “durante os três anos do projeto<br />
haverá palestras sobre a mosca-da-carambola. Como se trata de<br />
uma rede regional, haverá campanhas de educação fitossanitária<br />
nos Estados do Amapá, Pará, Acre, Amazonas, Maranhão, Rondônia,<br />
Roraima e Tocantins”.<br />
Mais informações sobre a mosca-da-carambola podem ser obtidas<br />
pelo telefone (11) 5668-7444 ou www.abrafit.org.br.<br />
WILSON RODRIGUES DA SILVA<br />
35
36<br />
OPINIÃO<br />
Nos anos 80, a economia de<br />
Junqueirópolis/SP era baseada no café,<br />
cultivado em sua maioria por pequenos<br />
agricultores. Quando a cultura entrou<br />
em declínio, no final daquela década,<br />
a cidade viveu uma crise sem precedentes<br />
e assistiu à migração para os<br />
grandes centros, de cerca de 13 mil dos<br />
seus 27 mil moradores. Alguns agricultores<br />
decidiram, então, cultivar maracujá.<br />
Por causa do preço pago para a<br />
fruta, optou-se por formar uma associação,<br />
cujo grande incentivador foi um<br />
padre espanhol. Em junho de 1990,<br />
nascia a Associação Agrícola<br />
Junqueirópolis – AAJ - com quarenta e<br />
quatro associados.<br />
Quando se fala em associativismo,<br />
pensa-se que ele só funciona bem porque<br />
está ligado ao poder público. Em<br />
relação à AAJ, inicialmente, a Prefeitura<br />
Municipal cedeu um terreno e a mãode-obra<br />
para construção de um barracão.<br />
Posteriormente, houve dificuldades<br />
com a administração municipal. Mas<br />
essas dificuldades impulsionaram para o<br />
crescimento. Os sindicatos locais foram<br />
mobilizados e a Associação Comercial<br />
transformou-se numa grande parceira.<br />
A associação ganhou vida própria e se<br />
valorizou. Mais tarde, introduziu o cultivo<br />
da acerola no município. A partir<br />
de 97, a Prefeitura Municipal retomou<br />
o apoio inicial, porém, hoje, a associação<br />
tem receita e vida próprias. São 91<br />
produtores, dos quais 65 de acerola,<br />
sendo os demais de uva e café. Há 6<br />
câmaras frias, avaliadas em mais de um<br />
milhão de reais, financiadas e pagas pelos<br />
produtores. Há ainda salão para cursos<br />
e cozinha industrial onde as mulheres<br />
fazem licores, doces e geléias, que<br />
são comercializadas na feira livre da cidade<br />
e na própria sede. A associação<br />
investiu na formação técnica do produtor,<br />
necessária para a transição do plantio<br />
do café para frutas. Investiu, também,<br />
na formação humana com palestras sobre<br />
saúde, motivação, etc.<br />
O maior desafio para uma associação<br />
é a consciência da importância da<br />
soma de idéias, do capital de inteligência.<br />
Esse é um ponto chave. Outro ponto<br />
fundamental é a representatividade<br />
do grupo. Sendo representativo, passa<br />
a ser alvo de interesse dos órgãos de<br />
pesquisa. É o caso da AAJ, que tem um<br />
produto diferenciado: Junqueirópolis é<br />
a campeã da acerola em São Paulo. A<br />
fruta segue para o Japão, Estados Unidos<br />
e Europa, onde os consumidores<br />
são exigentes. A produção atende às regras<br />
do mercado internacional. A associação<br />
têm contado com o apoio do<br />
<strong>Ibraf</strong>, Sebrae, Cati e universidades, que<br />
pesquisam e indicam os melhores caminhos.<br />
A política do governo atual<br />
também colabora com linhas de crédito<br />
a juros baixos e programas como o<br />
Venda Antecipada, da Conab, que adianta<br />
o valor da transação em conta exclusiva.<br />
O projeto da AAJ, de venda de<br />
polpa - que tem maior valor agregado<br />
-, é o sexto assinado no Estado. É um<br />
projeto que cria oportunidades para os<br />
produtores associados, pois a forma de<br />
ajudar através de grupos organizados é<br />
mais barata e mais eficiente.<br />
O atual governo tem enfatizado a<br />
importância do associativismo, cuja força<br />
o País ainda desconhece. À medida<br />
que as pessoas se organizam, todos ganham<br />
porque cada um coloca o seu<br />
conhecimento, o que tem de melhor,<br />
à disposição. Em meu caso, tenho somente<br />
4 anos de escola. Para suprir as<br />
deficiências, há uma boa equipe, com<br />
qualidades e habilidades diferentes das<br />
minhas. Quem participa de uma associação<br />
deve dar o melhor de si, da sua<br />
essência, do seu tempo, da sua experiência<br />
de vida. O dinheiro não é o diferencial,<br />
mas o capital da experiência à<br />
disposição de todos. Com a grande escola<br />
de vida no associativismo, nós associados<br />
aprendemos também a acreditar<br />
mais em Deus, pois nos propusemos<br />
a mobilizar a cidade inteira e a cidade<br />
se mobilizou, graças a Ele. As grandes<br />
mudanças vêm da base e não de<br />
A falta de sucesso das cooperativas é a falta de participação dos sócios.<br />
cima. O associativismo ajudou, e muito,<br />
a cidade a se recuperar, inclusive,<br />
voltou a crescer, pois está hoje com 18<br />
mil habitantes.<br />
A falta de sucesso das cooperativas<br />
decorre da falta de participação dos<br />
sócios, que, geralmente, abandonam a<br />
equipe eleita e, então, a cooperativa<br />
acaba. Associação é comprometimento;<br />
é participação. Não tem outra forma<br />
para melhorar as condições existentes.<br />
Quando sou convidado a fazer palestras,<br />
sempre digo: viver em comunidade<br />
é difícil, viver sozinho é impossível.<br />
Até em casa há dificuldade, quando<br />
se isola. Quando o homem descobrir a<br />
importância da comunidade se organizará<br />
em todas as áreas, não somente<br />
para produção. O associativismo ganhará<br />
força à medida que o homem evoluir<br />
no sentido humano, deixar do “eu”<br />
e tiver humildade para viver junto.<br />
Osvaldo Dias<br />
Presidente da Associação Agrícola<br />
Junqueirópolis/SP
nacionais<br />
abr<br />
jun mai<br />
01 a 30 • V FEPAGRI - Feira do Pq. Agricultor (Sind. Rural de Araraquara)<br />
CEAR - Centro de Eventos de Araraquara (Araraquara/SP)<br />
Info: Sindicato Rural Patronal de Araraquara (16) 3335-9100<br />
fepagri@fepagri.com.br<br />
10 a 12 • III Workshop Internacional de Pós-Colheita de Citros e<br />
II Workshop Internacional de Pós-Colheita de <strong>Frutas</strong><br />
Instituto Agronômico (IAC) - Av. Barão de Itapura, 1.481 (Campinas/SP)<br />
Info: Instituto Agronômico (19) 3231-5422 • chris@iac.sp.gov.br<br />
www.iac.sp.gov.br<br />
11 a 14 • TECNOHORT<br />
Parque de Exposições de Teresópolis (Teresópolis/RJ)<br />
Info: Versão BR Comunicação e Marketing • comercial@versaobr.com.br<br />
www.tecnohort.com.br<br />
30/04 a <strong>05</strong>/<strong>05</strong> • AGRISHOW Ribeirão Preto 2007 (Abimaq)<br />
Pólo de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-<br />
Leste Anel Viário Km 321 (Ribeirão Preto/SP)<br />
Info: Publiê Publicações e Eventos (11) 5591-6300<br />
agrishow@agrishow.com.br • www.agrishow.com.br<br />
03 a 06 • Bio Brazil Fair 2007 - 3ª Feira Intl. de Prods. Orgânicos e<br />
Agroecologia (Assoc. de Prod. e Processadores de Orgânicos do Brasil)<br />
Pavilhão da Bienal - Parque Ibirapuera, portão 3 (São Paulo/SP)<br />
Info: Francal Feiras (11) 4689-3100 • feiras@francal.com.br<br />
www.biobrasilfair.com.br<br />
10 • 9º Dia da Tangerina (Centro Apta Citros Sylvio Moreira)<br />
Centro Apta Citros “Sylvio Moreira” - Inst Agronômico (Cordeirópolis/SP)<br />
Info: Centro Apta Citros Sylvio Moreira (19) 3546 -1399<br />
rose@centrodecitricultura.br • www.centrodecitricultura.br<br />
10 a 11 • ETECPONKAN (Centro Apta Citros Sylvio Moreira)<br />
Parque Municipal de Exposições(Teresópolis/SP)<br />
Info: Versão Br Comunicações e Marketing • comercial@versaobr.com.br<br />
www.etecponkan.com.br<br />
13 a 16 • 14ª HORTITEC (RBB Promoções & Eventos e Flortec<br />
Consultoria)<br />
Recinto de Exposições de Holambra (Holambra/SP)<br />
Info: RBB Promoções & Eventos (19) 3802-4196 • hortitec@hortitec.com.br<br />
www.hortitec.com.br<br />
20 a 23 • FRUTAL Amazônia (Instituto de Desenvolvimento da<br />
Fruticultura e Agroindústria - Frutal)<br />
Hangar de Convenções (Belém/PR)<br />
Info: Inst Frutal (85) 3246-8126 • geral@frutal.org.br • www.frutal.org.br<br />
23 a 26 • Agrotecnologia 2007 (Instituto Agrotecnologia)<br />
Sítio Pavilhão de Eventos da Nova Sede do SENAI (Petrolina/PE)<br />
Info: Nelbe Assessoria (87) 3862-1892 • nelbe@veloxmail.com.br<br />
www.agrotecnologia.org.br/evento2007<br />
28 e 29 • 6º Congresso Brasileiro de Agribusiness (ABAG –<br />
Associação Brasileira de Agribusiness)<br />
Hotel Transamérica (São Paulo/SP)<br />
Info: Wenter Eventos e ABAG (11) 5181-29<strong>05</strong> • cba@wenter.com.br<br />
www.abag.com.br<br />
internacionais<br />
abr<br />
mai<br />
jun<br />
AGENDA<br />
10 a 13 • ALIMENTARIA 2007<br />
FIA - LISBOA (Lisboa/Portugal)<br />
Info: Conceito Congressos e Eventos - Tereza Rodrigues (34 93) 452-<br />
0722 • (34 93) 451-6637 • trodrigues@conceitocongressos.com.br<br />
www.conceitobrazil.com.br<br />
14 e 15 • Food Expo 2007<br />
Centro de Convenções de Porto Rico (San Juan/Porto Rico)<br />
Info: Serviço Comercial dos Estados Unidos - Renato Sabaine<br />
(11) 5186-7300 • (11) 5186-7399 • renato.sabaine@mail.doc.gov<br />
www.focusbrazil.org.br<br />
18 a 20 • Foodnews Juice Asia 2007 & Technical Seminar<br />
Shanghai Convention Center (Shanghai/China)<br />
Info: Agra Net 44 (0) 207 017 7496 • conferences@agra-net.com<br />
www.agra-net.com/juiceasia<br />
22 a 26 • Intervitis Interfructa<br />
Messe Stuttgart (Stuttgart/Alemanha)<br />
Info: Câmara Brasil-Alemanha (11) 5187-5215 • (11) 5181-7013<br />
feiras@ahkbrasil.com • www.intervitis-interfructa.de<br />
26 a 28 • Mac Frut<br />
Cesena Fiera (Cesena/Itália)<br />
Info: <strong>Ibraf</strong> - Paulo Passos (11) 3223-8766 • paulopassos@ibraf.org<br />
www.brazilianfruit.com.br • www.macfrut.com.br<br />
07 a 10 • Rebulid Iraq 2007 - 4 ª Feira Intl p/ Reconstrução do Iraque<br />
Al Abdali Project (Omã/Jordania)<br />
Info: <strong>Ibraf</strong> - Paulo Passos (11) 3223-8766 • paulopassos@ibraf.org<br />
www.rebuild-iraq-expo.com<br />
08 a 11 • SAL - Salón de la Alimentación<br />
Feira de Madrid (Madri/Espanha)<br />
Info: Expotrade Consultoria Ltda (11) 3284-0069 • (11) 3171-0736<br />
ifemabrasil@terra.com.br • www.sal.ifema.es<br />
09 a 10 • Foodnews Juice Latin America<br />
Hotel Sofitel (São Paulo/Brasil)<br />
Info: IBC Brasil (11) 3017 6888 • customer.service@ ibcbrasil.com.br<br />
www.ibcbrasil.com.br/juice<br />
21 a 23 • V Cong. Iberoamericano de Tec. Agroexportaciones<br />
Escuela Técnica Superior de Ingenierie Agronómica (Cartagena, Mucia/<br />
Espanha)<br />
Info: Depto. Ing.de los Alimentos y del Equip. Agricola - Francisco Artés<br />
Calero (34 96) 832-5510 • (34 96) 832-5435 • fr.artes@upct.es<br />
www.upct.es/gpostref/congresoAITEP/index.php<br />
13 a 15 • 16ª Feira Internacional de Alimentos, Bebidas e Food Services<br />
China World trade Center (Beijimg/China)<br />
Info: Ferias Alimentarias - Irene Salazar (54 11) 4555-0195 • (54 11)<br />
4554-7455 • irene@feriasalimentarias.com • www.feriasalimentarias.com<br />
28 a 30 • Asia Natural & Organic Products<br />
Suntec City Hall 6 (Singapura/Singapura)<br />
Info: HQ Link Pte. Ltda. (65) 6534-3588 • (65) 6534-2330<br />
lauriechin@hqlink.com/ chin.laurie@gmail.com • www.npoasia.com<br />
37
38<br />
EVENTOS<br />
COLHEITA<br />
FARTA<br />
Empresários brasileiros apostam em eventos para<br />
compradores e consumidores na Alemanha e Emirados<br />
Árabes, para aumentar as exportações diretas, e colhem<br />
resultados animadores para os próximos meses.<br />
Fotos <strong>Ibraf</strong><br />
Na Semana Verde de Berlim consumidores<br />
conheceram os sucos do Brasil.<br />
Quase cinco mil copos de sucos de frutas oferecidos<br />
para os visitantes e negócios da ordem de<br />
US$27,9 milhões são o balanço principal da participação<br />
brasileira na Semana Verde de Berlim e na<br />
Fruit Logística, realizadas na Alemanha, que é responsável<br />
pela importação de 13,3 milhões de toneladas<br />
frutas (FAO). Além disso, o consumo per capita<br />
de frutas frescas e processadas naquele país é de<br />
122,5 quilos, segundo o GFK – organização alemã<br />
de pesquisa sobre o consumidor - sendo maçã, banana,<br />
laranja, tangerina e uva as frutas mais<br />
consumidas. A participação nos dois maiores eventos<br />
de alimentos alemães foi uma promoção do Instituto<br />
Brasileiro de <strong>Frutas</strong> (<strong>Ibraf</strong>), com o apoio da Apex-<br />
Brasil (Agência de Promoção de Exportação e Investimentos),<br />
que contou com a presença do embaixador<br />
do Brasil em Berlim, Luiz Felipe de Seixas Corrêa.<br />
O objetivo do <strong>Ibraf</strong> foi atingir duas frentes ao mesmo<br />
tempo. Na Semana Verde, houve contato direto<br />
com consumidor final, que provou o suco brasileiro<br />
e participou de pesquisa qualitativa. Já, a Fruit<br />
Logística é uma das maiores vitrines para expor produtos<br />
a compradores do mundo inteiro, que conta<br />
com a participação brasileira desde 2003. Para<br />
Valeska Oliveira, gerente executiva do <strong>Ibraf</strong>, “as duas<br />
feiras têm focos distintos, mas são eventos-chave para<br />
entender e atender o mercado alemão. Na Semana
Verde, foi possível traçar o perfil do consumidor diante<br />
do produto brasileiro e oferecer uma ferramenta às<br />
empresas, que permitirá estabelecer estratégias para<br />
acessar esse mercado. Por outro lado, os compradores<br />
precisam continuamente estar informados sobre o<br />
potencial de suprimento do Brasil, como fornecedor<br />
de frutas frescas e processadas”. A gerente executiva<br />
ressalta ainda que “os expositores brasileiros na Fruit<br />
Logística inovaram ao apresentar frutas menos conhecidas,<br />
como carambola, atemóia e goiaba, além de<br />
produtos conhecidos internacionalmente, mas pouco<br />
tradicionais no Brasil, como o mirtilo e a amora”.<br />
EFETIVAÇÃO DE NEGÓCIOS<br />
A Fruit Logística, realizada em fevereiro, gerou muitos<br />
frutos às 46 empresas brasileiras. Foram US$27,9<br />
milhões em negócios contra US$2,4 milhões realizados<br />
no ano passado, o que gerará cerca de 4,4 mil novos<br />
postos de trabalho nas empresas exportadoras. A participação<br />
deve proporcionar, ainda, mais US$ 28,8 milhões<br />
em negócios nos próximos 12 meses, resultado dos 1251<br />
contatos de 43 países, realizados durante o evento.<br />
Na edição deste ano, a feira inovou com a criação<br />
do Hall das Américas, onde ficou o Pavilhão brasileiro.<br />
O espaço foi criado especialmente para os países americanos,<br />
em função da importância das frutas provindas<br />
deste continente e do crescimento do evento, com<br />
15% a mais no número de expositores. Houve um<br />
aumento também no número de compradores. Segundo<br />
dados da Messe Berlim, organizadora do evento, circularam<br />
no local 42 mil compradores de 120 países, um<br />
incremento de 12% comparado com o ano anterior.<br />
Abpel e Coex promoveram limão e melão na Feira Alemã.<br />
EVENTOS<br />
A Messe Berlim realiza, de 5 a 7 de setembro, a 1ª<br />
edição da Ásia Fruit Logística, feira de negócios, que<br />
acontecerá junto ao Congresso de mesmo nome, em<br />
Bangkok. Em 2008, Berlim também será palco para os<br />
produtos minimamente processados e de conveniência,<br />
no Freshconex, feira a ser realizada paralelamente<br />
à Fruit Logística, voltada para o setor de fresh cut e<br />
para as indústrias de produtos de conveniência.<br />
SUCO BRASILEIRO:<br />
PROVADO E APROVADO<br />
A degustação de 4.832 copos de sucos de goiaba,<br />
maracujá, caju, manga, limão e água de coco, além de<br />
marmelada, goiabada, geléia e caipirinha foi a principal<br />
ação dos brasileiros durante a Semana Verde de Berlim,<br />
ocorrida em janeiro. A feira recebeu 430 mil visitantes,<br />
6% a mais do que no ano anterior, dentre eles<br />
100 mil compradores. Nos dez dias de feira, foram<br />
realizadas 971 pesquisas de opinião para diagnosticar<br />
se o consumidor daquele país conhece os sucos brasileiros<br />
e se aprova o seu sabor. “O público gostou bastante<br />
dos produtos degustados e ficou interessado em<br />
saber quando e onde poderia encontrar os sucos brasileiros”,<br />
afirma Paulo Passos, representante do <strong>Ibraf</strong><br />
no evento. O público entrevistado, em sua maioria,<br />
era adulto (88%) e do sexo feminino (77%). Foi constatado<br />
que 66% dos entrevistados não tinham conhecimento<br />
das frutas e nem dos sucos do Brasil, e 88%<br />
nunca tinham provado sucos ou bebidas à base de frutas<br />
nacionais, porém, ao degustar o produto, 90% dos<br />
entrevistados avaliaram como ótimo e bom.<br />
Fruit Logística é vitrine para as frutas nacionais na Alemanha.<br />
39
40<br />
EVENTOS<br />
LIMÃO E MELÃO<br />
Paralelamente à Fruit Logística, a Abpel (Associação Brasileira<br />
dos Produtores e Exportadores de Limão) e o Coex<br />
(Comitê Executivo de Fitossanidade do Rio Grande do Norte),<br />
em parceria com a Apex-Brasil, promoveram o limão<br />
taiti e melão brasileiros em Berlim. A promoção foi na<br />
Kadewe, uma das maiores lojas de departamento; no Aero-<br />
Mercado Promissor<br />
Para acessar um mercado altamente demandante de alimentos<br />
e aumentar as exportações de frutas e <strong>derivados</strong>, o<br />
Instituto Brasileiro de <strong>Frutas</strong> (<strong>Ibraf</strong>), em parceria com a<br />
Apex-Brasil, levou cinco empresas brasileiras à Gulfood,<br />
feira de negócios para os segmentos de alimentação, bebidas,<br />
food service e equipamentos de hospitalidade que<br />
abrange o Oriente Médio, África e Índia. Atlântica Foods,<br />
Itacitrus, Predilecta Alimentos, RBR Trading e ASTN (Associação<br />
das Indústrias Processadoras de Frutos Tropicais), efetivaram<br />
negócios de US$400 mil e prevêem mais US$3 milhões<br />
para os próximos 12 meses. O evento, realizado em fevereiro,<br />
em Dubai, nos Emirados Árabes, gerou oportunidade de negociar<br />
com compradores de países não tradicionais, como<br />
Emirados Árabes, Paquistão, Síria, Jordânia, Somália, Índia,<br />
Iraque, Irã, Palestina, Marrocos, Tanzânia, Malásia e Arábia<br />
Saudita. Luis Curado, representante da ASTN no evento, acredita<br />
que “a região tem forte potencial para os sucos, sendo<br />
que houve muita procura pelos sabores do Brasil, como o<br />
caju”. A goiaba vermelha, oferecida como suco, foi a grande<br />
atração para os compradores da região, que conhecem apenas<br />
a variedade branca.<br />
A Gulfood é uma feira de<br />
negócios em plena evolução.<br />
Segundo dados dos<br />
organizadores, houve aumento<br />
de 40% no espaço<br />
de exposição comparado<br />
com a edição anterior, refletindo<br />
o incremento do<br />
mercado de alimentos na<br />
região. Para Moacyr Saraiva<br />
Fernandes, presidente<br />
do <strong>Ibraf</strong>, “este é um evento-chave<br />
para acesso e ampliação<br />
das exportações de<br />
frutas frescas e processadas<br />
a este mercado”.<br />
Fernandes ressalta que “os<br />
Emirados Árabes, e os de-<br />
porto Tegel; numa escola de culinária para futuros formadores<br />
de opinião; e na Churrascaria Brazil, localizada na principal<br />
avenida da cidade. A ação compreendeu a degustação do<br />
melão e entrega de “kits limão”. Conforme Waldyr Promicia,<br />
presidente da Abpel, como o limão precisa ser preparado<br />
para degustação, “o consumidor levou o limão, acompanhado<br />
de folheto com informações nutricionais e de preparo,<br />
para poder prová-lo”, ressalta Promicia.<br />
mais países árabes, têm tido crescimento expressivo no<br />
consumo de frutas e sucos, por causa do clima quente,<br />
alto poder aquisitivo e restrições governamentais para consumo<br />
de refrigerantes para combater a obesidade”.<br />
PARCERIAS<br />
Público presente saboreou sucos brasileiros em estande na Gulfood.<br />
O <strong>Ibraf</strong> também promoveu, em parceria com a Abiec (Associação<br />
Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne),<br />
a divulgação dos sucos de frutas brasileiros a cerca de 240<br />
convidados de redes de varejo, representantes do governo,<br />
empresas de cattering, rede hoteleira e formadores de<br />
opinião. A Abiec ofereceu aos convidados um workshop<br />
com degustação de churrasco e sucos de goiaba, manga,<br />
abacaxi e maracujá, além de goiabada, no Hotel Jumeirah<br />
Beach, em Dubai. Fernandes considera esta fórmula de parceria<br />
muito interessante e planeja expandir o modelo com<br />
novas parcerias.<br />
Foram realizados também encontros com redes de supermercados<br />
visando a promoção da fruta nacional e seus <strong>derivados</strong><br />
no varejo do Exterior por meio do projeto Brazilian<br />
Fruit Festival. Lívia Marques,<br />
coordenadora do<br />
projeto, comenta que<br />
“não foram encontradas<br />
nenhuma variedade de<br />
frutas brasileiras nas<br />
principais lojas da região,<br />
o que demonstra oportunidades<br />
de novos negócios<br />
para este mercado”. Os<br />
frutos da visita já podem<br />
ser contabilizados. Segundo<br />
a coordenadora, “o<br />
projeto será levado para<br />
uma rede de supermercados<br />
indiana de Dubai, no<br />
segundo semestre, e há<br />
outras negociações em<br />
andamento”.
ABACAXI<br />
MINIMAMENTE<br />
PROCESSADO<br />
Considerada uma<br />
das melhores frutas<br />
para processamento<br />
mínimo, o abacaxi<br />
permite vários<br />
tipos de preparo.<br />
O abacaxi, também chamado de ananás, é nativo da América<br />
do Sul. Seu fruto é, na verdade, uma frutescência: cada<br />
gominho é um fruto independente, que se juntou com os<br />
demais durante o processo de crescimento. É rico em vitamina<br />
C, contém boas quantidades de sais minerais como cálcio,<br />
fósforo e ferro e vitamina A. O abacaxi facilita a digestão<br />
de produtos protéicos como carnes, peixes e aves pela alta<br />
porcentagem de celulose. Cem gramas de abacaxi fornecem<br />
52 calorias. Nos últimos anos, tem-se enfatizado a necessidade<br />
do consumo de frutas e hortaliças frescas para uma dieta<br />
saudável. Ao mesmo tempo, há uma demanda crescente<br />
de alimentos mais convenientes, frescos, que sejam menos<br />
processados e prontos para o consumo.<br />
O abacaxi é considerado o “rei dos frutos” devido sua<br />
excelente qualidade sensorial. Os maiores problemas com<br />
abacaxi minimamente processado são a alteração de cor,<br />
perda de “flavor” (sabor e aroma) e textura. Isto acontece<br />
devido ao estresse das operações para o processamento mínimo<br />
(eliminação das partes não comestíveis, seguida de cortes<br />
em tamanhos menores). Esse estresse causa um aumento<br />
no metabolismo das frutas e hortaliças, levando à sua deterioração.<br />
Técnicas que retardam estes problemas incluem<br />
armazenamento em baixas temperaturas, atmosfera modificada,<br />
usando baixa concentração de O 2 e alta concentração<br />
de CO 2 . A sanitização com cloro (100 ppm por no mínimo 5<br />
minutos) é amplamente recomendada para as frutas minimamente<br />
processadas, entre elas o abacaxi. Também tem sido<br />
demonstrado que, em produtos que possam perder a quali-<br />
41
Bolhas de ar<br />
denigrem<br />
imagem e<br />
qualidade dos<br />
produtos<br />
minimamente<br />
processados.<br />
42<br />
ARTIGO TÉCNICO<br />
dade por escurecimento enzimático, tratamentos de<br />
lavagem com ácido ascórbico podem reduzir o<br />
escurecimento observado em fatias de maçã, batata<br />
e abacaxi. Com relação ao emprego de cloro<br />
como sanitizante em unidades de processamento<br />
mínimo do abacaxi, sugere-se para saladas cubetadas<br />
uma concentração ótima de cloro ativo de 100 ppm.<br />
Convém salientar entretanto que o cloro simplesmente<br />
retarda a alteração microbiana, porém não<br />
mostra nenhum efeito benéfico sobre as desordens<br />
bioquímicas e fisiológicas .<br />
PATÓGENOS IMPORTANTES<br />
Na indústria, o manuseio impróprio, o uso de<br />
equipamentos mal-sanitizados e algumas etapas do<br />
processamento mínimo, como o fatiamento, geralmente,<br />
promovem aumento na população de microrganismos<br />
em frutas e hortaliças e podem comprometer<br />
a qualidade e a segurança do produto final<br />
ou diminuir o tempo de conservação. Por outro<br />
lado, as técnicas para estender a vida útil desses produtos<br />
podem aumentar o risco potencial de desenvolvimento<br />
de patógenos e, portanto, devem ser<br />
cuidadosamente avaliados. Durante o<br />
descascamento, corte e fatiamento, a superfície do<br />
abacaxi é exposta ao ar e, com isso, é possível a<br />
contaminação com bactérias, leveduras e mofos.<br />
A microbiota de produtos frescos consiste, em<br />
geral, de espécies de Enterobactérias e Pseudomonas,<br />
enquanto bactérias do ácido lático e fungos podem estar<br />
presentes em números relativamente baixos. Ocasionalmente,<br />
patógenos podem ocorrer em razão do uso<br />
de água para irrigação ou fertilizantes contaminados,<br />
durante o cultivo ou como consequência da falta de<br />
higiene durante o processamento. Embora o crescimento<br />
de microrganismos patogênicos e<br />
deterioradores, em produtos minimamente processados,<br />
possa ser inibido ou retardado pela combinação<br />
adequada de atmosfera modifica e temperatura. Dentre<br />
os patógenos psicotróficos encontrados em produtos<br />
minimamente processados destacam-se L.<br />
ROGÉRIO LOPES VIEITES/UNESP BOTUCATU/SP<br />
monocytogenes, Yersinia enterocolitica e Aeromonas<br />
hydrophyla, que são capazes de crescer em certos produtos<br />
minimamente processados, mantidos sob refrigeração.<br />
Entretanto outros microrganismos patogênicos<br />
são de relevância nesses produtos e incluem:<br />
Salmonella, Shigella, Campylobacter, Escherichia coli,<br />
Staphylococcus aureus, C. botulinium, Bacillus cereus,<br />
espécies de Vibrio, vírus da hepatite A e Norwalk, além<br />
de parasitas como Cryptosporidium e Cyclospora.<br />
O abacaxi minimamente processado deve ser<br />
mantido entre 3 e 6 o C durante o processamento,<br />
o transporte e o armazenamento até o consumo.<br />
Temperaturas mais baixas, como 0 o C, durante o<br />
processamento podem causar injúrias no tecido das<br />
frutas. A compreensão dos efeitos que os principais<br />
gases presentes em embalagens sob atmosfera modificada<br />
exercem sobre a microbiota do produto é<br />
fundamental para prever o comportamento dessa<br />
microbota e, dessa forma, estimar o tempo de conservação<br />
do produto. O oxigênio, em geral, permite<br />
o crescimento de bactérias aeróbias e pode inibir<br />
o crescimento dos anaeróbios estritos, embora<br />
exista uma grande variação na sensibilidade dos<br />
aeróbios ao O 2 . A redução do oxigênio no interior<br />
da embalagem, inibe a proliferação da microbiota<br />
aeróbia presente mas vai estimular o crescimento<br />
de microaerófilos e anaeróbios.<br />
CONDIÇÕES ADEQUADAS<br />
O gás carbônico, solúvel em água e lipídeos, é<br />
o principal responsável pelo efeito bacteriostático<br />
observado em microrganismos nos produtos minimamente<br />
processados embalados sob atmosfera<br />
modificada. No entanto, concentrações altas possibilitam<br />
o estabelecimento de condições onde microrganismos<br />
patogênicos aeróbios, tais como<br />
Clostridium botulinum , possam crescer. Deve-se<br />
considerar também que a exposição de produtos<br />
frescos a concentrações de O e CO , respectiva-<br />
2 2<br />
mente, abaixo de 2,0 % e acima de 10 % , limites<br />
de tolerância, pode aumentar a respiração anaeróbia<br />
e acelerar o desenvolvimento de odores desagradáveis,<br />
pelo aumento de etanol e acetaldeído. As<br />
combinações requeridas de temperatura, concentrações<br />
de O e CO variam com o tipo de pro-<br />
2 2<br />
duto vegetal, variedade, origem, maturação e a<br />
estação em que foi colhido.<br />
O armazenamento do abacaxi minimamente<br />
processado em condições adequadas é um<br />
ponto fundamental para o sucesso dessa<br />
tecnologia. Temperatura, umidade relativa e<br />
composição atmosférica no interior da embalagem<br />
são condições ambientais que podem<br />
ser manipuladas para diminuir a respiração.
ARTIGO TÉCNICO<br />
Processamento passo-a-passo<br />
O abacaxi permite vários tipos de preparo, como cortado em<br />
cubos, em rodelas sem o cilindro central, em metades longitudinais<br />
com a casca ou em metades transversais. O<br />
processamento mínimo pode também ser feito para aproveitamento<br />
de partes de frutos que não estejam lesionados ou<br />
deformados. Seu processamento mínimo envolve várias etapas:<br />
Colheita e transporte: Os frutos de abacaxi devem ser<br />
colhidos ao atingirem o ponto de amadurecimento “pintado”,<br />
pois neste estádio apresentam as melhores características<br />
para o consumo. Os frutos devem ser transportados<br />
para o local de processamento em, no máximo, 24<br />
horas após a colheita.<br />
Recepção: Os frutos, por ocasião do recebimento devem<br />
ser selecionados, para tornar o lote mais uniforme quanto<br />
ao grau de maturação e de danos mecânicos ou podridões.<br />
Em seguida, as coroas são cortadas, deixando-se<br />
um “talo” de aproximadamente 2,0 cm, para evitar a entrada<br />
de patógenos e minimizar o estresse.<br />
Lavagem: Os frutos selecionados são então lavados em<br />
água corrente utilizando detergente neutro comum, que<br />
tem como ingrediente ativo o alquil benzeno sulfonato<br />
de sódio.<br />
Enxágüe: Após a lavagem, os frutos são imersos por cinco<br />
minutos em água fria a 5ºC contendo 200 mg de cloro. L-1 (100 mL de água sanitária em 10 L de água), para desinfecção<br />
e remoção do calor de campo (Toda Fruta, 2003).<br />
Depois da diminuição de temperatura dos produtos vegetais,<br />
considera-se que a embalagem em atmosfera modificada<br />
é o método mais eficaz para prolongar a vida útil de<br />
vegetais frescos e pré-processados. A aplicação efetiva de<br />
tecnologia para o processamento mínimo do abacaxi, depende,<br />
portanto, do conhecimento das características intrínsecas<br />
da fruta e das transformações bioquímicas específicas<br />
que ocorram nelas. O controle dessas transformações<br />
através do manuseio adequado do produto e das condições<br />
do ambiente (notadamente temperatura, umidade e concentração<br />
de gases) durante o processamento, armazenamento,<br />
distribuição e comercialização é a melhor forma para a obtenção<br />
de produtos com boa qualidade, maior tempo de vida útil<br />
e com segurança para o consumo.<br />
Prof. Dr. Rogério Lopes Vieites<br />
UNESP - Faculdade de Ciências Agronômicas - Botucatu/SP;<br />
Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial<br />
Tel (14) 3811-7172 • vieites@fca.unesp.br<br />
Câmara fria: Em seguida os frutos devem ser mantidos<br />
em câmara fria a 10ºC, previamente lavada e higienizada<br />
com solução de cloro a 200 mg.L-1 , por um período de 12<br />
horas, para o abaixamento da temperatura.<br />
Processamento mínimo: Deve ser feito a 10ºC, com os<br />
utensílios (facas, baldes, escorredores etc.) previamente<br />
higienizados. Os operadores devem usar luvas, aventais,<br />
gorros e máscaras, procurando proteger ao máximo o produto<br />
de prováveis contaminações. Os frutos podem ser<br />
submetidos a vários tipos de preparo, com destaque para<br />
os descascados e cortados em rodelas de 1,5 cm de espessura<br />
ou descascados e cortados em metades longitudinais.<br />
Enxágüe com água clorada: Para eliminar o suco celular<br />
extravasado, os pedaços devem ser enxaguados com água<br />
clorada, a 20 mg de cloro.L-1 .<br />
Escorrimento: Os pedaços devem ser escorridos por dois<br />
a três minutos, para se eliminar o excesso de umidade.<br />
Embalagem: Podem ser utilizadas embalagens de<br />
polietileno tereftalatado (PET), plásticas ou bandejas de<br />
isopor recobertas com filme de cloreto de polivinila (PVC)<br />
esticável.<br />
Armazenamento: Os produtos devem ser armazenados em<br />
condições refrigeradas. Esta temperatura deve ser mantida<br />
durante o transporte e a comercialização. Indica-se temperaturas<br />
entre 3ºC e 6ºC.<br />
artigos técnicos podem ser enviados para redacao@frutase<strong>derivados</strong>.com.br<br />
43
44<br />
CAMPO & CULTURA<br />
FRUTAS BRASILEIRAS E<br />
EXÓTICAS CULTIVADAS<br />
A publicação “<strong>Frutas</strong> Brasileiras e Exóticas Cultivadas<br />
de consumo in natura” contempla 827 tipos diferentes<br />
de frutas nativas e exóticas e é resultado de ampla<br />
pesquisa sobre o assunto nos últimos cinco anos em<br />
todo o território brasileiro. O livro aborda principalmente<br />
o grupo das espécies nativas, no qual são discutidos<br />
vários aspectos do cultivo das plantas frutíferas, sua<br />
importância econômica, seu valor nutricional como<br />
alimento e detalhes sobre sua multiplicação.<br />
Na primeira parte do livro são apresentadas apenas<br />
espécies nativas no território brasileiro, tanto as<br />
cultivadas comercialmente, quanto as domésticas ou<br />
as encontradas na natureza. Na segunda parte são<br />
tratadas apenas as espécies exóticas ou as introduzidas<br />
de outros países e cultivadas comercialmente ou<br />
em pomar doméstico no Brasil. Dos 827 diferentes<br />
tipos de frutas abordados no livro, 312 são nativas e<br />
515 exóticas.<br />
Cada fruta é apresentada em uma única página inteira,<br />
com indicações de sua origem ou habitat natural,<br />
descrição resumida de suas características morfológicas,<br />
época de floração e frutificação. Sob o título<br />
“Utilidades”, é descrito o modo de consumo dos frutos<br />
e, sob o título “Multiplicação”, é apresentada a forma<br />
de propagação da planta.<br />
Autores: Harri Lorenzi, Luis Bacher, Marco Lacerda e<br />
Sergio Sartori<br />
Editora: Plantarum<br />
Páginas: 627<br />
Onde encontrar:<br />
Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda.<br />
Avenida Brasil, 2.000 - Distrito Industrial<br />
CEP 13460-000 - Nova Odessa/SP<br />
Fone: (19) 3466-5587<br />
Fax: (19) 3466-6160<br />
Site: www.plantarum.com.br<br />
E-mail: vendas@plantarum.com.br<br />
POMAR DOMÉSTICO<br />
CASEIRO - FAMILIAR<br />
<strong>Frutas</strong> de primeira qualidade na família 365 dias do<br />
ano, para você e sua família plantar e cuidar estão<br />
em Pomar Doméstico - Caseiro – Familiar. O livro<br />
orienta na escolha de mudas, local do pomar, preparo<br />
do solo, variedades, época e maneira correta de<br />
plantar, adubar, tratos culturais e ponto de colheita<br />
dos frutos maduros para o consumo da família.<br />
Aborda ainda a indicação para o controle de doenças<br />
e das pragas com o uso de produtos mais naturais<br />
para garantir a melhor qualidade na produção e no<br />
consumo de frutas de primeira qualidade.<br />
As frutas colhidas têm ótimo ponto de maturação,<br />
garantia de qualidade, sem a presença de produtos<br />
químicos prejudiciais à saúde, equilíbrio entre acidez,<br />
sólidos solúveis, muitas vitaminas, sais minerais e<br />
fibras. Estão disponíveis, diariamente, e permitem seu<br />
consumo ao natural, em receitas especiais, na forma<br />
de suco, no preparo de geléias, suco concentrado,<br />
doce de massa, cristalizados, polpa concentrada e<br />
congelada.<br />
As plantas frutíferas melhoram o visual, embelezam<br />
e valorizam a propriedade, além de absorver o excesso<br />
de água das chuvas, contribuir para diminuir a erosão,<br />
melhorar o microclima, regularizar as temperaturas<br />
extremas, aumentar a microflora e criar um ambiente<br />
saudável, contribuindo para a melhoria e manutenção<br />
da qualidade de vida dos seus moradores.<br />
Autores: Ivo Manica, Ivone M. Icuma, Keize P.<br />
Junqueira e Nilton T. V. Junqueira<br />
Editora: Cinco Continentes Editora<br />
Páginas: 112<br />
Onde encontrar:<br />
Rua Buarque de Macedo, 480 - bairro São Geraldo -<br />
Porto Alegre/RS - CEP 90.230-250<br />
Fone: (51) 3264-1377<br />
Fax: (51) 3019-8768<br />
E-mail:5continentes@5continentes.com.br
PRODUTOS E SERVIÇOS<br />
45
46<br />
FRUTA NA MESA<br />
DELICADEZA DO<br />
FIGO<br />
Marlene Simarelli<br />
O fruto carnoso da figueira (Fícus<br />
carica) é conhecido desde os<br />
primórdios da humanidade, com relatos<br />
na Bíblia. Pesquisadores estimam<br />
que sua procedência seja do sul da<br />
Arábia, de onde se espalhou para o<br />
mundo. No Brasil, chegou com os portugueses<br />
no século 16. A variedade Figo<br />
Roxo foi introduzida pelo italiano Lino<br />
Busato, em 1900, em Valinhos/SP. Imigrantes<br />
italianos ali radicados começaram<br />
a produção comercial no País. A<br />
cultura se tornou tão importante para<br />
o município que a variedade é conhecida,<br />
hoje, como “De Valinhos”. “Existem<br />
mais de 150 variedades de figos,<br />
com cores que vão do branco ao verde,<br />
marrom, vermelho, roxo e até o<br />
preto”, relata o professor Rogério<br />
Lopes Vieites, do Departamento de<br />
Gestão e Tecnologia Agroindustrial da<br />
Faculdade de Ciências Agronômicas, da<br />
Unesp, em Botucatu/SP. Seu cultivo se<br />
dá em São Paulo, Minas Gerais, Rio<br />
Grande do Sul e, mais recentemente,<br />
nas serras do Ceará.<br />
O figo é consumido verde, na forma<br />
de doces, e maduro ao natural. Vieites<br />
explica que “o valor nutritivo muda conforme<br />
a variedade. É rico em açúcar,<br />
contém sais minerais, sendo um dos<br />
frutos de clima temperado que possui<br />
mais cálcio. Possui ainda cobre, potássio,<br />
magnésio, sódio e traços de<br />
zinco”. Uma curiosidade, segundo<br />
Vieites, “é o uso do látex do figo verde<br />
para coalhar o leite, sendo de 30 a<br />
100 vezes mais potente do que<br />
outros coalhos”.<br />
RECEITAS DA PRODUTORA<br />
ANTONIA BROTTO<br />
SORVETE DE FIGO<br />
Ingredientes: 10 figos maduros descascados, 2 xícaras (chá)<br />
de água, 2 xícaras (chá) de açúcar, 2 claras em neve e 1 lata de<br />
creme de leite.<br />
Modo de preparo: bata no liquidificador 8 figos e a água.<br />
Passe pela peneira, acrescente o açúcar, misture bem e leve<br />
ao fogo até formar uma calda grossa. Adicione a calda quente<br />
às claras em neve, aos poucos, mexendo sempre até misturar<br />
bem. Acrescente o creme de leite e os 2 figos restantes picadinhos,<br />
misturando bem até formar um creme homogêneo. Leve<br />
ao congelador. Remexa o sorvete de vez em quando para que<br />
gele por igual.<br />
DOCE RAMI<br />
Ingredientes: 2 ½ quilos de figo quase no ponto de comer,<br />
2 copos de açúcar, 2 copos de água, algumas folhas novas<br />
da fruta.<br />
Modo de preparo: coloque os figos para aferventar durante<br />
uma hora, trocando a água duas vezes. À parte, prepare uma<br />
calda de espessura média com 2 copos de açúcar, 2 copos de<br />
água e as folhas do figo. Pegue os figos aferventados e passe<br />
para a calda, deixando apurar por 1 ½ hora. Retire, coloque<br />
numa assadeira e leve ao forno por mais 1 hora. Sirva as unidades<br />
uma a uma.<br />
Antonia Brotto é produtora de figo em Campinas/SP, onde clima e solo<br />
favorecem o cultivo. Sua família planta figos desde 1965. Para ela, o maior<br />
desafio da cultura é o controle da mosca-da-fruta na época de chuva, feita<br />
com armadilhas. Parte da produção de Brotto é exportada para a Europa,<br />
seguindo os princípios exigidos pelo EurepGap. Ela conta que “a colheita é manual,<br />
com pessoal treinado, pois o figo é uma fruta muito delicada”.