Rosemyriam Ribeiro dos Santos Cunha - Programa de Pós ...

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17.04.2013 Views

conceitual, a polarização em um ou outro destes extremos corre o risco de impedir que o próprio idoso protagonize os discursos e processos de seu envelhecimento. Um pensamento linear sobre a velhice pode reafirmar a postura da sociedade moderna que, ignorando a responsabilidade social sobre os cidadãos, deixa de considerar, na totalidade dos espaços, um lugar de existir e agir que permita à pessoa idosa viver com dignidade sua velhice. As tendências dos estudos atuais parecem mostrar caminhos que buscam sobrepor as percepções da velhice como nicho existencial ou subcultura, para a consideração de diferenças e peculiaridades que se determinam devido às diferenças de ocupação, sexo, religião e identidade étnica (DEBERT, 1999; PACHECO, 2006). Debert (1999), fazendo uma análise das concepções que nortearam os estudos sobre a velhice, indica três períodos distintos. No período entre 1945 a 1960, a velhice esteve associada à pobreza. Denunciava-se a necessidade de incrementar à aposentadoria outras formas de assistência que preenchessem lacunas do sistema previdenciário. O segundo período, de 1956 a 1967, caracterizou-se pelas noções de solidão e marginalidade, indicando novas práticas como o lazer e os atendimentos especiais de saúde como adequados aos idosos. Na terceira fase a velhice “passa a ser definida como um momento em que o trabalho é ilegítimo” (p.45) e aponta para as condições precárias de pré- aposentadoria com ênfase nas empresas privadas. As duas últimas vertentes coincidem com a constituição da idéia de uma terceira idade que usufrui e aproveita o tempo da aposentadoria e à qual é associado o poder de consumo. Por outro lado, a idéia de ciclo de vida, de caráter biologicista e ahistórico, marcando a velhice como um momento definido pela idade cronológica, estaria sendo substituída pela noção de curso de vida. Nesta ótica, a velhice passa a ser concebida como um processo gradual influenciado por fatores históricos, sociais, culturais e da biografia individual das pessoas (DEBERT, 1999). Até meados do século passado, duas teorias antagônicas fundamentavam as concepções de velhice no campo da Gerontologia: a teoria do desengajamento e a teoria da atividade. As duas perspectivas concebem o envelhecimento como um momento de perda de papéis sociais e buscam compreender os mecanismos de adaptação, grau de conformismo e nível de atividade dos idosos. O desengajamento tem por base a idéia de que o abandono voluntário das atividades leva ao envelhecimento bem sucedido. A teoria da atividade prevê a maior satisfação 24

quando as pessoas permanecem ativas mesmo que em atividades compensatórias (DEBERT,1999; PACHECO, 1999) 2 . Debert (1999) continua explicando outras duas visões que apóiam as concepções mais atuais sobre o envelhecimento humano. Uma delas aponta a situação de pauperização e abandono do velho, dotando à família a responsabilidade sobre a situação. Esta perspectiva reforçaria os estereótipos da velhice associada à doença e dependência. A segunda visão defende a velhice ativa que recria espaços e papéis, porém tende para a negação do processo existencial acarretado pelo acúmulo da idade e coloca as pessoas idosas na berlinda mercadológica. Conceitos, teorias e imagens a respeito do velho e da velhice têm se desenvolvido dentro de várias vertentes e nas diversas áreas do saber. Nota-se que, conforme interesses e ideologias, a população idosa passa rapidamente de realidade demográfica, a problema social; de massa empobrecida, a nicho de mercado; de inativos e isolados, a instituidores de novas formas de viver. Independente, ou apesar desse conjunto de representações, as pessoas de mais idade, assim como em outras fases de sua existência, continuam interagindo com o meio no qual estabelecem relações e enfrentam os conflitos e tensões que advém da realidade concreta da vida cotidiana. São pessoas que participam da dinâmica cultural e do contexto histórico e social no qual se acham inseridas promovendo modificações na medida em que também se modificam. São, portanto pessoas que constroem cultura e que podem falar sobre ela, dando opiniões e revelando concepções. Levando-se em conta os aspectos até agora apresentados, procurou-se analisar as condições da realidade vivida por doze mulheres com mais de setenta anos, moradoras da cidade de Curitiba. O objetivo foi contribuir com a construção de um conhecimento que enfatiza os aspectos psicossociais que implicam na compreensão da prática concreta vivida pelas pessoas na rotina diária e de como elas se constituem como sujeitos na relação com este meio (FREITAS, 1996). 2 Os autores citados apóiam-se nas idéias de CAVAN, R.; CUMMING, E. e HENRY, W. quando se referem às teorias do desengajamento, não abordando as noções de atividade indicadas por Leontiev. 25

conceitual, a polarização em um ou outro <strong>de</strong>stes extremos corre o risco <strong>de</strong> impedir<br />

que o próprio i<strong>dos</strong>o protagonize os discursos e processos <strong>de</strong> seu envelhecimento.<br />

Um pensamento linear sobre a velhice po<strong>de</strong> reafirmar a postura da socieda<strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rna que, ignorando a responsabilida<strong>de</strong> social sobre os cidadãos, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rar, na totalida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> espaços, um lugar <strong>de</strong> existir e agir que permita à<br />

pessoa i<strong>dos</strong>a viver com dignida<strong>de</strong> sua velhice. As tendências <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong> atuais<br />

parecem mostrar caminhos que buscam sobrepor as percepções da velhice como<br />

nicho existencial ou subcultura, para a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> diferenças e peculiarida<strong>de</strong>s<br />

que se <strong>de</strong>terminam <strong>de</strong>vido às diferenças <strong>de</strong> ocupação, sexo, religião e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

étnica (DEBERT, 1999; PACHECO, 2006).<br />

Debert (1999), fazendo uma análise das concepções que nortearam os<br />

estu<strong>dos</strong> sobre a velhice, indica três perío<strong>dos</strong> distintos. No período entre 1945 a<br />

1960, a velhice esteve associada à pobreza. Denunciava-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

incrementar à aposentadoria outras formas <strong>de</strong> assistência que preenchessem<br />

lacunas do sistema previ<strong>de</strong>nciário. O segundo período, <strong>de</strong> 1956 a 1967,<br />

caracterizou-se pelas noções <strong>de</strong> solidão e marginalida<strong>de</strong>, indicando novas práticas<br />

como o lazer e os atendimentos especiais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como a<strong>de</strong>qua<strong>dos</strong> aos i<strong>dos</strong>os.<br />

Na terceira fase a velhice “passa a ser <strong>de</strong>finida como um momento em que o<br />

trabalho é ilegítimo” (p.45) e aponta para as condições precárias <strong>de</strong> pré-<br />

aposentadoria com ênfase nas empresas privadas. As duas últimas vertentes<br />

coinci<strong>de</strong>m com a constituição da idéia <strong>de</strong> uma terceira ida<strong>de</strong> que usufrui e aproveita<br />

o tempo da aposentadoria e à qual é associado o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> consumo.<br />

Por outro lado, a idéia <strong>de</strong> ciclo <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> caráter biologicista e ahistórico,<br />

marcando a velhice como um momento <strong>de</strong>finido pela ida<strong>de</strong> cronológica, estaria<br />

sendo substituída pela noção <strong>de</strong> curso <strong>de</strong> vida. Nesta ótica, a velhice passa a ser<br />

concebida como um processo gradual influenciado por fatores históricos, sociais,<br />

culturais e da biografia individual das pessoas (DEBERT, 1999).<br />

Até mea<strong>dos</strong> do século passado, duas teorias antagônicas fundamentavam as<br />

concepções <strong>de</strong> velhice no campo da Gerontologia: a teoria do <strong>de</strong>sengajamento e a<br />

teoria da ativida<strong>de</strong>. As duas perspectivas concebem o envelhecimento como um<br />

momento <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> papéis sociais e buscam compreen<strong>de</strong>r os mecanismos <strong>de</strong><br />

adaptação, grau <strong>de</strong> conformismo e nível <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> i<strong>dos</strong>os. O <strong>de</strong>sengajamento<br />

tem por base a idéia <strong>de</strong> que o abandono voluntário das ativida<strong>de</strong>s leva ao<br />

envelhecimento bem sucedido. A teoria da ativida<strong>de</strong> prevê a maior satisfação<br />

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