Rosemyriam Ribeiro dos Santos Cunha - Programa de Pós ...
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CAPÍTULO I<br />
O ENVELHECER: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES<br />
A velhice “é a cena final <strong>de</strong>ssa peça que se constitui a existência [...] mesmo<br />
um sábio não po<strong>de</strong>ria consi<strong>de</strong>rá-la leve [...] ela só é honrada, na medida em que<br />
resiste, afirma seu direito [...]. Gosto <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir o verdor num velho e sinais <strong>de</strong><br />
velhice num adolescente,” (CÍCERO, 2006, p.12, 32, 65). 1<br />
O político e filósofo romano, que viveu entre os anos 103 a 43 antes da era<br />
cristã, mostra que todas as ida<strong>de</strong>s trazem prazeres e atribulações, porém ressalta as<br />
vantagens da sabedoria e da autorida<strong>de</strong> próprias aos homens velhos que, naquele<br />
tempo histórico, formavam o Senado.<br />
No alvorecer da Renascença (século XV), a socieda<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal reorganizava<br />
seu sistema <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> feudal para o comercial burguês. Nesta época, o<br />
pensador francês Montaigne (1996) escreve “morrer <strong>de</strong> velhice é coisa que se vê<br />
raramente, singular e extraordinária [...]mas é um privilégio viver até esse limite,<br />
privilégio que só é concedido em dois ou três séculos, a um <strong>de</strong> nós” (p.286). O<br />
filósofo criticava as leis que <strong>de</strong>terminavam a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 25 anos para que os jovens<br />
pu<strong>de</strong>ssem gerir seus bens. Enaltecendo as qualida<strong>de</strong>s da juventu<strong>de</strong> em comparação<br />
com a <strong>de</strong>cadência das capacida<strong>de</strong>s físicas e intelectuais <strong>dos</strong> poucos homens que<br />
chegavam à ida<strong>de</strong> avançada, <strong>de</strong>fendia a emancipação aos 20 anos para tornar a<br />
vida <strong>de</strong> direitos civis mais longa.<br />
Já para Simone <strong>de</strong> Beauvoir (1990), a velhice se configura como um processo<br />
<strong>de</strong> transformações sucessivas que se concretiza na vivência e experiência que as<br />
pessoas acumulam no <strong>de</strong>correr <strong>dos</strong> anos <strong>de</strong> vida, “nada <strong>de</strong>veria ser mais esperado,<br />
nada é mais imprevisto do que a velhice “ (p.11).<br />
Para Beauvoir a velhice ultrapassa as modificações biológicas, configurando-<br />
se num fato cultural que <strong>de</strong>ve ser compreendido na sua totalida<strong>de</strong>. A autora alerta<br />
para as dimensões biológicas, culturais e sociais do envelhecimento. Indica a<br />
vivência do dia a dia, <strong>dos</strong> valores e crenças construí<strong>dos</strong> no <strong>de</strong>correr das trajetórias<br />
<strong>de</strong> vida, como a base <strong>de</strong>ste fenômeno cujo significado permite à pessoa dotar o<br />
presente e o futuro <strong>de</strong> um sentido único, sob uma ótica individual.<br />
1 Em sua obra Saber Envelhecer e A Amiza<strong>de</strong><br />
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