Descobrimento: Primeiros Núcleos Urbanos
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BIBLIOGRAFIA<br />
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REIS, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no<br />
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SAIA, Luís. Morada Paulista. 2 ed. São Paulo,<br />
Perspectiva, 1976.<br />
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial.<br />
Rio de Janeiro, Objetiva, 2000.<br />
<strong>Descobrimento</strong>: <strong>Primeiros</strong> <strong>Núcleos</strong> <strong>Urbanos</strong>
Organização político-administrativa e urbanização<br />
<strong>Descobrimento</strong>: <strong>Primeiros</strong> <strong>Núcleos</strong> <strong>Urbanos</strong><br />
Por ocasião do descobrimento, as experiências de colonização que<br />
Portugal, assim como outros países europeus, haviam realizado tinham<br />
por cenário regiões habitadas por povos com certo grau de<br />
desenvolvimento econômico e social, capazes de oferecer gêneros de<br />
alto valor para os mercados da Europa e, ao mesmo tempo, consumir<br />
produtos originários de suas manufaturas. São exemplos as feitorias da<br />
Índia e de outros países da Ásia e da África .<br />
No Brasil, os portugueses encontraram um território quase deserto, uma<br />
população com baixo nível econômico e técnico, sem possibilidade de<br />
exportar ou importar as manufaturas importadas da Europa. Além disso,<br />
não havia as riquezas minerais da América espanhola.<br />
Durante as primeiras décadas, limitaram-se a uma exploração grosseira<br />
dos recursos naturais, dando origem às primeiras feitorias e a alguns<br />
grupamentos de brancos, com rudimentos de agricultura.
Para proteger a costa brasileira da concorrência<br />
de países rivais, que vinham também mantendo<br />
feitorias em nosso território, impunha-se uma<br />
forma mais estável de ocupação. A partir de<br />
1532, iniciou-se a instalação das capitanias<br />
hereditárias.<br />
O sistema era, ao mesmo tempo, feudal e<br />
mercantil, pois delegava poderes da Coroa aos<br />
donatários, mas os objetivos eram comerciais.<br />
Aos donatários cabia a criação de vilas, que lhes<br />
pagavam tributos e a concessão de terras para<br />
atividades rurais.<br />
Todas as atividades administrativas e de defesa<br />
deviam ser exercidas pelos representantes dos<br />
donatários, pelas câmaras das vilas e pelos<br />
senhores de terra.<br />
Cabia aos donatários a criação de vilas.<br />
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Os primeiros arquitetos eram<br />
jesuítas ou engenheiros militares.<br />
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Igreja da Graça (Olinda - PE) 1580
A memória da arquitetura civil e<br />
religiosa desse período está<br />
principalmente nos quadros de Franz<br />
Post<br />
Casa de um português nobre no Brasil -<br />
Frans Post (chega ao Brasil em1637 )<br />
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Engenho com capela - Frans Post<br />
(chega ao Brasil em1637 )
O modelo de fortificação portuguesa vem dos romanos, dos<br />
visigodos e muçulmanos.<br />
Forte dos Reis Magos (Natal – RN) 1598-1614<br />
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Ao tempo do descobrimento do Brasil, as<br />
experiências urbanísiticas mais importantes e os<br />
principais trabalhos escritos referentes ao<br />
assunto tinham por base esquemas ideais, de<br />
tendência geometrizante, cujas origens mais<br />
remotas chegavam até Vitrúvio.<br />
Esses esquemas ligavam-se ainda às experiências<br />
das cidades novas dos fins da Idade Média, com<br />
suas muralhas e suas plantas retangulares.<br />
Os esquemas renascentistas eram em princípio<br />
rádio-concêntricos, mas suas aplicações<br />
prendiam-se muitas vezes às vantagens do plano<br />
em xadrez, como ocorre em Sabbioneta, cidade<br />
italiana fundada em 1560.<br />
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Sabbioneta (Itália) 1560
Além desse critérios de racionalidade, que se<br />
traduziam formalmente pela geometrização e<br />
que seriam mais tarde interpretados como<br />
correspondendo à concepção cartesiana de<br />
ordenação urbanística, surgiam já na época<br />
outros, que pretendiam reconhecer a<br />
racionalidade não apenas através de critérios<br />
formais mas também de critérios de uso, onde se<br />
incluiria mesmo a variedade de perspectivas ,<br />
constituindo o que, dentro da nomenclatura<br />
atual, poderia ser indicado como sendo uma<br />
corrente orgânica.<br />
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Siena (Itália)
À época do descobrimento do Brasil, as tendências<br />
geometrizantes estavam sendo adotadas em quase<br />
todas as experiências urbanísticas européias e seria<br />
por seus princípios que se orientaria o urbanismo<br />
colonial posto em prática com a expansão<br />
européia.<br />
A política urbanizadora colonial espanhola seria<br />
mesmo codificada com minúcias nas “Leyes de<br />
Índia”, constituindo-se numa das fontes mais<br />
perfeitas de informação e orientação sobre o<br />
urbanismo formal. A aplicação desses princípios em<br />
termos práticos foi comum, deles se utilizando não<br />
apenas espanhóis como holandeses, franceses,<br />
ingleses e portugueses.<br />
Estes, na Índia, adotariam esquemas medievo-<br />
renascentistas, sempre que surgisse a oportunidade<br />
de construir centros de maior importância, pois<br />
“era preciso caminhar mais depressa e dar<br />
monumentalidade aos edifícios públicos, às igrejas<br />
e aos conventos”.<br />
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Damão e Baçaim (Índia)
Traçado<br />
Até 1580 , as vilas como São Paulo, Olinda e<br />
Vitória tinham traçados irregulares. Mas<br />
Salvador, como “cidade real”, foi criada com<br />
características diferentes.<br />
Para traçá-la, veio de Portugal o mestre de<br />
fortificações Luiz Dias, que trouxe diretrizes<br />
da Corte sobre o modo de proceder. A cidade<br />
teve desde o início ruas retas e seu desenho<br />
aproximava-se, nos terrenos planos, do<br />
clássico tabuleiro de xadrez.<br />
Um esquema semelhante foi adotado em São<br />
Luiz do Maranhão e Filipéia (João Pessoa).<br />
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Salvador (Bahia)
A Escolha dos Sítios<br />
O sítio de uma vila ou cidade é o local onde está sendo<br />
assentada.<br />
Praticamente todas as cidades ou vilas fundadas antes de<br />
1580 foram assentadas sobre colinas que facilitassem sua<br />
defesa pela altura e o controle das vias de acesso,<br />
principalmente as marítimas e fluviais. Variavam as<br />
alturas das colinas, mas os sítios eram praticamente<br />
iguais.<br />
Durante o domínio espanhol (1580-1640), estabelecido o<br />
controle ibérico sobre todo o litoral,tornaram-se comuns<br />
as vilas e cidades com sítios escolhidos em terrenos<br />
planos ou quase planos, como Cabo Frio, João Pessoa,<br />
Ubatuba, São Sebastião, Parati, Parnaíba e Mogi das<br />
Cruzes.<br />
Na Bahia, o desenvolvimento do comércio obrigou a<br />
criação artificial de uma nova área urbana, na Cidade<br />
Baixa. Em locais como Ilhéus e Porto Seguro formaram-se<br />
rapidamente novas áreas urbanas, nas baixadas.<br />
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Salvador (Bahia)
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Os limites impostos pelos sítios mais antigos obrigaram muito cedo as<br />
adaptações importantes, em núcleos cuja população se expandia. O Rio de<br />
Janeiro praticamente se transferiu do Morro do Castelo para a praia.<br />
Rio de Janeiro
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Santos (São Paulo)
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Olinda e Recife (Pernambuco)
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Recife (Pernambuco)
O binário urbano-rural constituía, nessa época, em<br />
pleno século XVII, a tese mais cara ao mundo que<br />
orbitava em termos europeus, inclusive e<br />
principalmente no que dizia respeito às<br />
instalações de conquista.<br />
A ocupação das vacarias, o remanejamento dos<br />
núcleos existentes e o desenvolvimento geral da<br />
população urbana, inclusive por motivo das<br />
franquias e da relativa liberdade que aí<br />
conquistavam os "servos da gleba", o comércio e os<br />
novos termos do mercado e da produção,<br />
transformaram a temática urbana em tônica da<br />
Europa pós-Renascença.<br />
De qualquer modo, porém, as preliminares de<br />
divisão da terra estavam de antemão firmadas e o<br />
estabelecimento do binário urbano-rural é apenas<br />
uma nova forma de gregarismo da população<br />
européia.<br />
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Engenho de Açúcar
Na América, o fenômeno é totalmente novo, desde as suas raízes abstratas de<br />
divisão da terra, até as formas adotadas para instalar as cidades.<br />
Se na Europa o quadro geral de ocupação de terra já estava esboçado e<br />
comprometido, na América está sujeito de um lado às imposituras de ordem<br />
erudita, como é o caso da aplicação das Leyes de lo Reyno de las Índias na<br />
América Espanhola, enquanto que as condições empíricas da colonização podiam,<br />
em alguns casos, demonstrar o predomínio de fatores regionais e locais, como é o<br />
caso da solução paulista.<br />
<strong>Descobrimento</strong>: <strong>Primeiros</strong> <strong>Núcleos</strong> <strong>Urbanos</strong>
<strong>Descobrimento</strong>: <strong>Primeiros</strong> <strong>Núcleos</strong> <strong>Urbanos</strong><br />
Pelo menos duas ações de ordem erudita<br />
inspiraram a colonização ibero-americana: a<br />
associação das ordens religiosas com as<br />
utopias e os preceitos hipodâmicos revelados<br />
pelos dez livros de Vitrúvio.<br />
Os jesuítas e os franciscanos foram os<br />
portadores das idéias respectivamente de<br />
Campanela e Thomas Morus e o reticulado<br />
hipodâmico, que sempre estivera aliado,<br />
desde a sua criação por Hipodamus de<br />
Mileto, ao imperialismo colonizador, assumiu<br />
um caráter dominante na legislação que<br />
pretendia disciplinar a instalação espanhola<br />
na América.<br />
As Leyes de lo Reyno de las Índias traduzem<br />
e acolhem, literalmente, o capítulo poliano<br />
referente à instalação de cidades.
<strong>Descobrimento</strong>: <strong>Primeiros</strong> <strong>Núcleos</strong> <strong>Urbanos</strong><br />
A idéia de concentrar os índios numa "aldeia grande",<br />
sob o controle dos padres da Companhia, e onde a<br />
mestiçagem encontraria empecilhos de vulto, como<br />
ficou evidenciado no exemplo das Missões, matrizava a<br />
tese jesuítica para São Paulo.<br />
Os colonos, entretanto, caminhavam noutra direção,<br />
preferindo se distribuírem sobre um território<br />
relativamente vasto, com um raio de<br />
aproximadamente 50 quilômetros a partir daquele<br />
ponto já endossado como sede oficial.<br />
Os índios e mestiços os acompanhavam nessa<br />
distribuição, quer como "peças de serviço" na<br />
escravaria das fazendas, quer como "almas<br />
administradas" das inúmeras aldeias que repetiam os<br />
estilos dos estabelecimentos colonos. Mais tarde, esse<br />
raio foi estendido para mais de 100 quilômetros,<br />
porém, já numa época em que a decadência marcava,<br />
com seus sinais ineludíveis, o esfacelamento próximo<br />
deste estilo da formação regional.
Carapicuíba (São Paulo) em 1936<br />
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O reticulado urbano, que tanta<br />
expressão alcançava na América<br />
Espanhola, e mesmo em certas partes da<br />
Colônia Portuguesa, era recusada pelos<br />
colonos mestiços de São Paulo.<br />
O próprio jesuíta, tão insistente e<br />
jeitoso nas táticas de luta, foi afinal<br />
envolvido pela tese que era contrária<br />
aos interesses da Companhia; as aldeias,<br />
que representavam uma tese ancilar da<br />
instalação paulista no século XVII, se<br />
aninharam na forma preferida pelos -<br />
colonos, em círculos concêntricos e<br />
sucessivamente afastados de Piratininga.