No Compasso da História - MultiRio
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No ano seguinte, foi aprovada a Lei dos Sexagenários, cujo projeto foi redigido por Rui Barbosa, um dos grandes nomes do abolicionismo no Brasil. Pela lei, seriam libertados todos os escravos com mais de 60 anos. Mas não funcionou muito em termos práticos, já que poucos escravos atingiam essa idade e, quando atingiam, não tinham condições de garantir seu sustento, ainda mais porque precisavam competir com imigrantes europeus que chegavam ao país. Ao mesmo tempo que o abolicionismo crescia como movimento, os republicanos também começavam a questionar o regime imperial, principalmente dentro do Exército, que era influenciado por diferentes doutrinas, entre elas o positivismo. Uma marca positivista em nossa história está na bandeira nacional: o lema “Ordem e Progresso” vem da expressão positivista “O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim”. 15 . Bandeira do Brasil: as estrelas representam todos os estados do país e o Distrito Federal. A frase Ordem e Progresso foi sugerida por Benjamin Constant a Raimundo T. Mendes, influenciado pelo positivismo francês de Auguste Comte A abolição Finalmente, em 13 de maio de 1888, o governo imperial rendeu-se às pressões internas e externas que exigiam o fim da escravidão no Brasil. A princesa Isabel, filha de D. Pedro II e herdeira do trono, assinou a Lei Áurea, uma decisão que desagradou profundamente a fazendeiros e plantadores – o último grupo da sociedade que mantinha o apoio ao imperador. Há um dado econômico a ser considerado: embora a abolição não fosse uma surpresa, dada a forte campanha que empolgava o país, os donos de escravos esperavam que houvesse uma compensação financeira pela perda de seus “capitais”, o que não foi previsto na lei. Lá vem a força, lá vem a magia Que me incendeia o corpo de alegria Lá vem a santa maldita euforia Que me alucina, me joga e me rodopia Lá vem o canto, o berro da fera Lá vem voz de qualquer primavera Lá vem a unha rasgando a garganta A fome, a fúria o sangue que já se [levanta Raça (Milton Nascimento e Fernando Brant) 16 . Princesa Isabel, filha de D. Pedro II, assinou a Lei Áurea 1808: O Segundo Reinado 81
1808: O Segundo Reinado 82 Apesar do gesto libertador da princesa Isabel, existe hoje uma percepção muito clara de que a abolição, da forma como foi realizada, deixou muitos problemas sem solução, a começar pela falta de proteção aos ex-escravos. Da noite para o dia, eles viram-se jogados à condição de desempregados, inteiramente despreparados para viver em uma sociedade que caminhava rapidamente em direção ao século XX. Faltavam educação e formação, quando as exigências do mercado de trabalho se tornavam cada vez maiores. Outro fator importante foi o fomento à imigração de trabalhadores europeus para substituir a mão de obra escrava. A preferência pela contratação dos recém-chegados deixava claro que os ex-escravos não se tornariam cidadãos plenos apenas porque uma lei fora assinada: havia um longo caminho a ser percorrido. Para o historiador José Murilo de Carvalho, “esta batalha continua hoje e é tarefa da nação”. Para alguns militantes do movimento negro no Brasil, a abolição seria uma espécie de “golpe branco” para refrear o crescimento da população negra no país. Outros historiadores preferem ver a abolição como uma conquista popular, já que diferentes setores da sociedade saíram em sua defesa, o que representaria um avanço democrático mesmo em um regime de características centralizadoras como o Império. O Império se despede Apesar da popularidade de D. Pedro II, o Império Brasileiro, a partir de 1870, entrou em uma sucessão de crises que determinaram a sua queda. O modelo “império” não atendia às exigências de novos grupos sociais que se formavam ou de antigos que cresciam em importância, como foi o caso dos militares. A vitória a ferro, fogo e sangue na Guerra do Paraguai deu ao Exército brasileiro um protagonismo que ia além da força das armas. Ao mirarem os exemplos do Uruguai, da Argentina e até mesmo do Paraguai, que já viviam sob o regime republicano, os oficiais brasileiros insistiam na pregação anti- -monárquica, gerando atritos com o governo imperial, que não encontrava outra solução para o problema a não ser a punição. Mas os homens que haviam lutado na guerra estavam mais cientes do poder que possuíam e da importância que tinham para a estrutura do país e não iam aceitar os desígnios do imperador, por mais liberal que ele fosse. 17 . Família Imperial no Palácio da Princesa Isabel, em Petrópolis Vida, valsa, vibração velas ao vento, tempo, tentação quem descobrirá, quem compreenderá o perfume da ilusão? Uma cisma, um verso, uma canção um realejo, um beijo, uma emoção um desejo, um sonho um momento, um vinho, uma sensação Perfume (Chiquinha Gonzaga e Joyce Moreno)
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existe hoje uma percepção muito clara<br />
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deixou muitos problemas sem solução,<br />
a começar pela falta de proteção aos ex-escravos.<br />
Da noite para o dia, eles viram-se jogados<br />
à condição de desempregados, inteiramente<br />
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direção ao século XX. Faltavam educação e<br />
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Outro fator importante foi o fomento à imigração<br />
de trabalhadores europeus para<br />
substituir a mão de obra escrava. A preferência<br />
pela contratação dos recém-chegados<br />
deixava claro que os ex-escravos não se tornariam<br />
ci<strong>da</strong>dãos plenos apenas porque uma<br />
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Para o historiador José Murilo de Carvalho,<br />
“esta batalha continua hoje e é tarefa <strong>da</strong> nação”.<br />
Para alguns militantes do movimento<br />
negro no Brasil, a abolição seria uma espécie<br />
de “golpe branco” para refrear o crescimento<br />
<strong>da</strong> população negra no país. Outros<br />
historiadores preferem ver a abolição como<br />
uma conquista popular, já que diferentes setores<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de saíram em sua defesa,<br />
o que representaria um avanço democrático<br />
mesmo em um regime de características<br />
centralizadoras como o Império.<br />
O Império se despede<br />
Apesar <strong>da</strong> populari<strong>da</strong>de de D. Pedro II, o Império<br />
Brasileiro, a partir de 1870, entrou em<br />
uma sucessão de crises que determinaram a<br />
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às exigências de novos grupos sociais que<br />
se formavam ou de antigos que cresciam em<br />
importância, como foi o caso dos militares.<br />
A vitória a ferro, fogo e sangue na Guerra do<br />
Paraguai deu ao Exército brasileiro um protagonismo<br />
que ia além <strong>da</strong> força <strong>da</strong>s armas.<br />
Ao mirarem os exemplos do Uruguai, <strong>da</strong> Argentina<br />
e até mesmo do Paraguai, que já<br />
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-monárquica, gerando atritos com o governo<br />
imperial, que não encontrava outra solução<br />
para o problema a não ser a punição. Mas<br />
os homens que haviam lutado na guerra estavam<br />
mais cientes do poder que possuíam<br />
e <strong>da</strong> importância que tinham para a estrutura<br />
do país e não iam aceitar os desígnios<br />
do imperador, por mais liberal que ele fosse.<br />
17 . Família Imperial no Palácio <strong>da</strong> Princesa Isabel,<br />
em Petrópolis<br />
Vi<strong>da</strong>, valsa, vibração<br />
velas ao vento, tempo, tentação<br />
quem descobrirá, quem compreenderá<br />
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Uma cisma, um verso, uma canção<br />
um realejo, um beijo, uma emoção<br />
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(Chiquinha Gonzaga e Joyce Moreno)