No Compasso da História - MultiRio
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1808: O Segundo Reinado<br />
80<br />
Foram terríveis seis anos de guerra, incluindo,<br />
ain<strong>da</strong>, Uruguai e Argentina, que, ao lado<br />
do Brasil, formaram a Tríplice Aliança. Sobre<br />
os números de sol<strong>da</strong>dos enviados pelo Brasil,<br />
há divergências entre os historiadores,<br />
indo de 50 mil a 150 mil. E de 50 a 55 mil<br />
teriam morrido nos campos de batalha. As<br />
per<strong>da</strong>s foram terríveis. Do lado paraguaio,<br />
as mortes ocorreram não só em combate,<br />
mas também devido à fome e às epidemias.<br />
A derrota levou o Paraguai ao caos social e<br />
econômico. O país tornou-se um dos Estados<br />
mais atrasados <strong>da</strong> América do Sul, foi<br />
obrigado a pagar pesa<strong>da</strong>s indenizações de<br />
guerra ao Brasil, perdeu cerca de 40% de<br />
seu território e teve um declínio populacional<br />
que afetou gravemente sua economia.<br />
Conta<strong>da</strong> em livros e quadros que exaltavam a<br />
bravura brasileira, essa guerra – como to<strong>da</strong>s<br />
as outras – deixou marcas profun<strong>da</strong>s em vencedores<br />
e vencidos. Entre os muitos mortos<br />
e mutilados, havia uma incalculável quanti<strong>da</strong>de<br />
de escravos que foram libertos para ir à<br />
guerra. Segundo o historiador Ricardo Salles,<br />
eles somariam 10% dos combatentes.<br />
Impulsiona<strong>da</strong> pela Revolução Industrial e<br />
por suas máquinas a vapor, a Inglaterra não<br />
mediu esforços para impedir que o tráfico<br />
negreiro prosseguisse, colocando a sua poderosa<br />
Marinha a serviço dos novos tempos.<br />
A partir de 1850, seus barcos de guerra caçaram<br />
navios negreiros por todos os mares,<br />
e, só após a ameaça ao governo brasileiro<br />
de bloqueio naval e econômico, o tráfico foi<br />
abolido no Brasil.<br />
<strong>No</strong>s Estados Unidos, a escravidão foi aboli<strong>da</strong><br />
em 1865, e, com isso, somente Brasil e Cuba<br />
ain<strong>da</strong> mantinham escravos nas Américas. Na<br />
déca<strong>da</strong> de 1870, pequenos grupos abolicionistas<br />
começaram a se formar nas principais<br />
capitais brasileiras, com o engajamento de<br />
jovens poetas, jornalistas e advogados.<br />
Um exemplo marcante é o de Castro Alves,<br />
autor de versos que até hoje emocionam<br />
pela intensi<strong>da</strong>de e pela beleza de suas palavras<br />
cheias de indignação: “Era um sonho<br />
<strong>da</strong>ntesco/ O tombadilho que <strong>da</strong> luzerna<br />
avermelha o brilho/ Em sangue a se banhar/<br />
Tinir de ferros/ Estalar de açoites/ Legiões<br />
de homens negros como a noite/ Horrendos<br />
a <strong>da</strong>nçar” (Navio Negreiro).<br />
14 . Retrato do poeta Castro Alves, autor de Navio Negreiro<br />
Outros abolicionistas trataram de passar <strong>da</strong><br />
teoria à ação, aju<strong>da</strong>ndo pessoalmente os escravos<br />
a fugir para quilombos na periferia<br />
<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des. A campanha abolicionista ganhou<br />
as ruas de uma maneira que o Brasil<br />
ain<strong>da</strong> não conhecia: nos jornais, na literatura,<br />
nos teatros e na música.<br />
A Lei do Ventre Livre, cuja proposta partiu<br />
de um gabinete conservador, foi assina<strong>da</strong><br />
em 1871, sendo a primeira lei que objetivava<br />
o fim progressivo do regime escravocrata.<br />
Determinava que todos os filhos de<br />
escravos nascidos no país a partir <strong>da</strong>quela<br />
<strong>da</strong>ta seriam livres. Para burlá-la, os donos<br />
de escravos alteravam os registros de nascimento,<br />
mantendo assim parte de seu “capital”<br />
humano. Em 1884, as províncias do Ceará<br />
e do Amazonas libertaram seus negros,<br />
aumentando ain<strong>da</strong> mais a pressão sobre o<br />
governo imperial.