No Compasso da História - MultiRio

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17.04.2013 Views

discutir, abertamente, as questões políticas de seu tempo. Desde a década de 1750, há registros de movimentos maçons no Brasil, sendo que D. Pedro também pertencia a uma “loja maçônica”, e, certamente, essa pregação influenciou o jovem – jovem demais, 24 anos! –, que dentro de alguns meses seria o primeiro imperador brasileiro. Outro personagem importante da independência foi o primeiro-ministro de D. Pedro, José Bonifácio de Andrada e Silva, autor de um manifesto em que declarava que os brasileiros estavam “prontos a derramar a última gota de seu sangue e a sacrificar todas as suas posses para não perder o adorado príncipe”. José Bonifácio, nomeado ministro do Reino e Negócios Estrangeiros por D. Pedro, foi o primeiro brasileiro a ocupar esse cargo, o mais alto na hierarquia política imperial. Atuou a favor da independência e teve papel decisivo nos anos turbulentos que se seguiram à emancipação política. Por fim, a pressão popular. D. Pedro era conhecido por seu apreço às festas, aos saraus e às reuniões; frequentava tavernas onde houvesse música alegre e moças disponíveis 13 . O Grito do Ipiranga, óleo sobre tela de Pedro Américo e ia muito ao teatro. Passou a conviver com manifestações pela sua permanência, pedida em coro por plateias da elite ou por seus companheiros de boemia. Diante desse cenário, o príncipe optou por ficar, cunhando a famosa frase em 9 de janeiro de 1822, o Dia do Fico: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico”. A decisão de D. Pedro desagradou, profundamente, às cortes portuguesas, em especial porque recusava a retomada do pacto colonial. A chegada da Família Real, em 1808, havia cristalizado um processo de protagonismo nas elites brasileiras que não poderia mais ser contido. Em 7 de setembro de 1822, após rasgar cartas enviadas pelas cortes de Lisboa, D. Pedro, finalmente, proclamou a emancipação política de nosso país, em circunstâncias que, hoje, são discutidas pelos historiadores. Segundo alguns pesquisadores, a cena à margem do Rio Ipiranga, onde ele teria gritado “Independência ou morte”, foi, provavelmente, uma fabulação construída na segunda metade do século XIX. 1808: Era no tempo do rei 63

1808: Era no tempo do rei 64 O sangue baiano Nasce o sol a 2 de julho Brilha mais que no primeiro É sinal que neste dia Até o sol é brasileiro. Nunca mais o despotismo Regerá nossas ações Com tiranos não combinam Brasileiros corações Hino do Estado da Bahia (José dos Santos Barreto e Ladislau de Santos Titaro) Mas não bastou a proclamação da independência para que o território brasileiro fosse inteiramente desocupado pelas tropas portuguesas. Na Bahia, onde a situação já vinha tensa entre os militares lusitanos e os oficiais brasileiros desde 1817, o comando militar português decidiu ocupar, militarmente, Salvador. Em fevereiro de 1823, quartéis de tropas brasileiras foram invadidos, lugares estratégicos tomados, e a cidade ficou em mãos portuguesas. Mais tropas foram enviadas de Lisboa para reforçar as defesas, mas a reação brasileira começou imediatamente, a partir de combates na região do Recôncavo. Com a formação de um exército com duas brigadas, os baianos iniciaram sua caminhada em direção a Salvador, enquanto navios da Marinha brasileira faziam o cerco da cidade por mar, bloqueando a chegada de suprimentos e de novas tropas. Após vários confrontos com baixas para os dois lados, a situação portuguesa ficou insustentável, o que levou o comandante lusitano Madeira de Mello a se render em 2 de julho. Segundo Luis H. Dias Tavares, autor do livro Independência do Brasil na Bahia, “não houve rendição de Madeira de Mello; ele simplesmente embarcou, derrotado, com o que lhe restava de tropas na capital, cerca de quatro mil e quinhentos homens, que tomaram 83 embarcações”. Foi na Bahia que se derramou o sangue brasileiro na luta pela emancipação; é com justa razão que essa data seja comemorada lá com maior intensidade do que o próprio Sete de Setembro, merecendo de todos os brasileiros o reconhecimento de sua importância militar, política e simbólica. 14 . O Primeiro Passo para a Independência na Bahia, óleo sobre tela de Antonio Parreiras Revolução no Nordeste Sou mamulengo de São Bento do Una Vindo no baque solto de Maracatu Eu sou um auto de Ariano Suassuna No meio da Feira de Caruaru Sou Frei Caneca do Pastoril do Faceta Levando a flor da lira Pra Nova Jerusalém leão do Norte (Lenine e Paulo César Pinheiro) Como começou o primeiro Império? Da mesma maneira como terminou a Regência – com os brasileiros divididos sobre a melhor

discutir, abertamente, as questões políticas<br />

de seu tempo. Desde a déca<strong>da</strong> de 1750, há<br />

registros de movimentos maçons no Brasil,<br />

sendo que D. Pedro também pertencia<br />

a uma “loja maçônica”, e, certamente, essa<br />

pregação influenciou o jovem – jovem demais,<br />

24 anos! –, que dentro de alguns meses<br />

seria o primeiro imperador brasileiro.<br />

Outro personagem importante <strong>da</strong> independência<br />

foi o primeiro-ministro de D. Pedro,<br />

José Bonifácio de Andra<strong>da</strong> e Silva, autor de<br />

um manifesto em que declarava que os brasileiros<br />

estavam “prontos a derramar a última<br />

gota de seu sangue e a sacrificar to<strong>da</strong>s<br />

as suas posses para não perder o adorado<br />

príncipe”. José Bonifácio, nomeado ministro<br />

do Reino e Negócios Estrangeiros por<br />

D. Pedro, foi o primeiro brasileiro a ocupar<br />

esse cargo, o mais alto na hierarquia política<br />

imperial. Atuou a favor <strong>da</strong> independência<br />

e teve papel decisivo nos anos turbulentos<br />

que se seguiram à emancipação política.<br />

Por fim, a pressão popular. D. Pedro era conhecido<br />

por seu apreço às festas, aos saraus<br />

e às reuniões; frequentava tavernas onde<br />

houvesse música alegre e moças disponíveis<br />

13 . O Grito do Ipiranga, óleo sobre tela de Pedro Américo<br />

e ia muito ao teatro. Passou a conviver com<br />

manifestações pela sua permanência, pedi<strong>da</strong><br />

em coro por plateias <strong>da</strong> elite ou por seus<br />

companheiros de boemia. Diante desse cenário,<br />

o príncipe optou por ficar, cunhando<br />

a famosa frase em 9 de janeiro de 1822, o<br />

Dia do Fico: “Se é para o bem de todos e<br />

felici<strong>da</strong>de geral <strong>da</strong> nação, estou pronto: diga<br />

ao povo que fico”.<br />

A decisão de D. Pedro desagradou, profun<strong>da</strong>mente,<br />

às cortes portuguesas, em especial<br />

porque recusava a retoma<strong>da</strong> do pacto<br />

colonial. A chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> Família Real, em<br />

1808, havia cristalizado um processo de protagonismo<br />

nas elites brasileiras que não poderia<br />

mais ser contido.<br />

Em 7 de setembro de 1822, após rasgar cartas<br />

envia<strong>da</strong>s pelas cortes de Lisboa, D. Pedro,<br />

finalmente, proclamou a emancipação<br />

política de nosso país, em circunstâncias<br />

que, hoje, são discuti<strong>da</strong>s pelos historiadores.<br />

Segundo alguns pesquisadores, a cena<br />

à margem do Rio Ipiranga, onde ele teria<br />

gritado “Independência ou morte”, foi, provavelmente,<br />

uma fabulação construí<strong>da</strong> na<br />

segun<strong>da</strong> metade do século XIX.<br />

1808: Era no tempo do rei<br />

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