No Compasso da História - MultiRio
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praticando, inclusive, através de remessa de plantas para a França, o que se chamaria hoje de biopirataria... Em 1833, quem aqui desembarcou foi o cientista inglês Charles Darwin, que, mesmo fascinado pela riqueza natural, horrorizou-se com a condição dos escravos. O mesmo sentimento viveu o pintor alemão Johann Moritz Rugendas, que, entre 1822 e 1825, também registrou nossas paisagens e nossos costumes: “Os sofrimentos dos escravos são de tal ordem que nenhuma descrição seria bastante fiel embora entregássemos à imaginação mais fértil o encargo de pintar o quadro com suas verdadeiras cores”. Portugal quer a volta de seu rei Ó musa do meu fado Ó minha mãe gentil Te deixo consternado No primeiro abril Mas não sê tão ingrata Não esquece quem te amou Em tua densa mata Se perdeu e se encontrou Fado tropical (Chico Buarque e Ruy Guerra) Em 20 de março de 1816, morreu, no Rio, D. Maria I. Finalmente, era a hora de o príncipe regente assumir o trono. Dois anos depois, em fevereiro de 1818, em uma grande festa no Rio de Janeiro, com decoração assinada por Debret, D. João VI foi aclamado e coroado rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves: foi o único monarca europeu coroado nas Américas. 10 . Aclamação do Rei D. João VI, no Rio de Janeiro, de Jean-Baptiste Debret Se aqui havia festa, as condições políticas e econômicas não eram nada boas em Portugal. O fim do pacto colonial, em 1808, mergulhou o comércio de cidades portuguesas, como Porto e Lisboa, em uma grande crise. E nem a derrota francesa aliviou a pressão, pois os ingleses tomaram o poder na península, controlando, inclusive, o exército português, o que causava um terrível desconforto entre sua oficialidade. 11 . O Rei D. João VI, óleo sobre tela de Domingos Antônio de Sequeira Em 1815, após a derrota definitiva de Napoleão, um movimento de militares tentou retomar o controle de Portugal e, embora tenha fracassado em suas metas, deixou plantada uma semente que renasceria, em 1820, com a Revolução Constitucionalista do Porto. 1808: Era no tempo do rei 61
1808: Era no tempo do rei 62 Eram os tempos do liberalismo na Europa, doutrina que pregava a redução dos poderes reais, assegurava a propriedade individual e criava mecanismos para regular a atividade comercial. Inspirada por esses princípios, a Revolução Constitucionalista eclodiu em 24 de agosto de 1820, na cidade do Porto, e se espalhou, rapidamente, pelo país. Entre suas reivindicações, exigia a elaboração de uma Constituição para Portugal, o imediato retorno da corte portuguesa e a restauração da exclusividade do comércio com o Brasil – a volta do pacto colonial. Diante do novo quadro político, não restou alternativa a D. João VI a não ser voltar a Portugal, como forma de manter alguns dos privilégios da corte e da Família Real, os quais estavam ameaçados pelos ventos liberalistas que sopravam além-mar. Ao partir, em 1821, deixou no Brasil, como príncipe regente, seu primogênito D. Pedro de Alcântara, um príncipe criado em solo tropical, que, aqui, já desfrutava das delícias que um jovem português de sua época jamais sonharia conhecer. O estratégico jogo político europeu, ao mexer as pedras no tabuleiro histórico, apressava de maneira definitiva o surgimento de um novo país independente na América. Fico! Já podeis da pátria filhos Ver contente a mãe gentil Já raiou a liberdade No horizonte do Brasil Brava gente brasileira Longe vá temor servil Ou ficar a pátria livre Ou morrer pelo Brasil Hino da independência (D. Pedro de Alcântara e Evaristo da Veiga) O jovem D. Pedro foi retratado pelos diversos autores que escreveram sobre sua vida como impulsivo, boêmio, amante arrebatado, músico e o mais belo de uma dinastia que não era exatamente um exemplo de beleza universal. Cioso dos privilégios reais, desagradou-o sobremaneira a partida de D. João VI para Portugal por imposição dos constitucionalistas. A mesma pressão exercida sobre D. João VI foi transferida para D. Pedro. As cortes de Lisboa estavam decididas a “recolonizar” o Brasil e, para isso, ordenaram que o príncipe regente retornasse a Portugal imediatamente. Mas não levaram em conta fatores importantes, como o fato de que D. Pedro aqui vivera sua infância e adolescência, estabelecendo laços afetivos desconhecidos por seus pais. E, também, os interesses comuns entre o príncipe regente e a elite brasileira, que se solidificaram através da maçonaria, movimento que crescia no país, aglutinando correntes de pensamento que poderiam levar o Brasil à independência política. 12 . Retrato do Príncipe D. Pedro, aquarela de Jean-Baptiste Debret Perseguidos pela Inquisição portuguesa, os maçons organizavam-se em sociedades secretas ou em grupos de fachada sob o nome de “associações literárias”. Eles foram responsáveis pela propagação de ideais iluministas em reuniões nas quais podiam
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Em 1833, quem aqui desembarcou foi o cientista<br />
inglês Charles Darwin, que, mesmo fascinado<br />
pela riqueza natural, horrorizou-se<br />
com a condição dos escravos. O mesmo sentimento<br />
viveu o pintor alemão Johann Moritz<br />
Rugen<strong>da</strong>s, que, entre 1822 e 1825, também<br />
registrou nossas paisagens e nossos costumes:<br />
“Os sofrimentos dos escravos são de<br />
tal ordem que nenhuma descrição seria bastante<br />
fiel embora entregássemos à imaginação<br />
mais fértil o encargo de pintar o quadro<br />
com suas ver<strong>da</strong>deiras cores”.<br />
Portugal quer a<br />
volta de seu rei<br />
Ó musa do meu fado<br />
Ó minha mãe gentil<br />
Te deixo consternado<br />
<strong>No</strong> primeiro abril<br />
Mas não sê tão ingrata<br />
Não esquece quem te amou<br />
Em tua densa mata<br />
Se perdeu e se encontrou<br />
Fado tropical<br />
(Chico Buarque e Ruy Guerra)<br />
Em 20 de março de 1816, morreu, no Rio,<br />
D. Maria I. Finalmente, era a hora de o príncipe<br />
regente assumir o trono. Dois anos depois,<br />
em fevereiro de 1818, em uma grande<br />
festa no Rio de Janeiro, com decoração assina<strong>da</strong><br />
por Debret, D. João VI foi aclamado<br />
e coroado rei do Reino Unido de Portugal,<br />
Brasil e Algarves: foi o único monarca europeu<br />
coroado nas Américas.<br />
10 . Aclamação do Rei D. João VI, no Rio de Janeiro, de<br />
Jean-Baptiste Debret<br />
Se aqui havia festa, as condições políticas e<br />
econômicas não eram na<strong>da</strong> boas em Portugal.<br />
O fim do pacto colonial, em 1808, mergulhou<br />
o comércio de ci<strong>da</strong>des portuguesas,<br />
como Porto e Lisboa, em uma grande crise.<br />
E nem a derrota francesa aliviou a pressão,<br />
pois os ingleses tomaram o poder na península,<br />
controlando, inclusive, o exército português,<br />
o que causava um terrível desconforto<br />
entre sua oficiali<strong>da</strong>de.<br />
11 . O Rei<br />
D. João VI,<br />
óleo sobre tela<br />
de Domingos<br />
Antônio de<br />
Sequeira<br />
Em 1815, após a derrota definitiva de Napoleão,<br />
um movimento de militares tentou retomar<br />
o controle de Portugal e, embora tenha<br />
fracassado em suas metas, deixou planta<strong>da</strong><br />
uma semente que renasceria, em 1820, com<br />
a Revolução Constitucionalista do Porto.<br />
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