No Compasso da História - MultiRio
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na cidade. Em seguida, o Palácio da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, doado pelo comerciante português Elias Antônio Lopes, tornou-se residência oficial da Família Real. Além disso, a Fazenda Santa Cruz, antiga propriedade dos jesuítas, situada no bairro que hoje leva o seu nome, servia como local de veraneio de D. João. 6 . Paço Imperial, em 1795, pintura de Franz Josef Frühbeck Mas, para abrigar a nobreza, as medidas tomadas foram muito impopulares, porque boa parte dos nobres teve carta branca para escolher a residência onde desejava morar. Com a escolha feita, a casa era marcada com as letras P.R. (príncipe regente), e os moradores tinham um tempo determinado para desocupá-la. Com a sua proverbial ironia, os habitantes do Rio logo inventaram uma nova tradução para o temível P.R.: ponha-se na rua... Ainda assim, nossa cidade lucrou muito com a vinda de D. João. Novos bairros surgiram (Botafogo, Flamengo), muitas ruas foram pavimentadas, houve uma melhoria substancial no abastecimento de água, com a elaboração do primeiro plano de canalização do Rio Maracanã até o Campo de Santana, onde foi edificado um conjunto de fontes e de lavatórios. As missões da beleza Às vezes, às vezes A neve lá fora Me traz o janeiro de outrora Mas neste janeiro é verão E traço, com traços De verde intenso Mesclado ao odor de incenso O aroma da recordação... lembranças de Debret (Josimar Carneiro e Miguel Falabella) Com a cidade em plena ebulição transformadora, em 1816 aportou por aqui a Missão Artística Francesa, com a tarefa de promover a atualização cultural de uma cidade que já não era um recanto perdido nos trópicos, mas a capital de um reino. Com a queda definitiva de Napoleão em 1815, Portugal começou a normalizar suas relações com a França, o que facilitou, em boa medida, a viagem da missão. No entanto, esses artistas encontraram mais dificuldades do que certamente imaginavam, pois, além de a sociedade do Rio de Janeiro à época não dar importância à cultura, existia, ainda, um sentimento de ciúme (e, certamente, de inveja) dos portugueses que já estavam aqui instalados. 7 . Retrato de Grandjean de Montigny, de Augusto Müller 1808: Era no tempo do rei 59
1808: Era no tempo do rei 60 Do grupo que desembarcou no Rio de Janeiro em 26 de março de 1816, destacaram-se Jean- -Baptiste Debret (pintor), Nicolas-Antoine Taunay (pintor), Grandjean de Montigny (arquiteto), além de escultores, gravadores, mecânicos, ferreiros, serralheiros, carpinteiros e peleteiros. Taunay, durante os cinco anos em que permaneceu no Rio, produziu cerca de 30 paisagens da cidade e de regiões em seu entorno. Já a obra de Debret é bem mais extensa: retratos da Família Real, registros de grupos indígenas e do trabalho dos escravos, aquarelas e desenhos sobre o cotidiano da cidade e da vida da corte. Grandjean de Montigny realizou inúmeros projetos de arquitetura e urbanismo, mas a maior parte deles não se concretizou por conta das dificuldades políticas e econômicas do período. Permanece entre nós, porém, a antiga Praça do Comércio, atual Casa França-Brasil, cujo espaço harmônico e simétrico é característico do neoclássico, estilo de todos os artistas e artífices da Missão Francesa. 8 . Capa do livro Viagem ao Brasil, de Maximilian Joseph Durante os 15 anos de sua estada em nossa cidade, Debret realizou trabalhos de ornamentação para festas públicas e oficiais, pintou cenários para o Teatro São João (atual Teatro João Caetano), foi professor de Pintura Histórica na Academia de Belas Artes e deixou, entre outras obras, o livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, em três volumes, um valiosíssimo documento sobre a época que precedeu o Primeiro Império no Brasil. É interessante notar que, além da Missão Artística Francesa, outros artistas e pesquisadores vieram ao Brasil para estudar a exuberância da natureza e registrar suas belezas. Em 1817, a chamada Missão Austríaca chegou ao Brasil por ocasião do casamento de D. Pedro com D. Leopoldina, grande entusiasta das ciências naturais e das artes. Entre seus integrantes, estão o zoólogo Johann Baptist von Spix e o botânico Karl Friedrich Philipp von Martius, além do artista Thomas Ender, autor de belas aquarelas sobre o Rio de Janeiro. 9 . O botânico Auguste de Saint-Hilaire (pintura) Entre 1824 e 1829, uma expedição chefiada pelo médico alemão naturalizado russo Georg Heinrich von Langsdorff percorreu mais de 16 mil quilômetros pelo interior do país. Segundo suas próprias palavras, “a imaginação mais rica (...) nem de longe pode dar conta dos tesouros desta natureza. Quem quer que anseie por motivos poéticos, que vá ao Brasil (...)”. Auguste de Saint-Hilaire, escritor e botânico francês, que chegou ao Brasil em 1816 e só partiu em 1822, foi outro que se deslumbrou com a natureza daqui,
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Do grupo que desembarcou no Rio de Janeiro<br />
em 26 de março de 1816, destacaram-se Jean-<br />
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(pintor), Grandjean de Montigny (arquiteto),<br />
além de escultores, gravadores, mecânicos,<br />
ferreiros, serralheiros, carpinteiros e peleteiros.<br />
Taunay, durante os cinco anos em que permaneceu<br />
no Rio, produziu cerca de 30 paisagens<br />
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Já a obra de Debret é bem mais extensa:<br />
retratos <strong>da</strong> Família Real, registros de grupos<br />
indígenas e do trabalho dos escravos, aquarelas<br />
e desenhos sobre o cotidiano <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />
e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> corte. Grandjean de Montigny<br />
realizou inúmeros projetos de arquitetura<br />
e urbanismo, mas a maior parte deles não<br />
se concretizou por conta <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des<br />
políticas e econômicas do período. Permanece<br />
entre nós, porém, a antiga Praça do<br />
Comércio, atual Casa França-Brasil, cujo espaço<br />
harmônico e simétrico é característico<br />
do neoclássico, estilo de todos os artistas e<br />
artífices <strong>da</strong> Missão Francesa.<br />
8 . Capa do livro Viagem ao Brasil, de Maximilian Joseph<br />
Durante os 15 anos de sua esta<strong>da</strong> em nossa<br />
ci<strong>da</strong>de, Debret realizou trabalhos de ornamentação<br />
para festas públicas e oficiais,<br />
pintou cenários para o Teatro São João (atual<br />
Teatro João Caetano), foi professor de Pintura<br />
Histórica na Academia de Belas Artes e deixou,<br />
entre outras obras, o livro Viagem Pitoresca<br />
e Histórica ao Brasil, em três volumes,<br />
um valiosíssimo documento sobre a época<br />
que precedeu o Primeiro Império no Brasil.<br />
É interessante notar que, além <strong>da</strong> Missão Artística<br />
Francesa, outros artistas e pesquisadores<br />
vieram ao Brasil para estu<strong>da</strong>r a exuberância<br />
<strong>da</strong> natureza e registrar suas belezas. Em<br />
1817, a chama<strong>da</strong> Missão Austríaca chegou ao<br />
Brasil por ocasião do casamento de D. Pedro<br />
com D. Leopoldina, grande entusiasta <strong>da</strong>s ciências<br />
naturais e <strong>da</strong>s artes. Entre seus integrantes,<br />
estão o zoólogo Johann Baptist von<br />
Spix e o botânico Karl Friedrich Philipp von<br />
Martius, além do artista Thomas Ender, autor<br />
de belas aquarelas sobre o Rio de Janeiro.<br />
9 . O botânico Auguste de Saint-Hilaire (pintura)<br />
Entre 1824 e 1829, uma expedição chefia<strong>da</strong><br />
pelo médico alemão naturalizado russo Georg<br />
Heinrich von Langsdorff percorreu mais<br />
de 16 mil quilômetros pelo interior do país.<br />
Segundo suas próprias palavras, “a imaginação<br />
mais rica (...) nem de longe pode <strong>da</strong>r<br />
conta dos tesouros desta natureza. Quem<br />
quer que anseie por motivos poéticos, que<br />
vá ao Brasil (...)”. Auguste de Saint-Hilaire,<br />
escritor e botânico francês, que chegou ao<br />
Brasil em 1816 e só partiu em 1822, foi outro<br />
que se deslumbrou com a natureza <strong>da</strong>qui,