No Compasso da História - MultiRio

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17.04.2013 Views

epública, não haveria exército regular, mas toda a população usaria armas e formaria uma milícia, quando necessário. 16 . O inconfidente Tomás Antônio Gonzaga (gravura) Como tantas outras figuras históricas, Tiradentes foi exaltado por muito tempo como o “protomártir” da Independência brasileira, ou seja, o homem que encarnou pela primeira vez o desejo de que o Brasil e os brasileiros se tornassem independentes. Mas o historiador Kenneth Maxwell, em seu clássico livro A Devassa da Devassa, deu outras tintas ao movimento e ao próprio Tiradentes. Segundo Kenneth, a Inconfidência foi movida única e exclusivamente por motivos pessoais, por homens que viam na proposta de um estado independente a única solução para seus problemas, bem menos nobres do que uma preocupação ideológica de fundo nacionalista. Se era esse mesmo o impulso que movia os inconfidentes, pouco importava para a Coroa portuguesa. Segundo a óptica do colonizador, eram todos criminosos de “lesa-majestade” e, denunciados por Joaquim Silvério dos Reis e mais dois súditos portugueses em troca do perdão das dívidas, acabaram presos antes mesmo de que a revolta saísse às ruas. Foram duras as sentenças contra os inconfidentes, que tiveram seus bens sequestrados e foram condenados ao exílio e a outras penas pesadas. Mas à morte só um foi sentenciado: exatamente Tiradentes. É ainda Kenneth Maxwell que oferece uma análise crítica desse fato: Joaquim José era um elemento estranho em um grupo formado por intelectuais, donos de minas, senhores de escravos. Assim, reunia as condições necessárias para ser o “bode expiatório” mais conveniente a um poder que tinha a necessidade de mostrar sua força, preservando, entretanto, a estrutura social que mantinha a colônia funcionando. Enforcado, esquartejado e tendo seu corpo espalhado pelas estradas mineiras, Tiradentes tornou-se um personagem obscuro na História brasileira até o surgimento da República, quando os ideólogos do novo regime foram buscar nele a figura mítica de que necessitavam para a construção da nação agora republicana. 17 . Jornada dos Mártires, óleo sobre tela de Antônio Parreiras O trágico fim da Inconfidência Mineira não apagou o desejo de liberdade entre os brasileiros. No novo centro administrativo da colônia, o Rio de Janeiro, a riqueza que seguia para Portugal também deixava um rastro de insatisfação nas classes sociais recém-surgidas. O que ninguém podia imaginar é que a guerra na Europa fosse mudar radicalmente a vida no Brasil a partir de 1808. Mas isso já é outra história. Ouro em Minas 51

Ouro em Minas 52 Mário vai às Minas Procissão deserta, deserta Homens e mulheres na noite Homens e mulheres na noite desse meu [país Na porta do Beco estamos Procissão deserta, deserta Nas portas da arquidiocese desse meu [país Diamantina é o Beco do Mota Minas é o Beco do Mota Brasil é o Beco do Mota Beco do Mota (Milton Nascimento e Fernando Brant) Em junho de 1919, com o objetivo de encontrar as origens de uma arte genuinamente brasileira, o escritor e ensaísta Mário de Andrade, figura de proa do movimento modernista no Brasil, foi pela primeira vez a Minas Gerais. Sua viagem rendeu o estudo A Arte Religiosa no Brasil, abrindo uma nova vertente para a história de nossa cultura. Mário de Andrade defendia que os conjuntos arquitetônicos de Salvador, do Rio de Janeiro e, principalmente, de Ouro Preto foram os marcos originais do processo artístico em nosso país. Parece incrível, mas durante mais de um século toda a beleza da arte sacra mineira ficou no esquecimento! Em 1924, Mário refez a viagem com um grupo de modernistas que reuniu, entre outros, a artista plástica Tarsila do Amaral, o dramaturgo e escritor Oswald de Andrade, o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, além de jornalistas e estudantes de arte. Oswald batizou a expedição como “Viagem de descoberta do Brasil”, e, com isso, os modernistas reviveriam uma tradição perdida e, por conseguinte, constituiriam as bases de uma identidade moderna brasileira, seja ela estética, política ou histórica. Com essa visita a Minas, seguindo os passos de Mário de Andrade, estabeleceram as referências de uma arte própria, autenticamente brasileira, que não importava, cegamente, os modelos europeus. E resgataram um passado histórico que, segundo eles, forneceu as bases para a construção da nacionalidade brasileira. 18 . Anjo com o Cálice da Paixão, escultura em madeira de Aleijadinho Para usar em sala de aula • A saga dos escravos no Brasil foi cantada em muitos sambas-enredo, mas uma agremiação, a Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, tem tradição no tema. Sugira a sua turma que pesquise quais os personagens negros que o Salgueiro exaltou em seus carnavais. • Combine com seus alunos uma visita à Igreja e ao Mosteiro de São Bento (Rua Dom Gerardo, 68, Praça Mauá, Centro) para ver de perto exemplos da belíssima arte barroca brasileira. • A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro está localizada no Palácio Tiradentes (Rua

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Mário vai às Minas<br />

Procissão deserta, deserta<br />

Homens e mulheres na noite<br />

Homens e mulheres na noite desse meu<br />

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Na porta do Beco estamos<br />

Procissão deserta, deserta<br />

Nas portas <strong>da</strong> arquidiocese desse meu<br />

[país<br />

Diamantina é o Beco do Mota<br />

Minas é o Beco do Mota<br />

Brasil é o Beco do Mota<br />

Beco do Mota<br />

(Milton Nascimento e Fernando Brant)<br />

Em junho de 1919, com o objetivo de encontrar<br />

as origens de uma arte genuinamente brasileira,<br />

o escritor e ensaísta Mário de Andrade,<br />

figura de proa do movimento modernista no<br />

Brasil, foi pela primeira vez a Minas Gerais.<br />

Sua viagem rendeu o estudo A Arte Religiosa<br />

no Brasil, abrindo uma nova vertente para a<br />

história de nossa cultura. Mário de Andrade<br />

defendia que os conjuntos arquitetônicos de<br />

Salvador, do Rio de Janeiro e, principalmente,<br />

de Ouro Preto foram os marcos originais<br />

do processo artístico em nosso país.<br />

Parece incrível, mas durante mais de um século<br />

to<strong>da</strong> a beleza <strong>da</strong> arte sacra mineira ficou<br />

no esquecimento! Em 1924, Mário refez<br />

a viagem com um grupo de modernistas que<br />

reuniu, entre outros, a artista plástica Tarsila<br />

do Amaral, o dramaturgo e escritor Oswald de<br />

Andrade, o poeta franco-suíço Blaise Cendrars,<br />

além de jornalistas e estu<strong>da</strong>ntes de arte.<br />

Oswald batizou a expedição como “Viagem<br />

de descoberta do Brasil”, e, com isso, os<br />

modernistas reviveriam uma tradição perdi<strong>da</strong><br />

e, por conseguinte, constituiriam as bases de<br />

uma identi<strong>da</strong>de moderna brasileira, seja ela<br />

estética, política ou histórica. Com essa visita<br />

a Minas, seguindo os passos de Mário de Andrade,<br />

estabeleceram as referências de uma<br />

arte própria, autenticamente brasileira, que<br />

não importava, cegamente, os modelos europeus.<br />

E resgataram um passado histórico<br />

que, segundo eles, forneceu as bases para a<br />

construção <strong>da</strong> nacionali<strong>da</strong>de brasileira.<br />

18 . Anjo com o Cálice <strong>da</strong> Paixão, escultura em madeira<br />

de Aleijadinho<br />

Para usar em sala de aula<br />

• A saga dos escravos no Brasil foi canta<strong>da</strong><br />

em muitos sambas-enredo, mas uma agremiação,<br />

a Escola de Samba Acadêmicos do<br />

Salgueiro, tem tradição no tema. Sugira a<br />

sua turma que pesquise quais os personagens<br />

negros que o Salgueiro exaltou em<br />

seus carnavais.<br />

• Combine com seus alunos uma visita à<br />

Igreja e ao Mosteiro de São Bento (Rua<br />

Dom Gerardo, 68, Praça Mauá, Centro)<br />

para ver de perto exemplos <strong>da</strong> belíssima<br />

arte barroca brasileira.<br />

• A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro<br />

está localiza<strong>da</strong> no Palácio Tiradentes (Rua

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