No Compasso da História - MultiRio

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17.04.2013 Views

foi transferida, paulatinamente, de Salvador para o Rio de Janeiro. Em 1763, oficializou- -se a mudança. Apesar de todo esse cuidado, o ouro extraído do Brasil não serviu para salvar a economia portuguesa, indo parar nos cofres ingleses. 13 . Barras de ouro: símbolo de riqueza e poderio Ao final do século XVI, arruinado economicamente e sempre ameaçado pela Espanha, o Reino Português assinou tratados com a Inglaterra em que se submetia aos desígnios britânicos. Os produtos ingleses sofriam pouquíssima taxação, fosse em Portugal ou nas colônias, que deveriam comprar manufaturados somente de procedência inglesa. Com todo o ouro extraído do Brasil, Portugal poderia ter se tornado uma potência. Mas isso não ocorreu porque a Coroa abriu os cofres para pagar dívidas e cobrir os prejuízos da balança comercial: as importações eram sempre maiores do que as exportações. Essa política equivocada transferiu a riqueza para a Inglaterra, que se modernizava rapidamente, enquanto Portugal afundava no marasmo social e econômico. Como a partir de 1760 houve uma significativa queda na produção mineradora da região que reunia Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Bahia, a Coroa só encontrou uma forma de aumentar seus ganhos: elevar os impostos. No entanto, o estrato social constituído na colônia havia sofrido muitas transformações. Duzentos e cinquenta anos se passaram desde a descoberta, e, com o advento da mineração, uma multidão de pessoas acorreu às Minas Gerais; gente de diferentes origens, posições sociais e situações econômicas. As terras mineiras foram povoadas por pobres, ricos, índios, negros livres, escravos, aristocratas e burgueses. A sociedade que se gerou aí tinha uma grande variedade de profissões liberais e vários tipos de ofícios: sapateiros, alfaiates, ferreiros, pintores, entalhadores, músicos, advogados, médicos, mestres-escolas, padres, militares, funcionários públicos. Com essa presença, surgiu uma intensa vida cultural nas Gerais e, com isso, também um primeiro esboço de identidade artística, se não nacional, pelo menos mineira. 14 . Santa Ifigênia, escultura em madeira policromada e dourada. Século XVIII, Minas Gerais Liberdade ainda que tardia Em 1785, um decreto da Coroa proibiu atividades fabris e artesanais na colônia, desagradando profundamente aos homens que apostavam no desenvolvimento e no progresso de Minas Gerais. Para aumentar a insatisfação, foi instituído o imposto chamado “derrama” – uma taxação compulsória para completar o que faltasse da cota, imposta por lei, Ouro em Minas 49

Ouro em Minas 50 de 1.500 quilos anuais de ouro, quando esta não fosse atingida. Era o pretexto que faltava para que a conspiração começasse. Joaquim José da Silva Xavier Morreu a vinte e um de abril Pela independência do Brasil Foi traído e não traiu jamais A Inconfidência de Minas Gerais Joaquim José da Silva Xavier Era o nome de Tiradentes Foi sacrificado pela nossa liberdade Este grande herói Pra sempre há de ser lembrado Exaltação a tiradentes (Mano Décio da Viola, Estanislau Silva e Penteado) Os inconfidentes, como passaram a se chamar os homens que participaram da conjura, pretendiam eliminar a dominação portuguesa nas Minas Gerais criando uma república nos mesmos moldes da surgida com a independência americana, ocorrida em 1776. Estavam também tocados pelos ideais iluministas franceses, mas não havia a intenção de libertar toda a colônia, pois naquele momento uma identidade nacional ainda não havia se formado. É interessante notar que a abolição da escravatura não estava nos planos do grupo, mesmo porque muitos dos inconfidentes eram proprietários de escravos. Entre os conjurados, destacavam-se militares, padres, poetas, donos de lavras e um humilde alferes (antigo posto militar, equivalente hoje ao de segundo-tenente), Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792). Joaquim José, filho de família sem muitos recursos, perdeu o pai aos 11 anos. Não fez estudos regulares e ficou sob a tutela de um padrinho. Trabalhou como mascate (uma espécie de vendedor) e minerador, tornou- -se sócio de uma botica de assistência à pobreza na ponte do Rosário, em Vila Rica, e se dedicou, também, às práticas farmacêuticas e ao exercício da profissão de dentista, o que lhe valeu o apelido de Tiradentes. Em 1780, alistou-se na tropa da capitania, sendo promovido a comandante do destacamento dos Dragões – tropa responsável pelo patrulhamento da estrada que servia como rota de escoamento do minério para o Rio de Janeiro. 15 . Alferes Joaquim José da Silva Xavier, por José Walsht Rodrigues Segundo historiadores, foi a partir desse momento que Tiradentes se aproximou dos grupos que criticavam a condição brasileira diante da metrópole. Os planos iniciais dos inconfidentes eram criar manufaturas, uma universidade em Vila Rica, estabelecer um governo republicano independente, sendo São João del-Rei sua capital. Seu primeiro presidente seria, durante três anos, o jurista e poeta Tomás Antônio Gonzaga, após o qual haveria eleições. Nessa

foi transferi<strong>da</strong>, paulatinamente, de Salvador<br />

para o Rio de Janeiro. Em 1763, oficializou-<br />

-se a mu<strong>da</strong>nça. Apesar de todo esse cui<strong>da</strong>do,<br />

o ouro extraído do Brasil não serviu<br />

para salvar a economia portuguesa, indo<br />

parar nos cofres ingleses.<br />

13 . Barras de ouro: símbolo de riqueza e poderio<br />

Ao final do século XVI, arruinado economicamente<br />

e sempre ameaçado pela Espanha,<br />

o Reino Português assinou tratados com a<br />

Inglaterra em que se submetia aos desígnios<br />

britânicos. Os produtos ingleses sofriam<br />

pouquíssima taxação, fosse em Portugal ou<br />

nas colônias, que deveriam comprar manufaturados<br />

somente de procedência inglesa.<br />

Com todo o ouro extraído do Brasil, Portugal<br />

poderia ter se tornado uma potência.<br />

Mas isso não ocorreu porque a Coroa abriu<br />

os cofres para pagar dívi<strong>da</strong>s e cobrir os prejuízos<br />

<strong>da</strong> balança comercial: as importações<br />

eram sempre maiores do que as exportações.<br />

Essa política equivoca<strong>da</strong> transferiu a riqueza<br />

para a Inglaterra, que se modernizava rapi<strong>da</strong>mente,<br />

enquanto Portugal afun<strong>da</strong>va no<br />

marasmo social e econômico. Como a partir<br />

de 1760 houve uma significativa que<strong>da</strong> na<br />

produção mineradora <strong>da</strong> região que reunia<br />

Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Bahia, a<br />

Coroa só encontrou uma forma de aumentar<br />

seus ganhos: elevar os impostos.<br />

<strong>No</strong> entanto, o estrato social constituído na<br />

colônia havia sofrido muitas transformações.<br />

Duzentos e cinquenta anos se passaram desde<br />

a descoberta, e, com o advento <strong>da</strong> mineração,<br />

uma multidão de pessoas acorreu às<br />

Minas Gerais; gente de diferentes origens,<br />

posições sociais e situações econômicas.<br />

As terras mineiras foram povoa<strong>da</strong>s por pobres,<br />

ricos, índios, negros livres, escravos,<br />

aristocratas e burgueses. A socie<strong>da</strong>de que<br />

se gerou aí tinha uma grande varie<strong>da</strong>de de<br />

profissões liberais e vários tipos de ofícios:<br />

sapateiros, alfaiates, ferreiros, pintores, entalhadores,<br />

músicos, advogados, médicos,<br />

mestres-escolas, padres, militares, funcionários<br />

públicos. Com essa presença, surgiu uma<br />

intensa vi<strong>da</strong> cultural nas Gerais e, com isso,<br />

também um primeiro esboço de identi<strong>da</strong>de<br />

artística, se não nacional, pelo menos mineira.<br />

14 . Santa Ifigênia, escultura em madeira policroma<strong>da</strong> e<br />

doura<strong>da</strong>. Século XVIII, Minas Gerais<br />

Liber<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> que tardia<br />

Em 1785, um decreto <strong>da</strong> Coroa proibiu ativi<strong>da</strong>des<br />

fabris e artesanais na colônia, desagra<strong>da</strong>ndo<br />

profun<strong>da</strong>mente aos homens que apostavam<br />

no desenvolvimento e no progresso<br />

de Minas Gerais. Para aumentar a insatisfação,<br />

foi instituído o imposto chamado “derrama”<br />

– uma taxação compulsória para completar<br />

o que faltasse <strong>da</strong> cota, imposta por lei,<br />

Ouro em Minas<br />

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